Resenha de CD
Título: Tropicália Lixo Lógico
Artista: Tom Zé
Gravadora: Sem indicação
Cotação: * * * *
Prestes a completar 76 anos, em 11 de outubro de 2012, o baiano Tom Zé é o único integrante da Tropicália que realmente seguiu carreira movido pelo espírito libertário da geléia geral condensada por seus conterrâneos Caetano Veloso e Gilberto Gil nos idos de 1967. Para o cantor e compositor, oriundo da interiorana Irará (BA), música sempre foi conceito. É meio e mensagem. Em Tropicália Lixo Lógico, disco-tese sobre aquele período de efervescência pop, Tom Zé reorganiza o movimento com bases teóricas, seguindo e - de certa forma - até aprofundando a linha de raciocínio desenvolvida em discos anteriores que estudaram gêneros como o samba, o pagode e a bossa nova. Com repertório de músicas autorais, todas inéditas, Tropicália Lixo Lógico resulta interessante na teoria e na prática. No álbum, gravado de forma independente sob a produção de Daniel Maia e lançado nos formatos de CD e vinil, o artista recicla o lixo e o luxo nativo com lógica filosófica e com inspiração melódica. Ciente de que os cânones da canção popular sentimental figuraram entre os signos reprocessados no liquidificador antropofágico da Tropicália, o compositor - em grande forma - apresenta série de canções palatáveis que são intercaladas no disco com os temas de (alta) carga teórica. Dentre tais canções, Amarração do Amor, Capitais e Tais, Debaixo da Marquise do Banco Central e O Motobói e Maria Clara se insinuam de cara como as mais inspiradas. Música urbana de tonalidades românticas, O Motobói e Maria Clara traz na garupa Mallu Magalhães, convidada também de faixa mais densa, Tropicalea Jacta Est, tema em que Tom Zé narra o momento em que o big bang tropicalista desencadeou a existência do universo pop brasileiro com citações na letra de Alegria Alegria (Caetano Veloso) e Domingo no Parque (Gilberto Gil), hinos detonadores do movimento em festival de 1967. Demolindo a tese de que a Tropicália nasceu somente das entranhas da Semana de 22 e do rock estrangeiro (luxo que era lixo no entender dos detratores do movimento organizado por Caetano e Gil), Tom Zé propõe visão mais complexa sobre a origem da geléia geral com teoria que recorre a fundamentos de filosofia e a dados históricos. A lógica da visão particular do compositor é explicada pelo conjunto de 16 músicas criadas para um disco que jamais se perde em seu conceito. Da abertura ao fim do CD, com Apocalipsom A (O Fim no Palco do Começo) e Apocalipsom B (O Começo no Palco do Fim), temas de origem nordestina turbinados com o acento urbano do canto do rapper paulista Emicida, Tropicália Lixo Lógico soa amarrado em sua tese. Até uma canção em inglês - NYC Subway Poetry Department, única parceria de Tom Zé na composição da safra de inéditas (no caso, com Henrique Marcusso) - aparece no caldeirão na voz de Rodrigo Amarante. Seja transitando em tons baixos pelo suingue de A Terra, Meus Filhos, seja recebendo Pélico na menos sedutora De-De-Dei Xá-Xá-Xá, o cantor defende bem sua visão. No momento em que a trilha sonora do Brasil se afunda no lixão tropical, Tom Zé nivela sua música cognitiva por alto ao reorganizar o movimento com lógica.
Prestes a completar 76 anos, em 11 de outubro de 2012, o baiano Tom Zé é o único integrante da Tropicália que realmente seguiu carreira movido pelo espírito libertário da geléia geral condensada por seus conterrâneos Caetano Veloso e Gilberto Gil nos idos de 1967. Para o cantor e compositor, oriundo da interiorana Irará (BA), música sempre foi conceito. É meio e mensagem. Em Tropicália Lixo Lógico, disco-tese sobre aquele período de efervescência pop, Tom Zé reorganiza o movimento com bases teóricas, seguindo e - de certa forma - até aprofundando a linha de raciocínio desenvolvida em discos anteriores que estudaram gêneros como o samba, o pagode e a bossa nova. Com repertório de músicas autorais, todas inéditas, Tropicália Lixo Lógico resulta interessante na teoria e na prática. No álbum, gravado de forma independente sob a produção de Daniel Maia e lançado nos formatos de CD e vinil, o artista recicla o lixo e o luxo nativo com lógica filosófica e com inspiração melódica. Ciente de que os cânones da canção popular sentimental figuraram entre os signos reprocessados no liquidificador antropofágico da Tropicália, o compositor - em grande forma - apresenta série de canções palatáveis que são intercaladas no disco com os temas de (alta) carga teórica. Dentre tais canções, Amarração do Amor, Capitais e Tais, Debaixo da Marquise do Banco Central e O Motobói e Maria Clara se insinuam de cara como as mais inspiradas. Música urbana de tonalidades românticas, O Motobói e Maria Clara traz na garupa Mallu Magalhães, convidada também de faixa mais densa, Tropicalea Jacta Est, tema em que Tom Zé narra o momento em que o big bang tropicalista desencadeou a existência do universo pop brasileiro com citações na letra de Alegria Alegria (Caetano Veloso) e Domingo no Parque (Gilberto Gil), hinos detonadores do movimento em festival de 1967. Demolindo a tese de que a Tropicália nasceu somente das entranhas da Semana de 22 e do rock estrangeiro (luxo que era lixo no entender dos detratores do movimento organizado por Caetano e Gil), Tom Zé propõe visão mais complexa sobre a origem da geléia geral com teoria que recorre a fundamentos de filosofia e a dados históricos. A lógica da visão particular do compositor é explicada pelo conjunto de 16 músicas criadas para um disco que jamais se perde em seu conceito.
ResponderExcluirDa abertura ao fim do CD, com Apocalipsom A (O Fim no Palco do Começo) e Apocalipsom B (O Começo no Palco do Fim), temas de origem nordestina turbinados com o acento urbano do canto do rapper paulista Emicida, Tropicália Lixo Lógico soa amarrado em sua tese. Até uma canção em inglês - NYC Subway Poetry Department, única parceria de Tom Zé na composição da safra de inéditas (no caso, com Henrique Marcusso) - aparece no caldeirão na voz de Rodrigo Amarante. Seja transitando em tons baixos pelo suingue de A Terra, Meus Filhos, seja recebendo Pélico na menos sedutora De-De-Dei Xá-Xá-Xá, o cantor defende bem sua visão. No momento em que a trilha sonora do Brasil se afunda no lixão tropical, Tom Zé nivela sua música cognitiva por alto ao reorganizar o movimento com lógica.
ResponderExcluirTom Zé é genial,maluco beleza! a propósito, estou muito curiosa para assistir o documentário da Tropicália.
ResponderExcluirEu demorei algumas horas para ouvir esse disco novo do Tom Zé... O disco é bonito e bom, porém por vezes também o achei meio arrastado, meio redundante... Bom, porém me deixou uma sensação estranha de que não estava bem maturado, estava meio seco, meio difícil de descer em certos momentos... Quando eu começava a me empolgar e me deixar contagiar com músicas como a da "O Motobói E Maria Clara", "A Terra, Meus Filhos", "Tropicalea Jacta Est", surgiam cortes abruptos nas canções que me tiravam todo o tesão pelo disco e acabavam me fazendo murchar por completo.
ResponderExcluirPessoal, o disco Tropicália Lixo Lógico tem invenção, para não só interessar mas manter interessado quem ouve. Pessoas acreditadas e maravilhosas falaram muito bem. Já o técnico, durante a fabricação, teve muitas dúvidas e fez uma lista do que ele achou que eram problemas e "defeitos". Conservo cuidadosamente a lista que ele mandou,
ResponderExcluirvejam só. Um jornalista amigo disse que isso é poesia pura. Além de ser uma preciosidade de humor.
Como comprar o disco vocês já sabem. Custa R$ 20,00 + frete, pelo e.mail 1bibi@uol.com.br
Coloque o cep e a cidade na mensagem.
Aqui vai a luta do técnico com as invenções do disco:
01- Toques de celular no final
02- Fx termina abruptamente / Ruídos de boca
03- Fx termina abruptamente / Ruídos no final
04- Fx termina abruptamente / Ruídos no final
05- Fx termina abruptamente / Vozes no final
06- Fx termina com corte no fade out.
07- Risadas no final
08- Fx termina abruptamente / Apitos no final
09- Fx termina abruptamente / Toca e para 3 vezes / Vozes no final
10- Instrumento no final
11- Fx termina abruptamente / Instrumento no final
12- Fx termina abruptamente
13- barulhos de boca / Estalo em 0:36
14- Fx termina abruptamente / Índios no fim
15- Fx termina abruptamente /
16 – OK
Só uma faixa ele achou aceitável, a última, que recebeu ok.
A graça e a alegria vêm de onde não se espera.
Abraço,
Tom Zé
Mauro, digo, sem medo de errar, que esse é seu melhor texto! Ou talvez esse seja o melhor disco do Tom que te inspirou a criá-lo, não sei... mas Tom Zé merece isso e muito mais! Ele é sim o verdadeiro (e único) tropicalista de raiz que segue o "movimento" movimentando a tudo e todos! Viva Tom Zé.
ResponderExcluirEsse texto que postei do Tom Zé foi retirado de seu blog oficial.
ResponderExcluirEstou escutando pela terceira vez o disco e achei um dos mais filosóficos e complexos de sua carreira. Não fosse música, seria um livro extremamente rico. É um disco denso, porém alegre, com sonoridade bem pop. Outra coisa que adorei foi a que o técnico achou estranho: a costura das músicas (muitas vezes "interrompidas") com efeitos. É Tom Zé mostrando que está cada vez mais produtivo e criativo, sempre mantendo uma regularidade em seu trabalho.
ResponderExcluirEstou escutando pela terceira vez o disco e achei um dos mais filosóficos e complexos de sua carreira. Não fosse música, seria um livro extremamente rico. É um disco denso, porém alegre, com sonoridade bem pop. Outra coisa que adorei foi a que o técnico achou estranho: a costura das músicas (muitas vezes "interrompidas") com efeitos. É Tom Zé mostrando que está cada vez mais produtivo e criativo, sempre mantendo uma regularidade em seu trabalho.
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