terça-feira, 31 de julho de 2012

Álbum 'Baú da Dona Ivone' guarda para posteridade relíquias da compositora

Resenha de CD
Título: Baú da Dona Ivone
Artista: Vários
Gravadora: HL Records
Cotação: * * * 1/2
 Disco distribuído somente nas escolas, ainda à espera de edição comercial

 "O samba é feito da dor / Do açoite que ainda perdurar / Mas nasce e renasce na cor / Na ginga, na finta e no cantar", poetiza Bruno Castro nos versos finais de Dia do samba no Bonfim (Ivone Lara e Bruno Castro), tema que mistura a cadência do samba com o toque do ijexá. Nas emblemáticas vozes baianas de Caetano Veloso e Maria Bethânia, Dia do samba no Bonfim abre o CD Baú da Dona Ivone, produzido por Bruno Castro - parceiro mais frequente de Ivone Lara nos últimos anos - com patrocínio da Prefeitura do Rio de Janeiro para distribuição nas escolas. Ainda à espera de gravadora interessada na produção de uma edição comercial, o disco - gravado de maio a este mês de julho de 2012 -  tem valor instantâneo por apresentar 12 boas músicas inéditas de Dona Ivone Lara, compositora carioca de importância fundamental e pioneira na história do samba. São sambas compostos em épocas diversas pela Rainha do Samba, artista ainda em cena do alto de seus 91 anos. Alguns estão à altura da obra da compositora - inclusive um ou outro samba finalizado pelo neto de Ivone, André Lara, caso de Luta imperiana (Ivone Lara, Bruno Castro e André Lara), defendido pelo próprio André em faixa de clima de terreiro, aberta com citação incidental de O preá (Bruno Castro). Baú da Dona Ivone guarda para a posteridade joias do cancioneiro da compositora. Dia do samba no Bonfim é o maior destaque. Mas cabe ressaltar a beleza melódica de A menina e o tempo (Ivone Lara, Bruno Castro e Zé Luiz do Império) - grande samba interpretado por Luiza Dionísio - e a parceria bissexta de Ivone com Nei Lopes, Outra vez, samba de boa cepa cantado pelo próprio Nei. Há também sobras da obra da compositora com Délcio Carvalho, seu primeiro parceiro mais frequente. São temas como o mediano Vai (Ivone Lara e Délcio Carvalho - na voz de Délcio), Vento da tarde (Ivone Lara, Délcio Carvalho e André Lara) - samba cantado por Nelson Sargento cuja primeira parte expõe beleza que soa mais rarefeita na segunda - e Não é miragem (Ivone Lara e Délcio Carvalho). Extraído do baú de Beth Carvalho, intérprete do tema, Não é miragem é samba de 1981 que se diferencia dos demais pelo tom político dos versos, escritos por Délcio quando o povo brasileiro ainda vivia sob a mordaça da ditadura. Mas a ideologia é a mesma. Afinal, os sambas de Ivone costumam versar com esperança e poesia sobre as vicissitudes da vida. E os temas do Baú da Dona Ivone vão por esse mesmo nobre caminho que exala certa melancolia tanto na melodia quanto na letra. "Vejo alegria na tristeza / Esperança na angústia / Luz em cada olhar / Eu agradeço essa riqueza", canta Luiza Dionísio no supra-citado A menina e o tempo. Com menor teor poético, Adeus ao senhor da razão (Ivone Lara e Bruno Castro) tem certo clima noturno, pontuado pelo arranjo do produtor musical Maurício Verde, que combina muito bem com a interpretação de Áurea Martins, tarimbada cantora diplomada na noite carioca. Já Não me maltrata costura o estilo mais informal de Sombrinha - intérprete do samba e parceiro de Ivone e Bruno Castro no partido alto - com o tom poético da obra da compositora. Da mesma forma, Império e Portela (Ivone Lara, Diogo Nogueira, Ciraninho e Bruno Castro) tem o azul e o branco do samba menos nobre de Diogo e Ciraninho, mas o colorido final é bonito. Na voz do portelense Monarco, a nobreza fica mais realçada em Sombras na parede (Ivone Lara, André Lara e Délcio Carvalho), outra relíquia do baú. No fim, À procura da felicidade (Ivone Lara) - samba da lavra solitária da compositora, interpretado por Juninho Thybau - reitera o alto quilate de parte dessas joias do Baú da Dona Ivone, CD que coroa o reinado da dama imperial.

Sai nos EUA a trilha de 'Sparkle' com duas últimas gravações de Whitney

Lançada em CD nos Estados Unidos nesta terça-feira, 31 de julho de 2012, em edição da RCA Records, a trilha sonora original do filme Sparkle - remake de longa-metragem de 1976 - inclui as duas últimas gravações de Whitney Houston (1963 - 2012). Morta em 11 de fevereiro deste ano, a cantora norte-americana pode ser ouvida em Celebrate - faixa produzida por R. Kelly e gravada por Whitney em dueto com Jordin Sparks, protagonista do filme dirigido por Salim Akil - e na música gospel His Eye Is On The Sparrow (tema não incluído na trilha sonora da versão de 1976). Sparkle, o filme, tem estreia programada para 17 de agosto nos cinemas dos Estados Unidos. A história é inspirada no grupo The Supremes, ícone da gravadora Motown.

Aerosmith une Julian, Depp e Carrie em 'Music From Another Dimension'

Primeiro álbum de inéditas do Aerosmith em oito anos, Music From Another Dimension conta com participações da cantora de country Carrie Underwood, do cantor Julian Lennon e do ator, cantor e músico Johnny Depp. Produzido por Jack Douglas, o sucessor de Honkin' on Bobo (2004) é o 15º álbum de estúdio do grupo e tem lançamento previsto para 6 de novembro de 2012. Julian figura em Love Three Times a Day. Depp faz vocais em Freedom Fighter. O repertório inclui regravação de Shakey Ground, música lançada pelo grupo norte-americano The Temptations em 1975. Eis as 14 faixas do CD Music From Another Dimension:

1. What Could Have Been Love
2. Beautiful
3. Street Jesus
4. Legendary Child
5. Oh Yeah
6. We All Fall Down
7. Another Last Goodbye
8. Out Go The Lights
9. Love Three Times a Day
10. Closer
11. Shakey Ground
12. Lover Alot
13. Freedom Fighter
14. Up on the Mountain

Sururu põe Diogo e Ivone Lara na (sua) roda ao gravar o primeiro DVD no Rio

 Formado em 2000, o grupo carioca Sururu na Roda faz nesta terça-feira, 31 de julho de 2012, seu primeiro registro audiovisual de show em apresentação no Espaço Tom Jobim, no Rio de Janeiro (RJ). A gravação ao vivo vai ter intervenções de Diogo Nogueira, Ivone Lara, Monarco e Péricles. O quarteto - visto em foto de Ana Quintella - montou o roteiro com inéditas (entre elas, Ô Sorte), sucessos alheios (Morena de Angola, o samba de tom afro composto por Chico Buarque para Clara Nunes em 1980) e músicas já cantadas pelo Sururu na Roda em shows, mas nunca gravadas pelo grupo, casos de Mata Papai e Tia Eulália na Xiba. O DVD e CD ao vivo serão o quinto título de discografia que já inclui os CDs Arco da velha (2001), Sururu na Roda (2004), o ao vivo Que samba bom (2008) e o tributo Se você me ouvisse - 100 anos de Nelson Cavaquinho (2011). O Sururu é formado atualmente por Nilze Carvalho (voz, bandolim e cavaquinho), Silvio Carvalho (voz, cavaquinho e percussão), Fabiano Salek (voz e percussão) e Juliana Zanardi (voz e violão).  Aliás, Juliana Zanardi entrou no grupo, em 2011, para substituir a dissidente Camila Costa.

Muse revela capa de seu conceitual sexto álbum de estúdio, The 2nd Law

Com lançamento agendado para 17 de setembro de 2012, o conceitual sexto álbum de estúdio do Muse, The 2nd Law, expõe na capa uma imagem colorida do cérebro humano, extraída do acervo do The Human Connectome Project, estudo criado para mapear as conexões do órgão que comanda o corpo humano. Sucessor do CD The Resistance (2009), The 2nd Law alinha no repertório 13 inéditas de autoria dos músicos do grupo inglês, incluindo a já conhecida Survival.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Ana Carolina começa a gravar sexto álbum de inéditas em Los Angeles

A foto acima flagra Ana Carolina em recente viagem a Los Angeles (EUA), onde a cantora e compositora mineira começou as gravações de seu sexto álbum de inéditas nesta segunda quinzena de julho de 2012. A ideia da artista é concluir o disco entre Los Angeles e Rio de Janeiro (RJ). O time de músicos norte-americanos arregimentado para o CD inclui o baterista Aaron Sterling, o multi-instrumentista Bill Brendle e o baixista Neil Stubenhbaus. As gravações iniciais também contaram com as presenças do guitarrista Grecco Buratto (brasileiro radicado nos Estados Unidos) e do engenheiro de som Moogie Canazio. O repertório está sendo mantido em sigilo pela artista. Pelo cronograma da cantora, o álbum vai ser lançado somente em 2013. 

Mariah lança 'Triumphant', primeiro 'single' de seu 14º álbum de estúdio

Primeiro single do 14º álbum de estúdio de Mariah Carey, Triumphant (Get 'Em) tem lançamento agendado para a próxima quinta-feira, 2 de agosto de 2012. A gravação tem as participações dos rappers Rick Ross e Meek Mill - como exposto na capa do single, revelada pela cantora e compositora norte-americana pelas redes sociais. Sucessor do projeto natalino Merry Christmas II You (2010), o 14º álbum de estúdio de Mariah Carey foi formatado com produtores como Rodney Darkchild Jerkins, Jermaine Dupri e DJ Premier, entre outros nomes.

Moraes revela existência de inéditos registros ao vivo do Novos Baianos

Em entrevista à edição 673 da revista Isto É Gente, o cantor e compositor Moraes Moreira - visto em foto de Márcio Almeida - revela a existência de inéditos registros ao vivo de shows do grupo Novos Baianos. De boa qualidade técnica, os áudios são de shows feitos pelo grupo na época dos lançamentos de seus dois primeiros álbuns, Ferro na Boneca (1970) e Acabou Chorare (1972). Contudo, somente um acordo entre todos os integrantes da formação clássica dos Novos Baianos poderia viabilizar a eventual edição destas importantes gravações em disco. 

Jay-Z, Regan e West figuram no primeiro álbum do rapper Jay Electronica

Arquitetado desde 2008, o primeiro álbum de Jay Electronica - rapper norte-americano residente em Londres - tem intervenções dos rappers Jay-Z e Kanye West, além da presença póstuma do ex-presidente dos Estados Unidos Ronald Regan (1911 - 2004), cuja voz é sampleada na faixa de abertura Real Magic. Intitulado Act II: Patents of Nobility (The Turn), em referência ao fato de ser o sucessor do mixtape Act I: Eternal Sunshine (The Pledge), o álbum conta com participações de Charlotte Gainsbourg, Diddy Combs e The Dream. Eis as 15 músicas e os respectivos convidados do disco, aguardado no universo hip hop:

1. Real Magic - com Ronald Reagan
2. New Illuminati - com Kanye West
3. Patents of Nobility
4. Life on Mars - com FatBellyBella
5. Bonnie & Clyde - com Serge Gainsbourg
6. Dinner at Tiffany’s (The Shiny Suit Theory) - com Charlotte Gainsbourg, Jay-Z e The-Dream
7. Memories & Merlot
8. Better in Tune with the Infinite - com Latonya Givens
9. A Letter to Falon
10. Road to Perdition - com Jay-Z
11. Welcome to Knightsbridge - com Sean Diddy Combs
12. Rough Love - com Kanye West
13. Run & Hide - com The Bullitts
14. Nights of the Roundtable
15. 10,000 Lotus Petals

Djavan lança CD de inéditas em setembro com distribuição da Universal

O 21º disco de Djavan para o mercado brasileiro vai ser lançado em setembro de 2012 com distribuição da Universal Music. A parceria da gravadora do cantor e compositor, Luanda Records, com a multinacional do disco vai viabilizar a chegada às lojas do primeiro álbum de inéditas do artista desde Matizes (2007). Em seu estúdio no Rio de Janeiro (RJ), Djavan compôs, arranjou e produziu todas as 13 faixas do disco, gravadas com banda formada pelos músicos Carlos Bala (bateria), Glauton Campello (teclados), Jessé Sadoc (trompete), Marcelo Mariano (baixo), Marcelo Martins (saxofone), Paulo Calasans (teclados) e Torcuato Mariano (guitarra). Na foto oficial de Vera Donato, o artista posa com José Antonio Éboli - presidente da Universal Music no Brasil - durante a assinatura do contrato da sua Luanda com a gravadora.

domingo, 29 de julho de 2012

'Supernova' é a música que promove disco acústico do Natiruts na Sony

Supernova é a faixa eleita para promover o CD e DVD Acústico, projeto fonográfico que chega às lojas na segunda quinzena de agosto de 2012, marcando a entrada do grupo brasiliense de reggae Natiruts na gravadora Sony Music. Com clipe já em rotação na internet, a música de Alexandre Carlo vai ser trabalhada nas rádios a partir da próxima quarta-feira, 1º de agosto. A gravação ao vivo foi feita em show do grupo no Mirante Dona Marta, no Rio de Janeiro (RJ).

Gravação inédita de Caetano é a isca de coletânea que celebra Gonzaga

Embora não possua em seu catálogo nenhum disco de Luiz Gonzaga (1912 - 1989), a gravadora Universal Music também preparou seu tributo aos 100 anos do Rei do Baião. Trata-se da coletânea dupla Olha pro Céu, que reúne regravações da obra seminal do cantor e compositor pernambucano nas vozes de artistas da MPB. Nomes como Alceu Valença, Elba Ramalho, Gilberto Gil e Quinteto Violado se repetem ao longo dos dois discos. O chamariz da compilação - que tem texto assinado pelo jornalista Tárik de Souza - é gravação inédita do baião Respeita Januário (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950) feita por Caetano Veloso em 1999. Trata-se de registro caseiro de voz e violão. Eis as faixas do CD duplo que vai sair em agosto de 2012:

CD 1
1. Asa Branca – Caetano Veloso
2. ABC do Sertão – Maria Bethânia
3. Cintura Fina – Alceu Valença
4. Baião – Claudette Soares
5. Algodão – Quinteto Violado
6. Dança da Moda – Gilberto Gil
7. A Vida do Viajante – Amelinha
8. Derramaro o Gai – MPB-4
9. Baião da Garoa – Carmélia Alves
10. O Xote das Meninas – Gerson King Combo e a Turma do Soul
11. Numa Sala de Reboco – Quinteto Violado
12. Dúvida – Elba Ramalho
13. Olha pro Céu – Gilberto Gil
14. Baião de Dois - Caetano Veloso

CD 2
1. Asa Branca – Quinteto Violado e Luiz Gonzaga
2. Assum Preto – Gal Costa
3. Vem Morena – Alceu Valença
4. Xamego – Fafá de Belém
5. Vozes da Seca – Quinteto Violado
6. Respeita Januário – Caetano Veloso (gravação inédita)
7. Qui nem Jiló – Claudette Soares
8. Imbalança – Gilberto Gil
9. Roendo Unha – Elba Ramalho
10. Siri Jogando Bola / Respeita Januário / Forró do Mané Vito – Dominguinhos
11. Pau de Arara – Marília Medalha
12. Juazeiro – Gilberto Gil (ao vivo)
13. São João do Carneirinho / São João na Roça / Polca Fogueteira – Quinteto Violado
14. A Volta do Asa Branca / Eu Só Quero um Xodó – Caetano Veloso

Universal pretende vender Parlophone para ter aprovada compra da EMI

Anunciada em 2011, a compra da gravadora inglesa EMI Music pela Universal Music - negócio fechado em parceria com outras empresas - ainda depende da aprovação do órgão que regulamenta fusões de grande porte. Para acelerar a regulamentação da compra, a Universal Music pretende se desfazer do catálogo de selos vinculados à EMI Music como Parlophone, Mute e Chrysalis. Contudo, do catálogo da Parlophone, a Universal Music obviamente quer conservar em seu poder a obra fonográfica dos Beatles - inesgotável fonte de renda na indústria do disco.

Edição de 40 anos reitera o brilho de 'Ziggy Stardust' na carreira de Bowie

Resenha de reedição de CD
Título: The Rise and Fall of Ziggy Stardust and The Spiders From Mars 
           40th Anniversary Edition
Artista: David Bowie
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * * * * (álbum original de 1972) e * * * * (reedição de 2012)

Bastaram 38 minutos e 37 segundos para a ascensão e queda de Ziggy Stardust. Tempo suficiente para a consagração definitiva de David Bowie, o cantor e compositor inglês que solidificou sua carreira fonográfica em 1972 com a edição do conceitual álbum The Rise and Fall of Ziggy Stardust and The Spiders From Mars, produzido por Bowie com Ken Scott. Angustiado astro do rock, o andrógino Ziggy serviu de veículo para a exposição da energia sexual de Bowie num álbum de rock que - não por acaso - foi lançado na época em que o cantor assumiu publicamente na mídia sua bissexualidade. Decorridas quatro décadas, a edição comemorativa dos 40 anos de The Rise and Fall of Ziggy Stardust and The Spiders From Mars - obra-prima da era glam do rock - reitera a importância do álbum na década mais brilhante da discografia de Bowie. Valorizada por primorosa remasterização comandada por Ray Staff, o engenheiro de gravação que cuidou da parte técnica nas sessões que deram origem ao álbum no London's Air Studios, a edição de 40 anos de Ziggy sai no Brasil sem o DVD que expande o conteúdo deste disco que apresentou temas como Five Years, Soul Love, Suffragette City, Rock'n'Roll Suicide e o megahit Starman - compostos por Bowie em 1971 durante o processo de criação de seu álbum anterior, o já substancial Hunky Dory. Embora cuidadosa, a edição de 40 anos de Ziggy poderia vir ao menos incrementada com texto que dissecasse a criação deste clássico disco  em que Bowie - então em momento de especial vigor artístico - cria um astro imerso em sexo, drogas e rock glam. Girando na roda vida do universo pop, Ziggy acaba encontrando a morte. Mas ainda ronda a mente dos admiradores de Bowie, sobretudo no momento em que o sumiço do astro inglês dá margem a especulações se o criador de Ziggy Stardust não caminharia para um fim tão trágico quanto o de sua criatura.

'Baião' aborda em tons contemporâneos o gênero que projetou Gonzaga

Resenha de CD
Título: 100 Anos de Gonzagão - Baião
Artistas: Vários
Gravadora: Lua Music
Cotação: * * * 

Terceiro CD do box 100 Anos de Gonzagão, tributo triplo produzido por Thiago Marques Luiz para celebrar o centenário de nascimento de Luiz Gonzaga (1912 - 1989), Baião põe em evidência os timbres da guitarra e das programações de Rovilson Pascoal, diretor musical do projeto (em função dividida com o baixista André Bedurê). Mais do que as interpretações em si do elenco convidado, o que salta aos ouvidos são as tentativas de repaginar o baião - gênero que projetou e consagrou Gonzagão na virada dos anos 40 para os 50 - com arranjos de tom contemporâneo. Essa abordagem mais atual pauta os registros de Baião (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1949), Imbalança (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1952) e Paraíba (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950) - clássicos defendidos com correção por Wanderléa, Paulo Neto e Marcia Castro, respectivamente. Zeca Baleiro imprime sua personalidade musical no disco ao revitalizar Respeita Januário (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950) como balada de alma roqueira. Nem tudo é baião, a rigor, no repertório deste CD de conceito mais frouxo. Caracterizada como polca em sua gravação original de 1949, Lorota Boa (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) é o veículo ideal para a manifestação do espírito lúdico de Silvia Machete em ótima gravação valorizada pelo trompete de Sidmar Vieira e os efeitos de Tatá Aeroplano. Originalmente um coco, Siri Jogando Bola (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1956) faz China marcar golaço ao conectar (mais uma vez) Pernambuco com o mundo. Outro coco, Derramaro o Gai (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1950) faz explodir a influência de Lenine no som do grupo 5 a Seco. Título mais recente e desconhecido do cancioneiro de Gonzaga, Deixa a Tanga Voar (Luiz Gonzaga e João Silva, 1985) é ambientado em gostoso clima nortista na gravação de Ela. Presença emblemática no elenco por ter sido rotulada como a Princesinha do Baião nos anos 50 pelo próprio Luiz Gonzaga, Claudette Soares põe dengo e bossa em Baião de Dois (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950) em gravação realçada pelo arranjo suingante do B3 Organ Trio, grupo que assina a faixa com Claudette. Silvia Maria reitera sua técnica primorosa em belo registro do xote Mangaratiba (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1956), dividido com DaLua. Escorado na pegada roqueira da Banda Monomotor, cujo som evoca a era do iê-iê-iê, Edy Star (se) diverte no pot-pourri que agrega Dezessete e Setecentos (Luiz Gonzaga e Miguel Lima, 1945), O Torrado (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1950) e Calango da Lacraia (Luiz Gonzaga e Jeová Portella, 1946). Por fim, Nation Beat veste Madame Baião (Luiz Gonzaga e David Nasser, 1951) com roupa indie, deixando a sensação de que o maior mérito deste 100 Anos de Gonzagão é mostrar que a obra de Luiz Gonzaga é tão grande e tão universal - ainda que paradoxalmente enraizada no Nordeste do Brasil - que resiste bem a releituras mais ou menos inspiradas de intérpretes mais ou menos capacitados para encará-la. Gonzagão é pop!!

sábado, 28 de julho de 2012

Acalorada volta de Catto ao Rio sinaliza ascensão deste cantor que vai fundo

 "Por isso tome fôlego / Que eu vou até o fundo do que posso", avisa Filipe Catto através de versos escritos por Alice Ruiz para a letra de Mergulho, parceria de Ruiz com Alzira Espíndola, gravada em 2008 pela cantora Rogéria Holtz no seu CD No país de Alice. Música que é a cara do cantor gaúcho, como ele mesmo reconheceu em cena, Mergulho é uma das boas novidades incluídas por Catto no roteiro do show Fôlego, que voltou ao Rio de Janeiro (RJ) dentro do projeto Levada Oi Futuro -apresentado no teatro do Oi Futuro Ipanema - oito meses após a estreia carioca no Studio RJ. Se a vazia estreia de 10 de novembro de 2011 foi feita basicamente para alguns poucos convidados do meio musical (funcionários da gravadora Universal Music, artistas como Ana Carolina e jornalistas), a acalorada volta de Fôlego ao Rio - aquecida pelo entusiasmo do público pagante que lotou o teatro na noite de 27 de julho de 2012 - sinaliza a ascensão no mercado fonográfico deste cantor que vai fundo nas interpretações com voz poderosa. Além de Mergulho, a outra novidade do roteiro é Nascente, a canção de Flávio Venturini e Murilo Antunes que Beto Guedes lançou no LP A página do relâmpago elétrico (1977), Milton Nascimento regravou no álbum duplo Clube da Esquina 2 e Catto reviveu neste ano de 2012 no programa Som Brasil dedicado ao movimento Clube da Esquina. Clique aqui para ler a resenha da estreia carioca de Fôlego e aqui para conhecer o roteiro original do show em que Filipe Catto - visto em foto de Mauro Ferreira - se mostrou ótimo cantor,  desafiando o reinado feminino deste país de cantoras.

Áudio 2.0 de DVD limita experiência de ver o mito Cauby em cena aos 80

Em abril de 2011, Cauby Peixoto fez no Teatro Fecap, em São Paulo (SP), show comemorativo de seus 80 anos de vida e 60 de carreira fonográfica. O show foi gravado ao vivo. O áudio da gravação produzida por Thiago Marques Luiz - sob a direção musical do violonista Ronaldo Rayol - foi lançado no CD Cauby ao Vivo - 60 Anos de Música, um dos três discos da caixa O Mito, lançada em novembro de 2011 pela Lua Music. O DVD correspondente do CD - já nas lojas - limita a experiência de ver o mitológico Cauby em cena por ter somente áudio 2.0 dolby digital - e não o áudio 5.1 idealizado para expandir o som de shows em DVDs. Para quem não se importa com o detalhe técnico, o DVD Cauby ao Vivo 60 Anos de Música exibe encontros do octagenário cantor com intérpretes como Emílio Santiago (em Meu Sonho É Você, de Altamiro Carrilho) e Vânia Bastos (em Falando de Amor, de Tom Jobim). Nos extras, Cauby recebe Ângela Maria (em Gente Humilde, de Garoto, Chico Buarque e Vinicius de Moraes) e Fafá de Belém (em Bastidores, a música de Chico Buarque que Cauby tomou para si em 1980).

Em 'Sede', Amorim escreve palavras no ar com versos de Lee e Guerra

"Cantar é escrever palavras no ar com a tinta invisível da voz", diz texto de Carlos Amorim, publicado no encarte de Sede, terceiro álbum da cantora Claudia Amorim. Seguindo a lógica poética do texto, Claudia escreve palavras no ar através de versos de Anastácia & Dominguinhos (Tenho Sede), Ruy Guerra (Você Vai me Seguir, parceria com Chico Buarque), Sandra de Sá (Demônio Colorido, primeiro sucesso da cantora, lançado em 1980), Simone Guimarães (Água Funda) e Vander Lee (Do Brasil), entre outros compositores presentes no repertório do CD produzido e arranjado pelo guitarrista Perinho Santana. Edição independente.

BNegão dá manual de sobrevivência na selva da cidade com suingue 'black'

Resenha de CD
Título: Sintoniza Lá
Artista: BNegão & Seletores de Frequência
Gravadora: Coqueiro Verde Records
Cotação: * * * * 1/2

♪ BNegão sabe que a chapa tá quente e que "o barraco tá zoado demais", como diz em verso de Reação (Panela II) (BNegão e Pedro Selector), faixa embebida em reggae e dub de Sintoniza lá, segundo CD do artista carioca com o grupo Seletores de Frequência, posto efetivamente nas lojas neste mês de julho de 2012 pela gravadora Coqueiro Verde. Mas Negão dá no disco seu manual de sobrevivência na selva da cidade - no caso dele, a do Rio de Janeiro (RJ), terra dos bailes da pesada que propagam o soul e o funk, ritmos presentes no coquetel suingante deste segundo álbum do rapper egresso do Planet Hemp com seu antenado grupo. Pelo manual para festas, bailes e afins da turma, quem deve ficar quente não é a cabeça de neguinho, mas os metais em brasa que pontuam o disco, sucessor do já longínquo Enxugando gelo (2003), CD encartado em número da revista OutraCoisa, editada com heroísmo por Lobão nos anos 2000. Mesmo captando em essência o mesmo som do primeiro disco, Sintoniza lá se impõe pelo suingue e pela coesão do repertório. De certa forma, trata-se de disco conceitual, pois quase todas as músicas versam sobre a necessidade de resistir à luta cotidiana sem explodir. "O monstro é grande, sim / Mas não é invencível", prega Negão em versos de O mundo (Panela de pressão) (B Negão e Fabiano Moreno). De sabor explosivo, o coquetel rítmico do disco amalgama ritmos como samba, funk, soul, rap e reggae com alta dose de suingue. Crente de que a música gerada por gerar alteração positiva, como propaga em Alteração (ÉA!) (BNegão, Pedro Selector e Robson Riva), BNegão e os Seletores de Frequência sintonizam toques de jazz em Vamo! (BNegão, Fabiano Moreno, Fabio Kalunga, Robson Riva e Pedro Selector) e a pegada do rock pesado no deslocado hardcore instrumental Subconsciente (Fabio Kalunga, Nobru Pederneiras e Pedro Garcia). No todo, um bom groove funkeado dá o tom do disco produzido pelo próprio BNegão. Temas como Essa é para tocar no baile (BNegão e Pedro Selector) e Chega pra somar no groove (BNegão, Robson Riva, Fabio Kalunga, Pedro Selector e Fabiano Moreno) já se explicam pelos títulos, sendo que em Chega pra somar no groove Negão chega a listar os ritmos que compõem sua música preta brasileira que sintoniza os sons do mundo. Enfim, um grande e quente disco que dá seu recado positivista em um tom encorajador sem deixar de cair no suingue black. A boa música minimiza a zoação do barraco.

Compositor de 'Batman' lança tema em memória de vítimas de massacre

Um dos mais ativos compositores de trilhas sonoras de filmes norte-americanos, Hans Zimmer - autor da trilha sonora de Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge - está lançando tema, Aurora, em memória das 12 vítimas do massacre acontecido em 20 de julho de 2012 em cinema  de Aurora (Denver, Colorado, EUA) durante  exibição do filme de Christopher Nolan. Gravada em Londres dias após o massacre, a música já pode ser comprada no iTunes. Toda a renda obtida com a venda digital da composição vai ser revertida para os parentes das vítimas.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Mais dois álbuns de Jorge Ben Jor voltam ao vinil na série da PolySom

Dando continuidade à série Clássicos em Vinil, a PolySom relança mais dois álbuns de Jorge Ben Jor no formato de vinil de 180 gramas. Depois de A Tábua de Esmeralda (1974) e África Brasil (1976), é a vez de Samba Esquema Novo (1963) e de Negro É Lindo (1971). Primeiro álbum do cantor e compositor, o revolucionário Samba Esquema Novo apresentou ao Brasil sucessos como Mas que Nada - que logo ganharia repercussão mundial - e Chove Chuva, gravados no toque personalíssimo e inovador do violão de Ben. Menos badalado e bem-sucedido na parada, Negro É Lindo traz Que Maravilha - parceria de Ben com Toquinho - no repertório.

Tributo aos 70 anos de Caetano agrega Beck, Drexler, Seu Jorge e Tulipa

Composição da fase inicial de Caetano Veloso, lançada pelo Tamba Trio em disco de 1966 e regravada por Maria Bethânia no álbum A Tua Presença (1971), Quem me Dera ganha releitura que reúne o cantor e compositor norte-americano Devendra Banhart - fã extremado do artista brasileiro - e Rodrigo Amarante. O fonograma é uma das 16 gravações inéditas do CD A Tribute to Caetano Veloso, idealizado pelo produtor Paul Ralphes para festejar os 70 anos que o cantor e compositor vai completar em 7 de agosto de 2012, data do lançamento do disco. Editado pela Universal Music, gravadora que detém toda a obra fonográfica de Caetano, o tributo agrega nomes como Beck, Chrissie Hynde, Jorge Drexler, Momo, Mutantes, Seu Jorge e Tulipa Ruiz. Eis as 16 músicas selecionadas para o CD e seus (respectivos) anos e intérpretes:

1. You Don’t Know Me (1972) – The Magic Numbers
2. Eclipse Oculto (1983) – Céu
3. The Empty Boat (1969) – Chrissie Hynde, Moreno Veloso, Kassin e Domenico
4. London London (1970) – Mutantes
5. Michelangelo Antonioni (2000) – Beck
6. Fora da Ordem (1992) – Jorge Drexler
7. É de Manhã (1965) – Marcelo Camelo
8. Quem me Dera (1966) – Devendra Banhart e Rodrigo Amarante
9. Alguém Cantando (1977) – Momo
10. Trilhos Urbanos (1979) – Luisa Maita
11. Janelas Abertas nº 2 (1971) – Ana Moura
12. Da Maior Importância (1973) – Tulipa Ruiz
13. Força Estranha (1978) – Miguel Poveda
14. Qualquer Coisa (1975) – Qinho
15. Peter Gast (1983) – Seu Jorge, Toninho Horta e Arismar Espírito Santo
16. Araçá Azul (1973) – Mariana Aydar

Disco de Kravitz, 'Mama Said' ganha 21 faixas-bônus na edição de 21 anos

Segundo álbum de Lenny Kravitz, Mama Said consolidou o som e a carreira do cantor e compositor norte-americano, estourando em escala mundial faixas como Always on the Run e, sobretudo, It Ain't Over Til It's Over - música que aparece em versão demo e em remixes na edição comemorativa dos 21 anos de Mama Said. Lançada no Brasil neste mês de julho de 2012, via EMI Music, a 21st Anniversary Deluxe Edition do álbum ganha nada menos do que 21 faixas-bônus, sendo que 15 são inéditas em disco. Garimpado no baú de Kravitz, o material adicional inclui lados B de estúdios, cinco registros ao vivo de EP gravado na cidade holandesa de Roterdã - em 15 de novembro de 1991, em show da turnê inspirada em Mama Said - e demos das sessões de gravação do álbum. Nestas gravações seminais, há takes de músicas - como Riding on The Wings of My Lord e Framed, Lying, Crying - (até então) nunca lançadas. 

Senise e Peranzzetta rezam por cartilha de Mompou em CD feito na igreja

Com lançamento previsto para este segundo semestre de 2012, o nono CD do saxofonista Mauro Senise como o pianista Gilson Peranzzetta, Jasmin, gira em torno da música do pianista catalão Frederic Mompou (1893 - 1987). Gravado no fim de 2011 na Igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso, no Rio de Janeiro (RJ), Jasmin reza pela cartilha musical de Mompou, autor de seis das doze composições do disco. Os outros seis temas foram composto por Peranzzetta com forte inspiração no cancioneiro do compositor espanhol, celebrado por sua obra para piano solo.

Metallica programa para 2013 filme em 3D e sucessor de 'Death Magnetic'

O grupo Metallica planeja entrar em estúdio em setembro deste ano de 2012 para gravar o álbum de inéditas que vai suceder Death Magnetic (2008) na discografia solo da banda. Além do CD, o primeiro do grupo desde o disco com Lou Reed (Lulu, 2011), o Metallica programa para 2013 o lançamento de filme em 3D feito sob a direção do cineasta húngaro Ninrod Antal.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Teló aposta em 'Bará Berê' para bisar êxito europeu de 'Ai Se Eu Te Pego'

Com o mercado internacional receptivo às músicas pop(ulistas) da nova geração de música sertaneja, as estrelas do gênero almejam brilhar cada vez mais no exterior. Enquanto Gusttavo Lima mira o mercado norte-americano com gravação de DVD nos Estados Unidos, Michel Teló (foto) investe na continuidade de seu sucesso na Europa, onde já emplacou seu megahit Ai, Se Eu Te Pego. Teló aposta na regravação de Bará Berê - música já propagada no Nordeste do Brasil por várias bandas sertanejas da região - para se manter em alta na Europa.

'Paradise Edition' de CD de Lana sai em novembro com sete novas faixas

Lançado em janeiro deste ano de 2012, o segundo álbum da cantora e compositora norte-americana Lana Del Rey, Born to Die, vai ser reeditado em novembro com sete faixas-bônus. Não foram divulgados detalhes do repertório adicional, mas, em tese, trata-se de sete novas músicas. Body Electric (tema já cantado pela artista em shows) e Ridin' (música gravada por Lana em duo com o rapper norte-americano  A$ap Rocky) estariam as novidades da Paradise Edition de Born to Die, álbum que não correspondeu às expectativas do mercado fonográfico.

Catto é destaque no disco que ressalta dengo sensual da obra de Gonzagão

Resenha de CD
Título: 100 anos de Gonzagão - Xamêgo
Artistas: Vários
Gravadora: Lua Music
Cotação: * * * 1/2

 Ao mesmo tempo em que mostrou ao Brasil como se dançava e fazia o baião, Luiz Gonzaga (1912 - 1989) temperou sua obra com a malícia sensual que caracteriza parte da música nordestina. A face mais dengosa do repertório de Lua está exposta em Xamêgo, o segundo dos três CDs do box 100 anos de Gonzagão, produzido por Thiago Marques Luiz - sob a direção musical do violonista Rovilson Pascoal e do baixista André Beduré - para celebrar o centenário de nascimento do Rei do Baião. Com gravações menos reverentes do que as do CD 1 (Sertão, de tom mais tradicional), Xamêgo soa mais descontraído. O jovem cantor Filipe Catto faz jus à honra de abrir o disco, com interpretação precisa de A sorte é cega (Luiz Guimarães, 1967), valorizando cada verso de letra que aborda amor e desejo reprimidos. Aliada à voz segura de Catto, a trama de violões e guitarras faz da gravação um dos grandes destaques do tributo triplo. A arejada produção musical de Yuri Queiroga abre caminho para que sua irmã, Ylana Queiroga (sobrinha de Lula Queiroga), encontre o tom dengoso de Orélia (Humberto Teixeira, 1979). Arretada por natureza, Maria Alcina exercita seu histrionismo em Xamêgo (Luiz Gonzaga e Miguel Lima, 1944), tema que ganha suingue nortista na gravação, outro destaque do disco. Radicado em Nova York (EUA), o grupo Forró in the Dark parece se divertir ao desconstruir o xote O cheiro da Carolina (Amorim Roxo e Zé Gonzaga, 1956). Cantora visceral no palco, Karina Buhr sustenta bem a leveza do baião Xanduzinha (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950). Já Thaís Gulin nada faz por Balance eu (Luiz Gonzaga e Nestor de Hollanda, 1958). Falta no registro de Gulin a vivacidade posta em Ednardo no baião Vem morena (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1949). Faltou malícia também à interpretação de Gaby Amarantos para Cintura fina (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1950), faixa turbinada pelas programações eletrônicas de Sandro Negão. Uma das joias de maior quilate do baú de Gonzagão, Qui nem jiló (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950) poderia reluzir mais se o arranjo fosse mais ousado para diferenciar o registro de Ângela RoRo das numerosas abordagens do antológico baião. Da mesma forma, nem a emissão límpida de Jussara Silveira faz Sabiá (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1951) voar alto. Por sua vez, a (ótima) cantora Verônica Ferriani mostra insuspeito domínio do ABC do sertão com sua primorosa interpretação de A letra I (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1953), em gravação feita e assinada com o grupo Chorando as Pitangas. O arranjo do gaitista Vítor Lopes contribui para tornar a faixa uma das melhores do tributo. Em sintonia com sua alma sertaneja, Rolando Boldrin dá sabor interiorano a Açucena cheirosa (Rômulo Paes e José Celso, 1956) em gravação feita com o Regional Imperial.  Já Vânia Bastos dilui a alegria junina de Olha pro céu (Luiz Gonzaga e José Fernandes, 1951) em registro sereno que realça a beleza da melodia do tema e a emissão cristalina da voz da cantora. Célia suaviza a angústia que move os versos de Roendo unha (Luiz Gonzaga e Luiz Ramalho, 1976) com o rigor estilístico que falta ao canto informal de Elke Maravilha, que jamais acerta o tom dengoso d'O xote das meninas (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1953), tema unido na faixa - assinada por Elke com o Trio Dona Zefa - com Capim Novo (Luiz Gonzaga e José Clementino, 1976). Luiz Gonzaga sabia brincar com as coisas do amor e do sexo. Mas a brincadeira somente tem graça quando é musicalmente levada a sério - como faz a maioria dos intérpretes de Xamêgo, com destaque para Filipe Catto e Verônica Ferriani. Sim, é preciso respeitar Januário.

Nina e Callado equilibram doçura pop e experimentalismo em CD a dois

Resenha de CD
Título: Gambito Budapeste
Artista: Nina Becker & Marcelo Callado
Gravadora: YB Music / Bolacha
Cotação: * * * 1/2

Primeiro CD da cantora e compositora carioca Nina Becker com o baterista e compositor Marcelo Callado, Gambito Budapeste é um disco de casal. Não somente por ser assinado conjuntamente pelos artistas, parceiros na música e na vida, mas sobretudo porque o repertório essencialmente autoral está embebido em vivências do romantismo cotidiano - inclusive na única faixa não assinada por Nina e/ou Callado, Armei a Rede (Assis Valente e Arsênio Antônio), baião de 1951 que serve de veículo para o casal expressar malícia sensual de tom interiorano. Entre exposições de seu cotidiano amoroso, traduzido até na foto casual exposta na capa, Nina e Callado alcançam em Gambito Budapeste salutar ponto de equilíbrio entre a doçura pop e (certo) experimentalismo, com ligeira ênfase na primeira. Cantora de tonalidade cool que vem de dois álbuns de cores (nem tão) diferentes lançados em 2010, Azul e Vermelho, Nina consegue uma maior proximidade com o universo pop neste disco de duo, sobretudo nas músicas em que Gambito Budapeste  se pauta pelo tempo da delicadeza. Bonita e aconchegante canção que abre o CD produzido por Carlos Eduardo Miranda com Callado, Cadê Você? (Nina Becker) é o drops saboroso de Gambito Budapeste. Levemente salgado pela guitarra slide de Callado, o drops tem gosto de "É bom amar" - como sentencia o verso final de Saudade Vem (Marcelo Callado e Nina Becker), bela canção que remete na forma à parcela mais suave da obra de Arnaldo Antunes. Contudo, o clima psicodélico de Blues (Marcelo Callado) - faixa-vinheta alocada logo no início do disco - parece sinalizar que sempre há nuvens na atmosfera dos casais. Da mesma forma, o tom mais experimental da segunda metade de Futuro (Marcelo Callado) - canção menos inspirada do repertório - parece talhada para alterar o sabor doce de casal feliz que poderia deixar o álbum excessivamente açucarado. Como cantor bissexto, Callado harmoniza bem sua voz com a de Nina em temas como  (Marcelo Callado e Nina Becker) e Nuvem (Marcelo Callado e Nina Becker), além de se aventurar a interpretar sozinho Essa Menina (Marcelo Callado), faixa aquecida pelo baticum das percussões comandadas por Callado e pelo coro de amigos. É instante de calor que se alinha com a pegada roqueira de Marco Zero (Nina Becker e Marcelo Callado) e que se contrapõe ao clima cool do canto de Nina em Sem Lei (Nina Becker), em Packing to Leave (Nina Becker) - única faixa composta e cantada em inglês - e em De Cor, Coração (Nina Becker). No fim, tudo se harmoniza com o canto a duas vozes de Tucanos (Nina Becker e Marcelo Callado), mostrando que o sol encobre as nuvens no cotidiano romântico do casal cool.

Magic Numbers grava 'You Don't Know Me' no tributo aos 70 de Caetano

Música de Caetano Veloso, lançada pelo compositor em seu cultuado álbum Transa (1972), You Don't Know Me ganha regravação do grupo inglês The Magic Numbers - visto em miniaturas de Pete Fowler - no CD idealizado produzido por Paul Ralphes para festejar os 70 anos do artista. Com 16 gravações inéditas da obra do compositor baiano, feitas por nomes brasileiros e estrangeiros, o CD A Tribute to Caetano Veloso tem lançamento mundial orquestrado pela gravadora Universal Music para 7 de agosto de 2012, dia em que Caetano completará 70 anos.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Com molejo, Sacramento canta os sambas e os amores de Becker e Pinheiro

Resenha de CD
Título: Todo mundo quer amar
Artista: Marcos Sacramento e Zé Paulo Becker
Gravadora: Borandá
Cotação: * * * 

♪ Parafraseando a letra de A gente samba, a mais inspirada das 14 músicas inéditas assinadas pelo violonista Zé Paulo Becker com Paulo César Pinheiro no CD Todo mundo quer amar, é no ritmo do samba que Marcos Sacramento tem crescido e aprendido a caminhar como cantor. Com molejo, ele dá voz às 14 parcerias dos compositores neste disco produzido com esmero por Becker. O álbum poderia resultar excepcional se a qualidade do repertório fosse uniforme. Nem todas as músicas soam especialmente inspiradas (sobretudo na segunda metade do CD), mas o resultado é bom. Sacramento tem ginga para encarar sambas mais sincopados como Remendo e Dois lados. Nas canções, como a lírica Sem rumo e Conformação, o intérprete esboça um registro mais intenso que não pega o ouvinte. Dos temas mais lentos, vale destacar Coisa fugaz, faixa em que sobressai a cuíca chorona de Paulino Dias. Todo mundo quer amar, aliás, prima pelo requinte instrumental. Vários virtuoses tocam ao longo das 14 faixas do álbum, valorizando o repertório que expõe as várias faces do amor. Inclusive o amor pela boemia, abordado em De madrugada com o auxílio luxuosíssimo do acordeom de Bebê Kramer. Entre choro (Gota de ouro), sambas (Temperamento e o saudosista No Clube Democráticos) e canção (Convés), o álbum Todo mundo quer amar deixa boa impressão sem nunca impressionar quando Sacramento canta os sambas e os amores da dupla.

Música nova de West sampleia tema lançado por Marcos Valle em 1972

Parceria do rapper norte-americano Kanye West com Terrence Thornton, New God Flow - segundo single de Cruel Summer, o álbum que West vai lançar em agosto de 2012 com colaborações do elenco de seu selo G.O.O.D. Music - sampleia trecho de Bodas de Sangue, música de Marcos Valle, lançada pelo compositor carioca há 40 anos em seu álbum Vento Sul (1972). Valle - cabe lembrar - tem projeção nos Estados Unidos desde que seu Samba de Verão (1963) fez sucesso em escala mundial na década de 60. Bodas de Sangue é lado B de sua obra.

Com clipe, Boy George badala releitura do primeiro hit de Lana Del Rey

Música que deu projeção mundial à cantora e compositora norte-americana Lana Del Rey a partir de outubro de 2011, Video Games (Lana Del Rey e Justin Parker) ganhou regravação de Boy George. Já em alta rotação na internet, o bonito registro do cantor britânico está sendo promovido com clipe romântico dirigido pelo cineasta Mike Nicholls. Boy George não lançava gravação inédita desde que editou em outubro de 2010 single com a música Pentoville Blues.

'Skank 91' ressalta que o som embrionário do grupo já tinha boa pegada

Resenha de CD
Título: Skank 91
Artista: Skank
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * * 

Vocalista e guitarrista do Skank, Samuel Rosa tem ressaltado em entrevistas que o CD Skank 91 não deve ser visto como um título oficial da discografia do grupo mineiro. Embora esteja sendo oficialmente lançado pela gravadora Sony Music neste mês de julho de 2012, o disco - que festeja com um ano de atraso as duas décadas de vida do quarteto - deve de fato ser encarado como item de colecionador. Trata-se de coletânea com as primeiras gravações do Skank, feitas em 1991. São dez registros de estúdio - captados no Studio Ferretti, em Belo Horizonte (MG) - e seis números ao vivo do primeiro show da banda, feito em 5 de junho de 1991 no projeto Disco Reggae Night, da casa Aeroanta, templo pop indie de São Paulo (SP) na época. Mesmo embrionário, o som do grupo já tinha pegada. A rigor, o Skank começou a dizer a que veio a partir do segundo álbum, Calango (1994), mas, analisadas com o benefício da retrospectiva, essas gravações seminais já sinalizavam um grupo hábil na fusão da linguagem da música brasileira com os ritmos jamaicanos. Pelo filtro do reggae, do ska, do raggamuffin' e do dancehall, Samuel Rosa, Henrique Portugal (teclados), Lelo Zaneti (baixo) e Haroldo Ferretti (bateria) passavam músicas inéditas - ainda não tão ao ponto quanto as das safras posteriores, tanto que Amanhã (Samuel Rosa), Eterna Resposta (Samuel Rosa), Eu me Perdi (Samuel Rosa) e A Tela (Samuel Rosa) nem seriam aproveitadas pelo Skank no primeiro álbum - e temas alheios. Sucessos da banda Gang 90 e do cantor Frank Sinatra (1915 - 1998), Telefone (Júlio Barroso, 1983) e Let me Try Again (Paul Anka, Samuel Cahn, Caravelli e Michel Jourdan, 1973) resistem bem à passagem por tal filtro. Em contrapartida, Raça (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1976) perde toda sua força e suingue - tanto que a releitura jamais ganhou registro na discografia oficial do Skank, ficando restrita a pré-história do grupo. Quanto às músicas então inéditas, os arranjos ouvidos em Skank 91 são diferentes dos perpetuados no primeiro álbum da banda, gravado em 1992. Sutilezas à parte, estes registros de alto valor documental já traziam a semente boa que iria germinar e dar frutos, gerando álbuns coesos. Embora nunca tenha se desapegado dos sons da Jamaica, o Skank começou a se agigantar quando começou a se afastar da praia do reggae em álbuns como Siderado (1998), a obra-prima Maquinarama (2000) e o também memorável Cosmotron (2003). Foi quando o grupo começou a se conectar com Lô Borges, frequentando outros clubes, já com discernimento para  valorizar as harmonias dos temas de Milton Nascimento e Cia. Seja como for, já passa da hora de o Skank apresentar álbum de inéditas. Previsto de início para 2012, o sucessor de Estandarte (2008) sairá somente em 2013, dando continuidade à luminosa história do Skank.

Ayrton, Cátia, Cida, Chico e Geraldo pisam firme no 'Sertão' de Gonzaga

Resenha de CD
Título: 100 Anos de Gonzagão - Sertão
Artistas: Vários
Gravadora: Lua Music
Cotação: * * *

É com a autoridade de ser o discípulo mais legítimo de Luiz Gonzaga (1912 - 1989) que Dominguinhos abre  Sertão - o primeiro dos três CDs do box 100 Anos de Gonzagão, produzido com heroísmo por Thiago Marques Luiz para celebrar o centenário de nascimento do Rei do Baião - com citação de Hora do Adeus (Onildo de Almeida e Luiz Queiroga, 1966) antes de fazer Asa Branca (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1947) bater asas do sertão em voo agalopado orquestrado com as adesões de Amelinha, Anastácia, Ednardo e Geraldo Azevedo. Nessa abertura do tributo, os metais soprados pelos músicos do Meretrio - com arranjo vivaz do trombonista Emiliano Sampaio - sinaliza que pode haver alguma vida nova no Sertão de 100 Anos de Gonzagão. Com 50 gravações inéditas feitas sob a direção musical do violonista Rovilson Pascoal e do baixista André Beduré, autores da maioria dos arranjos, o tributo triplo peca por excessos e pela irregularidade de algumas interpretações. Contudo, o saldo é positivo. Se Elba Ramalho liga o automático ao reviver o xote No Meu Pé de Serra (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1946), Geraldo Azevedo repisa com propriedade a bela Estrada de Canindé (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950) - na companhia de um elétrico violão arranjado e tocado pelo próprio Geraldo - e o jovem cantor pernambucano Ayrton Montarroyos se revela cantor promissor pela beleza de seu timbre e pela segurança com que embarca no Riacho do Navio (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1955). Se Zezé Motta parece turista acidental n'A Vida do Viajante (Luiz Gonzaga e Hervê Cordovil, 1953), Cida Moreira lança mão de todo seu rigor estilístico para realçar a beleza poética de Acauã (Zé Dantas, 1952) em interpretação serena. Neto de Luiz, Daniel Gonzaga respeita o baião Juazeiro (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1949), prejudicado por arranjo sem vida. Aliás, o índice de acertos é maior quando o artista tem o controle artístico de sua gravação. Chico César pega bem Pau de Arara (Luiz Gonzaga e Guio de Moraes, 1952) no toque de sua guitarra acústica. Em compensação, o grupo paulista Vanguart dá rasante cego por Assum Preto (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950), tirando toda a beleza e sentimento da toada. Em geral, os temas áridos do sertão de Gonzaga são encarados com mais desenvoltura por quem tem a vivência nordestina e conhece a extensão de uma Légua Tirana (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1949), caso de Amelinha, intérprete que explora a região aguda de sua voz ao percorrer os caminhos melódicos dessa toada. Caso também de Zé Ramalho, cuja voz cavernosa é talhada para narrar A Morte do Vaqueiro (Luiz Gonzaga e Nelson Barbalho, 1963). É por essa vivência nordestina que a paraibana Cátia de França sabe fazer ressoar Vozes da Seca (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1953) e que Anastácia se encontra feliz com Oswaldinho do Acordeom n'A Feira de Caruaru (Onildo de Almeida, 1957). Em contrapartida, Fafá de Belém forja alegria para festejar A Volta da Asa Branca (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1950). Não, tudo em volta não é só beleza no sertão centenário de Lua.