Resenha de show
Título: Primavera Carioca
Artista: Caetano Veloso (em foto de Mauro Ferreira)
Convidados: Chico Buarque e Trio Preto + 1
Local: Teatro Oi Casa Grande (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 11 de setembro de 2012
Cotação: * * * * 1/2
Ao traçar sua particular geografia da cidade do Rio de Janeiro (RJ) a partir das 16 músicas que selecionou para o roteiro de Primavera Carioca, show inédito e exclusivo feito em apoio à candidatura de Marcelo Freixo à prefeitura da cidade que Caetano Veloso escolheu para morar na década de 60, o cantor e compositor baiano repisou com elegância os trilhos urbanos que vem conduzindo sua intensa vivência carioca ao longo de mais de 45 anos. A participação especialíssima de Chico Buarque - em Medo de Amar (Vinicius de Moraes, 1958) e nos sambas O X do Problema (Noel Rosa, 1936) e A Voz do Morro (Zé Kétti, 1954) - foi a cereja do bolo recheado com a rica bagagem carioca do anfitrião. Intérprete sagaz, do tipo que se garante apenas com sua voz e seu violão, Caetano foi o senhor da cena quando mergulhou na modernidade atemporal do belo samba-canção Copacabana (João de Barro e Alberto Ribeiro, 1946) - num registro suave como a brisa matinal que areja a Princesinha do Mar na letra do sucesso de Dick Farney (1921 - 1987) - e quando se divertiu com suas próprias hesitações sobre os versos de Pé do meu Samba (Caetano Veloso, 2002), orgulhoso mapa da cidade desenhado por ele para a voz desencanada de Mart'nália. Glorioso em seu outeiro, o cantor enterneceu Menino do Rio (Caetano Veloso, 1979), celebrou a bossa sempre nova da Garota de Ipanema (Tom Jobim e Vinicius de Moraes, 1962), se emocionou ao reviver no samba Madureira Chorou (Carvalhinho e Júlio Monteiro, 1958) a trágica saída de cena da vedete carioca Zaquia Jorge (1924 - 1957) - eternizada neste sucesso do Carnaval de 1968 - e seguiu leve o ritmo da Valsa de Uma Cidade (Ismael Neto e Antônio Maria, 1954). Em Terra (Caetano Veloso, 1978), o baiano-carioca tirou sons percussivos do violão com a mesma naturalidade com que, quatro números antes, celebrara a beleza eterna de Ela É Carioca (Tom Jobim e Vinicius de Moraes, 1963). Única música que pareceu deslocada nestes trilhos urbanos, Sozinho (1996) reiterou a empatia popular da canção de Peninha que estourou com Caetano em 1998 a ponto de levá-lo ao alcançar a cifra (inédita e única em sua carreira) de um milhão de cópias vendidas do álbum ao vivo Prenda Minha. Na sequência, a entrada em cena do Trio Preto + 1 - quarteto liderado pelo percussionista Pretinho da Serrinha - introduziu no show a batucada quente que aquece os mais nobres quintais cariocas na primavera e nas demais estações do ano. Com seu refinado toque percussivo, o Trio Preto + 1 realçou significados ancestrais dos versos de Desde que o Samba É Samba (Caetano Veloso, 1993), pôs sua tinta na Aquarela Brasileira (Silas de Oliveira, 1964) - número feito sem Caetano, que fez apenas vocais espontâneos no samba-enredo, seguindo o coro da plateia - e caiu feliz em outro samba-enredo, É Hoje (Mestrinho e Didi, 1983), na companhia do anfitrião. Caetano Veloso não é a voz do morro, como cantou no samba do compositor Zé Kétti (1921 - 1999) com que fechou o roteiro em duo com Chico Buarque, mas, de Madureira à Penha, do Leme ao Pontal, o cantor foi dez na maneira e no tom ao reviver tudo o que Rio lhe deu na sonhada Primavera Carioca.
Ao traçar sua particular geografia da cidade do Rio de Janeiro (RJ) a partir das músicas que selecionou para o roteiro de Primavera Carioca, show inédito e exclusivo feito em apoio à candidatura de Marcelo Freixo à prefeitura da cidade que Caetano Veloso escolheu para morar na década de 60, o cantor e compositor baiano repisou com elegância os trilhos urbanos que vem conduzindo sua vivência carioca ao longo de mais de 45 anos. A participação especialíssima de Chico Buarque - em Medo de Amar (Vinicius de Moraes, 1958) e nos sambas O X do Problema (Noel Rosa, 1936) e A Voz do Morro (Zé Kétti, 1954) - foi a cereja do bolo recheado com a bagagem carioca do anfitrião. Intérprete sagaz, do tipo que se garante apenas com sua voz e seu violão, Caetano foi o senhor da cena quando mergulhou na modernidade atemporal do samba-canção Copacabana (João de Barro e Alberto Ribeiro, 1954) - num registro suave como a brisa matinal que areja a Princesinha do Mar na letra do sucesso de Dick Farney (1921 - 1987) - e quando se divertiu com suas próprias hesitações sobre os versos de Pé do meu Samba (Caetano Veloso, 2002), orgulhoso mapa da cidade desenhado por ele para a voz desencanada de Mart'nália. Glorioso em seu outeiro, o cantor enterneceu Menino do Rio (Caetano Veloso, 1979), celebrou a bossa sempre nova da Garota de Ipanema (Tom Jobim e Vinicius de Moraes, 1962), se emocionou ao reviver no samba Madureira Chorou (Carvalhinho e Júlio Monteiro, 1958) a trágica saída de cena da vedete carioca Zaquia Jorge (1924 - 1957) - eternizada neste sucesso do Carnaval de 1968 - e seguiu leve o ritmo da Valsa de Uma Cidade (Ismael Neto e Antônio Maria, 1954). Em Terra (Caetano Veloso, 1979), o baiano-carioca tirou sons percussivos do violão com a mesma naturalidade com que, quatro números antes, celebrara a beleza eterna de Ela É Carioca (Tom Jobim e Vinicius de Moraes, 1963). Única música que pareceu deslocada nestes trilhos urbanos, Sozinho (1996) reiterou a empatia popular da canção de Peninha que estourou com Caetano em 1998 a ponto de levá-lo ao alcançar a cifra (inédita e única em sua carreira) de um milhão de cópias vendidas do álbum ao vivo Prenda Minha. Na sequência, a entrada em cena do Trio Preto + 1 - quarteto liderado pelo percussionista Pretinho da Serrinha - introduziu no show a batucada quente que aquece os mais nobres quintais cariocas na primavera e nas demais estações do ano. Com seu refinado toque percussivo, o Trio Preto + 1 realçou significados ancestrais dos versos de Desde que o Samba É Samba (Caetano Veloso, 1992), pôs sua tinta na Aquarela Brasileira (Silas de Oliveira, 1964) - número feito sem Caetano, que fez apenas vocais espontâneos no samba-enredo, seguindo o coro da plateia - e caiu feliz em outro samba-enredo, É Hoje (Mestrinho e Didi, 1983), na companhia do anfitrião. Caetano Veloso não é a voz do morro, como cantou no samba do compositor Zé Kétti (1921 - 1999) com que fechou o roteiro em duo com Chico Buarque, mas, de Madureira à Penha, do Leme ao Pontal, o cantor foi dez na maneira e no tom ao reviver tudo o que Rio lhe deu na sonhada Primavera Carioca.
ResponderExcluirAugusto Flávio (Juazeiro-Ba) Disse:
ResponderExcluirMauro, Terra é de 1978 do disco Muito e não 1979. Em 1979 ele lançou o disco Cinema transcendental.
Tem razão, Augusto. Grato pelo toque. Abs, MauroF
ResponderExcluirO Freixo é poderoso.
ResponderExcluirConseguiu juntar politicamente o Caetano - fã de FHC, e o Chico - fã do Lula.
O problema dele é justamente ter muito artista do seu lado.
Isso, em pleno 2012, não significa mais nada.
Soa festivo, inocente. Ou seja, anacrônico.
Pra não dizer que não falei das flores, muito bom ver os dois gigantes juntos nomavente.
Muito mais pela música que pela política.
Augusto Flávio (Juazeiro-Ba) Disse:
ResponderExcluirMauro, vc continua insistindo em dizer que "Desde que o samba é samba" é de 1992. Não é! é de 1993 do disco Tropicália 2.
Tem razão, Augusto. É que às vezes vou no automático. abs, obrigado, MauroF
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