quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Força da obra autoral de Camelo é nítida em show de voz, violão e rabeca

Resenha de show
Título: Voz e Violão
Artista: Marcelo Camelo (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Teatro Oi Casa Grande (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 12 de setembro de 2012
Cotação: * * * * 1/2
Agenda da turnê nacional do show Voz e Violão
14 de setembro de 2012 - Teatro Riachuelo - Natal (RN)
15 de setembro de 2012 - Teatro da UFPE - Recife (PE)

Em turnê pelas principais capitais do Brasil, o show Voz & Violão reforça a assinatura da obra autoral de Marcelo Camelo. Sem o peso dos arranjos roqueiros das apresentações do grupo Los Hermanos, o cancioneiro de Camelo - desde sempre o mais inspirado compositor do quarteto carioca - se sustenta bem no desnudado formato voz & violão. No caso, a voz e o violão do próprio Camelo, aos quais é adicionada - em nove dos 21 números do show - a rabeca pilotada por Thomas Rohrer. Por mais que o roteiro tenha caráter retrospectivo, rebobinando músicas cedidas por Camelo a outras vozes (caso do samba Cara Valente, lançado por Maria Rita em 2003) entre sucessos dos Hermanos e temas da discografia solo do artista, a presença da inédita Luzes da Cidade - uma das músicas mais lindas da lavra do compositor - sinaliza a manutenção da inspiração e um futuro luminoso para o compositor. Quase tão bonita quanto Luzes da CidadeDois Em Um não é inédita - tendo sido lançada em disco sem repercussão pela cantora Milena Monteiro - mas surge em cena como boa surpresa do repertório do show, já gravado ao vivo em sua passagem por Porto Alegre (RS) para edição em CD e DVD. Sem o aparato instrumental dos espetáculos dos Los Hermanos e das apresentações da própria carreira solo de Camelo, o repertório do artista faz com que o equilíbrio entre rock e MPB - uma das marcas do som do grupo - penda para o universo da música brasileira. Pra te Acalmar - música do segundo disco solo de Camelo, Toque Dela (2011) - explicita a influência do samba de cepa bossa-novista. Fez-se Mar, mais adiante, confirma que Camelo bebeu muito da fonte dessas águas plácidas A arquitetura melódica de Casa Pré-Fabricada é tão sólida que a música ainda se impõe nos shows.  Samba a Dois (com o coro do público) e Doce Solidão (ideal para ser ambientada no clima íntimo do show) reiteram a fina sintonia entre público e artista. Pois É marca a entrada em cena de Thomas Rohner, cuja rabeca faz Dois Barcos emergir no toque vibrante do instrumento que, nesse número, evoca a sonoridade de um bandolim. Já Tudo Que Você Quiser aparece banhada em estranhezas oriundas dessa mesma rabeca - dissonâncias originalmente criadas a partir do manuseio de uma batedeira (esquecida pelo músico na estreia carioca do show). Única estranha no ninho autoral do roteiro, Porta de Cinema é da lavra bem antiga do avô do artista, Luís Souza. O uso na letra de termos como "quindim" e "formosa" indica que o samba sincopado - já gravado em disco por Camelo em dueto com Bebeto Castilho - vem de outro tempo e lugar. Em contrapartida, a buarquiana A Outra é a prova de que a obra de Camelo já encontrou seu próprio tempo e lugar. No bis, Saudade é expressada através de registro vocal grave, quase soturno. Não, nada do que foi será do que jeito que já foi um dia - como diz a letra do bolero havaiano. Ao ser encerrado com a reprise da bela Luzes da Cidade, o show Voz & Violão dribla seu caráter revisionista com sua leitura viva - e nada óbvia, ao contrário do que sugere seu formato acústico (já um tanto desgastado por artistas menos criteriosos...) - do cancioneiro autoral de Marcelo Camelo.

3 comentários:

  1. Em turnê pelas principais capitais do Brasil, o show Voz & Violão reforça a assinatura da obra autoral de Marcelo Camelo. Sem o peso dos arranjos roqueiros das apresentações do grupo Los Hermanos, o cancioneiro de Camelo - desde sempre o mais inspirado compositor do quarteto carioca - se sustenta bem no desnudado formato voz & violão. No caso, a voz e o violão do próprio Camelo, aos quais é adicionada - em nove dos 21 números do show - a rabeca pilotada por Thomas Rohrer. Por mais que o roteiro tenha caráter retrospectivo, rebobinando músicas cedidas por Camelo a outras vozes (caso do samba Cara Valente, lançado por Maria Rita em 2003) entre sucessos dos Hermanos e temas da discografia solo do artista, a presença da inédita Luzes da Cidade - uma das músicas mais lindas da lavra do compositor - sinaliza a manutenção da inspiração e um futuro luminoso para o compositor. Quase tão bonita quanto Luzes da Cidade, Dois Em Um não é inédita - tendo sido lançada em disco sem repercussão pela cantora Milena Monteiro - mas surge em cena como boa surpresa do repertório do show, já gravado ao vivo em sua passagem por Porto Alegre (RS) para edição em CD e DVD. Sem o aparato instrumental dos espetáculos dos Los Hermanos e das apresentações da própria carreira solo de Camelo, o repertório do artista faz com que o equilíbrio entre rock e MPB - uma das marcas do som do grupo - penda para o universo da música brasileira. Pra te Acalmar - música do segundo disco solo de Camelo, Toque Dela (2011) - explicita a influência do samba de cepa bossa-novista. Fez-se Mar, mais adiante, confirma que Camelo bebeu muito da fonte dessas águas plácidas A arquitetura melódica de Casa Pré-Fabricada é tão sólida que a música ainda se impõe nos shows. Samba a Dois (com o coro do público) e Doce Solidão (ideal para ser ambientada no clima íntimo do show) reiteram a fina sintonia entre público e artista. Pois É marca a entrada em cena de Thomas Rohner, cuja rabeca faz Dois Barcos emergir no toque vibrante do instrumento que, nesse número, evoca a sonoridade de um bandolim. Já Tudo Que Você Quiser aparece banhada em estranhezas oriundas dessa mesma rabeca - dissonâncias originalmente criadas a partir do manuseio de uma batedeira (esquecida pelo músico na estreia carioca do show). Única estranha no ninho autoral do roteiro, Porta de Cinema é da lavra bem antiga do avô do artista, Luís Souza. O uso na letra de termos como "quindim" e "formosa" indica que o samba sincopado - já gravado em disco por Camelo em dueto com Bebeto Castilho - vem de outro tempo e lugar. Em contrapartida, a buarquiana A Outra é a prova de que a obra de Camelo já encontrou seu próprio tempo e lugar. No bis, Saudade é expressada através de registro vocal grave, quase soturno. Não, nada do que foi será do que jeito que já foi um dia - como diz a letra do bolero havaiano. Ao ser encerrado com a reprise da bela Luzes da Cidade, o show Voz & Violão dribla seu caráter revisionista com sua leitura viva - e nada óbvia, ao contrário do que sugere seu formato acústico (já um tanto desgastado por artistas menos criteriosos...) - do cancioneiro autoral de Marcelo Camelo.

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  2. Acho o Camelo bem melhor que, como cantor e compositor, que o Amarante.
    Mas dia 15 tem a tetéia da Céu junto com o sempre combativo Mundo Livre S/A aqui em Recife.
    Juntinhos, como diria Tim Maia.
    Imperdível. :-)

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  3. Acho o Camelo talentoso como o Amarante também é. Desnecessária esta comparação como se para os fãs da banda e dos artistas fosse necessário estabelecer uma hierarquia Emilinha e Marlene.Acho que os dois estão felizes com suas escolhas na carreira.
    Na minha opinião o segundo do Camelo é mais palatável e espero do Amarante uma presença maior no Brasil. Um abraço.

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