Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


sábado, 16 de junho de 2012

Paulo Neto se defende com canto e repertório bom na selva do mercado

Resenha de CD
Título: Dois Animais na Selva Suja da Rua
Artista: Paulo Neto
Gravadora: Tratore
Cotação: * * * 1/2

Vencedor do concurso Vale Cantar Noel, promovido em 2011 na 22ª edição do Prêmio da Música Brasileira, o cantor pernambucano Paulo Neto lança um ano depois seu segundo disco, Dois Animais na Selva Suja da Rua, produzido por Thiago Marques Luiz sob a direção artística do DJ Zé Pedro. Sucessor de SambaEuCanto (2010), CD de distribuição artesanal restrita a conhecidos do artista, Dois Animais na Selva Suja da Rua foi gravado no Studio Curumim, em São Paulo (SP), em 26 e 27 de setembro de 2011, como se fosse um disco ao vivo. A faixa-título é abordagem pop de música da lavra do compositor uruguaio-brasileiro Taiguara (1945 - 1996), lançada por Erasmo Carlos em seu cultuado álbum Carlos, Erasmo (1971). Cantor afinado, de boa emissão vocal, Neto se defende - e tenta se diferenciar - na selva do mercado fonográfico com bom repertório colhido em lados B das obras de compositores como Belchior, de quem o intérprete rebobina a pouca ouvida balada Tudo Outra Vez (1979), na qual o compositor cearense fez balanço existencial com referências às idas e vindas dos anos rebeldes. A guitarra de Joan Barros se destaca no arranjo - assinado por Barros com o baixista Ricardinho Paraíso e o próprio Paulo Neto - e no disco, se fazendo ouvir também na regravação de O Patrão Nosso de Cada Dia (João Ricardo, 1973) e na abordagem mais suingante de Do Outro Lado da Cidade, música lançada por Roberto Carlos em 1969 e creditada a Helena dos Santos, embora seja de fato de autoria do Rei da Juventude nas tardes dominicais dos anos 60. Por conta dessa pegada pop indieDois Animais na Selva Suja da Rua sempre se desvia da rota do kitsch, até mesmo quando gravita em torno do universo dramático do tango - em Espetáculo, uma das duas inéditas da compositora pernambucana Isabela Moraes (a outra é Prova de Resistência) - e quando aborda o cancioneiro simples e direto de Odair José, representado por seu sucesso Eu Vou Tirar Você Desse Lugar, lançado em compacto de 1972 com repercussão nacional. A releitura de Sinto-me Bem (Ataulfo Alves, 1941) é exemplo bem-acabado do tom indie contemporâneo do álbum. Influências de Kassin e Fernando Catatau são perceptíveis nos arranjos de temas como Com Mulher Não Quero Mais Nada (Noel Rosa e Sylvio Pinto, 193?). Esta pérola da obra de Noel Rosa (1910 - 1937) - composta na década de 30 em ano impreciso e lançado em disco pelo conjunto Coisas Nossas em 1976 - é rebobinada por Neto com levada que remete ao balanço da música do Norte do Brasil. Enfim, entre boas sacações de repertório (como o samba Velho Bandido, lançado pelo cantor e compositor capixaba Sérgio Sampaio em compacto de 1976) e uma ou outra música menos inspirada (caso de Ninguém Pode Entender, de Cléo Galanth), Dois Animais na Selva Suja da Rua deixa boa impressão, funcionando como eficiente cartão-de-visitas para um bom cantor que se defende com repertório igualmente bom na selva insana do mercado da música.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Vencedor do concurso Vale Cantar Noel, promovido em 2011 na 22ª edição do Prêmio da Música Brasileira, o cantor pernambucano Paulo Neto lança um ano depois seu segundo disco, Dois Animais na Selva Suja da Rua, produzido por Thiago Marques Luiz sob a direção artística do DJ Zé Pedro. Sucessor de SambaEuCanto (2010), CD de distribuição artesanal restrita a conhecidos do artista, Dois Animais na Selva Suja da Rua foi gravado no Studio Curumim, em São Paulo (SP), em 26 e 27 de setembro de 2011, como se fosse um disco ao vivo. A faixa-título é abordagem pop de música da lavra do compositor uruguaio-brasileiro Taiguara (1945 - 1996), lançada por Erasmo Carlos em seu cultuado álbum Carlos, Erasmo (1971). Cantor afinado, de boa emissão vocal, Neto se defende - e tenta se diferenciar - na selva do mercado fonográfico com bom repertório colhido em lados B das obras de compositores como Belchior, de quem o intérprete rebobina a pouca ouvida balada Tudo Outra Vez (1979), na qual o compositor cearense fez balanço existencial com referências às idas e vindas dos anos rebeldes. A guitarra de Joan Barros se destaca no arranjo - assinado por Barros com o baixista Ricardinho Paraíso e o próprio Paulo Neto - e no disco, se fazendo ouvir também na regravação de O Patrão Nosso de Cada Dia (João Ricardo, 1973) e na abordagem mais suingante de Do Outro Lado da Cidade, música lançada por Roberto Carlos em 1969 e creditada a Helena dos Santos, embora seja de fato de autoria do Rei da Juventude nas tardes dominicais dos anos 60. Por conta dessa pegada pop indie, Dois Animais na Selva Suja da Rua sempre se desvia da rota do kitsch, até mesmo quando gravita em torno do universo dramático do tango - em Espetáculo, uma das duas inéditas da compositora pernambucana Isabela Moraes (a outra é Prova de Resistência) - e quando aborda o cancioneiro simples e direto de Odair José, representado por seu sucesso Eu Vou Tirar Você Desse Lugar, lançado em compacto de 1972 com repercussão nacional. A releitura de Sinto-me Bem (Ataulfo Alves, 1941) é exemplo bem-acabado do tom indie contemporâneo do álbum. Influências de Kassin e Fernando Catatau são perceptíveis nos arranjos de temas como Com Mulher Não Quero Mais Nada (Noel Rosa e Sylvio Pinto, 193?). Esta pérola da obra de Noel Rosa (1910 - 1937) - composta na década de 30 em ano impreciso e lançado em disco pelo conjunto Coisas Nossas em 1976 - é rebobinada por Neto com levada que remete ao balanço da música do Norte do Brasil. Enfim, entre boas sacações de repertório (como o samba Velho Bandido, lançado pelo cantor e compositor capixaba Sérgio Sampaio em compacto de 1976) e uma ou outra música menos inspirada (caso de Ninguém Pode Entender, de Cléo Galanth), Dois Animais na Selva Suja da Rua deixa boa impressão, funcionando como eficiente cartão-de-visitas para um bom cantor que se defende com repertório igualmente bom na selva insana do mercado da música.

EQUIPE VOAR disse...

OUÇAM PAULO NETO
http://www.youtube.com/watch?v=if2tnLvr9kI&feature=youtu.be