quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Cañas volta com independência, mas com personalidade ainda indefinida

Resenha de CD
Título: Volta
Artista: Ana Cañas
Gravadora: Guela Records / Som Livre
Cotação: * * 

Terceiro álbum de Ana Cañas, Volta certamente tem esse título não somente pelo fato de uma de suas 16 músicas se chamar Volta. O disco simboliza um retorno da cantora e compositora paulista à cena após fase conturbada em que questões de ordem pessoal ameaçaram a continuidade de carreira que vinha em escala ascendente. Apenas três anos separam Volta de Hein? (2009), o CD anterior da artista. Contudo, nesse tempo, Cañas deixou o elenco da Sony Music - gravadora que apostou na sua voz diplomada na noite paulista - e se recolheu. Foi nessa fase de recolhimento que gestou o disco produzido com liberdade e sem pressão pela própria Cañas com o guitarrista Fabá Jimenez e o baixista Fábio Sá. Mesmo com tal liberdade, a cantora retorna ao disco com personalidade ainda indefinida. Gravado em estúdio cono se fosse ao vivo, Volta resulta longo - são16 faixas que totalizam 70 minutos - e peca pelo excesso de composições de autoria de Cañas, defeito que já prejudicara o álbum de estreia da artista, Amor e Caos (2007). A cantora é boa e solta a voz com segurança perceptível, por exemplo, nos vocalises finais do blues Diabo (Ana Cañas) e na imponente interpretação de Urubu Rei (Ana Cañas), tema de guitarra suja que flerta com o universo do r & b. Só que, em um mercado cada vez mais segmentado que exige que cada cantor encontre seu nicho, fica difícil detectar em Volta qual a praia de Cañas. Pode ser a do reggae evocado em Difícil (Ana Cañas), pode ser a do rock mais cru e bluesy - mote de Rock'n'Roll (Jimmy Page, John Paul Jones, John Bonham e Robert Plant), cover do Led Zeppelin que se conecta ao sotaque roqueiro do álbum Hein?, produzido por Liminha - e pode ser a dos standards. Aliás, nem a sintonia da voz de Cañas com o baixo acústico de Fábio Sá elimina a sensação de que La Vie en Rose (Louiguy e Edith Piaf) já foi exaustivamente regravada. A abordagem acústica de Stormy Weather (Harold Arlen e Ted Koehler) deixa a mesma impressão (são dispensáveis as falas finais da artista após a gravação da faixa). Releitura por releitura, a de My Baby Just Cares For Me (Walter Donaldson e Gus Khan) resulta mais inusitada pelo arranjo que mixa o megafone e a voz de Cañas com o ukelele de Fabá Jimenez e o recorrente baixo de Fábio Sá. Na seara das baladas mais próximas do universo de uma MPB de sotaque pop, Feito pra Mim (Ana Cañas), Amar Amor (Ana Cañas e Dadi) e Todas As Cores (Ana Cañas e Dadi) sequer roçam a beleza de Esconderijo (Ana Cañas), a bela canção do álbum anterior, destaque de toda a obra autoral da compositora. Da safra de Volta, o maior trunfo é Será Que Você me Ama?, a parceria de Cañas com Dadi que promove o disco. Entre música em francês (L'Amour, de Cañas) e em espanhol (No Quiero Tus Besos, parceria da compositora com Natalia Lafourcade), Volta gravita sem pegada em torno de uma obra autoral que não justifica tanta ênfase. Ana Cañas ainda precisa achar sua turma para fazer um disco condizente com sua voz.

11 comentários:

  1. Terceiro álbum de Ana Cañas, Volta certamente tem esse título não somente pelo fato de uma de suas 16 músicas se chamar Volta. O disco simboliza um retorno da cantora e compositora paulista à cena após fase conturbada em que questões de ordem pessoal ameaçaram a continuidade de carreira que vinha em escala ascendente. Apenas três anos separam Volta de Hein? (2009), o CD anterior da artista. Contudo, nesse tempo, Cañas deixou o elenco da Sony Music - gravadora que apostou na sua voz diplomada na noite paulista - e se recolheu. Foi nessa fase de recolhimento que gestou o disco produzido com liberdade e sem pressão pela própria Cañas com o guitarrista Fabá Jimenez e o baixista Fábio Sá. Mesmo com tal liberdade, a cantora retorna ao disco com personalidade ainda indefinida. Gravado em estúdio cono se fosse ao vivo, Volta resulta longo - são16 faixas que totalizam 70 minutos - e peca pelo excesso de composições de autoria de Cañas, defeito que já prejudicara o álbum de estreia da artista, Amor e Caos (2007). A cantora é boa e solta a voz com segurança perceptível, por exemplo, nos vocalises finais do blues Diabo (Ana Cañas) e na imponente interpretação de Urubu Rei (Ana Cañas), tema de guitarra suja que flerta com o universo do r & b. Só que, em um mercado cada vez mais segmentado que exige que cada cantor encontre seu nicho, fica difícil detectar em Volta qual a praia de Cañas. Pode ser a do reggae evocado em Difícil (Ana Cañas), pode ser a do rock mais cru e bluesy - mote de Rock'n'Roll (Jimmy Page, John Paul Jones, John Bonham e Robert Plant), cover do Led Zeppelin que se conecta ao sotaque roqueiro do álbum Hein?, produzido por Liminha - e pode ser a dos standards. Aliás, nem a sintonia da voz de Cañas com o baixo acústico de Fábio Sá elimina a sensação de que La Vie en Rose (Louiguy e Edith Piaf) já foi exaustivamente regravada. A abordagem acústica de Stormy Weather (Harold Arlen e Ted Koehler) deixa a mesma impressão (são dispensáveis as falas finais da artista após a gravação da faixa). Releitura por releitura, a de My Baby Just Cares For Me (Walter Donaldson e Gus Khan) resulta mais inusitada pelo arranjo que mixa o megafone e a voz de Cañas com o ukelele de Fabá Jimenez e o recorrente baixo de Fábio Sá. Na seara das baladas mais próximas do universo de uma MPB de sotaque pop, Feito pra Mim (Ana Cañas), Amar Amor (Ana Cañas e Dadi) e Todas As Cores (Ana Cañas e Dadi) sequer roçam a beleza de Esconderijo (Ana Cañas), a bela canção do álbum anterior, destaque de toda a obra autoral da compositora. Da safra de Volta, o maior trunfo é Será Que Você me Ama?, a parceria de Cañas com Dadi que promove o disco. Entre música em francês (L'Amour, de Cañas) e em espanhol (No Quiero Tus Besos, parceria da compositora com Natalia Lafourcade), Volta gravita sem pegada em torno de uma obra autoral que não justifica tanta ênfase. Ana Cañas ainda precisa achar sua turma para fazer um disco condizente com sua voz.

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  2. Quem sabe se ela se juntar a galera da Gadú melhore né!!! Personalidade pra quê?? Pra resultar em mais do mesmo. Um CD com 10 músicas no mesmo segmento pra resultar em uma única música com 50 minutos???
    O Cd é muito legal sim.

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  3. A Ana não tem turma mesmo ainda bem, como foi dito acima, pra não ficar o mais do mesmo que é chatão. Só achei q ela poderia pegar mais pesado com o jazz, ela pode.

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  4. O Volta de Ana Cañas já está no topo do meu smartphone há mais de mês. Ouço-o quase que diariamente. Na minha opinião, este é o seu melhor trabalho. Consigo ouvir as 16 sem cansar ou sentir enfado. Espero que ela continue ousando e agregando diferentes estilos ao seu repertório. Dou quatro asteriscos pro Volta da Ana.

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  5. Esqueci de citar q amei o disco VOLTA.

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  6. Tadinha da moça, Mauro acabou com ela

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  7. "e peca pelo excesso de composições de autoria de Cañas,"

    eu leio e custo a acreditar que alguém possa escrever isso...

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  8. Olha que eu não gosto de tudo, mas taí gostei mais desse que dos outros discos dela!

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  9. faço coro: discaço, o problema é do Mauro

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  10. E o show do VOLTA é dirigido pelo Ney Matogrosso.

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  11. 16 canções num só cd,eu acho exagero,ainda mais quando quase todas foram compostas por ela mesma.

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