Resenha de peça de teatro
Título: Michael e Eu
Texto: Marcelo Pedreira
Direção: Ivan Sugahara
Elenco: Bruno Garcia, Pedro Henrique Monteiro, Nikki Goularyt e Ryan Alves
Cotação: * *
Em cartaz no Teatro do Leblon, no Rio de Janeiro (RJ), de quinta-feira a domingo
Inspirada na idolatria real de Leandro Lapagesse por Michael Jackson (1958 - 2009), a peça Michael e Eu - em cartaz na Sala Marília Pêra, do Teatro do Leblon, no Rio de Janeiro (RJ) - tem formato mutante como o rosto do autoproclamado Rei do Pop. Salpicado de dados biográficos sobre Jackson (expostos em diálogos artificiais de tom quase didático), o texto de Marcelo Pedreira oscila entre o drama, a comédia e o musical (com números de dança feitos a partir de gravações de playback) sem chegar a uma definição e a uma mínima consistência dramatúrgica. De início, a peça parece esboçar um drama psicológico com a reprodução de sessões em que Doc (Bruno Garcia) analisa o fã extremado do cantor, Léo (Pedro Henrique Monteiro), procurando descobrir na psicanálise a razão de uma adoração que chegara às raias da loucura. À medida em que a ação (rarefeita) se desenvolve lentamente, a peça vai adquirindo contorno mais bem-humorado ou mesmo escrachado, sobretudo porque Bruno Garcia - intérprete do psicólogo - é ator de aguçada veia cômica. Há momentos, inclusive, de puro besteirol, quando Doc imita alguns cantores presentes na gravação de We Are The World (Michael Jackson e Lionel Richie, 1985), o single beneficente orquestrado por Jackson para combater a fome na África. Diante de dramaturgia tão rala, o diretor Ivan Sugahara ainda consegue extrair belos efeitos cênicos (sobretudo na cena inverossímil em que analista e analisado vão a uma boate). Mas tais efeitos não conseguem dar alguma coerência à encenação. E o sintoma mais visível dessa falta de rumo é que, à medida em que avança, o espetáculo recorre a material de arquivo do cantor - como um registro audiovisual de I Want You Back (da fase de Michael com o grupo Jackson 5) e o clipe ainda impressionante de Black or White (1991) - para prender a atenção do espectador. Ao fim, a entrada em cena de dois sósias de Michael nas fases infantil e adulta - Ryan Alves (de impressionante semelhança com o Michael criança e de grande vivacidade quando faz seu número de dança) e Nikki Goulart (até que não tão semelhante assim na fase em que a face de Jackson já parecia desfigurada) - reitera a fragilidade do texto e do arremate de Michael e Eu, espetáculo que parece somente querer explorar o fascínio que o Rei do Pop ainda exerce postumamente sobre os seus súditos.
Tomara que este espetáculo venha o quanto antes para BH. Estou curioso para ver o resultado disso.
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