Resenha de CD e DVD
Título: 40 Anos Depois
Artista: João Bosco
Gravadora: MP,B / Universal Music
Cotação: * * * * *
Há 40 anos, em 1972, João Bosco dava o start oficial na sua carreira fonográfica com a edição de Agnus Sei (João Bosco e Aldir Blanc) no efêmero Disco de Bolso do jornal carioca O Pasquim. Quarenta anos depois, o segundo projeto retrospectivo audiovisual do cantor e compositor mineiro mostra que a aposta do Pasquim no tal de João Bosco foi certeira, visionária. A obra - construída de início com Aldir Blanc e logo sintonizada pelas antenas sempre ligadas de Elis Regina (1945 - 1982) - se agigantou, incorporou outros parceiros e se tornou plural. De frente para essa obra genial, Bosco embaralha as cartas viciadas do mercado fonográfico e repisa sua caminhada com extremo requinte, sem clichês, neste CD e DVD 40 Anos Depois, ora postos nas lojas em edição do selo MP,B distribuída pela Universal Music. Somente pelo fato de ter sido gravado em estúdio, 40 Anos Depois já subverte o já desgastado padrão ao vivo seguido por Bosco em sua primeira retrospectiva audiovisual, lançada em 2006 com o título de Obrigado, Gente! - João Bosco ao Vivo. Em 40 Anos Depois, Bosco descarta os hits clássicos já revisitados na revisão anterior. E, mesmo quando eventualmente se lança sobre eles, o faz na presença de convidados que justificam a presença daquele sucesso - caso do samba-enredo O Mestre-Sala dos Mares (João Bosco e Aldir Blanc, 1975), que repisa a avenida trazendo na comissão de frente a voz de Chico Buarque (convidado também de Bom Tempo, samba de 1968, da lavra de Chico, mas esquecido de início pelo próprio compositor por conta das patrulhas ideológicas dos anos rebeldes). Em 40 Anos Depois, nada do que foi reaparece do jeito que já foi um dia. Tudo se transformou, como diz o título do samba de Paulinho da Viola - Tudo se Transformou, de 1970 - que Bosco recria na trama refinada de seu violão percussivo que concentra influências recolhidas nos 66 anos de vida (a serem completados em julho). Mas está tudo lá. O universo do bolero - uma das marcas mais populares do cancioneiro de Bosco - se insinua em tom etéreo, jazzy, ao longo de Bodas de Prata (João Bosco e Aldir Blanc, 1975). O jazz propriamente dito dá o tom de Lília (1972), tema instrumental de Milton Nascimento que reitera a perfeita sintonia entre Bosco e músicos como o guitarrista Ricardo Silveira e o baterista Kiko Freitas, recorrentes na ficha técnica da gravação produzida pelo próprio Bosco com João Mario Linhares e Amaury Linhares. A presença de Milton - de quem Bosco também ilumina Tarde (Milton Nascimento e Márcio Borges, 1969) - é emblemática por se tratar de carioca de alma musical mineira que se complementa num jogo de espelhos com Bosco, mineiro de alma musical carioca que celebra a bossa do soberano Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) em Fotografia (1959), flash revelador de um artista que firmou parceria com Vinicius de Moraes (1913 - 1980) na sua pré-história musical, em 1967, na cidade natal de Ponte Nova. Talvez por ter ciência dessa complementaridade, Milton se revigora momentaneamente ao pôr voz na seminal Agnus Sei. Todos os caminhos pavimentados por Bosco parecem convergir na rota plural de 40 Anos Depois. Se o samba Plataforma (João Bosco e Aldir Blanc, 1977) desfila majestoso com as cordas do Trio Madeira Brasil, De Frente pro Crime (João Bosco e Aldir Blanc, 1974) ganha na voz de Roberta Sá - e nas cordas recorrentes do Trio Madeira Brasil - leveza contrastante com o peso da imagem urbana retratada na letra de Blanc. Nessa onda que balança em ritmos e movimentos afins, Bosco pede licença e revisita samba de Vadico (1910 - 1962) e Noel Rosa (1910 - 1937), Pra Que Mentir? (1964), e Drume Negrita (Ernesto Grenet) acalanto que liga Cuba à África com latinidade que, no registro de Bosco, é evidenciada pela presença de João Donato, convidado também de Eu Não Sei Seu Nome Inteiro (João Bosco, João Donato e Francisco Bosco), faixa que roça o sublime com a perfeita interação dos universos musicais de Bosco e Donato. E a inspiração da recente Tanajura (João Bosco e Francisco Bosco) - música do último grande álbum de inéditas de Bosco, Não Vou pro Céu Mas Já Não Vivo no Chão (2009), infelizmente pouco ouvido e comentado - mostra que a obra ora quarentona está longe de dar sinais de exaustão. Ao se pôr de frente para essa obra fundamental, 40 anos depois do aval do Pasquim, o tal de João Bosco reabre a cortina do passado deixando entrever um belo futuro.
Há 40 anos, em 1972, João Bosco dava o start oficial na sua carreira fonográfica com a edição de Agnus Sei (João Bosco e Aldir Blanc) no efêmero Disco de Bolso do jornal carioca O Pasquim. Quarenta anos depois, o segundo projeto retrospectivo audiovisual do cantor e compositor mineiro mostra que a aposta do Pasquim no tal de João Bosco foi certeira, visionária. A obra - construída de início com Aldir Blanc e logo sintonizada pelas antenas sempre ligadas de Elis Regina (1945 - 1982) - se agigantou, incorporou outros parceiros e se tornou plural. De frente para essa obra genial, Bosco embaralha as cartas viciadas do mercado fonográfico e repisa sua caminhada com extremo requinte, sem clichês, neste CD e DVD 40 Anos Depois, ora postos nas lojas em edição do selo MP,B distribuída pela Universal Music. Somente pelo fato de ter sido gravado em estúdio, 40 Anos Depois já subverte o já desgastado padrão ao vivo seguido por Bosco em sua primeira retrospectiva audiovisual, lançada em 2006 com o título de Obrigado, Gente! - João Bosco ao Vivo. Em 40 Anos Depois, Bosco descarta os hits clássicos já revisitados na revisão anterior. E, mesmo quando eventualmente se lança sobre eles, o faz na presença de convidados que justificam a presença daquele sucesso - caso do samba-enredo O Mestre-Sala dos Mares (João Bosco e Aldir Blanc, 1975), que repisa a avenida trazendo na comissão de frente a voz de Chico Buarque (convidado também de Bom Tempo, samba de 1968, da lavra de Chico, mas esquecido de início pelo próprio compositor por conta das patrulhas ideológicas dos anos rebeldes).
ResponderExcluirEm 40 Anos Depois, nada do que foi reaparece do jeito que já foi um dia. Tudo se transformou, como diz o título do samba de Paulinho da Viola - Tudo se Transformou, de 1978 - que Bosco recria na trama refinada de seu violão percussivo que concentra influências recolhidas nos 66 anos de vida (a serem completados em julho). Mas está tudo lá. O universo do bolero - uma das marcas mais populares do cancioneiro de Bosco - se insinua em tom etéreo, jazzy, ao longo de Bodas de Prata (João Bosco e Aldir Blanc, 1975). O jazz propriamente dito dá o tom de Lília (1972), tema instrumental de Milton Nascimento que reitera a perfeita sintonia entre Bosco e músicos como o guitarrista Ricardo Silveira e o baterista Kiko Freitas, recorrentes na ficha técnica da gravação produzida pelo próprio Bosco com João Mario Linhares e Amaury Linhares. A presença de Milton - de quem Bosco também ilumina Tarde (Milton Nascimento e Márcio Proença, 1969) - é emblemática por se tratar de carioca de alma musical mineira que se complementa num jogo de espelhos com Bosco, mineiro de alma musical carioca que celebra a bossa do soberano Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) em Fotografia (1959), flash revelador de um artista que firmou parceria com Vinicius de Moraes (1913 - 1980) na sua pré-história musical, em 1967, na cidade natal de Ponte Nova. Talvez por ter ciência dessa complementaridade, Milton se revigora momentaneamente ao pôr voz na seminal Agnus Sei. Todos os caminhos pavimentados por Bosco parecem convergir na rota plural de 40 Anos Depois. Se o samba Plataforma (João Bosco e Aldir Blanc, 1977) desfila majestoso com as cordas do Trio Madeira Brasil, De Frente pro Crime (João Bosco e Aldir Blanc, 1974) ganha na voz de Roberta Sá - e nas cordas recorrentes do Trio Madeira Brasil - leveza contrastante com o peso da imagem urbana retratada na letra de Blanc. Nessa onda que balança em ritmos e movimentos afins, Bosco pede licença e revisita samba de Vadico (1910 - 1962) e Noel Rosa (1910 - 1937), Pra Que Mentir? (1964), e Drume Negrita (Ernesto Negret) acalanto que liga Cuba à África com latinidade que, no registro de Bosco, é evidenciada pela presença de João Donato, convidado também de Eu Não Sei Seu Nome Inteiro (João Bosco, João Donato e Francisco Bosco), faixa que roça o sublime com a perfeita interação dos universos musicais de Bosco e Donato. E a inspiração da recente Tanajura (João Bosco e Francisco Bosco) - música do último grande álbum de inéditas de Bosco, Não Vou pro Céu Mas Já Não Vivo no Chão (2009), infelizmente pouco ouvido e comentado - mostra que a obra ora quarentona está longe de dar sinais de exaustão. Ao se pôr de frente para essa obra fundamental, 40 anos depois do aval do Pasquim, o tal de João Bosco reabre a cortina do passado deixando entrever um belo futuro.
ResponderExcluirtá uma delícia mesmo esse disco. pra ouvir inteiro. ressalto o fato de que João tá cantando muito bem, com uma voz linda. o violão nem se comenta, já se sabe.
ResponderExcluirMilton arrasa em Agnus sei, que versão potente. e Chico e Roberta também estão muito bem.
Muito bom! João Bosco é original, ótimo compositor e violonista adorei ver Roberta Sá cantando de frente pro crime!
ResponderExcluirMauro,
ResponderExcluirO autor de "Drume Negrita" é Ernesto GRENET.
Abraço,
Marcus
Grato, Marcus, pensei Grenet e escrevi Negret. Abs, obrigado, MauroF
ResponderExcluirAchei a capa estilosa e os convidados bem bons.
ResponderExcluirO sogro da Antonia Pellegrino merece.
Renato, muito obrigado pelas correções (pensei Márcio Borges e escrevi Márcio Proença, cabeça cansada...). Tais correções ajudam a manter o blog como referência para quem se interessa por discos. Abs, obrigado, MauroF
ResponderExcluirÉ isso, Mauro.
ResponderExcluirDisco classudo, banda de bambas bem entrosados (Kiko, Nelson Faria e Marçalzinho estavam em "Obrigado, gente!", e receberam o acréscimo de João Baptista - que já foi da banda de João - e Ricardo Silveira).
E a obra, que é o que vale. "Agnus sei" ficou o bicho!
De fato, João é um dos caras.
Felipe dos Santos Souza
"Não vou pro céu ..." foi pouco comentado nem sei porque. Uma obra prima. Eu falei um pouco, voz pequena. http://aratemdo.blogspot.com.br/2011/07/joao-bosco-um-guri-legal.html
ResponderExcluirAgnus Sei abre magistralmente este ótimo trabalho do grande João Bosco. As escolhas de Milton Nascimento e Toninho Horta foram perfeitas. Toninho Horta é gênio e referência para João Bosco. Em Agnus Sei participam também Cristóvão Bastos, Armando Marçal, Kiko Freitas e Jorge Hélder. Enfim, bom gosto e excelência musical não faltam aos trabalhos de João Bosco.
ResponderExcluirAgnus Sei abre magistralmente este ótimo trabalho do grande João Bosco. As escolhas de Milton Nascimento e Toninho Horta foram perfeitas. Toninho Horta é gênio e referência para João Bosco. Em Agnus Sei participam também Cristóvão Bastos, Armando Marçal, Kiko Freitas e Jorge Hélder. Enfim, bom gosto e excelência musical não faltam aos trabalhos de João Bosco.
ResponderExcluirJoão, além dessa obra ímpar, é uma simpatia. Salve, Bosco!
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