Resenha de show
Título: MTV ao Vivo - Tributo à Legião Urbana
Artista: Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e Wagner Moura (em foto de Mariana Caldas, do Flickr MTV)
Local: Espaço das Américas (São Paulo, SP)
Data: 29 de maio de 2012
Cotação: * *
Resenha feita com base na transmissão ao vivo do show pela MTV
"Essa é talvez a noite mais emocionante da minha vida. Essa banda mudou a minha vida", garantiu Wagner Moura, com provável dose de exagero, efeito de sua emoção, após cantar Daniel na Cova dos Leões (1986), terceira das 26 músicas do roteiro seguido por Moura com o guitarrista Dado Villa-Lobos e o baterista Marcelo Bonfá na estreia nacional do show MTV ao Vivo - Tributo à Legião Urbana. Elétrico em cena, o ator transformado em cantor deu a impressão de estar sendo sincero na apresentação de 29 de maio de 2012. Contudo, a entrega de Moura e a adesão passional do público que lotou o Espaço das Américas, em São Paulo (SP), não bastaram para legitimar um tributo a rigor sem sentido. Afinal, dividindo o palco com Moura, estavam dois dos quatro legionários da formação clássica da banda criada em Brasília (DF) em 1982 por Renato Russo (1960 - 1996), mentor e alma do grupo que seria adorado com devoção messiânica pela juventude dos anos 80 e começo dos 90. Ou seja, Dado e Bonfá prestavam tributo a eles mesmos, já que, impedidos de usar o nome Legião Urbana pelos herdeiros de Renato Russo, os músicos e a MTV tiveram que conceituar o show - gravado ao vivo para edição em CD e DVD - como tributo à banda formada há 30 anos. Como vocalista, na função ingrata de dar voz a músicas já eternizadas no canto imortal de Renato Russo, Moura se mostrou seguro e espontâneo, superando expectativas - ainda que suas limitações vocais tenham ficado evidentes, sobretudo nas canções mais melódicas como Antes das Seis (1997) e Se Fiquei Esperando Meu Amor Passar (1989), números da segunda metade do roteiro que beiraram o constrangimento (Moura pareceu com menos fôlego nesse segundo bloco). De todo modo, contra todas as expectativas, houve momentos bonitos. Índios (1986) foi um deles, número em que Moura expôs sua intimidade com o cancioneiro do grupo, já evidenciada antes quando o ator se iluminou ao cantar Quando o Sol Bater na Janela do teu Quarto (1989). Monte Castelo (1989), com cordas em clima sinfônico, foi outro bom momento. É que, por mais que a natureza do tributo seja questionável, é inegável a força do repertório da Legião Urbana, a maior banda brasileira da geração pós-Mutantes por conta da ideologia desse cancioneiro composto à flor da pele - com verdade. Wagner Moura está longe de ser bom cantor, mas defendeu com garra esse repertório e convenceu no papel de vocalista de uma banda de rock - universo musical em que por vezes uma entrega sincera a uma ideologia redime a falta de uma boa voz. Sem essa entrega, o convidado Fernando Catatau mostrou - ao dividir com Moura os vocais de Andrea Doria (1986) - que, como cantor, é um dos melhores guitarristas de sua geração. E por falar em guitarra, Eu Sei (1987) se diferenciou no roteiro pelo solo memorável de Dado Villa-Lobos. Já O Teatro dos Vampiros (1991) - cantada por Bonfá - reiterou que o músico deve se limitar ao toque de sua bateria. Músicas nunca apresentadas ao vivo pela Legião Urbana, a bela A Via Láctea (1996) e Esperando por Mim (1996) deram tom ligeiramente introspectivo ao show, pois são temas do melancólico álbum A Tempestade (1996) em que Renato Russo - então já bastante debilitado pelas complicações decorrentes da contaminação pelo vírus da Aids - expressou nas letras tristeza que beirava a depressão. Geração Coca-Cola (1985) tangenciou a trilha folk-country por conta da gaita de Clayton Martins, músico do grupo Cidadão Instigado. Já Damaged Goods - música que deu início em 1978 à discografia da banda inglesa de pós-punk Gang of Four - se justificou no roteiro pela afetiva presença em cena de Andy Gill, guitarrista do grupo que influenciou os jovens que viviam em Brasília (DF) na virada dos anos 70 para os 80. O número contou com a adesão do baixista Bi Ribeiro, do trio carioca Paralamas do Sucesso, colega de geração da Legião. Gill permaneceu em cena durante Ainda É Cedo (1985). Daí para o fim, o tributo transcorreu mais irregular. Músicas dispensáveis - casos de 1965 (Duas Tribos) (1989) e Giz (1993) - se alternaram com hits como Há Tempos (1989). Será (1985) arrematou o bis de show que por vezes deu a impressão de ser mero karaokê. Mas o público, que ainda pedia em vão Faroeste Caboclo (1987), embarcou na onda, alheio à sensação de estranhamento causada pelo tributo em quem entende que a alma da Legião Urbana era e sempre será Renato Russo.
"Essa é talvez a noite mais emocionante da minha vida. Essa banda mudou a minha vida", garantiu Wagner Moura, com provável dose de exagero, efeito de sua emoção, após cantar Daniel na Cova dos Leões (1986), terceira das 26 músicas do roteiro seguido por Moura com o guitarrista Dado Villa-Lobos e o baterista Marcelo Bonfá na estreia nacional do show MTV ao Vivo - Tributo à Legião Urbana. Elétrico em cena, o ator transformado em cantor deu a impressão de estar sendo sincero na apresentação de 29 de maio de 2012. Contudo, a entrega de Moura e a adesão passional do público que lotou o Espaço das Américas, em São Paulo (SP), não bastaram para legitimar um tributo a rigor sem sentido. Afinal, dividindo o palco com Moura, estavam dois dos quatro legionários da formação clássica da banda criada em Brasília (DF) em 1982 por Renato Russo (1960 - 1982), mentor e alma do grupo que seria adorado com devoção messiânica pela juventude dos anos 80 e início dos 90. Ou seja, Dado e Bonfá prestavam tributo a eles mesmos, já que, impedidos de usar o nome Legião Urbana pelos herdeiros de Renato Russo, os músicos e a MTV tiveram que conceituar o show - gravado ao vivo para edição em CD e DVD - como tributo à banda formada há 30 anos. Como vocalista, na função ingrata de dar voz a músicas já eternizadas no canto imortal de Renato Russo, Moura se mostrou seguro e espontâneo, superando expectativas - ainda que suas limitações vocais tenham ficado evidentes, sobretudo nas canções mais melódicas como Antes das Seis (1997) e Se Fiquei Esperando Meu Amor Passar (1989), números da segunda metade do roteiro que beiraram o constrangimento (Moura pareceu com menos fôlego nesse segundo bloco). De todo modo, contra todas as expectativas, houve momentos bonitos. Índios (1986) foi um deles, número em que Moura expôs sua intimidade com o cancioneiro do grupo, já evidenciada antes quando o ator se iluminou ao cantar Quando o Sol Bater na Janela do teu Quarto (1989). Monte Castelo (1989), com cordas em clima sinfônico, foi outro bom momento. É que, por mais que a natureza do tributo seja questionável, é inegável a força do repertório da Legião Urbana, a maior banda brasileira da geração pós-Mutantes por conta da ideologia desse cancioneiro composto à flor da pele - com verdade. Wagner Moura está longe de ser bom cantor, mas defendeu com garra esse repertório e convenceu no papel de vocalista de uma banda de rock - universo musical em que por vezes uma entrega sincera a uma ideologia redime a falta de uma boa voz.
ResponderExcluirSem essa entrega, o convidado Fernando Catatau mostrou - ao dividir com Moura os vocais de Andrea Doria (1986) - que, como cantor, é um dos melhores guitarristas de sua geração. E por falar em guitarra, Eu Sei (1987) se diferenciou no roteiro pelo solo memorável de Dado Villa-Lobos. Já O Teatro dos Vampiros (1991) - cantada por Bonfá - reiterou que o músico deve se limitar ao toque de sua bateria. Músicas nunca apresentadas ao vivo pela Legião Urbana, a bela A Via Láctea (1996) e Esperando por Mim (1996) deram tom ligeiramente introspectivo ao show, pois são temas do álbum A Tempestade (1996) em que Renato Russo - então já bastante debilitado pelas complicações decorrentes da contaminação pelo vírus da Aids - expressou nas letras tristeza que beirava a depressão. Geração Coca-Cola (1985) tangenciou a trilha folk-country por conta da gaita de Clayton Martins, músico do grupo Cidadão Instigado. Já Damaged Goods - música que deu início em 1978 à discografia da banda inglesa de pós-punk Gang of Four - se justificou no roteiro pela afetiva presença em cena de Andy Gill, guitarrista do grupo que influenciou os jovens que viviam em Brasília (DF) na virada dos anos 70 para os 80. O número contou com a adesão do baixista Bi Ribeiro, do trio carioca Paralamas do Sucesso, colega de geração da Legião. Gill permaneceu em cena durante Ainda É Cedo (1985). Daí para o fim, o tributo transcorreu mais irregular. Músicas dispensáveis - casos de 1965 (Duas Tribos) (1989) e Giz (1993) - se alternaram com hits como Há Tempos (1989). Será (1985) arrematou o bis de show que por vezes deu a impressão de ser mero karaokê. Mas o público, que ainda pedia em vão Faroeste Caboclo (1987), embarcou na onda, alheio à sensação de estranhamento causada pelo tributo em quem entende que a alma da Legião Urbana era e sempre será Renato Russo.
ResponderExcluirE eu achando que estava sendo chata demais.
ResponderExcluirBjs.
Mauro,
ResponderExcluirMuito bom o texto.Apenas as datas após Renato Russo (1960-1982),creio que vc quis dizer (1960-1996)!
Abs!
Grato, Daniel, pelo elogio e pelo toque sobre a data. Sim, claro que é 1996. 1982 foi o fim do Aborto Elétrico. Abs, MauroF
ResponderExcluirVi por curiosidade, acho que o motivo da maioria, até as sete primeiras músicas. Aí percebi que a platéia cantava melhor que o ator e desisti.
ResponderExcluirQuanto ao Wagner, acho que ele foi corajoso, honesto e, pra pegar um mote do seu mais célebre personagem, fanfarrão.
A mistura é boa, mas não curti.
O que é pior, holograma ou isso aí?
E se a moda pega?!
Selton Mello no Ira!
Rodrigo Santoro na Blitz
Lázaro Ramos no Inocentes... rsrsrs
achei uma bosta completa! bom p kem naum viveu, sentiu, curtiu a força profunda da Banda, do grande Renato!
ResponderExcluirTotalmente dispensável esse tributo risível!!! enfim, minha opinião é essa!!! afff
Dado e Bonfá (finalmente) tocando muito bem, mas o "tributo" foi horrível, simples assim.
ResponderExcluirA tarefa do Wagner era complicada. Porém acho que ele não tinha a pretensão de chegar perto do canto do Renato. Coisa difícil visto que era o maior cantor de sua geração. E ninguém apareceu com o canto em tal nível depois para podermos comparar. No geral me diverti bastante. Não tive o privilégio de ver a Legião ao vivo, era muito jovem, mais acompanhei a banda desde o primeiro disco. Fica a alegria de vê-los na ativa. E me coloco na posição do Wagner, da responsabilidade enorme e dentro dos seus recursos acho que fez bonito. Infelizmente o Renato morreu, os fãs da banda e do próprio Renato não. Fiquei feliz em ouvir tanta música boa, e na realidade todos somos a Legião Urbana. Força Sempre.
ResponderExcluirEu não gostei...por motivos já ditos aqui, não era pra ser o Renato isso é claro, mas um preparo na voz era necessário, parabéns ao público q cantou muito.
ResponderExcluirE Zé não acabe com Inocentes por favor, estão muito bem ainda.
PS: Vocalista da banda Catedral tem a voz muito parecida com a de Renato.
é... uma lástima q as pessoas não entendam homenagem como tal, preferem sempre as cópias. deviam ficar somente com o trabalho que o bruce gomlevski fez sobre renato russo no teatro - interpretação q retratava o cantor à perfeição. qto ao wagner moura, belíssima HOMENAGEM à legião urbana.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
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ResponderExcluirQualquer um que se metesse a homenagear a Legião como fez o Wagner, levaria chumbo. Entretanto, gostei da apresentação, tiveram erros sim, mas pelo menos foi algo sincero feito por um admirador e fã da banda!
ResponderExcluirGraande chance perdida de a emissora homenagear, de forma estruturada, a Legião....
ResponderExcluir..Tony Platão esperava por esse momento...
...quem curtiu mesmo foi o Capitão...
....graande chance perdida de a emissora homenagear, de uma forma estruturada e mais definitiva, a Legião Urbana....
ResponderExcluir...Tony Platão esperava por esse momento...
...quem curtiu mesmo foi o Capitão...
Wagner Moura cantou bem e apaixonadamente algumas poucas músicas.
ResponderExcluirLembro-me que já ouvi a banda dele e não achei ele desafinado. Imagino que foi uma questão de não adequarem o tom da música a ele.
Sem dúvida, fica como um registro mercadológico. Se fosse só um show, só uma exibição, mas virar cd e dvd é incomodo, para mim.
Eu fui e, sinceramente, gostei. Também não tive a oportunidade de ver a Legião ao vivo, então estar lá, diante do Dado e do Bonfá desfilando aquelas músicas maravilhosas, foi uma experiência arrepiante.
ResponderExcluirA escolha pelo Wagner Moura se mostrou acertada e, sabe por quê? Ele é cantor "neutro" , imune a comparações. E ele estava certamente muito emocionado e feliz por ocupar aquele lugar. Era um representante de nós, fãs, e pronto. Ninguém conseguiria substituir o Renato à altura e, se conseguisse (por exemplo, o Jerry Adriani poderia ser boa uma aposta), as comparações tomariam conta da cena e o espetáculo, pelo que ele tem de mais belo (as canções), ficaria ofuscado.
A transmissão ao vivo não captou nem um milésimo da emoção que era fazer parte daquele coro.
Só acrescento um comentário à resenha do Mauro: após o encerramento do show, as caixas de som tocaram a versão original de "Por Enquanto", e o público foi saindo da casa de shows entoando em uníssono a canção que fecha o primeiro disco da Legião. A TV não mostrou isso e nem conseguiria transmitir o arrepio que foi participar desta verdadeira procissão! Como se ainda houvesse lágrimas, àquela altura, para derramar...!
Faço TODAS minhas as palavras do Miyage, só quem estava lá é que pode sentir a emoção, e ainda mais no meu caso que estava colada na grade... foi muito bom, foi maravilhoso, e como o próprio Wagner Moura disse: Achar que ele iria imitar Renato Russo é idiotice, mas ele estava lá naquele palco com os caras (Dado e Marcelo) que brilharam em sua adolescência, estar naquele palco pra ele foi algo que ele nunca irá esquecer" e digo que cada um que é fã, sabendo cantar ou não, adoraria estar no lugar dele e dar uma banana para as críticas.
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