quinta-feira, 28 de junho de 2012

Garoto carioca, Rogê recicla suingue sangue bom do Rio em 'Brenguelé'

Resenha de CD
Título: Brenguelé
Artista: Rogê
Gravadora: Coqueiro Verde Records
Cotação: * * 1/2

Com a grife da produção de Kassin, Rogê tenta em vão delinear identidade própria em Brenguelé, disco concebido pelo artista carioca com Francisco Bosco. Kassin refina o som deste cantor, compositor e agitador cultural, valorizando repertório que - justiça seja feita - é de boa qualidade na primeira metade do CD. Mas ecos fortes de Jorge Ben Jor - e mesmo do balanço diluído de discípulos como Bebeto e Seu Jorge - ressoam ao longo das 12 faixas do álbum editado pela Coqueiro Verde Records neste mês de junho de 2012. Encorpado com metais arranjados por Marlon Sette, o samba-rock Deixa Ela Sambar (Rogê e Marcelinho Moreira) - que cita os nomes de Jorge Ben, João Donato e Martinho da Vila (citado também na faixa-título) - dá a pista de (algumas) fontes em que bebe Rogê. Com maior ou menor pegada pop e de rock, sambas como os excelentes Presença Forte (Rogê, Seu Jorge e Marcelinho Moreira), Minha Glória (Rogê e Alvinho Lancellotti) e Olê Olê (Rogê, Pretinho da Serrinha, Gabriel Moura e Seu Jorge) - destaques dentre as inéditas do repertório - expõem o suingue e a carioquice que dão o tom de Brenguelé. Mesmo sem o necessário toque de originalidade para esboçar uma personalidade própria para Rogê, o álbum desce bem redondo na primeira metade. Na Veia (Rogê, Marcelinho Moreira e Arlindo Cruz) conecta o samba-rock ao partido alto dos bambas do Cacique de Ramos e às gafieiras da Lapa, mostrando que o Rio de Janeiro se irmana na cadência bonita e já naturalmente miscigenada do samba. Arlindo Cruz divide com Rogê os versos da faixa. Já Wilson das Neves reitera a majestade de seu samba e de seu canto em Depurando Ideias, parceria com Rogê. Na segunda metade de Brenguelé, sambas como Acertando os Ponteiros (Rogê, Pretinho da Serrinha, Leandro Fab e Seu Jorge) e Rema (Rogê e Alvinho Lancellotti) evidenciam a ligeira irregularidade do repertório, soando como genéricos dos genéricos. De todo modo, dois covers espertos botam o disco para cima. Música em inglês lançada por Tim Maia (1942 - 1998) em seu álbum de 1973, Over Again mostra que o samba também se amigou com o soul, miscigenando ainda mais o black Rio de Janeiro. Já  Efun-Oguedé (Wilson Moreira e Nei Lopes, 1983) é samba negro mesmo que faz ressoar os tambores maternos da África evocada nos batuques da faixa-título, Brenguelé (Rogê, Arlindo Cruz e Alemão), bom encerramento do disco deste garoto carioca que depura ideias de outros, reciclando o suingue sangue bom dos sambas do Rio de Janeiro com a grife hypada de Kassin.

2 comentários:

  1. Com a grife da produção de Kassin, Rogê tenta em vão delinear identidade própria em Brenguelé, disco concebido pelo artista carioca com Francisco Bosco. Kassin refina o som deste cantor, compositor e agitador cultural, valorizando repertório que - justiça seja feita - é de boa qualidade na primeira metade do CD. Mas ecos fortes de Jorge Ben Jor - e mesmo do balanço diluído de discípulos como Bebeto e Seu Jorge - ressoam ao longo das 12 faixas do álbum editado pela Coqueiro Verde Records neste mês de junho de 2012. Encorpado com metais arranjados por Marlon Sette, o samba-rock Deixa Ela Sambar (Rogê e Marcelinho Moreira) - que cita os nomes de Jorge Ben, João Donato e Martinho da Vila (citado também na faixa-título) - dá a pista de (algumas) fontes em que bebe Rogê. Com maior ou menor pegada pop, sambas como os excelentes Presença Forte (Rogê, Seu Jorge e Marcelinho Moreira), Minha Glória (Rogê e Alvinho Lancellotti) e Olê Olê (Rogê, Pretinho da Serrinha, Gabriel Moura e Seu Jorge) - destaques dentre as inéditas do repertório - expõem o suingue e a carioquice que dão o tom de Brenguelé. Mesmo sem o necessário toque de originalidade para esboçar uma personalidade própria para Rogê, o álbum desce redondo na primeira metade. Na Veia (Rogê, Marcelinho Moreira e Arlindo Cruz) conecta o samba-rock ao partido alto dos bambas do Cacique de Ramos e às gafieiras da Lapa, mostrando que o Rio de Janeiro se irmana na cadência bonita e já naturalmente miscigenada do samba. Arlindo Cruz divide com Rogê os versos da faixa. Já Wilson das Neves reitera a majestade de seu samba e de seu canto em Depurando Ideias, parceria com Rogê. Na segunda metade de Brenguelé, sambas como Acertando os Ponteiros (Rogê, Pretinho da Serrinha, Leandro Fab e Seu Jorge) e Rema (Rogê e Alvinho Lancellotti) evidenciam a ligeira irregularidade do repertório, soando como genéricos dos genéricos. De todo modo, dois covers espertos botam o disco para cima. Música em inglês lançada por Tim Maia (1942 - 1998) em seu álbum de 1973, Over Again mostra que o samba também se amigou com o soul, miscigenando ainda mais o black Rio de Janeiro. Já Efun-Oguedé (Wilson Moreira e Nei Lopes, 1983) é samba negro mesmo que faz ressoar os tambores maternos da África evocada nos batuques da faixa-título, Brenguelé (Rogê, Arlindo Cruz e Alemão), bom encerramento do disco deste garoto carioca que depura ideias de outros, reciclando o suingue sangue bom dos sambas do Rio de Janeiro com a grife hypada de Kassin.

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  2. Grande Joyce! achei a capa simples porém estilosa.

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