Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Bio de James Brown expõe alma, ira, força e contradições do pai do funk

Resenha de livro
Título: James Brown Sua Vida Sua Música
Autor: R J Smith
Editora: Leya
Cotação: * * * * *

James Brown (1933 - 2006) nunca negou a força da raça. Negro nascido no segregado Sul dos Estados Unidos, o cantor e compositor teve que driblar a miséria, o racismo e - sobretudo - seus próprios demônios para vencer na vida e na música. A biografia de Brown recém-editada no Brasil pela editora Leya vem sendo apontada como uma das melhores - e há quem a repute como a melhor, como o relato definitivo da trajetória ascendente deste astro cuja importância transcendeu o universo musical - já escritas sobre a vida e a obra do criador do funk, um artista de importância social. De fato, James Brown Sua Vida Sua Música envolve o leitor da primeira à última de suas 634 páginas. E o mérito é do texto fluente do jornalista norte-americano R J Smith, autor desta biografia lançada em escala mundial neste ano de 2012. Com objetividade jornalística, Smith reconstitui os passos mais importantes da caminhada de Brown sem maquiar o artista. Ao contrário, Brown é retratado com toda sua força, sua ira - e foram vários os socos disparados por ele contra desafetos e mulheres - e suas contradições. Enfim, o escritor capta a alma de Brown, mostrando sua sagacidade (e eventual tirania) no trato com músicos, empresários e donos de gravadoras. Mais do que um relato da importância musical do Chefão do Soul, Smith ressalta no livro o poder sócio-político de um artista que provou a existência de um mercado viável para a música e os artistas negros, antes confinados a circuitos de menor prestígio e quase nenhum conforto. Menino criado no bordel de uma tia que (como o sobrinho) nem sempre andou na lei, Brown galgou postos e palcos, ascendendo na pirâmide social e se tornando referência na luta pela igualdade racial travada nos Estados Unidos dos efervescentes anos 60. Destino improvável para quem chegou a ser preso por roubo na adolescência e que, por isso mesmo, transitava com desenvoltura pelo mundo dos desajustados. A partir de entrevistas e de pesquisa sobre a vida do artista, Smith expõe os fatos - e as eventuais versões desses fatos quando não há um consenso sobre eles - com clareza. Brown jamais é endeusado. Ao contrário: a biografia detalha o autoritarismo com que o Chefão comandava seus músicos e rememora aquela que talvez tenha sido a maior das muitas contradições da vida conturbada de James Brown: o apoio a Richard Nixon (1913 - 1994) quando o então presidente dos Estados Unidos era alvo de ódio mundial por conta da Guerra do Vietnam. Em última instância, James Brown Sua Vida Sua Música delineia com nitidez um retrato humanizado de um artista que sofreu na pele o preconceito de ser negro e que, ao se revelar genial, esfregou na cara de seu país o orgulho negro de ser quem era. Dez!

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

James Brown (1933 - 2006) nunca negou a força da raça. Negro nascido no segregado Sul dos Estados Unidos, o cantor e compositor teve que driblar a miséria, o racismo e - sobretudo - seus próprios demônios para vencer na vida e na música. A biografia de Brown recém-editada no Brasil pela editora Leya vem sendo apontada como uma das melhores - e há quem a repute como a melhor, como o relato definitivo da trajetória ascendente deste astro cuja importância transcendeu o universo musical - já escritas sobre a vida e a obra do criador do funk, um artista de importância social. De fato, James Brown Sua Vida Sua Música envolve o leitor da primeira à última de suas 634 páginas. E o mérito é do texto fluente do jornalista norte-americano R J Smith, autor desta biografia lançada em escala mundial neste ano de 2012. Com objetividade jornalística, Smith reconstitui os passos mais importantes da caminhada de Brown sem maquiar o artista. Ao contrário, Brown é retratado com toda sua força, sua ira - e foram vários os socos disparados por ele contra desafetos e mulheres - e suas contradições. Enfim, o escritor capta a alma de Brown, mostrando sua sagacidade (e eventual tirania) no trato com músicos, empresários e donos de gravadoras. Mais do que um relato da importância musical do Chefão do Soul, Smith ressalta no livro o poder sócio-político de um artista que provou a existência de um mercado viável para a música e os artistas negros, antes confinados a circuitos de menor prestígio e quase nenhum conforto. Menino criado no bordel de uma tia que (como o sobrinho) nem sempre andou na lei, Brown galgou postos e palcos, ascendendo na pirâmide social e se tornando referência na luta pela igualdade racial travada nos Estados Unidos dos efervescentes anos 60. Destino improvável para quem chegou a ser preso por roubo na adolescência e que, por isso mesmo, transitava com desenvoltura pelo mundo dos desajustados. A partir de entrevistas e de pesquisa sobre a vida do artista, Smith expõe os fatos - e as eventuais versões desses fatos quando não há um consenso sobre eles - com clareza. Brown jamais é endeusado. Ao contrário: a biografia detalha o autoritarismo com que o Chefão comandava seus músicos e rememora aquela que talvez tenha sido a maior das muitas contradições da vida conturbada de James Brown: o apoio a Richard Nixon (1913 - 1994) quando o então presidente dos Estados Unidos era alvo de ódio mundial por conta da Guerra do Vietnam. Em última instância, James Brown Sua Vida Sua Música delineia com nitidez um retrato humanizado de um artista que sofreu na pele o preconceito de ser negro e que, ao se revelar genial, esfregou na cara de seu país o orgulho negro de ser quem era. Dez!

Anônimo disse...

Aí sim, esse tem história pra ser contada.
Só 634? :-)

Anônimo disse...

Imagine o peso do negócio...muito bom!

Maria disse...

James Brown traduz o verdadeiro FUNK yeahhhh muito bom!

ADEMAR AMANCIO disse...

Biografia que se preze tem que radiografar a pessoa como ela é,sem dourar a pílula,seu valor artístico são outros quinhentos.