Mauro Ferreira no G1

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domingo, 20 de maio de 2012

Show de Elza Soares fica ótimo quando deixam a 'nega' gingar sozinha

Resenha de show
Título: Deixa a Nega Gingar
Artista: Elza Soares (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Teatro Rival (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 19 de maio de 2012
Cotação: * * * 

Deixa a Nega Gingar é um show realmente novo de Elza Soares, não um daqueles shows requentados em que a cantora carioca troca somente o título e inclui duas ou três músicas inéditas em sua voz para atrair público. Teria tudo para ser antológico na trajetória de intérprete não fossem as intervenções dispensáveis do cantor Beto Aquino - presença opaca quando divide a cena com Elza no sambas Dr. (Beto Aquino) e Se Acaso Você Chegasse (Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins, 1938) - e do violonista JP Silva, diretor musical do show que Elza trouxe de volta aos palcos cariocas para duas apresentações no Teatro Rival. A partir de seu solo vocal em As Rosas Não Falam (Cartola, 1976), JP passa a dividir a cena com a cantora em vários números. Tais excessivas intervenções acabam empanando o brilho de um show que reafirma a forma vocal de Elza, espantosa para seus alegados 74 anos (a cantora nasceu de fato em 23 de junho de 1930, mas Elza sustenta que veio ao mundo em 1937). Seja como for, a bossa negra de Elza Soares resiste esplendidamente ao tempo. Se seus movimentos no palco estão reduzidos por problemas de saúde, a voz transita com incríveis força, vivacidade e suingue por sambas sincopados como Beija-me (Roberto Martins e Mário Rossi, 1943), número em que JP assume o bandolim. Nesse show de tom eletrônico, pontuado pelas programações do DJ Ricardo Muralha, a intérprete está impregnada de orgulhosa negritude. É com autoridade que Elza bate mais uma vez na tecla do preconceito racial em A Carne (Marcelo Yuka, Seu Jorge e Ulisses Cappelletti, 1998) e, de forma mais lúdica, vira do avesso a Nega do Cabelo Duro (David Nasser e Rubens Soares, 1942). Feito por Elza em dueto com JP, o medley que une Nêga (Waldemar Gomes e Afonso Teixeira) - samba sincopado lançado pelo conjunto Anjos do Inferno em 1949 e regravado pelo sambista gaúcho Caco Velho (1919 - 1971) - com Cabelo Pixaim (Jorge Aragão e Jotabê, 1978) rebobina a questão racial pela ótica dos relacionamentos amorosos, sem levantar bandeiras. Além da bossa negra de Elza, que se torna jazzística ao dialogar com o baixo largo de Rodrigo Ferreira em improvisado número de scats, o show ganha pressão com o baticum eletrônico do DJ Muralha. Chove Chuva (Jorge Ben Jor, 1963) e País Tropical (Jorge Ben Jor, 1969) - dois clássicos já naturalmente irresistíveis da obra do Zé Pretinho -  são turbinados com pulsação contemporânea no toque do DJ. No bis, a entrada de três ritmistas dá tom carnavalizante à roceira Madalena do Jucu (Martinho da Vila, 1989), a Espumas ao Vento (Accioly Neto, 1997) - música que Elza encara de início a capella com  técnica - e ao pot-pourri final que vai do samba O Que É O Que É (Gonzaguinha, 1982) ao Rap da Felicidade (Juninho Rasta e Kátia, 1995). No todo, o show Deixa a Nega Gingar é bom. Mas fica ótimo quando deixam a nega Elza Soares gingar sozinha.

6 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Deixa a Nega Gingar é um show realmente novo de Elza Soares, não um daqueles shows requentados em que a cantora carioca troca somente o título e inclui duas ou três músicas inéditas em sua voz para atrair público. Teria tudo para ser antológico na trajetória de intérprete não fossem as intervenções dispensáveis do cantor Beto Aquino - presença opaca quando divide a cena com Elza no sambas Dr. (Beto Aquino) e Se Acaso Você Chegasse (Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins, 1938) - e do violonista JP Silva, diretor musical do show que Elza trouxe de volta aos palcos cariocas para duas apresentações no Teatro Rival. A partir de seu solo vocal em As Rosas Não Falam (Cartola, 1976), JP passa a dividir a cena com a cantora em vários números. Tais excessivas intervenções acabam empanando o brilho de um show que reafirma a forma vocal de Elza, espantosa para seus alegados 74 anos (a cantora teria nascido de fato em junho de 1930, mas Elza sustenta que veio ao mundo em 1937). Seja como for, a bossa negra de Elza Soares resiste esplendidamente ao tempo. Se seus movimentos no palco estão reduzidos por problemas de saúde, a voz transita com incríveis força, vivacidade e suingue por sambas sincopados como Beija-me (Roberto Martins e Mário Rossi, 1943), número em que JP assume o bandolim. Nesse show de tom eletrônico, pontuado pelas programações do DJ Ricardo Muralha, a intérprete está impregnada de orgulhosa negritude. É com autoridade que Elza bate mais uma vez na tecla do preconceito racial em A Carne (Marcelo Yuka, Seu Jorge e Ulisses Cappelletti, 1998) e, de forma mais lúdica, vira do avesso a Nega do Cabelo Duro (David Nasser e Rubens Soares, 1942). Feito por Elza em dueto com JP, o medley que une Nêga (Waldemar Gomes e Afonso Teixeira) - samba sincopado lançado pelo conjunto Anjos do Inferno em 1949 e regravado pelo sambista gaúcho Caco Velho (1919 - 1971) - com Cabelo Pixaim (Jorge Aragão e Jotabê, 1978) rebobina a questão racial pela ótica dos relacionamentos amorosos, sem levantar bandeiras. Além da bossa negra de Elza, que se torna jazzística ao dialogar com o baixo largo de Rodrigo Ferreira em improvisado número de scats, o show ganha pressão com o baticum eletrônico do DJ Muralha. Chove Chuva (Jorge Ben Jor, 1963) e País Tropical (Jorge Ben Jor, 1969) - dois clássicos já naturalmente irresistíveis da obra do Zé Pretinho - são turbinados com pulsação contemporânea no toque do DJ. No bis, a entrada de três ritmistas dá tom carnavalizante à roceira Madalena do Jucu (Martinho da Vila, 1989), a Espumas ao Vento (Accioly Neto, 1997) - música que Elza encara de início a capella com técnica - e ao pot-pourri final que vai do samba O Que É O Que É (Gonzaguinha, 1982) ao Rap da Felicidade (Juninho Rasta e Kátia, 1995). No todo, o show Deixa a Nega Gingar é bom. Mas fica ótimo quando deixam a nega Elza Soares gingar sozinha.

Carlos Almeida disse...

E Elza ta sentada ainda? Ou já se encontra em pé com toda a ginga que merece?

disse...

Me desculpe, mas acho que a crítica do show ficaria mais encorpada se passasse melhor pelas atuações dos músicos que acompanham a Elza. Tive a oportunidade de assistir ao show e achei brilhante a atuação dos quatro músicos, não é a toa que estão dividindo o palco com uma cantora do porte de Elza Soares. Nada tenho a criticar o JP, muito pelo contrário achei ótima a sua performance. Já o baixista Rodrigo Ferreira mal foi mencionado na crítica, sem contar que nada foi dito sobre os excelentes Paulinho Black (bateria) e Nelson Freitas (piano e acordeon).
Caso você faça um outro post sobre o show da Elza, já fica a dica sobre falar mais sobre os músicos. E isso vale também para críticas de shows de outros artistas.
Parabéns pelo blog!

EDELWEISS1948 disse...

A MAIOR SAMBISTA DESSE PAIS.

Káyon disse...

Concordo com a Marrom: ELZA SOARES É A MAIOR SAMBISTA DE TODOS OS TEMPOS!!

Lu Oliveira disse...

Olá,
Muito interessante a matéria!
Abraços,
Lu Oliveira
www.luoliveiraoficial.com.br