domingo, 30 de setembro de 2012

Los Sebosos Postizos interpretam Jorge Ben Jor com suingue particular

Resenha de CD
Título: Los Sebosos Postizos Interpretam Jorge Ben Jor
Artista: Los Sebosos Postizos
Gravadora: Deck
Cotação: * * * 1/2

Em 1967, já sem o sucesso conquistado instantaneamente em 1963, Jorge Ben se viu deslocado. Não era da Bossa Nova e tampouco da MPB nascida na era dos festivais. Foi então que o cantor e compositor carioca arrombou como penetra a festa pop da Jovem Guarda, gravando com o acompanhamento do grupo The Fevers um álbum, O Bidú - Silêncio no Brooklyn (1967), que permanece com alien na discografia do Zé Pretinho. Ignorada pelo público, a incursão de Ben no universo da Jovem Guarda sempre ecoou forte entre os músicos pernambucanos que revolveram a lama que deu no Mangue Beat. Não é por acaso que quatro das 14 músicas selecionadas pelo grupo Los Sebosos Postizos para o CD em que interpretam a obra de Ben Jor - A Jovem Samba, Frases, Toda Colorida e Vou Andando (recriada em levada próxima do reggae) - são oriundas desse disco diferenciado de Ben Jor. Projeto paralelo de músicos da Nação Zumbi, surgido de forma embrionária em 1998 a partir do show A Noite do Ben, Los Sebosos Postizos - quarteto formado por Dengue (baixo), Jorge Du Peixe (voz), Lúcio Maia (guitarra) e Pupillo (bateria e percussão) - acertam ao interpretar as 14 músicas de Jorge Ben Jor com suingue próprio, evitando clonar o balanço pessoal e intransferível do compositor. Elemento adicional do grupo, o sonoro trompete de Guizado sobressai em faixas como Cinco Minutos (1974) e Quero Esquecer Você (1963), realçando a personalidade da pegada do grupo. Lançado pela gravadora Deck neste mês de setembro de 2012, nos formatos de CD e vinil, o disco Los Sebosos Postizos Interpretam Jorge Ben Jor prima por dar às músicas do compositor uma batida diferente da pegada da Nação Zumbi. A intenção de evitar os hits mais manjados do Zé Pretinho também se revela acertada, pois no único grande sucesso de Ben Jor incluído no álbum, Os Alquimistas Estão Chegando os Alquimistas (1974), Los Sebosos Postizos não conseguem se desviar do andamento clássico do tema - o que faz com que o grupo soe como mero clone de Ben nesta faixa do CD formatado por Mario Caldato. Em contrapartida, O Telefone Tocou Novamente (1970) caiu bem na cadência bonita do samba à moda do grupo e Descalço no Parque (1964) anda - verdade seja dita - em ritmo mais sedutor do que o da recente abordagem pop romântica da música em (boa) gravação feita por Marisa Monte para seu álbum O Que Você Quer Saber de Verdade (2011). Enfim, é difícil interpretar Jorge Ben Jor sem perda do suingue da obra do compositor, mas Los Sebosos Postizos saem vitoriosos da missão quase impossível de dar um toque particular ao emblemático cancioneiro do compositor.

De peito aberto, Nando Reis revolve memórias e declara amor no álbum 'Sei'

Resenha de CD
Título: Sei
Artista: Nando Reis
Gravadora: Relicário
Cotação: * * * 1/2

De peito e coração abertos, Nando Reis revolve memórias, esboça crônicas e faz declarações de amor em Sei, 10º título de  discografia solo iniciada em 1994, com Nando ainda no grupo Titãs. Sei é disco gravado com a banda Os Infernais em Seattle (EUA), berço do grunge, sob a batuta do produtor Jack Endino. Piloto do segundo disco individual do cantor e compositor paulista, Para quando o arco-íris encontrar o pote de ouro (Warner Music, 2000), Endino acertou ao dosar bem o peso grunge da mão calejada na formatação das 15 músicas inéditas de Sei, pois Reis concebeu em essência um disco de (canções de) amor, assunto de temas como Zero muito. De todo modo, coerente com o passado musical do ex-Titã, o repertório autoral de Sei - disco vendido somente através do site oficial do artista - apresenta alguns rocks turbinados com pegada e guitarras proeminentes. São os casos de Sem arrefecer, de Ternura & afeto, de Pré-sal - tema repleto de imagens míticas e referências medievais nos versos da letra caudalosa - e de Back in Vânia. Com alusões no título e na batida a Back in Bahia (1972), tema de Gilberto Gil, Back in Vânia é rock em que Reis faz balanço afetivo-existencial de vida movimentada em outra letra caudalosa que faz referência aos Titãs (no verso "Entrei para as paradas com meus oito amigos") e expõe a lembrança da musa amada Cássia Eller (1962 - 2001). As citações são muitas, mas Back in Vânia é - no fim das contas - declaração de amor a Vânia Passos, mulher de Reis (de quem o artista havia se separado, mas com quem se reconciliou em 2011), mãe de quatro dos cinco filhos de Nado e musa inspiradora de outra faixa, Praça da árvore, de menor peso no álbum. Sim, Nando Reis abre totalmente o coração em Sei e é sintomático que o CD contenha faixa intitulada Declaração de amor, power balada de peso e intensidade crescentes em que o compositor disserta sobre a natureza do amor. E como amor geralmente rima com dor, Pra quem não vem é linda balada doída de saudade, entoada por Nando em dueto com uma ex-namorada, uma tal de Marisa Monte. A cantora faz a segunda voz nessa canção que rivaliza em beleza com Coração vago, melodiosa balada incrementada com sopros que remetem à fase soul do cancioneiro romântico de Roberto Carlos - de quem Reis se revela súdito na faixa-título do disco, Sei, balada de nobre cepa popular que versa sobre o inebriante êxtase da paixão (o álbum Sim e não, de 2006, já explicitara devoção ao Rei). Entre a delicadeza da canção Luz antiga (incrementada ao fim com o mesmo toque soul de Coração vago) e o suingue corrosivo de Eu e a bispa, faixa que interrompe o rosário de pérolas amorosas do disco para questionar as instituições religiosas com versos como "Não há seita que não queira ser universal", Sei apresenta PersxPectativa, tema de toque gospel ao fim e de menor peso em disco que às vezes peca pelo excesso de alusões a obras alheias nas letras e títulos de suas 15 músicas. Se a já citada Eu e a bispa faz referência no título a Eu e a brisa (1969), um dos maiores sucessos do compositor carioca Johnny Alf (1929 - 2010), O que eu só vejo em você reproduz no refrão pop verso escrito por Lulu Santos - "Não há tempo que volte, amor" - na letra da canção Tempos Modernos (1982). Não, não há tempo que volte, como já sentenciou Lulu. Ao mesmo tempo, "A eternidade é madrugada ainda", como sentencia o ex-titã em um verso de Lamento Realengo, reggae que fecha o álbum Sei  com promessa de vida no coração aberto de Nando Reis.

Triunfante, Liza faz habitual jogo de cena em show curto como seu fôlego

Resenha de show
Título: Liza Minnelli
Artista: Liza Minnelli (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Citibank Hall (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 29 de setembro de 2012
Cotação: * * *

Aos 66 anos, Liza Minnelli sobrevive de seu passado de glória. Foi essa artista de aura já crepuscular que voltou ao Brasil neste mês de setembro de 2012 para apresentações no Rio de Janeiro (RJ) e em São Paulo (SP). Para o público carioca que se sentou nas cadeiras dispostas como se o Citibank Hall fosse um teatro, Liza ainda é a diva dos musicais, a atriz e cantora luminosa que encantou o mundo com sua performance como Sally Bowles em Cabaret, o filme de 1972 escrito com base no musical que debutou na Broadway em 1966. Ciente da força do mito, a teatral Liza refez para os súditos seu habitual jogo de cena em show curto como o fôlego da artista. A voz já soa sem a potência e o alcance de tempos idos - o que faz com que a cantora fique ofegante nas (muitas) falas dirigidas ao público entre um número e outro. Mas as limitações naturais impostas pelo tempo não impediram que Liza saísse triunfante de cena. "Estou feliz de estar no Rio, onde mora meu coração", gracejou a cantora, afagando o ego de seus fãs cariocas logo após a abertura do show, feita com Alexander's Ragtime Band (Irving Berlin, 1911). Ainda senhora da cena, Liza fez charme até ao tirar o cachecol após cantar Our Love Is Here To Stay (George Gershwin e Ira Gershwin, 1938), contou em inglês a gênese da música Say Liza (Liza With a Z) (John Kander e Fred Ebb, 1972) e elogiou o (de fato, excelente) septeto que a acompanha em cena nesta turnê. Interpretar My Own Best Friend (John Kander e Fred Ebb, 1975), tema do musical Chicago, serviu de pretexto para Liza rememorar para o público sua aventura para tentar fazer o papel de Roxie Hart no lugar de atriz que adoecera durante montagem do musical. Por sua simpatia e sobretudo por personificar um mito dos palcos norte-americanos, Liza ganhou a plateia carioca desde que entrou em cena ao som da overture que reproduz o prefixo de Theme From New York, New York (John Kander e Fred Ebb, 1977), o maior sucesso do repertório da artista, obviamente alocado no fim do roteiro. Mas tal alegria por estar em cena jamais atenuou a impressão de que o primeiro real grande número do show foi What Makes a Man a Man (Charles Aznavour, 1973). Versão em inglês de Comme Ils Disent, tema em que o cantor e compositor francês Charles Aznavour abordou a homossexualidade masculina , What Makes a Man a Man adquiriu significado e sentido especiais na voz de Liza, musa dos gays, presentes em grande número na plateia majoritariamente de meia-idade que se mobilizou para ver a apresentação carioca da diva. Sentada, Liza reviveu Maybe This Time (John Kander e Fred Ebb, 1966), música da trilha sonora de Cabaret emendada no roteiro com o tema que deu título ao musical de 1966 e ao filme de 1972 que rendeu a Liza um Oscar de Melhor Atriz. Cabaret (John Kander e Fred Ebb, 1966), a música, exigiu muito de Liza e, por isso, o solo vocal do pianista Johnny Rodgers - feito com You Can Keep Your Hat on (Randy Newman, 1972) - foi providencial para a cantora ter tempo de retomar o fôlego para apresentar, na sequência, quatro músicas de seu último álbum de estúdio, Confessions, lançado em 2010. Do naipe, You Fascinate me So (Cy Coleman e Carolyn Leigh, 1958) ostentou tom jazzy enquanto He's a Tramp (Johnny Burke e Peggy Lee, 1955) realçou o suingue do baixista do septeto já antes de Liza se engasgar e ter que interromper o número para tossir, espirrar e se recompor. Encerrado o bloco com músicas de seu primeiro álbum de estúdio em 15 anos, Liza arriscou um português carregado, mas eficiente, ao cantar Trevo de Quatro Folhas, versão em português de I'm Looking Over a Four-Leaf Clover (Mort Dixon e Harry Woods, 1927), escrita pelo cantor Nilo Sérgio em 1949 no rastro do sucesso da gravação do tema feita em 1948 pelo músico e bandleader norte-americano Art Mooney (1911 - 1993). A citação do afro-samba Canto de Ossanha (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1966) foi o detalhe curioso do arranjo que quase caiu no ridículo ao tentar reproduzir a batida do samba, denunciando a pouca intimidade dos músicos com a cadência bonita do gênero. No bis, Liza reiterou sua simpatia ensaiada e cantou a capella I'll Be Seeing You (Sammy Fain e Irving Kahal, 1938), número devidamente ensaiado, a despeito de parecer improvisado. Truques de uma lendária estrela que sabe fazer o seu teatro musical.

'Canto de Ossanha' ecoa no roteiro do show que traz Liza de volta ao Rio

Um dos títulos mais conhecidos da série de afro-sambas compostos por Baden Powell (1937 - 2000) com Vinicius de Moraes (1913 - 1980), Canto de Ossanha ecoou no roteiro do show que trouxe de Liza Minnelli de volta ao Rio de Janeiro (RJ), cidade onde "mora o coração" da cantora norte-americana, conforme a própria artista contou ao público que compareceu ao Citibank Hall carioca na noite de sábado, 29 de setembro de 2012. Canto de Ossanha foi citado pela banda de Liza - vista em foto de Rodrigo Amaral - na introdução e no meio do arranjo de Trevo de Quatro Folhas, número em que a atriz e cantora arrisca um português carregado, mas com certa fluência, para afagar o ego do público brasileiro. Gravada no Brasil por intérpretes como Nara Leão (1942 - 1989), Trevo de Quatro Folhas é a famosa versão em português de I'm Looking Over a Four-Leaf Clover (Mort Dixon e Harry Woods, 1927), escrita por Nilo Sérgio em 1949 no rastro do sucesso da gravação do tema feita em 1948 pelo músico e bandleader norte-americano Art Mooney (1911 - 1993). Dominado por músicas dos compositores norte-americanos John Kander e Fred Ebb (1928 - 2004), autores da trilha sonora do musical Cabaret (1966), o repertório do show da cantora inclui também músicas de seu último álbum de estúdio, Confessions (2010). Eis o roteiro seguido por Liza Minnelli no gracioso show apresentado no Citibank Hall do Rio de Janeiro (RJ) em 29 de setembro de 2012:

1. Alexander's Ragtime Band (Irving Berlin, 1911)
2. Our Love Is Here To Stay (George Gershwin e Ira Gershwin, 1938)
3. Say Liza (Liza With a Z) (John Kander e Fred Ebb, 1972)
4. My Own Best Friend (John Kander e Fred Ebb, 1975)
5. What Makes a Man a Man (Comme Ils Disent) (Charles Aznavour, 1973)
6. Maybe This Time (John Kander e Fred Ebb, 1966)
7. Cabaret (John Kander e Fred Ebb, 1966)
8. You Can Keep Your Hat on (Randy Newman, 1972) - solo vocal do pianista Johnny Rodgers 
9. Confession (Howard Dietz e Arthur Schwartz, 1931)
10. You Fascinate me So (Cy Coleman e Carolyn Leigh, 1958)
11. He's a Tramp (Johnny Burke e Peggy Lee, 1955)
12. On Such a Night As This (Marshall Barer e Hugh Martin, 1963)
13. Trevo de Quatro Folhas (I'm Looking Over a Four-Leaf Clover)
      (Morx Dixon e Harry Woods, 1927 - em versão em português de Nilo Sérgio, 1949)
      - com citação de Canto de Ossanha (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1966)
14. But The World Goes 'Round (John Kander e Fred Ebb, 1977)
15. Theme From New York, New York (John Kander e Fred Ebb, 1977)
Bis:
16. I'll Be Seeing You (Sammy Fain e Irving Kahal, 1938) - a capella

Reedições de álbuns feitos no Peru lembram 20 anos da morte de Murillo

Cantor carioca que ganhou projeção na pré-história do rock brasileiro, com sucessos como Marcianita e Broto Legal, Sergio Murilo (1941 - 1992) gravou discos em espanhol para o Peru quando sua carreira entrou em declínio no Brasil. Dois álbuns lançados por Murilo no mercado peruano - Sergio Murillo Canta en Español (1966) e Sergio Murillo en Castellano (1970), feitos quando o cantor já tinha acrescentando um 'l' ao nome Murilo - estão sendo reeditados pelo produtor e pesquisador musical Marcelo Fróes por seu selo Discobertas. Turbinadas com 20 faixas-bônus extraídas de compactos editados entre 1966 e 1973, em seleção que destaca a versão em espanhol da música Mosca na Sopa (Raul Seixas, 1973), as reedições dos dois álbuns lembram os 20 anos de morte do artista - completados em 19 de fevereiro deste ano de 2012.

sábado, 29 de setembro de 2012

Cantora logo ofuscada pela apresentadora, Hebe sai de cena aos 83 anos

A foto acima é a da capa de Sou Eu, LP lançado por Hebe Camargo em 1960 pela extinta gravadora Odeon. O álbum - o primeiro da cantora paulista - coroava uma carreira fonográfica que já completava uma década por ocasião do lançamento do LP. Ao sair de cena neste sábado, aos 83 anos, Hebe Maria Camargo (8 de março de 1929 - 29 de setembro de 2012) entra definitivamente para a História da televisão brasileira por sua pioneira, longeva e emblemática atividade como apresentadora de TV. E foi a apresentadora que ofuscou a cantora que nascera ainda na adolescência, quando Hebe formou com a irmã Stela e com duas primas o quarteto Dó-Ré-Mi-Fá, grupo de vida curta.  Na sequência, ainda com a irma Stela, Hebe formou a dupla sertaneja Rosalinda & Florisbela, também de duração efêmera. Foi então que Hebe partiu para a carreira solo, iniciando sua trajetória fonográfica na gravadora Odeon, por onde estreou em disco em 1950, lançando um 78 rotações que continha as músicas Oh, José (Ribeiro Filho e Esmeraldino Sales) e Quem Foi que Disse (Gabriel de Aguiar e Valladares do Lago). Ao longo dos anos 50, Hebe gravou uma série de discos de 78 rotações por minuto pela Odeon - até se transferir para a Polydor, gravadora pela qual lançou em 1963 Hebe e Vocês, álbum que expôs o upgrade do repertório da cantora, àquela altura já famosa em todo o Brasil como apresentadora. Seguiram-se outros álbuns pela Polydor - Hebe (1964), Hebe 65 (1965) e Hebe (1966) - até que Hebe decidiu sair de cena como cantora para se dedicar ao ofício de apresentadora de programas de TV. A retomada da carreira fonográfica aconteceu somente em 1998, ano em que lançou, pela PolyGram, o CD Pra Você, produzido por José Milton. Três anos depois, em 2001, o CD Como É Grande o Meu Amor por Vocês (Universal Music, 2001) testou a receita que seria seguida por Hebe dali em diante: duetos com grandes nomes da MPB em regravações de clássicos do cancioneiro nacional. Essa fórmula foi seguida no CD Hebe Mulher (2010, Sony Music) e no primeiro e único DVD da artista, Hebe Mulher e Amigos (2011), retrato de como a apresentadora ainda ofuscava a boa cantora Hebe Camargo.

Lee disseca faixas e clipes de Bad sem desembaçar espelho de Jackson

Resenha de documentário
Título: Michael Jackson - Bad 25
Direção: Spike Lee
Cotação: * * * *
Em exibição no Festival do Rio, no Rio de Janeiro (RJ), até 10 de outubro de 2012

"Ele modificava as moléculas", filosofa Sheryl Crow em depoimento sobre Michael Jackson (1958 - 2009) alocado quase ao fim de Bad 25, o alentado documentário produzido e dirigido pelo cineasta norte-americano Spike Lee para celebrar os 25 anos de lançamento de Bad (1987), terceiro álbum solo da fase adulta da carreira fonográfica do autoproclamado Rei do Pop  e sucessor do recordista Thriller (1982). Ao falar em modificação de moléculas, Crow - cantora norte-americana que dividiu com Jackson os vocais da balada I Just Can't Stop Loving You (Michael Jackon) ao longo da turnê de Bad - se refere ao impacto que o cantor, compositor e produtor norte-americano provocava nas pessoas ao adentrar um ambiente e, sobretudo, ao subir num palco. Quando Spike Lee encerra Bad 25 com as imagens de Jackson cantando Man in the Mirror (Glen Ballard e Siedah Garrett) em show da milionária turnê inspirada no álbum de 1987, a frase de Crow  parece fazer sentido. Assim como faz sentido (quase) tudo que foi dito ao longo dos 131 minutos do filme feito por  Lee a pedido da Sony Music, gravadora que vem criando eventos e produtos em torno dos 25 anos de Bad. Ao dissecar todas as músicas e clipes do álbum, a partir de fartos depoimentos de músicos e técnicos de gravação e também de raras cenas de bastidores, Lee jamais desembaça o espelho de Jackson. Por ser em essência versão estendida e mais robusta de um episódio da série de programas de TV Classic AlbumsBad 25 somente reforça a aura do mito, mas cumpre brilhantemente seu papel de esmiuçar o processo criativo que antecedeu a gravação das faixas e dos vídeos do álbum que veio ao mundo há 25 anos com a missão impossível de bisar os números fenomenais de Thriller. O filme começa justamente dimensionando o impacto de Thriller no universo pop. Havia toda uma pressão para que Jackson igualasse com Bad os recordes do álbum de 1982. E tal pressão - documenta o filme de Lee com clareza - alimentava o cantor, a ponto de o artista ter escrito no seu espelho o número de 100 milhões de discos para se lembrar diariamente da meta sonhada e inalcançada (estima-se que Bad tenha vendido algo em torno de 30 milhões de cópias no mundo, mas há fontes que elevam este número para 45 milhões). Com base nos depoimentos geralmente superlativos e elogiosos (de admiradores como Kanye West e Cee-Lo Green) e nos fatos que expõe em edição ágil, o documentário Bad 25 insinua que a vaidade de Jackson era proporcional ao seu talento e à influência de sua obra no universo pop - traço também ressaltado pelo filme. Ídolo teen da atualidade, Justin Bieber declara para as câmeras de Lee - para citar somente um exemplo - de que seu clipe de Baby foi inspirado no vídeo da música The Way We Make me Feel (Michael Jackson), uma das faixas de Bad. Em contrapartida, o filme lembra que a coreografia do clipe de Smooth Criminal (Michael Jackson) era homenagem de Jackson ao dançarino Fred Astaire (1899 - 1987), falecido no ano em que Bad veio ao mundo. Verdade seja dita: as minuciosas informações do roteiro  ajudam a desmontar o circo armado em torno do Rei do Pop. Ao dissecar a gênese do já citado clipe de The Way We Make me Feel, o filme traz à tona a lembrança de que a modelo e dançarina que contracenava com o cantor no vídeo, Tatiana Thumbtzen, foi instruída no set de filmagem ao não beijar o artista ao fim do clipe. Tais fatos deixam entrever as regras e códigos vigentes no reino encantado de Jackson, cujo caráter centralizador e a obsessão pela perfeição são deixados à mostra no filme quando Bad 25 rebobina o recado deixado por Jackson na secretária eletrônica do diretor do clipe animado de Speed Demon (Michael Jackson). As falas sinceras de Quincy Jones - ouvidas em off, sem a imagem atual do produtor de Bad - amenizam o tom oficial do documentário. Jones é enfático ao questionar a qualidade da música - Just Good Friends (Terry Britten e Graham Lyle) - que uniu as vozes Jackson a Stevie Wonder em Bad. "Não conseguimos a música certa", lamenta Jones. Já no fim da narrativa  a lembrança da música Leave me  Alone (Michael Jackson) é pretexto para o documentário ressaltar que, às vezes, o Rei do Pop ansiava ser simples plebeu para circular livremente pela vida - situação somente possível com o uso de disfarces. E Bad 25 faz rir ao expor na tela fotos de alguns hilários (e convicentes) disfarces adotados por Jackson. O riso vem momentos antes de o filme partir para uma sequência de olhos marejados e mentes ainda inconformadas com a partida precoce de um artista genial que - sim - modificava moléculas.

Banda do ator James Franco, Daddy recebe Smokey no EP 'MotorCity'

Projeto musical do ator norte-americano James Franco, desenvolvido em parceria com o músico Tim O’Keefe, a banda Daddy debuta no mercado fonográfico com o EP MotorCity. Com som influenciado pela batida da gravadora Motown, o primeiro disco do Daddy conta com a adesão do cantor e compositor norte-americano Smokey Robinson (intérprete do sucesso Cruisin') na música Crime. Com quatro faixas, o EP traz  também as músicas Love in The Old Days - cujo clipe já está em rotação na internet - e Can't Say Goodbye. Já à venda no iTunes!!

Tony Bennett revela projeto de gravar um álbum de jazz com Lady Gaga

Enquanto Lady Gaga arquiteta o lançamento de seu álbum ARTPOP, previsto para 2013, Tony Bennett revela o plano de gravar um álbum de jazz com a cantora e compositora norte-americana. O disco teria sido ideia de Gaga - de acordo com declarações de Bennett à revista Rolling Stone. Se o projeto se concretizar, o CD vai ser gravado com big-band comandada e arranjada por Marion Evans. Bennett e Gaga - que  entraram em estúdio em 2011 para regravar The Lady Is a Tramp (Lorenz Hart e Richard Rodgers, 1937) para Duets II, álbum do cantor norte-americano - querem que CD seja songbook de compositor de nome não revelado.

Trio Triz junta André Mehmari, Chico Pinheiro e Sérgio Santos em disco

Lançado pela Buriti neste mês de setembro de 2012, o primeiro disco do trio Triz une três expressivos instrumentistas brasileiros - o pianista André Mehmari e os violonistas Chico Pinheiro e Sérgio Santos - em torno de repertório inédito e autoral. Mehmari transita com desenvoltura pela tênue fronteira que tenta separar as músicas popular e erudita. Pinheiro experimenta fusões da música brasileira com jazz. Já o mineiro Santos faz habituais conexões com o universo afro-brasileiro. Dessa união heterodoxa de estilos resultou Triz,  CD gravado em São Paulo, entre dezembro de 2011 e março de 2012, em produção capitaneada pelo próprio trio. O disco  reúne 13 temas assinado pelos músicos sozinhos, em dupla ou em trio, caso de Sim, música apresentada em versão cantada (na voz de Santos) e em registro instrumental como a maioria das faixas do álbum. A música que dá nome ao trio e ao disco, Triz, é da lavra de Santos com Pinheiro. O repertório do Triz passa ritmos como samba (Cesta de 3, música da lavra solitária de Santos) e valsa (Enluavalsa, de Mehmari) pelo filtro do jazz.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Eis as 14 músicas de 'Real Fantasia', o 10º título da carreira solo de Ivete

Nas lojas a partir de 9 de outubro de 2012, em edição da gravadora Universal Music, o 10º disco da carreira solo de Ivete Sangalo, Real Fantasia, apresenta 14 músicas, sendo 12 inéditas. Na tiragem inicial do CD, que totaliza 50 mil cópias, a música Dançando aparece sem a voz de Shakira, já que a demora no processo de autorização da gravação da cantora colombiana impediu o dueto de figurar no disco. Eis, na ordem, as 14 faixas de Real Fantasia:

1. Veja o Sol e a Lua (Ramón Cruz)
2. No Brilho Desse Olhar (Dan Kambaiah e Davi Salles)
3. Balançando Diferente (Gigi, Fabinho O'Brian, Ivan Brasil e Magno Sant'Anna)
4. Dançando (Filipe Escandurras, Márcio Victor e Tierry Coringa)
5. Só Nós Dois (Ramón Cruz e Ivete Sangalo)
6. Só Num Sonho (Ivete Sangalo, Radamés Venâncio e Gigi)
7. Delira Na Guajira (Samir e Fábio Alcântara)
8. Real Fantasia (Magary Lord, Jorginho, Codó Lima e Fábio Alcântara) 
9. Puxa Puxa (Fabinho O' Brian, Rubem Tavares e Duller)
10. No Meio do Povão (Rubem Tavares e Jorginho) - com citação de Depois Que o IIê Passar
11. Essa Distância (Gigi)
12. Isso Não Se Faz (Tony Carqueija, Rafael Cavalo e Ramón Cruz)
13. Me Leve Embora (Dori Caymmi e Jorge Amado) - faixa-bônus
14. Eu Nunca Amei Alguém Como Te Amei (Eduardo Lages e Paulo Sérgio Valle) - faixa-bônus

Capital alude a álbum do Pink Floyd em faixa de 'nervoso' CD de inéditas

Aos 30 anos de carreira, o Capital Inicial está gravando seu 13º álbum de estúdio. O grupo bisa a parceria com o produtor David Corcos, piloto do álbum anterior da banda de Brasília (DF), Das Kapital (2010). A intenção é aprontar um disco pesado, "nervoso", na definição de Dinho Ouro Preto, vocalista do quarteto. Previsto para ser lançado ainda neste segundo semestre de 2012, em edição da gravadora Sony Music, o CD traz músicas como O Lado Escuro da Lua - parceria de Dinho com Alvin L. que alude no título ao álbum Dark Side of Moon (1973), obra-prima da discografia do grupo inglês Pink Floyd - e Sol Entre Nuvens, parceria de Dinho com o baixista Pit Passarell, irmão de Yves Passarell, guitarrista da atual formação do Capital Inicial. 

Voz maior do soul brasileiro, Tim chega aos 70 vivo na memória nacional

Sebastião Rodrigues Maia (1942 - 1998) faz parte do seleto clube dos grandes ícones da música brasileira nascidos em 1942. Só que - ao contrário de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jorge Ben Jor, Milton Nascimento e Paulinho da Viola - Tim Maia não viveu para festejar os 70 anos que completaria nesta sexta-feira, 28 de setembro de 2012. Em 15 de março de 1998, aos 55 anos, o Síndico saiu de cena, pagando a conta dos excessos cometidos ao longo de vida turbulenta e controvertida. Mas nunca houve controvérsias sobre o talento do cantor e compositor carioca - talento imenso como seu corpo maltratado pela adesão sem limites aos prazeres do álcool e das drogas. Grave e volumosa, a voz de baixo-barítono ainda ecoa em 2012 como a maior do universo do funk / soul nacional. Voz tão forte e singular que sustentou a fama do cantor quando ele passou a gravar discos aquém de seu talento. Sim, a bem da verdade, Tim Maia - revelado a partir de dueto gravado em 1969 com Elis Regina (1945 - 1982) na música These Are The Songs - atravessou os anos 80, e sobretudo os 90, vivendo do prestígio e do legado dos antológicos álbuns que gravou ao longo da década de 70. Os quatro primeiros - todos intitulados Tim Maia e lançados entre 1970 e 1973 - continuam imbatíveis e são a mais perfeita tradução da soul music norte-americana para o idioma da música brasileira. Ao dar voz a músicas que misturaram funk e soul com ritmos nordestinos (Coroné Antonio Bento, Festa de Santo Reis) e com samba (Réu Confesso, Gostava Tanto de Você), Tim deu identidade nacional a dois gêneros que até então gravitavam em torno do universo da música norte-americana. De todo modo, as baladas apaixonadas gravadas por Tim - Primavera, Azul da Cor do Mar, Eu Amo Você, Você - extrapolaram fronteiras ao versar sobre a língua universal do amor. Baladas que ganhariam doses maciças de açúcar a partir dos anos 80, década em que Tim aderiu ao cancioneiro mais sentimental, dialogando de forma mais rala com a natureza soul de sua obra. A discografia do cantor se tornou irregular a partir da segunda metade da década de 70. Ao se libertar dos dogmas da seita Universo em Desencanto, geradora dos cultuados discos da fase Racional, Tim Maia nunca mais foi o mesmo. Mas acertou eventualmente e, quando acertou, lançou clássicos como Tim Maia Disco Club, álbum de 1978 que o inseriu no universo da disco music a reboque dos hits Sossego (número obrigatório desde então nos shows do artista) e Acenda o Farol. Lançada no mercado independente em 1981, Do Leme ao Pontal também veio se juntar aos clássicos imortais desde cantor singular que não teve censura nem limites. Um ser essencialmente triste e solitário - traços de sua personalidade evidenciados mais pelas baladas de seu cancioneiro do que pelas declarações geralmente desbocadas e bem-humoradas. Único produto fonográfico gerado pelos 70 anos de Tim Maia, a coletânea The Existencial Soul of Tim Maia - Nobody Can Live Forever - ora lançada nos Estados Unidos pelo selo Luaka Bop, do cantor e compositor norte-americano David Byrne - pesca 15 pérolas do baú do Síndico, a maioria em inglês e pouco ouvida pelo público brasileiro. Mas a obra de Tim Maia não precisa de honras fonográficas para continuar viva na memória nacional. São tantos os sucessos imortalizados por sua voz única que qualquer honraria fica pequena diante da grandeza da obra e da voz do artista. Tim Maia vive!

Alvinho Lancellotti lança 'Sexta-feira', primeiro single do segundo álbum solo

 Com capa criada com foto de Rafaela AmoDeo e arte de Philippe Leon, o segundo álbum solo de Alvinho Lancellotti, O tempo faz a gente ter esses encantos, vai ser lançado em outubro de 2012 e já está sendo promovido na internet com o single intitulado Sexta-feira (clique aqui para ouvir a música). O tema já foi veiculado na trilha sonora da série Preamar, exibida pelo canal HBO. O tempo faz a gente ter esses encantos é o sucessor de Mar aberto (Abacateiro, 2008), título inaugural do selo carioca Abacateiro. Vocalista do grupo carioca Fino Coletivo, Alvinho é filho do veterano compositor Ivor Lancellotti e irmão do (cult) baterista e compositor Domenico Lancellotti.

'Locked Out of Heaven' puxa 'Unorthodox Jukebox', novo álbum de Mars

O lançamento do single Locked Out of Heaven - agendado para a próxima segunda-feira, 1º de outubro de 2012 - abre os trabalhos promocionais do segundo álbum do cantor, compositor e produtor norte-americano Bruno Mars, Unorthodox Jukebox. A ser editado via Atlantic Records, com distribuição em escala mundial da Warner Music, o álbum que sucede Doo-Wops & Hooligans (2010) tem lançamento agendado para 11 de dezembro. Produtores como Diplo, Jeff  Bhasker e Mark Ronson formataram músicas inéditas como Young Girls, Treasure, Show Me, Money Makes Her Smile, Natalie, If I Knew e When I Was Your Man, entre outras.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Green Day volta ao pop punk básico em ¡Uno!, álbum de tom adolescente

Resenha de CD
Título: ¡Uno!
Artista: Green Day

Gravadora: Warner Music
Cotação: * * * 

Esqueça a virulenta politização do álbum American Idiot (2004) ou a ambição da ópera-rock esboçada pelo Green Day no conceitual 21st Century Breakdown (2009). Em ¡Uno!, primeiro título da trilogia que vai ser completada por ¡Dos! (nas lojas em 12 de novembro de 2012) e ¡Tré! (com lançamento agendado para 14 de janeiro de 2013), o trio norte-americano volta ao pop punk mais básico. Com influências do som do grupo inglês The Clash em músicas como Troublemaker e Carpe Diem¡Uno! parece oferecer tão somente diversão adolescente ao longo de suas 12 faixas. Carpe DiemStay the Night e, sobretudo, Let Yourself Go e Loss of Control são faixas de maior ou menor peso que se destacam justamente por terem esse urgente espírito teen que move o disco. Tais temas mostram que música não necessariamente precisa de conceito para cativar. Mas o fato é o que ¡Uno! decepciona e acaba soando bem repetitivo à medida que avança no cd-player. O romantismo de Fell For You e a batida dançante de Kill the DJ são ingredientes menos usados, mas que se revelam insuficientes para manter o interesse por álbum tão pouco ambicioso. Até porque, no todo, o discurso e a pegada das músicas são similares e acabam ficando desgastados pelo uso abusivo da receita punk pop do trio. Não, ¡Uno! não chega a ser um álbum ruim, mas sinaliza que o Green Day pode chegar sem fôlego e sem repertório à altura do trio ao fim dessa sua anunciada trilogia.

Com apelo e apuro, Gonzaga - De Pai pra Filho segue roteiro folhetinesco

Resenha de filme
Título: Gonzaga - De Pai pra Filho
Direção: Breno Silveira
Roteiro: Patrícia Andrade
Cotação: * * * * 1/2
Filme em exibição no Festival do Rio a partir de 27 de setembro de 2012
Estreia em circuito nacional prevista para 26 de outubro de 2012

"É muita história...", diz  Luiz Gonzaga do Nascimento Jr. (1945 - 1991), o Gonzaguinha, a Luiz Gonzaga do Nascimento (1912 - 1989), o Gonzagão, à certa altura do papo-entrevista que levou o filho a acertar as contas emocionais com seu pai em 1981, ano em que o Rei do Baião já parecia destronado de seu poder popular, vivendo melancólico em sua terra natal, Exu, cidade do interior de Pernambuco. Sim, tem muita história envolvendo Gonzagão e Gonzaguinha, pai e filho separados por divergências nas esferas pública e privada, mas o filme Gonzaga - De Pai pra Filho acerta ao seguir basicamente o roteiro das terras onde passou o velho Lua. As tensões entre pai e filho pontuam e costuram a narrativa - estruturada em flashback a partir do reencontro retrospectivo de Gonzagão e Gonzaguinha naquele ano de 1981 que culminaria com a primeira turnê dos artistas - mas o roteiro preciso de Patrícia Andrade percorre basicamente os sertões e as recordações deixadas por Luiz Gonzaga em sua folhetinesca vida de viajante. A direção de Breno Silveira caminha segura por essas trilhas sertanejas, já pisadas quando o cineasta contou a história dos 2 Filhos de Francisco (2005), cinebiografia de Zezé Di Camargo & Luciano que ultrapassou os cinco milhões de espectadores por conta do mesmo apelo emocional que ronda a história humana de Gonzaga e Gonzaguinha, cantores-ícones vividos no filme por três atores distintos nas diferentes fases da vida. Gonzagão é encarnado de forma convincente pelos atores Land Vieira (dos 17 aos 23 anos),  Nivaldo Expedito de Carvalho (dos 27 aos 50 anos) - sanfoneiro conhecido pelo nome artístico de Chambinho do Acordeom - e Adélio Lima (aos 69 anos). O segundo se destaca pela habilidade com a sanfona e por refletir no sorriso largo a alegria no coração que o Rei do Baião carregou pelos sertões onde passou. O terceiro já traz no rosto as marcas físicas e emocionais do sofrimento imposto pela vida. Gonzaguinha é interpretado pelos atores Alison Santos (dos 10 aos 12 anos), Giancarlo Di Tommaso (dos 17 aos 22 anos) e Julio Andrade (aos 36 anos), sendo que o terceiro impressiona pela caracterização perfeita. Os trejeitos e a maneira de falar dão a sensação de que Gonzaguinha está na tela - impressão reforçada pelas imagens reais do cantor expostas ao longo do filme. No confronto entre pai e filho que costura o roteiro, os diálogos adquirem em certos momentos tom novelesco condizente com o caráter folhetinesco dos fatos que envolvem as vidas de ambos. "Nunca te deixei faltar nada", alega Gonzagão num dos momentos culminantes da discussão. "Faltou você", retruca Gonzaguinha. A dúvida sobre a natureza biológica do laço entre Gonzagão e Gonzaguinha - questão levantada, mas não desenvolvida, pelo filme - reforça esse clima de folhetim. Mas Gonzaga - De Pai pra Filho jamais apela para as emoções baratas. Tal como fez em 2 Filhos de Francisco, Breno Silveira apenas se deixa levar por uma grande história, filmada com apuro, sem recursos estilísticos que poderiam empanar o brilho dessa história. Mesmo sem caráter didático, o filme mostra como Gonzaga partiu de Exu (PE) para Fortaleza (CE) e, depois, para o Rio de Janeiro (RJ) em rota que o levaria ao sucesso nacional tão logo sintetizasse a batida do baião. Os passos fundamentais da trajetória artística de Gonzagão estão reconstituídos no filme. Já a caminhada de Gonzaguinha para o estrelato jamais vira o foco principal da narrativa. O espectador de Gonzaga - De Pai pra Filho sai do cinema sem saber que o filho - projetado na era dos festivais da canção com músicas engajadas e raivosas que lhe valeram o epíteto desagradável de cantor-rancor - somente obteve fama e popularidade similares ao do pai quando cantoras como Maria Bethânia e Simone revelaram a face mais romântica de seu repertório na segunda metade dos anos 70. Nada que deponha contra o filme. Havia muita história para contar e o roteiro de Patrícia Andrade, vale repetir, acerta ao priorizar a saga de Gonzagão em filme que estreia a tempo de festejar o centenário de nascimento do Rei do Baião. Gonzaguinha entra em cena somente quando seus caminhos se cruzam com os de seu pai, com quem se reconciliou definitivamente a partir do lendário papo-entrevista de 1981, ponto de partida deste grande filme sobre os (des)encontros de pai e filho, 2 filhos deste Brasil.

Tema gravado por Adele para 'Skyfall', filme de Bond, vai sair em outubro

A música gravada por Adele para a trilha sonora de Skyfall - o 23º filme da série de James Bond - vai ser lançada em outubro de 2012 pela gravadora Sony Music, dias antes das primeiras exibições do longa-metragem em pré-estreias. De acordo com informações extra-oficiais que circulam na internet, a música - uma balada dramática na linha de Live and Let Die, composta e gravada por Paul McCartney para o filme de 1973 da série de 007 - se chamaria Let The Sky Fall (ou The Sky Is Falling, de acordo com posts de Twitter) e seria parceria de Adele com o produtor Paul Epworth. Seja qual for o título, a música existe, já está pronta para ser lançada e é a primeira gravação oficial da cantora e compositora britânica desde o lançamento  de seu aclamado segundo álbum, 21,  de 2011. O tema deverá ser lançado em single físico e digital.

Dayse do Banjo põe seu primeiro CD na rua com conexão com Guineto

Em 2011, a inclusão de Arrasta a Sandália no repertório de Nosso Samba Tá na Rua - primeiro álbum de inéditas de Beth Carvalho desde 1996 -  chamou atenção para o nome de Dayse do Banjo, parceira de Luana Carvalho no partido alto lançado por Beth em gravação feita com Zeca Pagodinho. A repercussão do samba impulsionou essa cantora, compositora e instrumentista carioca a lançar seu primeiro CD, Dayse do Banjo. Aberto com Arrasta a Sandália, o disco produzido por Paulão Sete Cordas - com arranjos de Ivan Paulo e do próprio Paulão - expõe no repertório a forte conexão da artista com Almir Guineto, coautor (com Dayse do Banjo e Newton Motta) e convidado de Explosão da Galera. Em sua parcela autoral, o repertório apresenta parcerias da compositora com Robson Sant'anna (Saudades de Padre Miguel), Nilton Motta (Mulher Mãe África), Cidinha Zanon (Força do Querer) e Esmeraldo Davi do Pandeiro (Lamento de Um Cavaquinho). Apesar de trazer no sobrenome artístico o instrumento que passou a tocar por admirar Almir Guineto, como conta Beth Carvalho em texto escrito para o encarte do CD, Dayse do Banjo também é cavaquinista, conhecida nos redutos do samba do Rio de Janeiro (RJ) e de São Paulo (SP). O CD sai de forma independente.

Sem clonar som do Maiden, Harris dá peso próprio ao rock de British Lion

Resenha de CD
Título: British Lion
Artista: Steve Harris
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * *

Primeiro álbum solo de Steve Harris, British Lion apresenta um rock tocado com o peso próprio do baixista do Iron Maiden. Sem jamais tentar clonar o som do grupo britânico, um dos ícones mundiais do heavy metal, o disco esboça um mundo e um som particular para Harris sem reinventar a roda do rock pesado. Em essência, o que se ouve em British Lion é hard rock com maior ou menor peso. Os rocks mais pesados, como This Is My God e Karma Killer, evidenciam de cara que o maior problema do CD solo de Harris reside na escolha de Richard Taylor para cantar as dez músicas inéditas da lavra de Harris. Um vocalista de maior peso - como Bruce Dickinson, por exemplo - abrilhantaria temas como The Chosen Ones e A World Without Heaven, realçando a melancolia que há, por exemplo, em Lost Worlds. Mas British Lion é - cabe lembrar - o disco solo de um baixista. É o baixo de Harris que por vezes salta aos ouvidos com mais força do que a voz de Taylor ao longo deste álbum em que o artista expõe seu orgulho britânico entre rocks e baladas como One Lesson, Eyes of the Young e Us Against the World (esta no limite entre o rock e balada - fronteira tênue em British Lion). O leão britânico ruge com personalidade própria, sem querer se impor como o rei da selva metaleira.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Em afinado solo, Claudia Netto reitera que é talentosa mulher de musical

Resenha de show
Título: Mulheres de Musical
Artista: Claudia Netto (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Theatro Net Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 19 de setembro de 2012
Cotação: * * * 1/2
Em cartaz às quartas e quintas-feiras, no Rio de Janeiro (RJ), até 11 de outubro de 2012

Mulheres de Musical é o primeiro espetáculo solo de Claudia Netto, atriz e cantora conhecida no meio teatral do eixo Rio-São Paulo por conta de suas atuações em encenações brasileiras de musicais como Avenida Q e O Rei e Eu. Não é um show propriamente dito e tampouco é um musical com trama original. Mulheres de Musical é, em essência, um espetáculo teatralizado em que - sob a direção de Paulo Afonso de Lima - a artista fluminense revisita músicas e momentos importantes de sua trajetória nos palcos nacionais, recorrendo a textos (pincelados com humor nem sempre eficaz) e a caracterizações de algumas personagens já encarnadas por Netto nessas montagens brasileiras. A Japaneusa de Avenida Q, por exemplo, entra em cena quando a atriz  interpreta The More You Ruv Someone (Robert Lopez e Jeff Marx, 2003), um dos temas mais conhecidos desse musical politicamente incorreto. Jogos de cena à parte, o que fica explícito ao longo dos 19 números desse bem-vindo solo de Netto é o amor da artista pelo teatro musical e pela música composta para o gênero. Terreno difícil em que a atriz-cantora pisa com firmeza e intimidade pelo natural talento vocal. A voz potente, afinada, de emissão clara e precisão rítmica, credencia Netto para a interpretação de temas de musicais como Homework (Irving Berlin), pérola do libreto de Miss Liberty (1949), pescada pela cantora para seu solo na versão em português de Claudio Botelho. Cabe lembrar que, na montagem brasileira do musical Company, a abordagem de Netto para Getting Married Today - difícil tema do espetáculo que exige técnica e senso rítmico extraordinário de suas intérpretes pela alta velocidade com que os versos precisam ser cantados em cena - foi aclamada pelo autor do tema, o compositor norte-americano Stephen Sondheim,  um dos papas do teatro musical (ainda em atividade, aos 82 anos). Claro que Getting Married Today figura no roteiro de Mulheres de Musical em número que requisita os dotes vocais do tecladista Marcelo Farias. O músico integra o afinado quarteto que divide com Netto o palco do Theatro Net Rio. Aliado ao baixo de Omar Cavalheiro e ao toque preciso da bateria de Marcio Romano, o canto da atriz expõe o suingue de I Got Rhythm (George Gershwin e Ira Gershwin, 1930) com a naturalidade com que, dois números antes, a artista esboça clima mais íntimo quando, sentada, entoa Someone To Watch Over me (George Gershwin e Ira Gerswhin, 1926), tema do musical Oh, Kay!, encenado na Broadway em 1926. Dominado por canções projetadas em musicais e / ou filmes produzidos nos Estados Unidos dos anos 20 aos 70, o roteiro de Mulheres de Musical abre espaço para algumas músicas de lavra nacional. No bloco inicial em que se caracteriza com algumas das personagens que já viveu em cena, a atriz lança mão de sotaque nordestino para cantar Não Sonho Mais (1979), música do mesmo Chico Buarque de Olhos nos Olhos (1976), lembrança da atuação da artista no gracioso espetáculo Na Bagunça do Teu Coração. Já o fato de Netto ter interpretado a cantora paulista Dircinha Batista (1922 - 1999) no dramático musical Somos Irmãs é pretexto para que a artista cante os sambas-canção Nunca (Lupicínio Rodrigues, 1952) - em número de voz e baixo (o de Omar Cavalheiro) - e Bom Dia (Herivelto Martins e Aldo Cabral, 1942). Mas Claudia Netto é, sobretudo, uma cantora destinada a expor o brilho de  joias da canção norte-americana. Dedicada ao repertório de Judy Garland (1922 - 1969), atriz e cantora norte-americana encarnada pela artista brasileira no musical Judy - O Fim do Arco-Íris, a parte final do espetáculo reitera que Claudia Netto domina a linguagem teatral de standards como Just in Time (Jule Styne, Betty Comden e Adolph Green, 1956) e Get Happy (Harold Arlen e Ted Koheler, 1930). É uma mulher - e ótima cantora - de musical! E não há demérito na sentença.

Claudia Netto vai de Porter a Chico no roteiro de 'Mulheres de Musical'

Cantora de voz potente que ganhou projeção no meio teatral carioca e paulista como atriz de musicais, Claudia Netto resume sua trajetória nos palcos em seu primeiro espetáculo solo, Mulheres de Musical. Em cartaz até 11 de outubro de 2012 no Theatro Net Rio, no Rio de Janeiro (RJ), o teatralizado show dirigido por Paulo Afonso de Lima celebra os 50 anos de vida da artista de Niterói (RJ), completados em 19 de setembro, data em que o espetáculo estreou em apresentação para convidados. Com exceção de uma ou outra canção, caso de Olhos nos Olhos (Chico Buarque, 1976), o roteiro enfileira temas propagados em musicais e/ou filmes produzidos nos Estados Unidos entre os anos 20 e 70. Eis o roteiro seguido por Claudia Netto - em foto de Rodrigo Amaral - em Mulheres de Musical, em cena às quartas e quintas-feiras:

1. Broadway Baby (Stephen Sondheim, 1971)
2. The More You Ruv Someone (Robert Lopez e Jeff Marx, 2003)
3. Homework (Irving Berlin, 1949)
4. Não Sonho Mais (Chico Buarque, 1979)
5. There's No Business Like Show Business (Irving Berlin, 1946)

6. Someone to Watch Over Me (George Gershwin e Ira Gershwin, 1926)
7. Can't Help Lovin' Dat Man (Jerome Kern e Oscar Hammerstein II, 1927)
8. I Got Rhythm (George Gershwin e Ira Gershwin, 1930)
9. Getting To Know You (Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II, 1951) /

    Hello, Young Lovers (Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II, 1951) /
    Shall We Dance? (Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II, 1951)
10. Getting Married Today (Stephen Sondheim, 1970) 
11. By Strauss (George Gershwin e Ira Gershwin, 1936) 

12. Olhos nos Olhos (Chico Buarque, 1976)
13. Nunca (Lupicínio Rodrigues, 1952)
14. Bom Dia (Herivelto Martins e Aldo Cabral, 1942)
15. The Man That Got Away (Harold Arlen e Ira Gerswhin, 1953)
16. From This Moment On (Cole Porter, 1951) 
17. Just in Time (Jule Styne, Betty Comden e Adolph Green, 1956)
18. Over the Rainbow (Harold Arlen e E. Y. Harburg, 1939) 
19. Get Happy (Harold Arlen e Ted Koheler, 1930)

Voz original de 'Moon River', Andy Williams sai de cena nos EUA aos 84

Howard Andrew Williams (3 de dezembro de 1927 - 25 de setembro de 2012) - o cantor norte-americano conhecido pelo nome artístico de Andy Williams - nunca foi nome muito conhecido e popular no Brasil. Contudo, a voz de Andy foi muito ouvida na Inglatera e nos Estados Unidos, país onde o artista saiu de cena aos 84 anos, permanecendo na história do universo pop como o cantor original de Moon River, o tema de Johnny Mercer (1909 - 1976) e Henry Mancini (1924 - 1994) lançado na voz de Andy em 1961.  A atuação do cantor no comando de um programa da TV britânica amplificou sua popularidade. Iniciada em 1953, a carreira solo de Andy decolou nos anos 60, quando ele emplacou sucessos como Can't Get Used To Losing You (Jerome Poms e Mort Shuman, 1963), Happy Heart (Hans Last e Jackie Rae, 1970) e, em especial, Where Do I Begin (Francis Lai e Carl Sigman, 1970), música-hit do filme Love Story

Zeppelin voa pelo universo do folk/country em registro de show de Plant

Em 2011, Robert Plant & The Band of Joy se apresentaram em programa de televisão de Nashville (EUA), terra da música country. O registro dessa apresentação foi lançado em CD, DVD e blu-ray que estão sendo editados no Brasil pela ST2. Em Live From The Artists Den, Plant e sua Band of Joy revisitam em tom folk / country algumas músicas que fazem parte do repertório do grupo inglês Led Zeppelin. São sucessos como Black Dog, Houses of the Holy, Tangerine, Ramble On e Rock and Roll. De clima íntimo, a apresentação inclui também no roteiro temas da discografia solo de Plant - caso de In the Mood - e cover do grupo dos EUA Grateful Dead, I Bid You Goodnight. Os extras do DVD exibem entrevista com o cantor inglês.

Macy Gray regrava 'Talking Book', álbum lançado por Wonder há 40 anos

Macy Gray tinha três anos de idade quando Stevie Wonder lançou em outubro de 1972, pela Motown, um de seus mais aclamados álbuns, Talking Book, LP impulsionado nas paradas mundiais pelos sucessos You Are The Sunshine of My Life e Superstition. Ao crescer, a cantora norte-americana de r & b e soul ouviu o disco e se influenciou tanto por Talking Book que decidiu regravar as 10 músicas do álbum. Sucessor de Covered (2012), Talking Book é o segundo consecutivo álbum de covers da cantora. O Talking Book da artista tem lançamento agendado nos Estados Unidos para 30 de outubro de 2012 via 429 Records, selo indie dos EUA.

Coldplay lança em novembro 'Live 2012', sua terceira gravação ao vivo

Nas lojas a partir de 19 de novembro de 2012, em múltiplos formatos que combinam CD, DVD e blu-ray, Live 2012 é a terceiro gravação ao vivo de show do Coldplay (se contabilizado LeftRightLeftRightLeft, registro ao vivo da turnê Viva La Viva ofertado à banda nos shows e disponibilizado para download em 2009). Live 2012 perpetua o show da Mylo Xyloto Tour, captada sob a direção de Paul Dugdale em apresentações do grupo inglês em Paris (na França), em Montreal (no Canadá) e na edição de 2011 do Glastonbury Festival (na Inglaterra). Live 2012 vai ser lançado via selo Parlophone com distribuição da EMI Music. Sai em edição digital.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Sanz dueta com Ana, Ivete e Roberta Sá no álbum 'La Música no se Toca'

Lançado em escala mundial nesta terça-feira, 25 de setembro de 2012, o 12º álbum de estúdio de Alejandro Sanz, La Música No Se Toca, marca a estreia do cantor e compositor espanhol Alejandro Sanz na gravadora Universal Music. A edição brasileira do CD inclui duetos do artista com as cantoras brasileiras Ana Carolina, Ivete Sangalo e Roberta Sá. Com Ana, Sanz canta Irrepetível, versão bilíngue da faixa intitulada Me Sumerjo, escolhida para iniciar os trabalhos promocionais do disco no mercado nacional. Com Ivete, o dueto acontece na faixa Não me Compares, versão de No me Compares, música que puxou o disco nos países de língua hispânica (atualmente um segundo singleNo Se Vende, já é alvo de ação promocional no exterior). Já Roberta Sá pôs voz na música Bailo Con Vos. Com 16 faixas na edição nacional, já no iTunes, o CD La Música No Se Toca chega às lojas do Brasil a partir de 28 de setembro.

Chico, Gaby e Ivete disputam categorias principais do 13º Grammy Latino

Chico Buarque é um dos poucos artistas brasileiros indicados às categorias principais da 13ª edição do Grammy Latino. O cantor e compositor carioca - em foto de Daryan Dornelles - concorre ao troféu de Álbum do Ano com seu disco Chico, lançado em julho de 2011. Nessa mesma categoria geral, uma das mais importantes do prêmio, Chico - CD também indicado na categoria Melhor Álbum de Cantor/Compositor, de certa relevância - concorre com o CD/DVD Especial Gil Ivete Caetano (2012), registro do programa exibido pela TV Globo em dezembro de 2011 com a reunião de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Ivete Sangalo. Por conta deste mesmo disco, aliás, Ivete concorre ao troféu de Gravação do Ano com seu pálido registro da canção Atrás da Porta (Chico Buarque e Francis Hime, 1972). Completando o time de brasileiros indicados às categorias gerais da premiação, os compositores Cassyano Correr e Maycon Ananias concorrem ao troféu de Canção do Ano pela música Extranjero - gravada por Maria Gadú em seu álbum Mais Uma Página (2011) - e Gaby Amarantos está indicada na categoria Revelação enquanto Moogie Canazio disputa o troféu de Produtor do Ano por Umbigobunker!?, CD de Jay Vaquer. Clique aqui para ver a relação completa de indicados ao 13º Grammy Latino.

'Tempest', álbum de Dylan, versa épico sobre a divina tragédia humana

Resenha de CD
Título: Tempest
Artista: Bob Dylan
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * * * *

São raríssimos os artistas que, aos 50 anos de carreira fonográfica, conseguem lançar um álbum que vai ser lembrado como um dos títulos mais inspirados de sua discografia. Bob Dylan consegue a proeza com Tempest. Mesmo sem causar o impacto das obras-primas lançadas pelo cantor e compositor norte-americano ao longo da década de 60, o 35º álbum de estúdio do bardo dispara raios de criatividade no mercado fonográfico e se impõe como um dos grandes CDs deste ano de  2012. Ao reproduzir imagem da mitologia grega, parte de fonte situada na Áustria, a capa de Tempest dá a pista do ar trágico, épico, que pontua em maior ou menor grau as dez faixas do álbum gravado pelo artista em março no estúdio Groove Masters, na Califórnia (EUA), e produzido pelo próprio Dylan sob seu pseudônimo Jack Frost. São faixas longas que geralmente ultrapassam os cinco minutos, podendo chegar aos sete. Cada vez mais roufenha, a voz do cantor parece moldada para contar as histórias narradas nas letras habitualmente alentadas. Com sua introdução jazzy de quase 50 segundos, Duquesne Whistle abre o disco em tom country que evoca priscas eras dos Estados Unidos, sinalizando que Dylan consegue revolver suas raízes caipiras sem soar velho, folclórico ou nostálgico. É nesse ambiente antigo - entre o country, o blues e o folk - que Dylan aclimata músicas como a balada Soon After Midnight, situada em universo noturno habitado por ladrões e prostitutas. Na sequência, um blues propriamente dito, Narrow Away, faz com que Tempest desabe com peso e intensidade cada vez maior na mente do ouvinte. Corações partidos e feridas sangrentas pavimentam a doída estrada do narrador. Long and  Wasted Years, outra balada imersa no particular universo musical de Dylan, preserva a densidade de Tempest ao versar sobre um amor proibido. Pay in Blood - do emblemático verso "I pay in blood / But not my own" ("Eu pago com sangue, mas não com o meu próprio sangue") - destila raiva enquanto Scarlett Town adensa ainda mais o ar, com nuvens negras que deixam Tempest com clima sombrio. Em seguida, Early Roman Kings reitera a devoção de Dylan ao blues de mestres como Bo Didley (1928 - 2008) e Muddy Waters (1913 - 1993) em faixa que revolve a lama do Mississipi com uma grandeza que eleva Tempest às alturas. É essa grandeza que faz com que um tema aparentemente menor sobre um amor fracassado, caso de Tin Angel, adquira peso sem deixar cair o nível do álbum. Que cresce ainda mais à medida em que chega ao seu emocionante fim. Tempest, a música-título, reconstroi em 14 arrebatadores minutos e em 45 versos cinematográficos o tom épico da tragédia do navio Titanic, afundado em 1912. Em ritmo que evoca o waltz (dança folk) e o universo country, a faixa faz alusões ao filme de 1997 do cineasta James Cameron. Por fim, Tempest se encerra em clima emotivo com Roll on John, sensível tributo a John Lennon (1940 - 1980), escrito com citações de célebres versos do Beatle. Enfim, mesmo sem causar revoluções na obra de Dylan e mesmo sem causar surpresas dado o alto nível de álbuns recentes do bardo, como Time of Mind (1997), Love and Theft (2001) e Modern Times (2006), Tempest - disco enraizado em algum lugar do passado - é outra (bela) prova de que Bob Dylan sabe versar como poucos como a divina tragédia humana.