Título: Casa de Morar
Artista: Renato Braz (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Rival (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 11 de julho de 2012
Cotação: * * * *
Contradizendo a letra de Febril, a música de Gilberto Gil com que Renato Braz abriu a primeira apresentação carioca de seu show Casa de Morar no Rio de Janeiro (RJ), não veio muita gente admirar o talento vocal do cantor paulista. Mas todo mundo que foi ao Teatro Rival na noite de 11 de julho de 2012 saiu encantado, com a certeza de ter estado diante de um dos maiores cantores do Brasil de todos os tempos, dono de uma voz privilegiada que prima pela afinação absoluta e por uma emissão exemplar. Rouco por conta de uma gripe que o deixou febril ao fim da apresentação, Braz não estava na melhor de sua forma vocal. Mesmo assim, deu show desde que entrou em cena para cantar Febril em número de voz & violão (o do próprio Braz) até o momento em que saiu do palco do Rival, ao lado da banda e da convidada Fátima Guedes, ao som de versos finais de Desenredo (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro). O show é baseado no sétimo recém-lançado álbum de Braz, Casa de Morar, mas transcorre sem o tom interiorano do disco, ainda que a beleza ruralista de Relento (Simone Guimarães e Cristina Saraiva) tenha saltado aos ouvidos ao fim da apresentação. Parafraseando verso de Essa Moça (Mário Gil e Paulo César Pinheiro), tema interpretado por Braz ao som do piano de Thaís Nicodemo, o artista tem o dom santo do canto. E é com esse canto em feitio de oração - formal, não raro classicista, mas quase sempre pungente - que Braz exerce seu dom sagrado, cantando repertório identificado com as tradições da velha e boa MPB. Com o auxílio luxuoso da percussão de Bré (percussão) e do violão de Gerson Oikawa, Braz esbanja técnica na interpretação de temas como o mediano samba Coração Sem Saída (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro). Contudo, embora sua técnica seja perceptível aos primeiros acordes de cada música, Braz mostra ter perfeito entendimento do espírito e do significado de cada canção. Em bom português, é um cantor que põe sentimento na voz. Esse sentimento escorre de seu canto ao longo do roteiro que transita por músicas dos repertórios dos três cantores - Cláudio Nucci, Milton Nascimento e Zé Renato - que fizeram a cabeça de Braz. De Nucci, Braz revive duas parcerias com o poeta Cacaso (1944 - 1987), Casa de Morar - que evoca o universo das folias de reis - e Santa Clara, tema que ele eleva às alturas apesar da gripe. Já a admiração por Milton e Zé Renato converge em Ponto de Encontro, parceria dos dois cantores e compositores. Em roteiro que concilia o lirismo da canção Un Vestido Y Un Amor (Fito Páez) com o toque afro de Angola (Théo de Barros e Paulo César Pinheiro), número em que Braz assume também o tambor ("É a minha hora"), há samba de Chico Buarque, O Velho Francisco, interpretado em ritmo mais veloz do que sua cadência original, como admitiu o próprio Braz ao público, àquela altura já totalmente embevecido com seu dom raro e santo.
4 comentários:
Contradizendo a letra de Febril, a música de Gilberto Gil com que Renato Braz abriu a primeira apresentação carioca de seu show Casa de Morar no Rio de Janeiro (RJ), não veio muita gente admirar o talento vocal do cantor paulista. Mas todo mundo que foi ao Teatro Rival na noite de 11 de julho de 2012 saiu encantado, com a certeza de ter estado diante de um dos maiores cantores do Brasil de todos os tempos, dono de uma voz privilegiada que prima pela afinação absoluta e por uma emissão exemplar. Rouco por conta de uma gripe que o deixou febril ao fim da apresentação, Braz não estava na melhor de sua forma vocal. Mesmo assim, deu show desde que entrou em cena para cantar Febril em número de voz & violão (o do próprio Braz) até o momento em que saiu do palco do Rival, ao lado da banda e da convidada Fátima Guedes, ao som de versos finais de Desenredo (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro). O show é baseado no sétimo recém-lançado álbum de Braz, Casa de Morar, mas transcorre sem o tom interiorano do disco, ainda que a beleza ruralista de Relento (Simone Guimarães e Cristina Saraiva) tenha saltado aos ouvidos ao fim da apresentação. Parafraseando verso de Essa Moça (Mário Gil e Paulo César Pinheiro), tema interpretado por Braz ao som do piano de Thaís Nicodemo, o artista tem o dom santo do canto. E é com esse canto em feitio de oração - formal, não raro classicista, mas quase sempre pungente - que Braz exerce seu dom sagrado, cantando repertório identificado com as tradições da velha e boa MPB. Com o auxílio luxuoso da percussão de Bré (percussão) e do violão de Gerson Oikawa, Braz esbanja técnica na interpretação de temas como o mediano samba Coração Sem Saída (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro). Contudo, embora sua técnica seja perceptível aos primeiros acordes de cada música, Braz mostra ter perfeito entendimento do espírito e do significado de cada canção. Em bom português, é um cantor que põe sentimento na voz. Esse sentimento escorre de seu canto ao longo do roteiro que transita por músicas dos repertórios dos três cantores - Cláudio Nucci, Milton Nascimento e Zé Renato - que fizeram a cabeça de Braz. De Nucci, Braz revive duas parcerias com o poeta Cacaso (1944 - 1987), Casa de Morar - que evoca o universo das folias de reis - e Santa Clara, tema que ele eleva às alturas apesar da gripe. Já a admiração por Milton e Zé Renato converge em Ponto de Encontro, parceria dos dois cantores e compositores. Em roteiro que concilia o lirismo da canção Un Vestido Y Un Amor (Fito Páez) com o toque afro de Angola (Théo de Barros), número em que Braz assume também o tambor ("É a minha hora"), há grande samba de Chico Buarque, O Velho Francisco, interpretado em ritmo mais veloz do que a cadência original do tema, como admitiu o próprio Braz ao público que, àquela altura, já estava totalmente embevecido com seu raro dom santo.
"não veio muita gente admirar o talento vocal do cantor paulista..."
Mauro, meio difícil o público comparecer, se a produção do Renato não se esforça em fazer uma divulgação minimamente decente...
Eu e vários amigos meus, que somos fãs de carteirinha dele, não pudemos ir ao show, por não ter tido conhecimento prévio.
Eu só fiquei sabendo através da sua mensagem no seu Facebook. Até avisei as pessoas que eu conheço, mas ninguém conseguiu se programar, assim, em cima da hora.
Enfim, fico feliz de saber que o show foi tão luminoso. O Renato merecia que esse show fosse feito em um lugar mais adequado à beleza da sua voz e do seu repertório.
Aliás, hoje e amanhã tem show do Mateus Sartori na Sala Baden Powell (outro que divulga muito mal as suas apresentações no Rio de Janeiro...)
abração,
Denilson
Adooooro o Renato e o Mateus. Cantam bárbaro! Poderiam vir para Curitiba! Ia ser muito bom ouvir Un vestido y un amor! Uma loinda canção!
Emanuel Andrade
Renato Braz é um dos maiores cantores de sua geração. Voz excelente, timbre que me chama atenção, bom violão, e o melhor, um repertório sempre rico e luxuoso. A grande mídia, mesmo em meio a tanta baixaria que rola nas emissoras de rádio hoje, precisa conhecer esse rapaz. As trilhas ficaram melhor com ele.Seis discos são todos excelentes. Com certeza o arranjo de "Quero ficar com você", e sua interpretação, pelo menos para mim, supera o de Bethânia.
Ainda quero vê-lo pelo Nordeste.
Emanuel Andrade
Petrolina(PE)
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