Título: A Ira de Nasi
Autores: Alexandre Petillo e Mauro Beting
Editora: Belas Letras
Cotação: * * * *
O livro A Ira de Nasi é, em tese, a biografia de Nasi. Mas contar a vida de Marcos Valadão Rodolfo - o cantor e compositor paulista projetado nos anos 80 como Nasi, o vocalista e compositor do grupo Ira! - é contar o embate de Nasi com Edgard José Scandurra Pereira, o guitarrista e compositor do Ira!, grupo desativado em 2007 em clima ruidoso. Em tese, o fim da banda foi provocado por briga de Nasi com seu irmão Airton Valadão Junior, empresário da banda (a paz somente foi selada entre os irmãos neste ano de 2012, acabando com o embate que tinha ido parar na Justiça). Mas, na verdade, a rixa entre Nasi e Scandurra já vinha roendo todas as possibilidades de futuro para um grupo que marcara época na cena roqueira dos anos 80 ao traduzir para o Brasil a ideologia da cultura mod - surgida na Inglaterra na virada dos anos 50 para os 60 - sem negar a influência exercida pelo punk nessa cena pop que se formou no Brasil no começo daquela década de 80. O confronto cotidiano entre Nasi e Scandurra - as cabeças quentes do Ira! - ocupa grande parte das 320 páginas do livro. Se a paixão pelo punk foi o traço em comum que uniu nos idos de 1982 estes dois artistas nascidos em 1962, a crescente rivalidade entre vocalista e guitarrista - amplificada à medida que o Ira! foi se tornando relevante no mercado comum da música - os separou progressivamente. A ponto de Nasi e Scandurra ruminarem ira recíproca. Sem o depoimento de Scandurra, retratado no livro como um músico extremamente competitivo, a narrativa de A Ira de Nasi ficou apoiada somente na visão de Nasi. É pela ótica exclusiva de Nasi que os jornalistas Alexandre Petillo e Mauro Beting reconstituem os principais fatos da vida do Ira! - ainda que depoimentos relevantes, como o do produtor Rick Bonadio, ajudem a elucidar questões. Em que pese o caráter parcial da biografia, os autores escreveram livro envolvente pela maneira clara e direta com que expõem os altos e baixos de Nasi e, por tabela, do rock brasileiro. Nas páginas iniciais, A Ira de Nasi descreve a cena roqueira que se desenhou em São Paulo no início dos anos 80 com o troca-troca de músicos entre as muitas bandas que nasceram naquela época, buscando seu lugar ao sol. Foi naquela efervescência que os caminhos de Nasi e Scandurra se cruzaram. A abordagem das gêneses (não raro conturbadas) dos álbuns do Ira! descortina os bastidores do rock brasileiro da década de 80. O embate do Ira! com o produtor Liminha ao longo da gravação do segundo álbum do grupo, Vivendo e Não Aprendendo (1986), merece menção por expor um traço determinante para a credibilidade do livro: a capacidade de Nasi se permitir uma autocrítica em relação ao seu comportamento e em relação à própria discografia do grupo. Se Scandurra é por vezes retratado como o vilão da história, o biografado jamais se porta como o mocinho. Nasi nunca foi santo e o livro também mostra como o mergulho do artista nas drogas contribuiu para criar o ambiente infernal em que o Ira! viveu mergulhado durante boa parte de sua existência. Enfim, por mais que exponha detalhes da vida pessoal de Nasi (e há passagens punks como a perseguição da família de sua então namorada ao casal), A Ira de Nasi acaba voltando ao confronto entre as duas cabeças quentes do Ira! - ambas cheias de si e de ira, turbinada na mente de Scandurra pela ciência do caso de Nasi com uma namorada sua, imbróglio afetivo-sexual revelado pelo livro. Cabeças hoje cinquentonas que escreveram página importante do rock do Brasil, incorporada a esta contundente biografia de Nasi, artista que viveu e aprendeu à custa de muito sofrimento.
4 comentários:
O livro A Ira de Nasi é, em tese, a biografia de Nasi. Mas contar a vida de Marcos Valadão Rodolfo - o cantor e compositor paulista projetado nos anos 80 como Nasi, o vocalista e compositor do grupo Ira! - é contar o embate de Nasi com Edgard José Scandurra Pereira, o guitarrista e compositor do Ira!, grupo desativado em 2007 em clima ruidoso. Em tese, o fim da banda foi provocado por briga de Nasi com seu irmão Airton Valadão Junior, empresário da banda (a paz somente foi selada entre os irmãos neste ano de 2012, acabando com o embate que tinha ido parar na Justiça). Mas, na verdade, a rixa entre Nasi e Scandurra já vinha roendo todas as possibilidades de futuro para um grupo que marcara época na cena roqueira dos anos 80 ao traduzir para o Brasil a ideologia da cultura mod - surgida na Inglaterra na virada dos anos 50 para os 60 - sem negar a influência exercida pelo punk nessa cena pop que se formou no Brasil no começo daquela década de 80. O confronto cotidiano entre Nasi e Scandurra - as cabeças quentes do Ira! - ocupa grande parte das 320 páginas do livro. Se a paixão pelo punk foi o traço em comum que uniu nos idos de 1982 estes dois artistas nascidos em 1962, a crescente rivalidade entre vocalista e guitarrista - amplificada à medida que o Ira! foi se tornando relevante no mercado comum da música - os separou progressivamente. A ponto de Nasi e Scandurra ruminarem ira recíproca. Sem o depoimento de Scandurra, retratado no livro como um músico extremamente competitivo, a narrativa de A Ira de Nasi ficou apoiada somente na visão de Nasi. É pela ótica exclusiva de Nasi que os jornalistas Alexandre Petillo e Mauro Beting reconstituem os principais fatos da vida do Ira! - ainda que depoimentos relevantes, como o do produtor Rick Bonadio, ajudem a elucidar questões. Em que pese o caráter parcial da biografia, os autores escreveram livro envolvente pela maneira clara e direta com que expõem os altos e baixos de Nasi e, por tabela, do rock brasileiro. Nas páginas iniciais, A Ira de Nasi descreve a cena roqueira que se desenhou em São Paulo no início dos anos 80 com o troca-troca de músicos entre as muitas bandas que nasceram naquela época, buscando seu lugar ao sol. Foi naquela efervescência que os caminhos de Nasi e Scandurra se cruzaram. A abordagem das gêneses (não raro conturbadas) dos álbuns do Ira! descortina os bastidores do rock brasileiro da década de 80. O embate do Ira! com o produtor Liminha ao longo da gravação do segundo álbum do grupo, Vivendo e Não Aprendendo (1986), merece menção por expor um traço determinante para a credibilidade do livro: a capacidade de Nasi se permitir uma autocrítica em relação ao seu comportamento e em relação à própria discografia do grupo. Se Scandurra é por vezes retratado como o vilão da história, o biografado jamais se porta como o mocinho. Nasi nunca foi santo e o livro também mostra como o mergulho do artista nas drogas contribuiu para criar o ambiente infernal em que o Ira! viveu mergulhado durante boa parte de sua existência. Enfim, por mais que exponha detalhes da vida pessoal de Nasi (e há passagens punks como a perseguição da família de sua então namorada ao casal), A Ira de Nasi acaba voltando ao confronto entre as duas cabeças quentes do Ira! - ambas cheias de si, cheias de razão, cheias de ira. Cabeças hoje cinquentonas que ajudaram a escrever página importante do rock do Brasil, incorporada a esta contundente biografia de Nasi, artista que viveu e aprendeu à custa de muito sofrimento.
Adoro a figura do Nasi.
É o avesso dos picoles de chuchu que estão tão em voga.
Encrenqueiro, porém com conteúdo.
O que faz toda a diferença.
Ta bonitão nessa foto!
Eu eu tô tentando arrumar um espaço para incluir este livro nas minhas leituras! Quero muito ler, nao sei quando o farei. Adorava a banda e adoro os dois músicos. Não tomo partido de nenhum.
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