Resenha de show
Título: Simone Mazzer
Artista: Simone Mazzer (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Café Pequeno (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 6 de setembro de 2012
Cotação: * * * * 1/2
Show em cartaz no Teatro Café Pequeno, no Rio de Janeiro, até 13 de setembro de 2012
"Sou um móbile solto no furacão / Qualquer calmaria me dá... solidão", autodefine-se Simone Mazzer através de verso de Um Móbile no Furacão (Paulinho Moska, 1999), música que abre o show que a cantora e atriz nascida em Londrina (PR), mas já radicada no Rio de Janeiro (RJ) há 14 anos, vem apresentando às quintas-feiras no carioca Teatro Café Pequeno. Por conta da teatralidade exercitada nas encenações da Cia. Armazém de Teatro, Mazzer se porta em cena como um furacão que arrasta para si todas as atenções da plateia ao longo das 18 músicas que formam seu roteiro de espírito indie. Longe da calmaria que pauta as interpretações das cantoras de tom cool, dominantes na atual cena nativa, Mazzer é intérprete quente, enérgica. Aliada à presença cênica e à voz grave da artista, a personalidade que norteia as escolhas e as abordagens de repertório que vai de Björk a Sting - passando por Assis Valente (1911 - 1958), Itamar Assumpção (1949 - 2003) e Rita Lee - configura show impactante e faz Mazzer se impor e fazer diferença no país das cantoras com seu canto bravo. Mérito a ser dividido com o trio formado por André Bedurê (contrabaixo), Eduardo Rorato (bateria) e Marco Antonio Scolari (piano). Geralmente nervosos, os arranjos arrojados reforçam a assinatura pessoal e intransferível da cantora na interpretação de temas como Hyper Ballad (Björk, Nellee Hooper e Marius De Vries, 1995). Tal assinatura possibilita a Mazzer cair agitada num dos melhores sambas da lavra de Jair Oliveira, Tiro Onda (Pra Onda Não me Tirar) (2006), e minutos depois imprimir suingue jazzy em Moon Over Bourbon Street (Sting) - música do primeiro álbum solo do vocalista do ora desativado trio inglês The Police, The Dream of the Blue Turtles (1985) - sem sair do tom indie do show, sem perda de sua unidade estilística. A teatralidade das interpretações da cantora atinge ponto culminante em Parece Que Bebe (Itamar Assumpção), destaque de bloco que agrega músicas de compositores que nasceram e/ou viveram em Londrina, cidade natal da artista. É quando entram Mente, Mente (Robinson Borba, 1986) - música que está abrindo os trabalhos promocionais do disco que a cantora vai gravar em estúdio para o selo Pimba, sob direção artística de Leonel Pereda e Ronaldo Bastos - e Férias em Videotape, parceria de Mazzer com Silvio Ribeiro e Elton Mello, composta há cerca de 20 anos (Mazzer iniciou sua carreira de cantora em 1989, tendo feito parte da banda Chaminé Batom). Mesmo que esse bloco londrino comporte algumas músicas menos inspiradas (no confronto com as pérolas pescadas em baús alheios para o roteiro), ele reitera a forte personalidade da intérprete de temas como a bluesy Estrela Blue (Maurício Arruda Mendonça), Dei Um Beijo na Boca do Medo (Bernardo Pellegrini) e Essa Mulher (Bernardo Pellegrini). Fora do território paranaense, Mazzer ambienta Noites (Andreia Dias, 2010) em clima de cabaré e dilui a ginga do samba Camisa Listrada (Assis Valente, 1937) para realçar o drama da mulher que vê seu querido sair por aí, livre e solto, no Carnaval. Na sequência, uma interpretação mais convencional de Black Is Beautiful (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1971) sinaliza que o canto de Mazzer é grandioso mesmo quando abdica da natural teatralidade da intérprete. Que arremata o show em clima dançante com sucesso recente do grupo norte-americano Gossip, Heavy Cross (Beth Ditto, Brace Paine e Hannah Billie, 2009), e com um dos mais sedutores rocks da fase de Rita Lee com o Tutti & Frutti, Dançar Para Não Dançar (Rita Lee, 1975), turbinado com sagaz citação de Love Will Keep Us Together (Neil Sedaka e Howard Greenfield, 1973), sucesso mundial em 1975 - o mesmo ano do rock de Rita - na gravação do efêmero duo norte-americano The Captain & Tennille. No fim, antes do bis com Back to Black (Amy Winehouse e Mark Ronson, 2006) e Babalu (Margarita Lecuona, 1939), abordagem de tema do repertório de Janis Joplin (1943 - 1970), Try (Just a Little Bit Harder) (Jerry Ragovoy e Chip Taylor, 1969), não deixa dúvidas sobre a força do canto quente e teatral de Mazzer. A intérprete merece obter como cantora a projeção e o reconhecimento alcançados como atriz.
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ResponderExcluirFora do território paranaense, Mazzer ambienta Noites (Andreia Dias, 2010) em clima de cabaré e dilui a ginga do samba Camisa Listrada (Assis Valente, 1937) para realçar o drama da mulher que vê seu querido sair por aí, livre e solto, no Carnaval. Na sequência, uma interpretação mais convencional de Black Is Beautiful (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1971) sinaliza que o canto de Mazzer é grandioso mesmo quando abdica da natural teatralidade da intérprete. Que arremata o show em clima dançante com sucesso recente do grupo norte-americano Gossip, Heavy Cross (Beth Ditto, Brace Paine e Hannah Billie, 2009), e com um dos mais sedutores rocks da fase de Rita Lee com o Tutti & Frutti, Dançar Para Não Dançar (Rita Lee, 1975), turbinado com sagaz citação de Love Will Keep Us Together (Neil Sedaka e Howard Greenfield, 1973), sucesso mundial em 1975 - o mesmo ano do rock de Rita - na gravação do efêmero duo norte-americano The Captain & Tennille. No fim, antes do bis com Back to Black (Amy Winehouse e Mark Ronson, 2006) e Babalu (Margarita Lecuona, 1939), abordagem de tema do repertório de Janis Joplin (1943 - 1970), Try (Just a Little Bit Harder) (Jerry Ragovoy e Chip Taylor, 1969), não deixa dúvidas sobre a força do canto quente e teatral de Mazzer. A intérprete merece obter como cantora a projeção e o reconhecimento alcançados como atriz.
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