Mauro Ferreira no G1

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domingo, 26 de agosto de 2012

Discípulo de Chico e Tom, Pessoa reitera força de sua obra em ''Habitat'

Resenha de CD
Título: Habitat
Artista: Mauricio Pessoa
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * * 1/2

Em 2007, o cantor, compositor e violonista carioca Mauricio Pessoa despontou no mercado fonográfico com álbum - Mauricio Pessoa (MP,B / Universal Music, 2007) - que revelou um autor inspirado, nitidamente influenciado por Chico Buarque em faixas como o samba Tereza e o tema de pegada nordestina Francisco. Naquele disco, já ficou claro que o compositor era bem maior do que o cantor e que merecia uma atenção que não obteve. Pessoa foi para Nova York (EUA) e lá gravou seu segundo álbum, Habitat, com dez músicas inéditas de sua autoria. Produzido por Zé Luis Oliveira (criador dos arranjos) com Béco Dranoff, Habitat ganha edição no Brasil neste mês de agosto de 2012, via Sony Music, na sequência de seu lançamento nos Estados Unidos. Embora duas das dez músicas do CD sejam cantadas em inglês, Linda (faixa de clima bossanovista) e Summer Rain (flerte com a canção norte-americana), Habitat reforça o elo de Pessoa com a música brasileira, em especial com o samba e com a MPB mais tradicional. Com safra de inéditas de alta qualidade, o álbum reitera a grande inspiração do cancioneiro autoral do artista. Tal como seu antecessor Mauricio Pessoa, Habitat mostra que o cantor - de voz opaca, mas afinada e bem colocada - novamente se apequena diante da expressividade da obra. Habitat também ecoa novamente a influência de Chico Buarque - perceptível especialmente em Prisma, tema que remete à atmosfera da canção As Vitrines (Chico Buarque, 1982) - mas vai além, explicitando a salutar influência de Tom Jobim (1927 - 1994) e de Paulinho da Viola. Pessoa somente conseguiu pavimentar a bonita Estrada da Terra porque ouviu o Maestro Soberano, cuja obra monumental também está refletida em Saudade, tema instrumental de tom camerístico que concilia lirismo e melancolia. Por sua vez, Paulinho da Viola é celebrado no samba Água da Fonte, que bebe das tradições dos mais nobres quintais cariocas - a faixa foi gravada no Rio de Janeiro (RJ) pelo produtor Rodrigo Campello - enquanto cita versos de Timoneiro (Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho, 1996). O samba, a propósito, é ritmo recorrente na obra de Pessoa. Destaque da safra autoral de Habitat, o samba Boca no Lodo vocifera contra a banda podre da política brasileira com a inspiração melódica que soa mais rarefeita em Tenho Guardado em Meu Peito. Já Tulipa Turca é samba que floresce em tom mais cool. Ecos da bossa sempre nova se fazem ouvir em Quando Falas Coração, tema que deixa a sensação - recorrente ao longo de Habitat - de que Maurício Pessoa é um compositor de algum lugar do passado, deslocado no tempo presente, o que talvez dificulte a absorção imediata de sua excelente obra autoral. Mas ela, a obra, está aí para se fazer ouvir e lembrar que a MPB jaz soterrada, inteira, pelo lixão musical de todo dia.

7 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Em 2007, o cantor, compositor e violonista carioca Mauricio Pessoa despontou no mercado fonográfico com álbum - Mauricio Pessoa (MP,B / Universal Music, 2007) - que revelou um autor inspirado, nitidamente influenciado por Chico Buarque em faixas como o samba Tereza e o tema de pegada nordestina Francisco. Naquele disco, já ficou claro que o compositor era bem maior do que o cantor e que merecia uma atenção que não obteve. Pessoa foi para Nova York (EUA) e lá gravou seu segundo álbum, Habitat, com dez músicas inéditas de sua autoria. Produzido por Zé Luis Oliveira (criador dos arranjos) com Béco Dranoff, Habitat ganha edição no Brasil neste mês de agosto de 2012, via Sony Music, na sequência de seu lançamento nos Estados Unidos. Embora duas das dez músicas do CD sejam cantadas em inglês, Linda (faixa de clima bossanovista) e Summer Rain (flerte com a canção norte-americana), Habitat reforça o elo de Pessoa com a música brasileira, em especial com o samba e com a MPB mais tradicional. Com safra de inéditas de alta qualidade, o álbum reitera a grande inspiração do cancioneiro autoral do artista. Tal como seu antecessor Mauricio Pessoa, Habitat mostra que o cantor - de voz opaca, mas afinada e bem colocada - novamente se apequena diante da expressividade da obra. Habitat também ecoa novamente a influência de Chico Buarque - perceptível especialmente em Prisma, tema que remete à atmosfera da canção As Vitrines (Chico Buarque, 1982) - mas vai além, explicitando a salutar influência de Tom Jobim (1927 - 1994) e de Paulinho da Viola. Pessoa somente conseguiu pavimentar a bonita Estrada da Terra porque ouviu o Maestro Soberano, cuja obra monumental também está refletida em Saudade, tema instrumental de tom camerístico que concilia lirismo e melancolia. Por sua vez, Paulinho da Viola é celebrado no samba Água da Fonte, que bebe das tradições dos mais nobres quintais cariocas - a faixa foi gravada no Rio de Janeiro (RJ) pelo produtor Rodrigo Campello - enquanto cita versos de Timoneiro (Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho, 1996). O samba, a propósito, é ritmo recorrente na obra de Pessoa. Destaque da safra autoral de Habitat, o samba Boca no Lodo vocifera contra a banda podre da política brasileira com a inspiração melódica que soa mais rarefeita em Tenho Guardado em Meu Peito. Já Tulipa Turca é samba que floresce em tom mais cool. Ecos da bossa sempre nova se fazem ouvir em Quando Falas Coração, tema que deixa a sensação - recorrente ao longo de Habitat - de que Maurício Pessoa é um compositor de algum lugar do passado, deslocado no tempo presente, o que talvez dificulte a absorção imediata de sua excelente obra autoral. Mas ela, a obra, está aí para se fazer ouvir e lembrar que a MPB jaz soterrada, inteira, pelo lixão musical de todo dia.

ADEMAR AMANCIO disse...

Não conheço tal artista,mas foi muito bem apresentado pela ótima resenha.

Luca disse...

vai continuar sem atenção se fez mesmo um disco de mpb, esse som já deu

Luca disse...

completando, a mpb é o que de melhor teve em música no Brasil só que já foi seu tempo, um artista novo que quiser atenção vai ter que fazer uma música de seu tempo de agora

mpbaddiction disse...

Maravilhoso esse disco!! Muito ousado e corajoso por não se influenciar por modismos e prezar a verdade pura da arte como compositor! "prisma" é pra ficar na história, tipo de musica que tem que ouvir diversas vezes pra entender todas as nuances da letra e melodia. lindo!! Sou muito fã!!

Denilson Santos disse...

"...lembrar que a MPB jaz soterrada, inteira, pelo lixão musical de todo dia"

Concordo plenamente.

Se esse negócio de fazer música do seu tempo de agora significa produzir o lixo musical que está sendo oferecido de montão por aí, melhor ficar na música do tempo passado.

abração,
Denilson

Rafael disse...

Não conhecia esse cantor. Procurarei saber mais a respeito dele.