Mauro Ferreira no G1

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sábado, 12 de maio de 2012

Discobiografia repisa com credibilidade passos fonográficos de Nogueira

Resenha de livro
Título: Discobiografia João Nogueira
Autor: Luiz Fernando Vianna
Editora: Casa da Palavra
Cotação: * * * *

Em 1º de abril de 1998, data de lançamento daquele que seria seu último álbum de inéditas, João de Todos os Sambas (BMG), João Nogueira (1941 - 2000) teve um AVC. Efeito sintomático de seu desgosto com o resultado do disco, em cujo repertório o artista foi obrigado - pela insensível diretoria da gravadora BMG - a inserir sambas de lavra alheia compostos pela cartilha básica do pagode populista que vigorava nas rádios da época. A ordem  foi acatada por João - então atolado em dívidas por conta dá má administração do já desativado Clube do Samba - porque o disco era sua oportunidade de retomar sua carreira fonográfica em grande gravadora.  Só que ceder (pela primeira vez) aos caprichos arbitrários de uma multinacional do disco custou a João um AVC - como relatado na saborosa discobiografia do artista. Parte do Sambabook, projeto que repõe em evidência a obra de Nogueira através de livro de partituras e CDs/DVD/blu-ray com regravações inéditas dos principais sucessos do sambista, a Discobiografia João Nogueira é item que merece especial atenção entre os produtos da série, postos à venda no mercado de forma avulsa. Por ter amplo entendimento dos caminhos da música brasileira (e do samba em particular), o jornalista carioca Luiz Fernando Vianna reconstitui com conhecimento de causa os passos fonográficos de Nogueira. Cada um dos 20 álbuns gravados pelo cantor e compositor entre 1972 (João Nogueira, Odeon) e 1999 (Esquina Carioca, Dabliú) é assunto de um capítulo da discobiografia, iniciada com breve exposição dos passos que levaram o artista ao disco a partir de 1968, ano em que o conjunto Nosso Samba gravou Espere Oh! Nega (João Nogueira), primeira música do compositor carioca a merecer um registro fonográfico. Dois anos depois, em 1970, o sucesso da gravação de Corrente de Aço (João Nogueira) - feita por Elizeth Cardoso (1920 - 1990) no álbum Falou e Disse - pavimentou o caminho de Nogueira na indústria fonográfica e o levou, com o aval do produtor e radialista Adelzon Alves, a gravar seus próprios discos na companhia Odeon. Ao detalhar a origem do repertório de cada álbum e o contexto da gravação, Luiz Fernando Vianna permite ao leitor vivenciar cada fase da vida e obra de Nogueira ao mesmo tempo em que descortina os bastidores da indústria fonográfica com histórias interessantes. Como, por exemplo, a troca de Hélio Delmiro por Paulo César Pinheiro no posto de produtor dos discos de Nogueira. Se Delmiro pilotou Vem Quem Tem, álbum de 1975 que consolidou a carreira de Nogueira por conta do sucesso dos sambas Nó na Madeira (João Nogueira e Eugênio Monteiro) e Mineira (João Nogueira e Paulo César Pinheiro), Pinheiro assumiu a função a partir do álbum Espelho (1977), mas, na migração de Nogueira da Odeon para a Polydor/PolyGram, teve seu cargo reivindicado por Paulo Debétio. Recompensado financeiramente pela troca de gravadora, Nogueira viveu o augue comercial de sua obra fonográfica na PolyGram, com o sucesso do álbum Clube do Samba (1979), mas as vendas decrescentes dos discos posteriores levou o sambista a ter seu passe (ainda valorizado) adquirido pela RCA, gravadora por onde Nogueira fez quatro álbuns - Bem Transado (1983), Pelas Terras do Pau Brasil (1984), De Amor É Bom (1985) e João Nogueira (1986) - coerentes com a ideologia de seu samba. Após a saída da RCA, Nogueira se virou no mercado independente - com eventuais passagens por uma grande gravadora - até sair de cena às vésperas da gravação ao vivo de um CD que iria resumir a obra pavimentada com valentia nessa caminhada musical repisada com credibilidade por Luiz Fernando Vianna ao escrever a alentada Discobiografia João Nogueira, item mais essencial do Sambabook dedicado a João.

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Em 1º de abril de 1998, data de lançamento daquele que seria seu último álbum de inéditas, João de Todos os Sambas (BMG), João Nogueira (1941 - 2000) teve um AVC. Efeito sintomático de seu desgosto com o resultado do disco, em cujo repertório o artista foi obrigado - pela insensível diretoria da gravadora BMG - a inserir sambas de lavra alheia compostos pela cartilha básica do pagode populista que vigorava nas rádios da época. A ordem foi acatada por João - então atolado em dívidas por conta dá má administração do já desativado Clube do Samba - porque o disco era sua oportunidade de retomar sua carreira fonográfica em grande gravadora. Só que ceder (pela primeira vez) aos caprichos arbitrários de uma multinacional do disco custou a João um AVC - como relatado na saborosa discobiografia do artista. Parte do Sambabook, projeto que repõe em evidência a obra de Nogueira através de livro de partituras e CDs/DVD/blu-ray com regravações inéditas dos principais sucessos do sambista, a Discobiografia João Nogueira é item que merece especial atenção entre os produtos da série, postos à venda no mercado de forma avulsa. Por ter amplo entendimento dos caminhos da música brasileira (e do samba em particular), o jornalista carioca Luiz Fernando Vianna reconstitui com conhecimento de causa os passos fonográficos de Nogueira. Cada um dos 20 álbuns gravados pelo cantor e compositor entre 1972 (João Nogueira, Odeon) e 1999 (Esquina Carioca, Dabliú) é assunto de um capítulo da discobiografia, iniciada com breve exposição dos passos que levaram o artista ao disco a partir de 1968, ano em que o conjunto Nosso Samba gravou Espere Oh! Nega (João Nogueira), primeira música do compositor carioca a merecer um registro fonográfico. Dois anos depois, em 1970, o sucesso da gravação de Corrente de Aço (João Nogueira) - feita por Elizeth Cardoso (1920 - 1990) no álbum Falou e Disse - pavimentou o caminho de Nogueira na indústria fonográfica e o levou, com o aval do produtor e radialista Adelzon Alves, a gravar seus próprios discos na companhia Odeon. Ao detalhar a origem do repertório de cada álbum e o contexto da gravação, Luiz Fernando Vianna permite ao leitor vivenciar cada fase da vida e obra de Nogueira ao mesmo tempo em que descortina os bastidores da indústria fonográfica com histórias interessantes. Como, por exemplo, a troca de Hélio Delmiro por Paulo César Pinheiro no posto de produtor dos discos de Nogueira. Se Delmiro pilotou Vem Quem Tem, álbum de 1975 que consolidou a carreira de Nogueira por conta do sucesso dos sambas Nó na Madeira (João Nogueira e Eugênio Monteiro) e Mineira (João Nogueira e Paulo César Pinheiro), Pinheiro assumiu a função a partir de Espelho (1977), mas, na migração de Nogueira da Odeon para a PolyGram, teve seu cargo reivindicado por Paulo Debétio. Recompensado financeiramente pela troca de gravadora, Nogueira viveu o augue comercial de sua obra fonográfica na PolyGram, com o sucesso do álbum Clube do Samba (1979), mas as vendas decrescentes dos discos posteriores levou o sambista a ter seu passe (ainda valorizado) adquirido pela RCA, gravadora por onde Nogueira fez quatro álbuns - Bem Transado (1983), Pelas Terras do Pau Brasil (1984), De Amor É Bom (1985) e João Nogueira (1986) - coerentes com a ideologia de seu samba. Após a saída da RCA, Nogueira se virou no mercado independente - com eventuais passagens por uma grande gravadora - até sair de cena às vésperas da gravação ao vivo de um CD que iria resumir a obra pavimentada com valentia nessa caminhada musical repisada com credibilidade por Luiz Fernando Vianna ao escrever a alentada Discobiografia João Nogueira, item mais essencial do Sambabook dedicado a João.

Anônimo disse...

Não sabia que o AVC tinha essa causa. Que cambada de FDP!
É por essas e outras que abro um sorrisão pela desgraça dessa indústria que trata arte como biscoito.
Gosto muito da parceria dele com o P.C.Pinheiro. Eles têm um ótimo disco - ao vivo, mas bem gravado - juntos.

Felipe dos Santos disse...

Concordo plenamente, Mauro. Ótimo livro sobre um cara simpaticíssimo.

"O homem dos 40" deveria ser ouvido por boa parte masculina da humanidade. (risos)

Felipe dos Santos Souza

Raul disse...

A pessoa que dirigia a BMG à época é, provavelmente, a figura mais nefasta da MPB pós-anos 1980, que fez o Brasil todo- e os artistas da companhia- a engolir Sullivan e Massadas.

André Queiroz disse...

Como chorar não custa nada, vou fazer um pedido:EMI,Universal e Sony, relancem de maneira caprichada e decente os discos de João que estão mofando em seus acervos.Será que é pedir muito?