domingo, 16 de setembro de 2012

Djavan repisa as esquinas por que passou na (boa) safra de 'Rua dos amores'

Resenha de CD
Título: Rua dos amores
Artista: Djavan
Gravadora: Luanda Records / Universal Music
Cotação: * * * 1/2

 Todas as esquinas por que Djavan passa desde os anos 70 - década em que o Brasil conheceu a voz, o violão e a música do cantor e compositor alagoano - convergem nas 13 faixas de Rua dos amores, 21º álbum do artista para o mercado brasileiro, posto nas lojas neste mês de setembro de 2012 em edição da Luanda Records distribuída pela Universal Music. Mesmo que incorpore sutis novidades à obra do artista, como o formato de Ares sutis, o segundo tema do já vasto cancioneiro de Djavan escrito sob ótica feminina (o primeiro foi Tenha calma, composto em 1989 para Maria Bethânia), Rua dos amores reforça uma das assinaturas autorais mais pessoais e intransferíveis da música brasileira. Por mais que os caminhos melódicos trilhados pelo compositor em temas como Quinze anos sejam menos convidativos, o disco reposiciona Djavan em sua rota habitual com esmero após atípico projeto de intérprete, Ária (2010), de contornos heterodoxos. Inteiramente produzido e arranjado pelo artista, Rua dos amores apresenta 13 músicas feitas solitariamente pelo compositor. Somente uma não é inédita. Trata-se de Vive, composta em 2011 para Maria Bethânia e rebobinada pelo autor em registro nem tão distinto assim da abordagem da cantora, já que Djavan orquestrou com seu violão a gravação da intérprete. De toque singular, esse violão conduz a supra-citada Ares sutis e harmoniza Pode esquecer, faixa que destoa do painel romântico das letras de Rua do amores por ter versos que tomam o partido do otimismo ao imaginar para o Brasil um futuro político pautado pela ética. Ritmo dominante no álbum inaugural do artista (A voz, o violão, a música de Djavan, Som Livre, 1976), o samba é apresentado sob duas faces em Rua dos amores. Se Acerto de contas é o samba mais popular, à moda das incursões do compositor pelo gênero nos anos 70, Reverberou mostra que a revolução estética da Bossa Nova também ecoa na obra autoral de Djavan. Com maior ou menor inspiração, o artista reitera cânones dessa obra ao djavanear o jazz das Alagoas em Quase perdida, ao arquitetar a batida funkeada de Pecado - música que se conecta à produção mais pop do autor, apresentada ao longo dos anos 1980 e retomada no álbum Bicho solto - O XIII (Sony Music, 1998) - e ao turbinar temas como Já não somos dois e Triste é o cara com o suingue típico de seu cancioneiro. De tristeza realçada pelos sopros de Marcelo Martins e Jessé Sadoc (único músico da banda do disco que toca pela primeira vez com Djavan), a desiludida balada Bangalô destila melancolia em tom bluesy enquanto Anjo de vitrô transita ao fim por passagens jazzísticas. Rua dos amores culmina com o lirismo interiorizado da faixa-título, destino (até certo ponto) novo na coerente caminhada do compositor, sinalizando que - para Djavan - vale a pena repisar as esquinas por que passou e para as quais sempre retorna.

6 comentários:

  1. Todas as esquinas por que Djavan passa desde os anos 70 - década em que o Brasil conheceu a voz, o violão e a música do cantor e compositor alagoano - convergem nas 13 faixas de Rua dos Amores, 21º álbum do artista para o mercado brasileiro, posto nas lojas neste mês de setembro de 2012 em edição da Luanda Records distribuída pela Universal Music. Mesmo que incorpore sutis novidades à obra, como o formato de Ares Sutis, o segundo tema do cancioneiro de Djavan escrito sob ótica feminina (o primeiro foi Tenha Calma, composto em 1989 para Maria Bethânia), Rua dos Amores reforça uma das assinaturas autorais mais pessoais e intransferíveis da música brasileira. Por mais que os caminhos melódicos trilhados pelo compositor em temas como Quinze Anos sejam menos convidativos, o disco reposiciona Djavan em sua rota habitual com esmero após atípico projeto de intérprete, Ária (2010), de contornos heterodoxos. Inteiramente produzido e arranjado pelo artista, Rua dos Amores apresenta 13 músicas feitas solitariamente pelo compositor. Somente uma não é inédita. Trata-se de Vive, composta em 2011 para Maria Bethânia e rebobinada pelo autor em registro nem tão distinto assim da abordagem da cantora, já que Djavan orquestrou com seu violão a gravação da intérprete. De toque singular, esse violão conduz a supra-citada Ares Sutis e harmoniza Pode Esquecer, faixa que destoa do painel romântico das letras de Rua do Amores por ter versos que tomam o partido do otimismo ao imaginar para o Brasil um futuro político pautado pela ética. Ritmo dominante no álbum inaugural do artista (A Voz, o Violão, a Música de Djavan, Som Livre, 1976), o samba é apresentado sob duas faces em Rua dos Amores. Se Acerto de Contas é o samba mais popular, à moda das incursões do compositor pelo gênero nos anos 70, Reverberou mostra que a revolução estética da Bossa Nova também ecoa na obra autoral de Djavan. Com maior ou menor inspiração, o artista reitera cânones dessa obra ao djavanear o jazz das Alagoas em Quase Perdida, ao arquitetar a batida funkeada de Pecado - música que se conecta à produção mais pop do autor, apresentada ao longo dos anos 80 e retomada no álbum Bicho Solto - o XIII (Sony Music, 1998) - e ao turbinar temas como Já Não Somos Dois e Triste É o Cara com o suingue típico de seu cancioneiro. De tristeza realçada pelos sopros de Marcelo Martins e Jessé Sadoc (único músico da banda do disco que toca pela primeira vez com Djavan), a desiludida balada Bangalô destila melancolia em tom bluesy enquanto Anjo de Vitrô transita ao fim por passagens jazzísticas. Rua dos Amores culmina com o lirismo interiorizado da faixa-título, destino (até certo ponto) novo na coerente caminhada do compositor, sinalizando que vale a pena repisar as esquinas de Djavan.

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  2. Ainda estou digerindo o álbum, até agora pra mim "Vive" continua sendo a música mais bonita o single "Bangalô" achei fraquinho vou ouvir novamente.

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  3. É impressão minha ou você refez a resenha? Parece que a li antes com 4 estrelas

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  4. Daniel, é impressão sua. A resenha do álbum de Djavan foi postada ontem à noite. Publiquei, uma semana antes, na minha coluna do jornal carioca "O Dia", uma outra resenha, mas sem cotação. Portanto, essas quatro estrelas a que vc se refere não foram dadas por mim. Abs, mauroF

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  5. Ah sim, obrigado pelo esclarecimento. Acho que li foi essa coluna mesmo que vc compartilhou no facebook e acho q na hora pela crítica deduzi q seriam 4 estrelas e fiquei com isso na cabeça rs ;)

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  6. Eu gostei do álbum, e achei "Vive" uma boa versão dele, mas a da Bethânia é infinitamente melhor. Achei que com "Bangalô" ele tentou forçadamente reprisar seus antigos sucessos, dando uma sonoridade que lembra em muitas outras antigas canções suas.

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