Título: A Revolta dos Ritmos
Artista: Moreira Moreira
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * * 1/2
Enquanto a industrializada axé music desce ladeira, Moraes Moreira - cuja obra solo é uma das bases da carnavalizante música da Bahia - eleva sua cotação no mercado fonográfico com a inspirada safra autoral de A Revolta dos Ritmos. O primeiro álbum de inéditas do compositor baiano desde De Repente (2005) é pautado pela diversidade rítmica - conceito sinalizado já na arte gráfica do CD ora posto nas lojas pela gravadora Biscoito Fino - com ligeira ênfase na cadência bonita do samba, condutora de faixas como a música-título A Revolta dos Ritmos (Moraes Moreira) e de Feito Jorge Ser Amado (Moraes Moreira e Fred Góes). Este bom samba enreda na letra personagens do autor de Gabriela Cravo e Canela para festejar o centenário de nascimento do escritor Jorge Amado (1912 - 2011), cuja obra está impregnada da mesma baianidade contida na brasilidade do repertório de Moraes. Sustentado pelos tambores percutidos por Jonga Cunha, Malvado e Walface, o galope Raças e Religiões (Moraes Moreira e Fred Góes) tem a vivacidade vibrante que já escasseia no axé atual enquanto Que Nem Mandacaru (Moraes Moreira) evolui no compasso do caboclinho, ritmo de Pernambuco, Estado carnavalizante que já dividiu forças com a Bahia na Nação nordestina exaltada no xote Nós Somos Sim Paraíba (Moraes Moreira). Mesmo sentenciando que o Nordeste é a alma do Brasil, Moreira se banha nas águas plácidas da carioca Bossa Nova em Brasileira Academia (Moraes Moreira) - tema gravado com cordas orquestradas pelo maestro Vittor Santos - e se deixa levar pelas quebradas igualmente cariocas dos breques do samba Cuidado Moreira (Moraes Moreira). Faixa que abre o disco, Cuidado Moreira é aditivado com um rap / repente que, de certa forma, dialoga com o canto falado da primeira parte de A Dor e o Poeta (Moraes Moreira), valsa em que o compositor romantiza o ato da criação. Quase déjà vu, a abolerada canção No iPod do Meu Coração (Moraes Moreira) traça o itinerário sentimental seguido eventualmente pelo cantor e compositor, cuja voz - já sem o viço de Carnavais passados - soa bem tratada em estúdio. Sem sair do (seu) tom, Moreira exalta a vida nas rimas bem urdidas de Meu Coração Tá Bombando (Moraes Moreira) - faixa temperada com dengo nordestino de sabor pop - e expõe com acidez sua indignação com os rumos do Brasil na cantoria interiorana de O Brasil Não Tá Pronto (Moraes Moreira). A viola chora no ritmo sertanejo pela consciência de que ainda falta maturidade ao País. Mas, na sequência, o frevo arrasta-povo A Praça, O Povo e o Poeta devolve a alegria a este disco escorado nas cordas - no caso do frevo, turbinado com as guitarras de Davi Moraes - e arremata com maestria A Revolta dos Ritmos. Com este revigorante CD que sintetiza sua obra carnavalizante, Moraes Moreira sobe (de novo) a ladeira.
10 comentários:
Enquanto a industrializada axé music desce ladeira, Moraes Moreira - cuja obra solo é uma das bases da carnavalizante música da Bahia - eleva sua cotação no mercado fonográfico com a inspirada safra autoral de A Revolta dos Ritmos. O primeiro álbum de inéditas do compositor baiano desde De Repente (2005) é pautado pela diversidade rítmica - conceito sinalizado já na arte gráfica do CD ora posto nas lojas pela gravadora Biscoito Fino - com ligeira ênfase na cadência bonita do samba, condutora de faixas como a música-título A Revolta dos Ritmos (Moraes Moreira) e de Feito Jorge Ser Amado (Moraes Moreira e Fred Góes). Este bom samba enreda na letra personagens do autor de Gabriela Cravo e Canela para festejar o centenário de nascimento do escritor Jorge Amado (1912 - 2011), cuja obra está impregnada da mesma baianidade contida na brasilidade do repertório de Moraes. Sustentado pelos tambores percutidos por Jonga Cunha, Malvado e Walface, o galope Raças e Religiões (Moraes Moreira e Fred Góes) tem a vivacidade vibrante que já escasseia no axé atual enquanto Que Nem Mandacaru (Moraes Moreira) evolui no compasso do caboclinho, ritmo de Pernambuco, Estado carnavalizante que já dividiu forças com a Bahia na Nação nordestina exaltada no xote Nós Somos Sim Paraíba (Moraes Moreira). Mesmo sentenciando que o Nordeste é a alma do Brasil, Moreira se banha nas águas plácidas da carioca Bossa Nova em Brasileira Academia (Moraes Moreira) - tema gravado com cordas orquestradas pelo maestro Vittor Santos - e se deixa levar pelas quebradas igualmente cariocas dos breques do samba Cuidado Moreira (Moraes Moreira). Faixa que abre o disco, Cuidado Moreira é aditivado com um rap / repente que, de certa forma, dialoga com o canto falado da primeira parte de A Dor e o Poeta (Moraes Moreira), valsa em que o compositor romantiza o ato da criação. Quase déjà vu, a abolerada canção No iPod do Meu Coração (Moraes Moreira) traça o itinerário sentimental seguido eventualmente pelo cantor e compositor, cuja voz - já sem o viço de Carnavais passados - soa bem tratada em estúdio. Sem sair do (seu) tom, Moreira exalta a vida nas rimas bem urdidas de Meu Coração Tá Bombando (Moraes Moreira) - faixa temperada com dengo nordestino de sabor pop - e expõe com acidez sua indignação com os rumos do Brasil na cantoria interiorana de O Brasil Não Tá Pronto (Moraes Moreira). A viola chora no ritmo sertanejo pela consciência de que ainda falta maturidade ao País. Mas, na sequência, o frevo arrasta-povo A Praça, O Povo e o Poeta devolve a alegria a este disco escorado nas cordas - no caso do frevo, turbinado com as guitarras de Davi Moraes - e arremata com maestria A Revolta dos Ritmos. Com este revigorante CD que sintetiza sua obra carnavalizante, Moraes Moreira sobe (de novo) a ladeira.
Gostei a capa! Espero que o conteúdo também seja!
O Moraes é o baiano mais pernambucano que existe.
No auge do axé, e seus cordões de isolamento em praça pública, ele se refugiou nos carnavais livres, leves a ainda soltos de Recife.
Além do que sempre foi inimigo número um da mesmice.
Coisa de pernambucano.
Menos, Zé Henrique, menos! Nenhuma cultura e nenhum estado está livre da mesmice, nem mesmo a terra de Luiz Gonzaga. Moraes Moreira ainda não teve no Brasil o reconhecimento que merece, particularmente por seu extraordinário trabalho de compositor. Muitos, ao falar do homem de Ituaçu, preferem focar o período dos Novos Baianos, mas foi nos dez ou quinze anos que se seguiram a sua saída do grupo que Moares teve o auge de sua criação sonora. Urge relançar, o quanto antes, todos o seu trabalho solo das décadas de 70 e 80!
Pra mim tanto faz! sou Soteropolitana, mas não gosto de Carnaval seja o da minha terra e afins pra mim a festa sempre foi um lixo! só vale os dias de descanso onde costumo passar viajando não sairia em bloco de carnaval aqui em Salvador nem de grátis vale pro camarote também.
Baiano Márcio, saca:
P-e-r-n-a-m-b-u-c-o
NENHUMA letra se repete.
Tá no nome, tá no sangue.
PS: Eu sou dos que preferem focar o trabalho do Moraes dos Novos Baianos, embora vc tenha razão. O trabalho solo dele pós grupo é muito do bom. Assim como a trupe tb continuou muito bem sem ele.
Maria, é super salutar que nós, soteropolitanos/baianos/brasileiros, tenhamos opiniões diferentes sobre o carnaval (ou sobre qualquer assunto). Toda unanimidade é burra, já falou Nelson Rodrigues.
Pernambucano Zé Henrique, gostei de seu joguinho! Como agora é minha vez, vou citar algumas cidades/estados/países para ver o que você diz (rs):
BAhiA
SAlvAdor
RIO de JaneIrO
SãO PaulO
LouIsIAnA
NEw OrlEaNs
JAmAicA
HAvAnA
REcifE ...
Vai encarar (rs)?
Verdade, Márcio! Acho que o Carnaval hoje em dia pra quem gosta é para elite e turista. PS: Ouço Moraes só nos Novos Baianos, mas gosto de algumas coisas do seu trabalho solo ele é muito talentoso.
Pois é, Baiano, dez letras sem nenhum repeteco não é pra qualquer um, como vc mesmo demonstra. :-)
Bahia tem só cinco letras e duas se repetem.
Tá no nome, tá no sangue. rsrssr
Essas coisas não são por acaso.
No mais, adoro a Boa Terra. Alcunha, aliás, que o acaso tb nada tem a ver.
Moraes Moreira é lúcido e muito bom. Salve Moraes.
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