Título: Gonzaga - De Pai pra Filho
Direção: Breno Silveira
Roteiro: Patrícia Andrade
Cotação: * * * * 1/2
Filme em exibição no Festival do Rio a partir de 27 de setembro de 2012
Estreia em circuito nacional prevista para 26 de outubro de 2012
"É muita história...", diz Luiz Gonzaga do Nascimento Jr. (1945 - 1991), o Gonzaguinha, a Luiz Gonzaga do Nascimento (1912 - 1989), o Gonzagão, à certa altura do papo-entrevista que levou o filho a acertar as contas emocionais com seu pai em 1981, ano em que o Rei do Baião já parecia destronado de seu poder popular, vivendo melancólico em sua terra natal, Exu, cidade do interior de Pernambuco. Sim, tem muita história envolvendo Gonzagão e Gonzaguinha, pai e filho separados por divergências nas esferas pública e privada, mas o filme Gonzaga - De Pai pra Filho acerta ao seguir basicamente o roteiro das terras onde passou o velho Lua. As tensões entre pai e filho pontuam e costuram a narrativa - estruturada em flashback a partir do reencontro retrospectivo de Gonzagão e Gonzaguinha naquele ano de 1981 que culminaria com a primeira turnê dos artistas - mas o roteiro preciso de Patrícia Andrade percorre basicamente os sertões e as recordações deixadas por Luiz Gonzaga em sua folhetinesca vida de viajante. A direção de Breno Silveira caminha segura por essas trilhas sertanejas, já pisadas quando o cineasta contou a história dos 2 Filhos de Francisco (2005), cinebiografia de Zezé Di Camargo & Luciano que ultrapassou os cinco milhões de espectadores por conta do mesmo apelo emocional que ronda a história humana de Gonzaga e Gonzaguinha, cantores-ícones vividos no filme por três atores distintos nas diferentes fases da vida. Gonzagão é encarnado de forma convincente pelos atores Land Vieira (dos 17 aos 23 anos), Nivaldo Expedito de Carvalho (dos 27 aos 50 anos) - sanfoneiro conhecido pelo nome artístico de Chambinho do Acordeom - e Adélio Lima (aos 69 anos). O segundo se destaca pela habilidade com a sanfona e por refletir no sorriso largo a alegria no coração que o Rei do Baião carregou pelos sertões onde passou. O terceiro já traz no rosto as marcas físicas e emocionais do sofrimento imposto pela vida. Gonzaguinha é interpretado pelos atores Alison Santos (dos 10 aos 12 anos), Giancarlo Di Tommaso (dos 17 aos 22 anos) e Julio Andrade (aos 36 anos), sendo que o terceiro impressiona pela caracterização perfeita. Os trejeitos e a maneira de falar dão a sensação de que Gonzaguinha está na tela - impressão reforçada pelas imagens reais do cantor expostas ao longo do filme. No confronto entre pai e filho que costura o roteiro, os diálogos adquirem em certos momentos tom novelesco condizente com o caráter folhetinesco dos fatos que envolvem as vidas de ambos. "Nunca te deixei faltar nada", alega Gonzagão num dos momentos culminantes da discussão. "Faltou você", retruca Gonzaguinha. A dúvida sobre a natureza biológica do laço entre Gonzagão e Gonzaguinha - questão levantada, mas não desenvolvida, pelo filme - reforça esse clima de folhetim. Mas Gonzaga - De Pai pra Filho jamais apela para as emoções baratas. Tal como fez em 2 Filhos de Francisco, Breno Silveira apenas se deixa levar por uma grande história, filmada com apuro, sem recursos estilísticos que poderiam empanar o brilho dessa história. Mesmo sem caráter didático, o filme mostra como Gonzaga partiu de Exu (PE) para Fortaleza (CE) e, depois, para o Rio de Janeiro (RJ) em rota que o levaria ao sucesso nacional tão logo sintetizasse a batida do baião. Os passos fundamentais da trajetória artística de Gonzagão estão reconstituídos no filme. Já a caminhada de Gonzaguinha para o estrelato jamais vira o foco principal da narrativa. O espectador de Gonzaga - De Pai pra Filho sai do cinema sem saber que o filho - projetado na era dos festivais da canção com músicas engajadas e raivosas que lhe valeram o epíteto desagradável de cantor-rancor - somente obteve fama e popularidade similares ao do pai quando cantoras como Maria Bethânia e Simone revelaram a face mais romântica de seu repertório na segunda metade dos anos 70. Nada que deponha contra o filme. Havia muita história para contar e o roteiro de Patrícia Andrade, vale repetir, acerta ao priorizar a saga de Gonzagão em filme que estreia a tempo de festejar o centenário de nascimento do Rei do Baião. Gonzaguinha entra em cena somente quando seus caminhos se cruzam com os de seu pai, com quem se reconciliou definitivamente a partir do lendário papo-entrevista de 1981, ponto de partida deste grande filme sobre os (des)encontros de pai e filho, 2 filhos deste Brasil.
11 comentários:
"É muita história...", diz Luiz Gonzaga do Nascimento Jr. (1945 - 1991), o Gonzaguinha, a Luiz Gonzaga do Nascimento (1912 - 1989), o Gonzagão, à certa altura do papo-entrevista que levou o filho a acertar as contas emocionais com seu pai em 1981, ano em que o Rei do Baião já parecia destronado de seu poder popular, vivendo melancólico em sua terra natal, Exu, cidade do interior de Pernambuco. Sim, tem muita história envolvendo Gonzagão e Gonzaguinha, pai e filho separados por divergências nas esferas pública e privada, mas o filme Gonzaga - De Pai pra Filho acerta ao seguir basicamente o roteiro das terras onde passou o velho Lua. As tensões entre pai e filho pontuam e costuram a narrativa - estruturada em flashback a partir do reencontro retrospectivo de Gonzagão e Gonzaguinha naquele ano de 1981 que culminaria com a primeira turnê dos artistas - mas o roteiro preciso de Patrícia Andrade percorre basicamente os sertões e as recordações deixadas por Luiz Gonzaga em sua folhetinesca vida de viajante. A direção de Breno Silveira caminha segura por essas trilhas sertanejas, já pisadas quando o cineasta contou a história dos 2 Filhos de Francisco (2005), cinebiografia de Zezé Di Camargo & Luciano que ultrapassou os cinco milhões de espectadores por conta do mesmo apelo emocional que ronda a história de Gonzaga e Gonzaguinha, cantores-ícones vividos no filme por três atores distintos nas diferentes fases da vida. Gonzagão é encarnado de forma convincente pelos atores Land Vieira (dos 17 aos 23 anos), Nivaldo Expedito de Carvalho (dos 27 aos 50 anos) - sanfoneiro conhecido pelo nome artístico de Chambinho do Acordeom - e Adélio Lima (aos 69 anos). O segundo se destaca pela habilidade com a sanfona e por refletir no sorriso largo a alegria no coração que o Rei do Baião carregou pelos sertões onde passou. O terceiro já traz no rosto as marcas físicas e emocionais do sofrimento imposto pela vida. Gonzaguinha é interpretado pelos atores Alison Santos (dos 10 aos 12 anos), Giancarlo Di Tommaso (dos 17 aos 22 anos) e Julio Andrade (aos 36 anos), sendo que o terceiro impressiona pela caracterização perfeita. Os trejeitos e a maneira de falar dão a sensação de que Gonzaguinha está na tela - impressão reforçada pelas imagens reais do cantor expostas ao longo do filme. No confronto entre pai e filho que costura o roteiro, os diálogos adquirem em certos momentos tom novelesco condizente com o caráter folhetinesco dos fatos que envolvem as vidas de ambos. "Nunca te deixei faltar nada", alega Gonzagão num dos momentos culminantes da discussão. "Faltou você", retruca Gonzaguinha. A dúvida sobre a paternidade biológica de Gonzaguinha - questão levantada, mas não desenvolvida, pelo filme - reforça esse clima de folhetim. Mas Gonzaga - De Pai pra Filho jamais apela para as emoções baratas. Tal como fez em 2 Filhos de Francisco, Breno Silveira apenas se deixa levar por uma grande história, filmada com apuro, sem recursos estilísticos que poderiam empanar o brilho dessa história.
Mesmo sem caráter didático, o filme mostra como Gonzaga partiu de Exu (PE) para Fortaleza (CE) e, depois, para o Rio de Janeiro (RJ) em rota que o levaria ao sucesso nacional tão logo sintetizasse a batida do baião. Os passos fundamentais da trajetória artística de Gonzagão estão reconstituídos no filme. Já a caminhada de Gonzaguinha para o estrelato jamais vira o foco principal da narrativa. O espectador de Gonzaga - De Pai pra Filho sai do cinema sem saber que o filho - projetado na era dos festivais da canção com músicas engajadas e raivosas que lhe valeram o epíteto desagradável de cantor-rancor - somente obteve fama e popularidade similares ao do pai quando cantoras como Maria Bethânia e Simone revelaram a face mais romântica de seu repertório na segunda metade dos anos 70. Nada que deponha contra o filme. Havia muita história para contar e o roteiro de Patrícia Andrade, vale repetir, acerta ao priorizar a saga de Gonzagão em filme que estreia a tempo de festejar o centenário de nascimento do Rei do Baião. Gonzaguinha entra em cena somente quando seus caminhos se cruzam com os de seu pai, com quem se reconciliou definitivamente a partir do lendário papo-entrevista de 1981, ponto de partida deste grande filme sobre os (des)encontros de pai e filho, 2 filhos deste Brasil.
O Breno Silveira é um cara de talento já comprovado. E, repetindo a "ladainha Poliana" que o Rafael sempre diz aqui, tenho certeza que fez um belo filme. :-)
Viva Gonzagão! Gonzaguinha foi um bom compositor, gosto de algumas músicas mas pra mim não foi ícone nenhum.
Sim, tem tudo pra ser um belo filme.
Mas ao contrário do que possa parecer, não sei se este realmente é um belo filme, parece ser bom, mas tenho que conferir o resultado final antes de tecer uma opinião.
Li que a Globo vai passar o filme ano que vem como minissérie. se for no mesmo tom do dois filhos de Francisco, é bacana. o que não dá pra fazer cinema como se fosse tv, como andam fazendo por aí
Veja ai o filme que fiz com o Gonzaga em 1978, meu amigo e parceiro no programa Chapeu de Couro na Rádio Globo e TV Bandeirantes.
http://www.youtube.com/watch?v=ulnolZNpfeA
Bem,antes de ver o filme,só posso dizer que a qualidade da trilha sonora está garantida!
Tenho certeza de que esse filme é ótimo sim. Por quê? Algum problema? Digo o que que quero sem ter que ficar prestando satisfação pra ninguém.
Postar um comentário