quarta-feira, 9 de maio de 2012

Rita faz 'bat macumbinha' em 'Reza' com devoção ao santo tropicalista

Resenha de CD
Título: Reza
Artista: Rita Lee
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * *

Por sempre ter rezado pela cartilha tropicalista, Rita Lee se permite a liberdade de abrir seu primeiro álbum de inéditas em nove anos com baticum exorcista de inspiração religiosa e tom nordestino - Pistis Sophia (Rita Lee), faixa em que a cantora simula o canto das rezadeiras interioranas ao som da percussão de João Parahyba - e de fechar o sucessor de Balacobaco (2003) com tema instrumental de atmosfera psicodélica, Pow, uma das músicas da lavra de Rita com Roberto de Carvalho que mais evocam a anarquia mutante de tempos idos. Entre uma faixa e outra do CD posto esta semana nas lojas pela gravadora Biscoito Fino, a roqueira faz seu exorcismo existencial com direito a alguns rocks de espírito bem pop como As Loucas (Rita Lee e Roberto de Carvalho) e o que dá título ao disco, Reza (Rita Lee e Roberto de Carvalho), em alta rotação desde março na trilha sonora da novela Avenida Brasil. O santo inspirador de melodias não se revela tão forte em Reza como em Balacobaco. De todo modo, o disco expõe a devoção da roqueira ao pop e faz lá seus milagres - como o de fazer a artista entrar na máquina do tempo e soar como nos anos 80 em Divagando (Rita Lee e Roberto de Carvalho) graças às batidas do DJ Zegon, convidado da faixa em que Rita, aos 64 anos, já insere de leve questões filosóficas sobre a finitude. Outro DJ, Apollo Nove, assina a produção do álbum com Roberto de Carvalho, mas dá a impressão de ser um estranho no ninho do casal. A presença de Apollo em Reza é bem discreta. É Roberto de Carvalho quem comanda as carrapetas e as programações enquanto pilota a maioria das guitarras, baixo, teclados e loops usados na formatação das 14 faixas. A propósito, as guitarras se fazem ouvir em alto e bom som em Vidinha (Rita Lee e Roberto de Carvalho), rock de peso aditivado com a bateria de Iggor Cavalera, convidado também de Tô um Lixo (Rita Lee e Roberto de Carvalho), tema ambientado em clima mais suave e pop. Vidinha, aliás, rebobina a questão sobre a morte - assunto que já se insinua no cancioneiro de Rita sem pesar a mão na obra da Ovelha - enquanto destila raiva pelo abandono da rotina outrora junkie. Em tom similar, Tô um Lixo rumina explícito desencanto com a vidinha de hábitos saudáveis. "Dinheiro tanto faz / A cabeça tá um jazz", sintetiza Rita em versos escritos na primeira pessoa sem caráter autobiográfico de acordo com declarações da roqueira. Faixa de rala inspiração melódica, turbinada com efeitos de guitarra e voz de Apollo Nove, Bixo Grilo (Rita Lee) conecta Rita Lee aos tempos cibernéticos com a mesma tensão sexual que pauta Rapaz (Rita Lee e Roberto de Carvalho), tema que roça a atmosfera de um blues. O baticum eletrônico sustenta Paradise Brasil (Rita Lee e Roberto de Carvalho), tirada de sarro em inglês e em espanhol com a visão gringa da Carnavália tupiniquim - a bacanália, na definição tropicalista de Rita & Roberto. Em Tutti Fuditti (Rita Lee e Roberto de Carvalho), faixa bem marota que evoca na introdução o arranjo de hit da cantora Rita Pavone nos anos 60, o casal arma jogo de palavras italianas para exercitar a espirituosidade, mote também de Bagdá (Rita Lee), faixa que a dupla simula sonoridades árabes. Nessa rota globalizada, Bamboogiewoogie (Rita Lee) cai bem no suingue latino e o rock Gororoba (Rita Lee e Roberto de Carvalho) reitera o sabor menos sedutor das melodias de Reza na metade final deste bom álbum que, mesmo não sendo antológico como Balacobabo, está em sintonia com o espírito moleque da obra da roqueira mais pop do Brasil. A bat macumbinha de Reza mostra que Rita Lee continua pondo fé na liberdade tropicalista. 

8 comentários:

  1. Por sempre ter rezado pela cartilha tropicalista, Rita Lee se permite a liberdade de abrir seu primeiro álbum de inéditas em nove anos com baticum exorcista de inspiração religiosa e tom nordestino - Pistis Sophia (Rita Lee), faixa em que a cantora simula o canto das rezadeiras interioranas ao som da percussão de João Parahyba - e de fechar o sucessor de Balacobaco (2003) com tema instrumental de atmosfera psicodélica, Pow, uma das músicas da lavra de Rita com Roberto de Carvalho que mais evocam a anarquia mutante de tempos idos. Entre uma faixa e outra do CD posto esta semana nas lojas pela gravadora Biscoito Fino, a roqueira faz seu exorcismo existencial com direito a alguns rocks de espírito bem pop como As Loucas (Rita Lee e Roberto de Carvalho) e o que dá título ao disco, Reza (Rita Lee e Roberto de Carvalho), em alta rotação desde março na trilha sonora da novela Avenida Brasil. O santo inspirador de melodias não se revela tão forte em Reza como em Balacobaco. De todo modo, o disco expõe a devoção da roqueira ao pop e faz lá seus milagres - como o de fazer a artista entrar na máquina do tempo e soar como nos anos 80 em Divagando (Rita Lee e Roberto de Carvalho) graças às batidas do DJ Zegon, convidado da faixa em que Rita, aos 64 anos, já insere de leve questões filosóficas sobre a finitude. Outro DJ, Apollo Nove, assina a produção do álbum com Roberto de Carvalho, mas dá a impressão de ser um estranho no ninho do casal. A presença de Apollo em Reza é bem discreta. É Roberto de Carvalho quem comanda as carrapetas e as programações enquanto pilota a maioria das guitarras, baixo, teclados e loops usados na formatação das 14 faixas. A propósito, as guitarras se fazem ouvir em alto e bom som em Vidinha (Rita Lee e Roberto de Carvalho), rock de peso aditivado com a bateria de Iggor Cavalera, convidado também de Tô um Lixo (Rita Lee e Roberto de Carvalho), tema ambientado em clima mais suave e pop. Vidinha, aliás, rebobina a questão sobre a morte - assunto que já se insinua no cancioneiro de Rita sem pesar a mão na obra da Ovelha - enquanto destila raiva pelo abandono da rotina outrora junkie. Em tom similar, Tô um Lixo rumina explícito desencanto com a vidinha de hábitos saudáveis. "Dinheiro tanto faz / A cabeça tá um jazz", sintetiza Rita em versos escritos na primeira pessoa sem caráter autobiográfico de acordo com declarações da roqueira. Faixa de rala inspiração melódica, turbinada com efeitos de guitarra e voz de Apollo Nove, Bixo Grilo (Rita Lee) conecta Rita Lee aos tempos cibernéticos com a mesma tensão sexual que pauta Rapaz (Rita Lee e Roberto de Carvalho), tema que roça a atmosfera de um blues. O baticum eletrônico sustenta Paradise Brasil (Rita Lee e Roberto de Carvalho), tirada de sarro em inglês e em espanhol com a visão gringa da Carnavália tupiniquim - a bacanália, na definição tropicalista de Rita & Roberto. Em Tutti Fuditti (Rita Lee e Roberto de Carvalho), faixa bem marota que evoca na introdução o arranjo de hit da cantora Rita Pavone nos anos 60, o casal arma jogo de palavras italianas para exercitar a espirituosidade, mote também de Bagdá (Rita Lee), faixa que a dupla simula sonoridades árabes. Nessa rota globalizada, Bamboogiewoogie (Rita Lee) cai bem no suingue latino e o rock Gororoba (Rita Lee e Roberto de Carvalho) reitera o sabor menos sedutor das melodias de Reza na metade final deste bom álbum que, mesmo não sendo antológico como Balacobabo, está em sintonia com o espírito moleque da obra da roqueira mais pop do Brasil. A bat macumbinha de Reza mostra que Rita Lee continua pondo fé na liberdade tropicalista.

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  2. Acho que "maroto" define. Hehehe!

    Consegui desapegar do disco da Mart'nália e já estou completamente viciado.

    Com direito a crise de riso cada vez que ouço a primeira faixa! :)

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  3. Emanuel Andrade disse

    Sou fanzão da Rita já ouvi o disco
    a capa é muito confusa exótica.
    Reza pegou legal, mas o repertório no todo não é da Rita inspirada.

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  4. Todo o disco em desceu perfeitamente, com exceção apenas de "Bixo Grilo". Toda a batimacumba elétrica, rezas pra diferentes santos, os jogos de palavras em apenas sonoridade.
    Vão dizer: Rita não é mais a mesma. Eu digo: Rita sempre foi e será Rita Lee!

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  5. Belíssima crítica sobre o ótimo trabalho de Rita Lee que tanto me surpreendeu...que orgulho é existir Rita Lee na nossa cultura! Porém acho desnecessário a comparação com o maravilhoso álbum 'Balacobaco', assim como com qualquer obra da artista...cada álbum é um álbum e seu conjunto impecável. Artur - BH.

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  6. Concordo plenamente, Mauro.

    Ouvi o disco e tive a mesma sensação: pode não ter a inspiração de "Balacobaco", pode não haver um "Amor e sexo" que vá estourar, mas a verve de Rita está lá.

    Só uma coisinha: ainda acho que, se dessem espaço a "Tutti Fuditti", ia estourar. O arranjo "ritapavoniano" é delicioso, daqueles pop até a medula.

    Felipe dos Santos Souza

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  7. Comprei hoje to ouvindo aqui, a faixa de abertura é engraçada mesmo ! e a letra de reza fica na minha cabeça toda hora ! Adorei a capa, as fotos malucas do encarte. Rita na Biscoito, deu muito certo. Gostaria que Tânia Alves gravasse lá tb, chega dos boleros. Adorava a Tânia dos 5 primeiros albuns ! rsrs. Mas voltando a Rita ! Curti !

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  8. Nunca gostei da Rita Lee pop. Só da Rita rock.
    O casamento com o Roberto de Carvalho fez mal, musicalmente, a ela.

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