Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 19 de julho de 2012

Concentração de fonogramas inéditos em CD valoriza série 'Super Divas'

Resenha de série de CDs
Título: Super Divas
Artistas: Ademilde Fonseca, Ângela Maria, Aracy de Almeida, Carmélia Alves, Cláudia,
             Dalva de Oliveira, Eliana Pittman, Elizeth Cardoso, Leny Eversong, Maria 
             Alcina, Maysa, Rosana Toledo e Waleska
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * * * 1/2

Ao sair de cena em 27 de março, Ademilde Fonseca (1921 - 2012) deixou relevante obra fonográfica que em sua maior parte - a mais expressiva, aliás - permanecia inédita em formato digital. Esse descaso da indústria do disco com a obra singular da cantora potiguar é amenizado com o lançamento de coletânea dupla com gravações raras de Ademilde, feita dos anos 50 (a maioria) aos 70. De quebra, o encarte traz as letras dos choros (e sambas), texto biográfico sobre a trajetória fonográfica da intérprete - que estreou em disco em 1942, ou seja, há 70 anos - e breves comentários sobre cada uma das 26 gravações, feitos pela própria Ademilde pouco antes de partir aos 91 anos. O CD duplo da Rainha do Chorinho integra a série de 13 compilações Super Divas, recém-lançada pela EMI Music. Produzida com esmero pelo pesquisador Rodrigo Faour, a coleção paira acima das (triviais) séries do gênero pela alta concentração de fonogramas raros e / ou inéditos em CD. São gravações de 13 cantoras associadas a um estilo mais ou menos intenso de interpretação. Mesmo quando a coletânea de uma cantora se revela menos essencial (caso do CD de Ângela Maria, cantora que já teve a parte mais significativa de sua obra lançada em compilações anteriores), a seleção inusitada de Faour - no caso da Sapoti, com ênfase em raras gravações dos anos 70 de tom melodramático - impede a banalização da coleção. Voz destoante do estilo exacerbado da maioria das cantoras da série, a carioca Aracy de Almeida (1914 - 1988) tem seu canto apurado exposto em gravações dos anos 40, com ligeira ênfase em composições de Wilson Baptista (1913 -1968), cuja obra foi muito propagada na voz dessa cantora hoje mais identificada com a figura folclórica que integrava o júri do programa de calouros do apresentador de TV Silvio Santos. Uma das músicas mais conhecidas de Baptista, Louco (Ela É Seu Mundo) (Wilson Baptista e Henrique Almeida), integra a seleção de Araca na gravação original de 1947. Coroada a Rainha do Baião pelo próprio Luiz Gonzaga (1912 - 1989), Carmélia Alves tem lançadas em CD pela primeira vez gravações da segunda metade dos anos 50. Embora tais registros da Copacabana não sejam os primeiros da cantora carioca, que já havia gravados temas nordestinos como Pau-de-Arara (Guio de Moraes e Luiz Gonzaga) na Continental entre 1950 e 1954, todos têm alto valor musical e documental (pelo ineditismo no formato digital). Já a coletânea de Cláudia tem seu grande trunfo na reunião de gravações de raros compactos gravados na Odeon na primeira metade dos anos 70 e, sobretudo, na exposição de quatro faixas - incluindo Soy Latino Americano (Zé Rodrix e Livi, 1976), O Cavaleiro e os Moinhos (João Bosco e Aldir Blanc, 1975) e Apenas Um Rapaz Latino Americano (Belchior, 1976) - de Reza, Tambor e Raça (RCA Victor, 1971), raríssimo álbum que marcou o encontro musical e afetivo da cantora com o baterista Chico Medori. Um dos dois títulos duplos da série (o outro é o CD de Ademilde Fonseca), a coletânea de Dalva de Oliveira (1917 - 1972) alinha algumas raridades entre seus fonogramas, mas não chega a destacar na série pelo fato de a parte expressiva da obra de Dalva na Odeon já ter sido lançada em formato digital. Em contrapartida, a seleção da coletânea de Eliana Pittman traz essencialmente gravações inéditas no formato de CD, expondo o suingue desta cantora projetada como artista solo entre a segunda metade dos anos 60 e a primeira dos 70. Tal como a compilação de Dalva, a de Elizeth Cardoso (1920 - 1990) é menos essencial na série, embora a seleção de seu repertório prime por apresentar gravações não incluídas em coletâneas anteriores da Divina. Da mesma forma, a coletânea de Leny Eversong (1920 - 1984) funciona na série como um complemento de duas coletâneas anteriores da cantora paulista produzidas por Faour em 2002 e 2007. Mais valor tem o disco de Maria Alcina na série pelo fato de a coletânea ser dedicada à segunda (e menos conhecida) fase da discografia da cantora. São fonogramas de raríssimos compactos e álbuns lançados na segunda metade dos anos 70 e primeira dos 80. Nem tudo é inédito em CD na coletânea de Maysa (1936 - 1977), mas a (valiosa) seleção destaca Bravo! - a raríssima versão cantada da parceria da cantora e compositora com o maestro Julio Medaglia, lançada em compacto de 1975, o último de Maysa - e fonogramas de compactos gravados  pela artista na Copacabana em 1968 e 1969. Alto valor documental também tem a coletânea de Rosana Toledo - até por ser a primeira compilação desta cantora mineira que migrou do samba-canção para a bossa nova na primeira metade dos anos 60. O timbre similar ao de Maysa  salta aos ouvidos em gravações como a de Tetê (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli) e Canção que Morre no Ar (Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli). Por fim, a série Super Divas apresenta oportuna coletânea de Waleska, voz das canções de fossa. A compilação vasculha o baú da cantora na Copacabana, rebobinando 16 gravações que abrangem o período 1971 - 1981. Enfim, pelos repertórios sempre escolhidos com critério por Faour e pela fartura de informações sobre as cantoras e as gravações, as 13 primorosas coletâneas da série Super Divas são ponto alto no trabalho do pesquisador musical.

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Ao sair de cena em 27 de março, Ademilde Fonseca (1921 - 2012) deixou relevante obra fonográfica que em sua maior parte - a mais expressiva, aliás - permanecia inédita em formato digital. Esse descaso da indústria do disco com a obra singular da cantora potiguar é amenizado com o lançamento de coletânea dupla com gravações raras de Ademilde, feita dos anos 50 (a maioria) aos 70. De quebra, o encarte traz as letras dos choros (e sambas), texto biográfico sobre a trajetória fonográfica da intérprete - que estreou em disco em 1942, ou seja, há 70 anos - e breves comentários sobre cada uma das 26 gravações, feitos pela própria Ademilde pouco antes de partir aos 91 anos. O CD duplo da Rainha do Chorinho integra a série de 13 compilações Super Divas, recém-lançada pela EMI Music. Produzida com esmero pelo pesquisador Rodrigo Faour, a coleção paira acima das (triviais) séries do gênero pela alta concentração de fonogramas raros e / ou inéditos em CD. São gravações de 13 cantoras associadas a um estilo mais ou menos intenso de interpretação. Mesmo quando a coletânea de uma cantora se revela menos essencial (caso do CD de Ângela Maria, cantora que já teve a parte mais significativa de sua obra lançada em compilações anteriores), a seleção inusitada de Faour - no caso da Sapoti, com ênfase em raras gravações dos anos 70 de tom melodramático - impede a banalização da coleção. Voz destoante do estilo exacerbado da maioria das cantoras da série, a carioca Aracy de Almeida (1914 - 1988) tem seu canto apurado exposto em gravações dos anos 40, com ligeira ênfase em composições de Wilson Baptista (1913 -1968), cuja obra foi muito propagada na voz dessa cantora hoje mais identificada com a figura folclórica que integrava o júri do programa de calouros do apresentador de TV Silvio Santos. Uma das músicas mais conhecidas de Baptista, Louco (Ela É Seu Mundo) (Wilson Baptista e Henrique Almeida), integra a seleção de Araca na gravação original de 1947. Coroada a Rainha do Baião pelo próprio Luiz Gonzaga (1912 - 1989), Carmélia Alves tem lançadas em CD pela primeira vez gravações da segunda metade dos anos 50. Embora tais registros da Copacabana não sejam os primeiros da cantora carioca, que já havia gravados temas nordestinos como Pau-de-Arara (Guio de Moraes e Luiz Gonzaga) na Continental entre 1950 e 1954, todos têm alto valor musical e documental (pelo ineditismo no formato digital). Já a coletânea de Cláudia tem seu grande trunfo na reunião de gravações de raros compactos gravados na Odeon na primeira metade dos anos 70 e, sobretudo, na exposição de quatro faixas - incluindo Soy Latino Americano (Zé Rodrix e Livi, 1976), O Cavaleiro e os Moinhos (João Bosco e Aldir Blanc, 1975) e Apenas Um Rapaz Latino Americano (Belchior, 1976) - de Reza, Tambor e Raça (RCA Victor, 1971), raríssimo álbum que marcou o encontro musical e afetivo da cantora com o baterista Chico Medori. Um dos dois títulos duplos da série (o outro é o CD de Ademilde Fonseca), a coletânea de Dalva de Oliveira (1917 - 1972) alinha algumas raridades entre seus fonogramas, mas não chega a destacar na série pelo fato de a parte expressiva da obra de Dalva na Odeon já ter sido lançada em formato digital. Em contrapartida, a seleção da coletânea de Eliana Pittman traz essencialmente gravações inéditas no formato de CD, expondo o suingue desta cantora projetada como artista solo entre a segunda metade dos anos 60 e a primeira dos 70. Tal como a compilação de Dalva, a de Elizeth Cardoso (1920 - 1990) é menos essencial na série, embora a seleção de seu repertório prime por apresentar gravações não incluídas em coletâneas anteriores da Divina. Da mesma forma, a coletânea de Leny Eversong (1920 - 1984) funciona na série como um complemento de duas coletâneas anteriores da cantora paulista produzidas por Faour em 2002 e 2007.

Mauro Ferreira disse...

Mais valor tem o disco de Maria Alcina na série pelo fato de a coletânea ser dedicada à segunda (e menos conhecida) fase da discografia da cantora. São fonogramas de raríssimos compactos e álbuns lançados na segunda metade dos anos 70 e primeira dos 80. Nem tudo é inédito em CD na coletânea de Maysa (1936 - 1977), mas a (valiosa) seleção destaca Bravo! - a raríssima versão cantada da parceria da cantora e compositora com o maestro Julio Medaglia, lançada em compacto de 1975, o último de Maysa - e fonogramas de compactos gravados pela artista na Copacabana em 1968 e 1969. Alto valor documental também tem a coletânea de Rosana Toledo - até por ser a primeira compilação desta cantora mineira que migrou do samba-canção para a bossa nova na primeira metade dos anos 60. O timbre similar ao de Maysa salta aos ouvidos em gravações como a de Tetê (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli) e Canção que Morre no Ar (Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli). Por fim, a série Super Divas apresenta oportuna coletânea de Waleska, voz das canções de fossa. A compilação vasculha o baú da cantora na Copacabana, rebobinando 16 gravações que abrangem o período 1971 - 1981. Enfim, pelos repertórios sempre escolhidos com critério por Faour e pela fartura de informações sobre as cantoras e as gravações, as 13 primorosas coletâneas da série Super Divas são ponto alto no trabalho do pesquisador musical.

Tombom disse...

Maravilha! Vou atrás dos CDs.

THIAGO disse...

Rodrigo Faour fez um trabalho fantástico nessa coleção. Aos admiradores das vozes femininas brasileiras, essa coleção é um excelente presente.

Bruno disse...

Faour arrasa! Stop the clock!