Como um "homem velho que deixa a vida e morte para trás", como diz o verso de sua canção de 1984, Caetano Veloso chega aos 70 anos - completados neste 7 de agosto de 2012 - sem choro nem vela. E tampouco comemorações. A única homenagem fonográfica, A Tribute to Caetano Veloso, é o disco que realça o tom globalizado da obra do compositor baiano através de 16 gravações inéditas feito por elenco contemporâneo que mistura nomes nacionais e estrangeiros. O tempo não pará e Caetano envelhece - como visto na foto de Daryan Dornelles. Mas o homem velho tem deixado a morte artística para trás, desafiando as leis do tempo da criação com vigor jovial. Conectado com naturalidade às novas gerações musicais, Caetano tem desde Cê - seu álbum roqueiro indie de 2006 - se inserido num tempo que também é o seu por ser o artista movido por um espírito eternamente tropicalista. Leonino vaidoso, o cantor tem sabido dar voz aos anseios da mídia com opiniões contundentes que o tornaram referência na música do Brasil. Um aval de Caetano ainda faz diferença - por mais que essa diferença descontente seus detratores. Mas é na música que suas palavras soam mais fortes, mais conexas. Nesses 70 anos caetanos, a poesia dos versos de Caetano dá sentido e fortalece a música antenada que tem caminhado por trilhos urbanos em rota circular que parece nunca ter fim. E, se houver um ponto final, há de ser na interiorana Santo Amaro da Purificação, cidade natal com força de um satélite na vida e obra de Caetano. Foi lá que o então possível cineasta captou em 1958 a revolução estética de João Gilberto, refletida em seu primeiro álbum, Domingo (1967), dividido com Gal Costa, outra discípula de João. Contudo, no balanço da bossa, Caetano viajou por mares nunca dantes navegados pelos músicos do Brasil. Com seu amigo de fé e irmão camarada Gilberto Gil, Caetano soube entender o iê-iê-iê romântico da Jovem Guarda de Roberto Carlos - de cuja existência foi alertado pela mana Maria Bethânia - e jogou o rock, o pop, o brega e o chique no antropofágico caldeirão tropicalista, libertando sua obra de amarras estéticas. Estava aberto o caminho para as conexões pioneiras com o reggae e o rock indie de Transa (1972), o controvertido flerte com a música dançante de Bicho (1977) e para álbuns que o entronizaram entre os reis da elitizada MPB dos anos 70. Na década de 80, o rock brasileiro abriu mercado e passou a dar as cartas. Longe de lhe fazer oposição, como muitos ícones de sua geração, Caetano se aliou a esse pop rock brazuca - notadamente no álbum Velô (1984) - em conexões com a geração 80 que impediram que sua obra fosse vista como um museu de grandes novidades. Discos antenados como Estrangeiro (1989) e Circuladô (1991) pavimentaram a estrada dos anos 90 - década de refinado mergulho no universo musical hispânico de Fina Estampa (1994) e do milhão de cópias vendidas de um disco ao vivo de 1998 impulsionado por despojado registro de canção adolescente de Peninha (Sozinho, sucesso em 1996 na voz de Sandra de Sá). Os anos 2000 começaram com disco indie, Noites do Norte (2000), que não obteve a repercussão esperada por Caetano. Esse sopro de renovação encontraria eco somente a partir de Cê (2006), álbum cujo jorro jovial da sonoridade indie disfarçou a irregularidade de repertório de caráter sexual, atenuada também por três ou quatro boas músicas que reconectaram Caetano com a juventude que pouco ou nada se identificara com a sofisticada e senhoril abordagem do cancioneiro norte-americano feita em A Foreign Sound (2004). No momento em que grava seu terceiro álbum de estúdio com a BandaCê, Caetano, homem velho, parece mais uma vez deixar a vida e a morte para trás em busca de versos e sons que alimentem sua permanente inquietude tropicalista, marca de pelo menos 45 dos 70 anos Caetanos. Cabeça ao prumo, Caetano Veloso segue o seu rumo.
Como um "homem velho que deixa a vida e morte para trás", como diz o verso de sua canção de 1984, Caetano Veloso chega aos 70 anos - completados neste 7 de agosto de 2012 - sem choro nem vela. E tampouco comemorações. A única homenagem fonográfica, A Tribute to Caetano Veloso, é o disco que realça o tom globalizado da obra do compositor baiano através de 16 gravações inéditas feito por elenco contemporâneo que mistura nomes nacionais e estrangeiros. O tempo não pará e Caetano envelhece - como visto na foto de Daryan Dornelles. Mas o homem velho tem deixado a morte artística para trás, desafiando as leis do tempo da criação com vigor jovial. Conectado com naturalidade às novas gerações musicais, Caetano tem desde Cê - seu álbum roqueiro indie de 2006 - se inserido num tempo que também é o seu por ser o artista movido por um espírito eternamente tropicalista. Leonino vaidoso, o cantor tem sabido dar voz aos anseios da mídia com opiniões contundentes que o tornaram referência na música do Brasil. Um aval de Caetano ainda faz diferença - por mais que essa diferença descontente seus detratores. Mas é na música que suas palavras soam mais fortes, mais conexas. Nesses 70 anos caetanos, a poesia dos versos de Caetano dá sentido e fortalece a música antenada que tem caminhado por trilhos urbanos em rota circular que parece nunca ter fim. E, se houver um ponto final, há de ser na interiorana Santo Amaro da Purificação, cidade natal com força de um satélite na vida e obra de Caetano. Foi lá que o então possível cineasta captou em 1958 a revolução estética de João Gilberto, refletida em seu primeiro álbum, Domingo (1967), dividido com Gal Costa, outra discípula de João. Contudo, no balanço da bossa, Caetano viajou por mares nunca dantes navegados pelos músicos do Brasil. Com seu amigo de fé e irmão camarada Gilberto Gil, Caetano soube entender o iê-iê-iê romântico da Jovem Guarda de Roberto Carlos - de cuja existência foi alertado pela mana Maria Bethânia - e jogou o rock, o pop, o brega e o chique no antropofágico caldeirão tropicalista, libertando sua obra de amarras estéticas. Estava aberto o caminho para as conexões pioneiras com o reggae e o rock indie de Transa (1972), o controvertido flerte com a música dançante de Bicho (1977) e para álbuns que o entronizaram entre os reis da elitizada MPB dos anos 70. Na década de 80, o rock brasileiro abriu mercado e passou a dar as cartas. Longe de lhe fazer oposição, como muitos ícones de sua geração, Caetano se aliou a esse pop rock brazuca - notadamente no álbum Velô (1984) - em conexões com a geração 80 que impediram que sua obra fosse vista como um museu de grandes novidades. Discos antenados como Estrangeiro (1989) e Circuladô (1991) pavimentaram a estrada dos anos 90 - década de refinado mergulho no universo musical hispânico de Fina Estampa (1994) e do milhão de cópias vendidas de um disco ao vivo de 1998 impulsionado por despojado registro de canção adolescente de Peninha (Sozinho, sucesso em 1996 na voz de Sandra de Sá). Os anos 2000 começaram com disco indie, Noites do Norte (2000), que não obteve a repercussão esperada por Caetano. Esse sopro de renovação encontraria eco somente a partir de Cê (2006), álbum cujo jorro jovial da sonoridade indie disfarçou a irregularidade de repertório de caráter sexual, atenuada também por três ou quatro boas músicas que reconectaram Caetano com a juventude que pouco ou nada se identificara com a sofisticada e senhoril abordagem do cancioneiro norte-americano feita em A Foreign Sound (2004). No momento em que grava seu terceiro álbum de estúdio com a BandaCê, Caetano, homem velho, parece mais uma vez deixar a vida e a morte para trás em busca de versos e sons que alimentem sua permanente inquietude tropicalista, marca de pelo menos 45 dos 70 anos Caetanos. Cabeça ao prumo, Caetano Veloso segue o seu rumo.
ResponderExcluirSer conterrâneo de Caetano Veloso, ao contrário do que pode aparentar, não é fácil, principalmente quando você se encontra fora do seu torrão. Quando digo que sou de Santo Amaro, quase que consigo escutar o pensamento do meu interlocutor: “Meu Deus, outro que pensa que é artista”. Mas essa lógica-preconceituosa-de-botequim não é problema, pior é ter que prestar contas de cada declaração polêmica ou regravação de axé ou funk-carioca, como se fosse eu o culpado (quem é santoamarense sabe o que estou falando).
ResponderExcluirParabéns, a esse grande artista de importância fundamental para a música brasileira Caetano Veloso! PS: Muito, Transa, Cinema Transcedental e Tropicália meus discos prediletos.
ResponderExcluirAugusto Flávio (Juazeiro-Ba) Disse:
ResponderExcluirParabéns grande artista.
Meu top 5 por DÉCADA
ANOS 60
No dia em que vim embora
Não identificado
Clarice
Irene
Coração vagabundo
ANOS 70
Nine out of ten
Um indio
Tigresa
Terra
Louco por você
ANOS 80
Nú com minha música
Trem das cores
O Homem velho
Podres poderes
Este amor
ANOS 90
Neide Candolina
Fora da ordem
Lindeza
Alexandre
Pra ninguém
ANOS 2000
Zera reza
13 de maio
Odeio
Minhas lágrimas
A cor amarela
Parabéns ao meu querido Caetano, meu ídolo, e meu herói. Que continue cada vez mais e mais envelhecendo como um bom vinho. Que possa continuar nos brindando desse seu bom vinho regado a muitas novas boas composições em muitos novos discos. Que venha mais do bom e "velho" Caetano!!!
ResponderExcluirO outro tropicalista Tom Zé já está vendendo pelo seu site oficial o novo disco dele, o "Tropicália Lixo Lógico".
ResponderExcluirFaço ideia dos tormentos por que passa o santamarense que assina como "Por que você faz poema?".
ResponderExcluirGuardadas as devidas proporções, é como aquele incidente de quando Daniela Cicarelli disse, em entrevista ao "Programa do Jô", que rouba tanto em jogos de cartas que "parecia ter nascido em Brasília".
Sobre Caetano: já comentei com Zé Henrique, outro frequentador desse blog, que ele é o Romário da música popular brasileira.
Daqueles sujeitos cuja persona pública causa amor ou ódio; às vezes, arrogante ao extremo; mas um sujeito para quem se olha, às vezes, e se fala "é, esse sabe das coisas, não dá para negar".
Felipe dos Santos Souza
Inclusive no último fim de semana, Caetano falou em sua coluna semanal do "O Globo" do novo disco de Tom Zé. Aqui:
ResponderExcluirhttp://oglobo.globo.com/cultura/lixo-logico-5692980
Felipe dos Santos Souza, Caetano perto de um Lobão, Lulu Santos, João Gilberto é um franciscano.
ResponderExcluirOlá, Maria.
ResponderExcluirBem, Lulu diz que Caetano é um de seus "três orixás" na música brasileira, o seu herói; Lobão vive uma relação de amor e (falso) ódio com ele; e Caetano se assumirá como gilbertiano até o fim dos tempos.
Em suma: quatro sujeitos com o rei na barriga. Está tudo em casa (risos). Eles, que são verdes, que se entendam. A gente fica ouvindo.
Felipe dos Santos Souza
hahaha boa,Felipe! desses três aí só ouço o próprio Caetano e Lulu João Gilberto gosto um pouquinho mas não sou fã! Abraço.
ResponderExcluirPra mim é o maior artista dos últimos 40 anos.
ResponderExcluirLevou seu talento aonde quis sem se deixar enquadrar.
Só discordo que seu aval ainda valha grande coisa.
Acho que ele perdeu um pouco a mão - na ânsia de se opor aos, digamos, oprimidos pela elite cultural - e sua palavra perdeu muito do peso.
O joguinho de elogiar mesmo o que não gosta, pra marcar território, ficou evidente.
Um aceno hoje em dia de Mano Caetano é coisa bastante dúbia.
Enfim, nobody is perfect.
Parabéns ao Superbacana.
PS: Muito boas as músicas escolhidas pelo Augusto.
Mas senti falta, cara, da obra prima Desde Que o Samba é Samba.
Não consigo entender prá quem aval desse senhor ainda tem peso. Maria Gadú? Qual outro caça níqueis? Vamos acordar minha gente! O bonde do Tigrão e o Bonde da História já passaram. Ficou tudo no passado. São só estertores de pretensiosa e rasa criatividade. Foi!
ResponderExcluirMuito cacique pra pouco índio !
ResponderExcluirMuito cacique pra pouco índio !
ResponderExcluirMuito cacique pra pouco índio !
ResponderExcluirInúmeros parabéns ao grandioso e espetacular Caetano Veloso, o Poeta!!!!
ResponderExcluirAcho "estrangeiro" e "circuladô" discos maravilhosos. Tenho saudades do caetano dessa época. Viva caetano!
ResponderExcluirparabéns também para a 'antenada' empresária Paula Lavigne, que conseguiu torná-lo popular, rico e...sem-graça
ResponderExcluirSalve, Caetano!
ResponderExcluirSou fã de caetano,mas boa parte de suas letras deviam ser lançadas só no papél e não em discos,"Fora de ordem" é muito interessante como prosa poética ou texto jornalístico,como música,não.É claro que é só uma opinião.
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