segunda-feira, 11 de junho de 2012

'Trelêlê' de Aíla confirma o momento luminoso da cena musical do Pará

Resenha de CD
Título: Trelêlê
Artista: Aíla
Gravadora: Na Music
Cotação: * * * *

No embalo da projeção nacional obtida por Gaby Amarantos com o apoio da TV Globo, a cantora paraense Aíla exporta para o Brasil seu Trelêlê, álbum gravado em 2011 com produção apurada de Felipe Cordeiro. Urdido com músicos como o baterista Arthur Kunz (da Banda Strobo) e o tecladista Otto Ramos (do grupo amapaense Mini Box Lunar), Trelêlê confirma o momento inspirado da cena musical de Belém e arredores. Em vez de esboçar qualquer rivalidade com a colega hypada, Aíla soma referências, trazendo Gaby Amarantos para seu disco. A intérprete do hit Ex Mai Love é a convidada da releitura da deliciosa Garota (Alípio Martins), exemplo da abordagem pop e moderna do suingue latino que banha a música do Pará (o tema é da década de 80). Trelêlê liquidifica referências de guitarrada,  (tecno)brega, merengue e Jovem Guarda em coquetel leve de sabor pop. Até o canto falado do rap é triturado na quase psicodélica Todo Mundo Nasce Artista (Eliakin Rufino). Com o tal suingue latino, Brechot do Brega (Antonio Novaes) também roça o universo psicodélico evocada pela letra surrealista deste tema da extinta banda paraense A Eutérpia. Mas é mais fácil se deixar levar pelo balanço miscigenado de Preciso Ouvir Música Sem Você (Felipe Cordeiro) - faixa que concilia a levada da salsa com o toque da guitarrada do Pará - e de Proposta Indecente, mix abolerado de cha cha cha e pop à moda da Jovem Guarda. Lenda viva da música do Pará, Dona Onete é a convidada dessa faixa. Mesmo sem ter uma voz marcante ou volumosa, Aíla ajusta seu canto com perfeição à atmosfera de leveza em que Felipe Cordeiro ambientou Trelêlê,  cuja faixa-título é exemplo bem-acabado da habilidade de filtrar a estética paraense pelo pop contemporâneo. Vamos (Felipe Cordeiro e Jorge Andrade) rebobina o suingue regional no qual o álbum está embebido enquanto Caminho (Renato Torres e Ana Flor) e Qualquer Esperança (Renato Torres e Ana Flor) direcionam Trelêlê para rota menos sedutora. Sucesso nacional de Eliana Pittman nos anos 70, o carimbó Dona Maria (Pinduca) ressurge mais melódico e com menor voltagem rítmica em nova prova da personalidade de Aíla como intérprete. No fim, o samba À Sua Maneira - alocado como bônus por já ser sucesso da cantora na cena paraense - fecha Trelêlê, reiterando a ótima impressão deixada por este CD de refinada arte gráfica que cresce pela produção extremamente azeitada de Felipe Cordeiro.

5 comentários:

  1. No embalo da projeção nacional obtida por Gaby Amarantos com o apoio da TV Globo, a cantora paraense Aíla exporta para o Brasil seu Trelêlê, álbum gravado em 2011 com produção apurada de Felipe Cordeiro. Urdido com músicos como o baterista Arthur Kunz (da Banda Strobo) e o tecladista Otto Ramos (do grupo amapaense Mini Box Lunar), Trelêlê confirma o momento inspirado da cena musical de Belém e arredores. Em vez de esboçar qualquer rivalidade com a colega hypada, Aíla soma referências, trazendo Gaby Amarantos para seu disco. A intérprete do hit Ex Mai Love é a convidada da releitura da deliciosa Garota (Alípio Martins), exemplo da abordagem pop e moderna do suingue latino que banha a música do Pará (o tema é da década de 80). Trelêlê liquidifica referências de guitarrada, (tecno)brega, merengue e Jovem Guarda em coquetel leve de sabor pop. Até o canto falado do rap é triturado na quase psicodélica Todo Mundo Nasce Artista (Eliakin Rufino). Com o tal suingue latino, Brechot do Brega (Antonio Novaes) também roça o universo psicodélico evocada pela letra surrealista deste tema da extinta banda paraense A Eutérpia. Mas é mais fácil se deixar levar pelo balanço miscigenado de Preciso Ouvir Música Sem Você (Felipe Cordeiro) - faixa que concilia a levada da salsa com o toque da guitarrada do Pará - e de Proposta Indecente, mix abolerado de cha cha cha e pop à moda da Jovem Guarda. Lenda viva da música do Pará, Dona Onete é a convidada dessa faixa. Mesmo sem ter uma voz marcante ou volumosa, Aíla ajusta seu canto com perfeição à atmosfera de leveza em que Felipe Cordeiro ambientou Trelêlê, cuja faixa-título é exemplo bem-acabado da habilidade de filtrar a estética paraense pelo pop contemporâneo. Vamos (Felipe Cordeiro e Jorge Andrade) rebobina o suingue regional no qual o álbum está embebido enquanto Caminho (Renato Torres e Ana Flor) e Qualquer Esperança (Renato Torres e Ana Flor) direcionam Trelêlê para rota menos sedutora. Sucesso nacional de Eliana Pittman nos anos 70, o carimbó Dona Maria (Pinduca) ressurge mais melódico e com menor voltagem rítmica em nova prova da personalidade de Aíla como intérprete. No fim, o samba À Sua Maneira - alocado como bônus por já ser sucesso da cantora na cena paraense - fecha Trelêlê, reiterando a ótima impressão deixada por este CD de refinada arte gráfica que cresce pela produção extremamente azeitada de Felipe Cordeiro.

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  3. Que bacana Mauro, recebi hj uma postagem no twitter falando super bem da sua resenha. Fico feliz q tenhas adentrado a atmosfera do "Trelêlê"... Texto super atento e sensível.

    Bjo grande!

    Aíla

    ResponderExcluir
  4. Muito boa resenha! tb tô muito orgulhoso de ter gravado esse disco com os meninos de Belém. Texto simples e de muito bom gosto e conhecimento musicais.

    abs

    ResponderExcluir
  5. Gostei mais do disco da Aíla do que Gaby Amarantos, o abrandamento do excesso eletrônico que ouvimos no Trelêlê da Aíla dão uma fórmula bem mais interessante, resultando num disco agradável.

    ResponderExcluir

Este é um espaço democrático para a emissão de opiniões, sobretudo as divergentes. Contudo, qualquer comentário feito com agressividade ou ofensas - dirigidas a mim, aos artistas ou aos leitores do blog - será recusado. Grato pela participação, Mauro Ferreira

P.S.: Para comentar, é preciso ter um gmail ou qualquer outra conta do google.

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.