Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 7 de maio de 2012

Mulheres dão voz a Arantes em tributo à altura da grande obra do compositor

Resenha de CD
Título: A Voz da Mulher na Obra de Guilherme Arantes
Artistas: Vários
Gravadora: Joia Moderna
Cotação: * * * * 

Lulu Santos levou a fama, mas Guilherme Arantes é de fato o último romântico do pop brasileiro. Egresso de grupo de rock progressivo Moto Perpétuo, do qual foi vocalista e tecladista, o compositor paulista construiu desde 1976 obra solo que concilia influências de rock, MPB e música clássica. Idealizado pelo DJ Zé Pedro para sua gravadora Joia Moderna, o CD A Voz da Mulher na Obra de Guilherme Arantes - segundo título da série iniciada em 2011 com tributo ao compositor uruguaio Taiguara (1945 - 1996) -  honra o legado deste compositor conhecido por suas baladas românticas de alma pop. Já à venda em edição digital, o disco - nas lojas até o fim deste mês de maio de 2012 - apresenta 20 gravações inéditas do cancioneiro de Arantes, feitas por 20 cantoras de estilos, gerações e personalidades distintas. O resultado fica muito acima da média irregular de tributos do gênero. Zizi Possi refina Meu Mundo e Nada Mais (Guilherme Arantes, 1976) com dois dos cinco violonistas do 5 a Seco, Pedro Altério e Vinicius Calderoni. Assinado pelos músicos com a cantora, o arranjo arma bela cama harmônica que valoriza interpretação que reitera a sofisticação singular do canto de Zizi. Na sequência, Cida Moreira reitera sua classe ao pôr voz e  piano a serviço de Brincar de Viver (Guilherme Arantes e Jon Lucien, 1983) em interpretação sóbria e elegante. Já a faixa de Vanessa da Mata, Cuide-se Bem (Guilherme Arantes, 1976), chama mais atenção pela arquitetura do arranjo urdido com o baixo, a guitarra e as programações de Gustavo Ruiz - produtor da faixa - do que pela interpretação da cantora, geralmente mais opaca fora de sua seara autoral. Em órbita diversa, Planeta Água (Guilherme Arantes, 1981) gira sedutor no tributo justamente por conta da interpretação de Fafá de Belém, feita na medida certa da intensidade exigida por essa balada de espírito sinfônico. Adyel Silva também marca expressiva presença como intérprete de Êxtase (Guilherme Arantes, 1979). O arranjo da gravação original de Arantes é tão marcante que resultou acertada a opção de partir para um outro caminho estético, pavimentado pelo violão de Elton Meireles, arranjador da faixa produzida pela própria Adyel. Sob a produção e o arranjo do violonista Rovilson Pascoal, O Melhor Vai Começar (Guilherme Arantes, 1982) tem seu frescor preservado na gravação de Marcia Castro. Já Amanhã (Guilherme Arantes, 1977) se escora no canto firme de Ângela RoRo em registro de voz e piano (o de Daniel Bondaczuk) que se ressente da comparação inevitável com a orquestração antológica da gravação original do compositor. Tiê acerta o tom delicado de Pedacinhos (Guilherme Arantes, 1983) em gravação repleta de barulhinhos bons orquestrados pelo produtor da faixa, Gianni Dias. Até um piano infantil se ouve nesta que é uma das melhores faixas do disco. Tiê cola Pedacinhos como se a canção fosse sua. No tempo das programações e teclados pilotados por André Torquato, Verônica Sabino ressurge luminosa em Loucas Horas (Guilherme Arantes, 1986) e se impõe como outro grande destaque do elenco feminino. Em tom mais clássico, Verônica Ferriani reitera suas grandes (e ainda pouco reconhecidas) qualidades de intérprete em Muito Diferente (Guilherme Arantes, 1989), uma das mais belas baladas do cancioneiro de Arantes. Já Cheia de Charme (Guilherme Arantes, 1985) poderia ter ganhado um pouco mais de... charme na gravação de Silvia Machete, produzida por Marcelo Lobato e Jam da Silva. Afinal, trata-se de um dos hits mais irresistíveis da face mais pop da obra de Arantes. Faltou a Machete imprimir sua personalidade artística na música. Como Mariana Aydar soube fazer magistralmente, por exemplo, em Águas Passadas (Guilherme Arantes, 1976), a faixa mais moderna e arrojada do tributo. Produzida por Duani Martins, com guitarras de Guilherme Held, a gravação de Mariana Aydar resulta densa, ousada, surpreendente, personalíssima, confirmando o expressivo crescimento dessa artista paulista. Intérprete de voz cristalina, Vânia Bastos se ajusta com perfeição ao tom jobiniano de Primaveras e Verões (Guilherme Arantes, 1989), solar balada que jazia esquecida no baú de Arantes. Maria Alcina bate na trave ao reviver Aprendendo a Jogar (Guilherme Arantes, 1980), prejudicada por arranjo artificial e pela comparação cruel com o registro emblemático de Elis Regina (1945 - 1982), também a intérprete original de Só Deus É Quem Sabe (Guilherme Arantes, 1980), balada revivida no tributo com a classe da voz de Luciana Alves em gravação produzida por Swami Jr. que junta os violões virtuosos de Swami e de Chico Pinheiro. Célia dá aula de interpretação em O Amor Nascer (Guilherme Arantes, 1981), bela balada que explicita a influência dos compositores clássicos na obra de Arantes - canção para a qual bastam uma voz tocante como a de Célia e um piano (no caso, o de Alex Vianna). No mesmo estilo clássico, Leila Pinheiro une técnica e emoção em doses precisas ao pôr sua voz e seus teclados na sensível balada Despertar do Amor (Guilherme Arantes, 1985). O delicado equilíbrio entre técnica e emoção também é obtido por Fhernanda Fernandes ao revisitar Toda Vã Filosofia (Guilherme Arantes, 1988), balada lançada por ninguém menos do que Roberto Carlos. Já Daniela Procópio - intérprete da metalinguística Canção de Amor (Guilherme Arantes e J.C. Costa Netto, 1988) - se limita a seguir com reverência a irretocável gravação original de Leila Pinheiro, feita no álbum Alma (1988). Por fim, Vivendo com Medo (Guilherme Arantes, 1980) - música obscura que Arantes forneceu para Miss Lene, efêmera cantora projetada na era das discotecas - sai dos subterrâneos no registro roqueiro de Marya Bravo em grandiosa faixa produzida pelo guitarrista Bruno Pederneiras com a união exemplar de sintetizadores com guitarras. É fecho inusitado para um disco previsivelmente calcado em teclados. Arremate que expõe face hoje menos conhecida da obra de Guilherme Arantes, compositor ora celebrado em tributo à altura dessa obra.

12 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Lulu Santos levou a fama, mas Guilherme Arantes é de fato o último romântico do pop brasileiro. Egresso de grupo de rock progressivo Moto Perpétuo, do qual foi vocalista e tecladista, o compositor paulista construiu desde 1976 obra solo que concilia influências de rock, MPB e música clássica. Idealizado pelo DJ Zé Pedro para sua gravadora Joia Moderna, o CD A Voz da Mulher na Obra de Guilherme Arantes - segundo título da série iniciada em 2011 com tributo ao compositor uruguaio Taiguara (1945 - 1996) - honra o legado deste compositor conhecido por suas baladas românticas de alma pop. Já à venda em edição digital, o disco - nas lojas até o fim deste mês de maio de 2012 - apresenta 20 gravações inéditas do cancioneiro de Arantes, feitas por 20 cantoras de estilos, gerações e personalidades distintas. O resultado fica muito acima da média irregular de tributos do gênero. Zizi Possi refina Meu Mundo e Nada Mais (Guilherme Arantes, 1976) com dois dos cinco violonistas do 5 a Seco, Pedro Altério e Vinicius Calderoni. Assinado pelos músicos com a cantora, o arranjo arma bela cama harmônica que valoriza interpretação que reitera a sofisticação singular do canto de Zizi. Na sequência, Cida Moreira reitera sua classe ao pôr voz e piano a serviço de Brincar de Viver (Guilherme Arantes e Jon Lucien, 1983) em interpretação sóbria e elegante. Já a faixa de Vanessa da Mata, Cuide-se Bem (Guilherme Arantes, 1976), chama mais atenção pela arquitetura do arranjo urdido com o baixo, a guitarra e as programações de Gustavo Ruiz - produtor da faixa - do que pela interpretação da cantora, geralmente mais opaca fora de sua seara autoral. Em órbita diversa, Planeta Água (Guilherme Arantes, 1981) gira sedutor no tributo justamente por conta da interpretação de Fafá de Belém, feita na medida certa da intensidade exigida por essa balada de espírito sinfônico. Adyel Silva também marca expressiva presença como intérprete de Êxtase (Guilherme Arantes, 1979). O arranjo da gravação original de Arantes é tão marcante que resultou acertada a opção de partir para outro caminho, pavimentado pelo violão de Elton Meireles, arranjador da faixa produzida pela própria Adyel. Sob a produção e o arranjo do violonista Rovilson Pascoal, O Melhor Vai Começar (Guilherme Arantes, 1982) tem seu frescor preservado na gravação de Marcia Castro. Já Amanhã (Guilherme Arantes, 1977) se escora no canto firme de Ângela RoRo em registro de voz e piano (o de Daniel Bondaczuk) que se ressente da comparação inevitável com a orquestração antológica da gravação original do compositor. Tiê acerta o tom delicado de Pedacinhos (Guilherme Arantes, 1983) em gravação repleta de barulhinhos bons orquestrados pelo produtor da faixa, Gianni Dias. Até um piano infantil se ouve nesta que é uma das melhores faixas do disco. Tiê cola Pedacinhos como se a canção fosse sua. No tempo das programações e teclados pilotados por André Torquato, Verônica Sabino ressurge luminosa em Loucas Horas (Guilherme Arantes, 1986) e se impõe como outro grande destaque do elenco feminino. Em tom mais clássico, Verônica Ferriani reitera suas grandes (e ainda pouco reconhecidas) qualidades de intérprete em Muito Diferente (Guilherme Arantes, 1989), uma das mais belas baladas do cancioneiro de Arantes.

Mauro Ferreira disse...

Já Cheia de Charme (Guilherme Arantes, 1985) poderia ter ganhado um pouco mais de... charme na gravação de Silvia Machete, produzida por Marcelo Lobato e Jam da Silva. Afinal, trata-se de um dos hits mais irresistíveis da face mais pop da obra de Arantes. Faltou a Machete imprimir sua personalidade artística na música. Como Mariana Aydar faz magistralmente, por exemplo, em Águas Passadas (Guilherme Arantes, 1976), a faixa mais moderna e arrojada do tributo. Produzida por Duani Martins, com guitarras de Guilherme Held, a gravação de Aydar resulta densa, surpreendente, personalíssima, confirmando o expressivo crescimento da artista paulista. Intérprete de voz cristalina, Vânia Bastos se ajusta com perfeição ao tom jobiniano de Primaveras e Verões (Guilherme Arantes, 1989), solar balada que jazia esquecida no baú de Arantes. Maria Alcina bate na trave ao reviver Aprendendo a Jogar (Guilherme Arantes, 1980), prejudicada por arranjo artificial e pela comparação cruel com o registro emblemático de Elis Regina (1945 - 1982), também a intérprete original de Só Deus É Quem Sabe (Guilherme Arantes, 1980), balada revivida no tributo com a classe da voz de Luciana Alves em gravação produzida por Swami Jr. que junta os violões virtuosos de Swami e de Chico Pinheiro. Célia dá aula de interpretação em O Amor Nascer (Guilherme Arantes), bela balada que explicita a influência dos compositores clássicos na obra de Arantes - canção para a qual bastam uma voz tocante como a de Célia e um piano (no caso, o de Alex Vianna). No mesmo estilo clássico, Leila Pinheiro une técnica e emoção em doses precisas ao pôr sua voz e seus teclados na balada Despertar do Amor (Guilherme Arantes, 1985). O delicado equilíbrio entre técnica e emoção também é obtido por Fhernanda Fernandes ao revisitar Toda Vã Filosofia (Guilherme Arantes, 1988), balada lançada por ninguém menos do que Roberto Carlos. Já Daniela Procópio - intérprete da metalinguística Canção de Amor (Guilherme Arantes e J.C. Costa Netto, 1988) - se limita a seguir com reverência a irretocável gravação original de Leila Pinheiro, feita no álbum Alma (1988). Por fim, Vivendo com Medo (Guilherme Arantes, 1980) - música obscura que Arantes deu para Miss Lene, efêmera cantora projetada na era das discotecas - sai dos subterrâneos no registro roqueiro de Marya Bravo em grandiosa faixa produzida pelo guitarrista Bruno Pederneiras com a união exemplar de sintetizadores com guitarras. É fecho inusitado para um disco previsivelmente calcado em teclados. Arremate que expõe face hoje menos conhecida da obra de Guilherme Arantes, compositor ora reverenciado em tributo que se põe à altura do (imenso) legado do homenageado no universo pop brasileiro.

aguiar_luc disse...

Amei o cd!! É lindo, e não sabia que o Guilherme Arantes apesar de tão chato, tinha tantas composições belas!!!

Vladimir disse...

Pena que Guilherme Arantes tenha perdido o rumo de sua carreira ao se isolar na Bahia!!

Perdeu o viço como compositor, mas sua obra está aí para ser admirada para quem quiser escutar, mesmo na voz destas grandes cantoras!!

Ah, a capa poderia ter ficado melhor!! Esta foto não ajudou em nada... Pena!!

Marcelo disse...

Mauro, você foi muito bonzinho nessa avaliação. Nesse tributo existem coisas constrangedoras. Maria Alcina deveria ser exilada depois dessa interpretação. Cida Moreira desafinando em todas as notas. Tiê parece uma criança numa clínica de reabilitação... Sem sombra de dúvida, as maiores interpretações são da Verônica Ferriani , da Verônica Sabino, da Leila Pinheiro, numa música linda, e da Vãnia Bastos, com sua sempre maravilhosa afinação.

Ednei Martins disse...

É interessante que não dá pra entender as 4 estrelas. Quem lê a resenha imagina 2 e meia.

antonio disse...

realmente a Jóia Moderna tem um sério problema de design! As capas de seus discos são horrendas. Será que não dá para aprender com a Real World, com a ECM e outras tantas.....

Jeferson Garcia disse...

Gosto é gosto!!!

Achei a faixa da Tiê constrangedora!

Melhor faixa do álbum é mesmo Verônica Ferriani.

lurian disse...

As melhores faixas são das Verônicas Sabino e Ferriani.
Faço coro à gravação de Tiê... simplesmente deformática.

MM disse...

Fiquei com vergonha alheia ao ouvir Tiê e Maria Alcina.

Verônica Sabino e Leila Pinheiro foram as melhores, sem dúvida.

A capa é de péssimo gosto, como todas as outras da Jóia Moderna...

Nota 7!

Breno Alves disse...

As gravações de Zizi, Vanessa e Vãnia Bastos ficaram muito legais. "O Melhor Vai Começar" tem em Patrícia Marx (http://www.youtube.com/watch?v=Bh9Lfsw9pi4) sua melhor intérprete, sem desmerecer a Marcia Castro, de quem gosto muito... Bela iniciativa!

Coisas do Sertão disse...

Marcos Lup

Poxa vida a galera reclama demais, é só pular a faixa que não gostou. Só vi criticas com cara de pavor ao artista. Cadê os elogios sábios, não existem?. Ou todo mundo ai é maestro. Só falta dizer que Roro ficou podre. Lá na homenagem a Taiguara, só sei u que tem de bom, as ruins não escuto, pronto.