Resenha de CD
Título: I Just Happen To Be Here
Artista: Alexia Bomtempo
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * 1/2
Uma ótima ideia nem sempre gera um ótimo disco. Cantora de vivência carioca, mas nascida nos Estados Unidos, Alexia Bomtempo teve a ótima ideia de reunir 10 canções compostas em inglês por Caetano Veloso na época do exílio do artista baiano em Londres, entre 1969 e 1972. Com título extraído de verso da mais popular dessas canções, London London (1971), I Just Happen To Be Here tira um pouco a força desse repertório em abordagem cool produzida (com inegável apuro) por Dé Palmeira e Felipe Abreu. A sonoridade em si do álbum resulta interessante. Os barulhinhos bons postos em Shoot me Dead (1971) por Domenico Lancellotti e Berna Ceppas garantem o suingue tropical de tema envolto originalmente na atmosfera soturna do álbum londrino do compositor (Caetano Veloso, 1971). Música pioneira no Brasil ao incorporar alguns compassos de reggae (ritmo jamaicano então ausente da discografia nacional) na gravação emblemática do álbum Transa (1972), Nine Out of Ten é sustentada pelo maestro Letieres Leite e sua Orkestra Rumpilezz com base de samba-reggae que redesenha a ponte África-Bahia-Londres. No tom cool de Alexia, pontuada pelo dobro tocado por Frejat, In the Hot Sun of a Christmas Day (1971) - única música em inglês composta por Caetano com seu parceiro tropicalista Gilberto Gil - é a única faixa de I Just Happen To Be Here que ameaça roçar a beleza do registro original do compositor. Talvez porque, no todo, o disco deixe a má impressão de que o canto de Alexia Bomtempo soa esmaecido na revisita antropofágica de músicas como The Empty Boat (1969), It's a Long Way (1972) e You Don't Know me (1972). Por mais que as canções do exílio de Caetano resistam bem fora de seu contexto sócio-político original, tais canções não encontram na voz de Alexia o veículo ideal para se fazerem ouvir com a força impregnada nelas. Basta escutar London London (1971) para perceber que essa tendência exagerada de filtrar tudo pela estética cool às vezes desperdiça ótimas ideias. "Eu não sou daqui", avisa a cantora ao fim do disco, cantando bissexto verso em português na faixa de voz e violão (o da própria Alexia) If I Hold a Stone (1971). É a versão em inglês de Marinheiro Só, tema de cuja letra original foi extraído o verso em português que diz muito sobre a natureza estrangeira da cantora neste fraco disco.
Uma ótima ideia nem sempre gera um ótimo disco. Cantora de vivência carioca, mas nascida nos Estados Unidos, Alexia Bomtempo teve a ótima ideia de reunir 10 canções compostas em inglês por Caetano Veloso na época do exílio do artista baiano em Londres, entre 1969 e 1972. Com título extraído de verso da mais popular dessas canções, London London (1971), I Just Happen To Be Here tira um pouco a força desse repertório em abordagem cool produzida (com inegável apuro) por Dé Palmeira e Felipe Abreu. A sonoridade em si do álbum resulta interessante. Os barulhinhos bons postos em Shoot me Dead (1971) por Domenico Lancellotti e Berna Ceppas garantem o suingue tropical de tema envolto originalmente na atmosfera soturna do álbum londrino do compositor (Caetano Veloso, 1971). Música pioneira no Brasil ao incorporar alguns compassos de reggae (ritmo jamaicano então ausente da discografia nacional) na gravação emblemática do álbum Transa (1972), Nine Out of Ten é sustentada pelo maestro Letieres Leite e sua Orkestra Rumpilezz com base de samba-reggae que redesenha a ponte África-Bahia-Londres. No tom cool de Alexia, pontuada pelo dobro tocado por Frejat, In the Hot Sun of a Christmas Day (1971) - única música em inglês composta por Caetano com seu parceiro tropicalista Gilberto Gil - é a única faixa de I Just Happen To Be Here que ameaça roçar a beleza do registro original do compositor. Talvez porque, no todo, o disco deixe a má impressão de que o canto de Alexia Bomtempo soa esmaecido na revisita antropofágica de músicas como The Empty Boat (1969), It's a Long Way (1972) e You Don't Know me (1972). Por mais que as canções do exílio de Caetano resistam bem fora de seu contexto sócio-político original, tais canções não encontram na voz de Alexia o veículo ideal para se fazerem ouvir com a força impregnada nelas. Basta escutar London London (1971) para perceber que essa tendência exagerada de filtrar tudo pela estética cool às vezes desperdiça ótimas ideias. "Eu não sou daqui", avisa a cantora ao fim do disco, cantando bissexto verso em português na faixa de voz e violão (o da própria Alexia) If I Hold a Stone (1971). É a versão em inglês de Marinheiro Só, tema de cuja letra original foi extraído o verso em português que diz muito sobre a natureza estrangeira da cantora neste fraco disco.
ResponderExcluirEssa coisa de "barulhinho bom" é vexatória mesma. Até lembra uma incensada suposta grande cantora brasileira, da qual jamais consegui gostar direito depois que lançou o seu tal barulhinho bom. Será maldição isso?
ResponderExcluirDe lá e de cá, a voz de Alexia Bomtempo se aquieta para entender as identidades dos sujeitos cantados. Os sujeitos cantados por Alexia carregam a pedra-lágrima. E o silêncio, a respiração busca o reconhecimento de sujeitos cancionais desentendidos.
ResponderExcluirMais aqui: http://lendocancao.blogspot.com.br/2012/05/if-you-hold-stone.html
Até lembra não. A alusão ao ótimo disco da Marisa é óbvia ululante.
ResponderExcluirA expressão barulhinho bom virou sinônimo de efeitos de produção de fato bons. Mais que justo.
PS: Quanto ao disco da moça, ainda não ouvi. Mas a idéia, como o Mauro disse, é boa.