Mauro Ferreira no G1

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domingo, 2 de setembro de 2012

Milton renova canções e momentos ao rever 50 anos entre o jazz e o rock

Resenha de show
Título: Milton Nascimento - 50 Anos de Carreira
Artista: Milton Nascimento (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Castro Alves (Salvador, BA)
Data: 1º de setembro de 2012
Cotação: * * * * 
Agenda da turnê do show Milton Nascimento - 50 Anos:
08 de setembro de 2012 - Três Pontas (MG)
15 de setembro de 2012 - Teatro do Sesi - Porto Alegre (RS)
6 de outubro de 2012 - Vivo Rio - Rio de Janeiro (RJ)

Milton Nascimento já está com o pé na estrada há cinco décadas e ainda é capaz de mostrar em cena, no show comemorativo de seus 50 anos de carreira, que nada pode ser como antes. "Vamos fazer o que a gente sabe fazer", avisou o cantor ao público que lotou o Teatro Castro Alves, em Salvador (BA), na noite de 1º de setembro de 2012 para ver o show Milton Nascimento - 50 Anos de Carreira. Um dos mais inventivos compositores do mundo, dono de obra que abre caminhos na música brasileira, Milton consegue renovar canções e momentos ao condensar esses 50 anos nas 23 músicas de roteiro que não evita os hits, mas não se deixa dominar por eles. Sob a direção de Régis Faria, parceiro de Milton na doída canção de amor Sofro Calado (1993), surpresa do repertório, o cantor revê sua trajetória entre o jazz, o pop e o rock na turnê nacional patrocinada pelo projeto Natura Musical. Música que abre o show, Cais (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1972) já atraca ao fim no porto jazzístico - com Milton pilotando os teclados - e dá o tom da primeira metade do espetáculo. Sem o toque regional dos tambores de Minas Gerais, a entrosada banda reabre as janelas da obra de Milton para o mundo em temas como Vera Cruz (Milton Nascimento e Márcio Borges, 1969), buscando um norte nos campos jazzísticos. Ainda procurando dar ar novo a músicas que, como os sonhos, se recusam a envelhecer, o cantor retrabalha Canção do Sal (Milton Nascimento, 1966) em tom recitativo. Na sequência, a entrada em cena de Lô Borges - convidado de todas as oito apresentações oficiais do show - reforça o laço gregário que pauta a obra de Milton. Lô está longe de ser um intérprete imponente, mas a força do cancioneiro do Clube da Esquina - o álbum duplo de 1972 que está sendo festejado pelos 40 anos de vida - se impõe sobre o intérprete, que sola Nuvem Cigana (Lô Borges e Ronaldo Bastos, 1972) após dividir Clube da Esquina nº 2 (Lô Borges e Milton Nascimento, 1972) nesta sua primeira entrada no show. Na sequência, já sem Lô, Milton reverencia sua falecida mãe adotiva, Lília Silva Campos, em tema vocalizado, Lília (Milton Nascimento, 1972), que soa como puro jazz. A explosão de musicalidade da banda reverbera sem eco na plateia ora fria. Um dos lados B do roteiro, Lágrima do Sul (Milton Nascimento e Marco Antônio Guimarães, 1985) tampouco comove o público ávido de hits. E eles, os sucessos, não tardam. Morro Velho (Milton Nascimento, 1967) reitera seu status de seminal obra-prima, uma das muitas que Milton iria compor ao longo de seu caminhar pela estrada já cinquentenária. A alteração na luz - do verde para um tom ocre - reflete a própria mudança narrada por Milton nos versos de letra que expõe as transformações nas relações humanas e sociais entre o filho do senhor e seu velho camarada. Na sequência, Nos Bailes da Vida (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1981) ganha o coro da plateia, pedido por Milton em cena. A participação de Carlinhos Brown - o convidado local de Milton na passagem da turnê pela Bahia - afia Fé Cega, Faca Amolada (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1974) e incrementa a pegada de Raça (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1976) no toque do berimbau, além de imprimir outro som, cor e suor em Maria Maria (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1976), renovada com alterações de tons e improvisos. Na sequência, já sem Brown mas com Lô Borges de volta à cena, o show preserva a alta temperatura, entrando no clima do pop rock, mote de números como Nada Será Como Antes (Milton Nascimento e Lô Borges, 1972), Para Lennon & McCartney (Márcio Borges, Lô Borges e Fernando Brant, 1970) - tema aditivado com suingue funky - e Um Girassol da Cor de seu Cabelo (Márcio Borges e Lô Borges, 1972). São lembranças de lendária esquina mineira que, dependendo da rota traçada pelos sócios do Clube, podia desembocar em qualquer rua de Liverpool ou da Londres dos anos 60. No fim, Canções e Momentos (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1986) arremata o show em fecho pautado por emoção preservada no bis, quando Milton pede que a plateia cante sozinha a fraterna Canção da América (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1979) em tributo aos seus "não sei quantos anos de não sei o que", como disse o cantor, de forma espirituosa, em alusão aos seus 50 anos de carreira e 70 de vida (a serem completados em 26 de outubro). Então Travessia (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1967) põe o ponto final no roteiro, com Milton elevando o tom no verso "meu caminho é de pedra" - resquício do vigor vocal dos áureos tempos - como quem sublinha a solidez da obra construída nesses 50 anos e também os obstáculos vencidos na longa estrada.

6 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Milton Nascimento já está com o pé na estrada há cinco décadas e ainda é capaz de mostrar em cena, no show comemorativo de seus 50 anos de carreira, que nada pode ser como antes. "Vamos fazer o que a gente sabe fazer", avisou o cantor ao público que lotou o Teatro Castro Alves, em Salvador (BA), na noite de 1º de setembro de 2012 para ver o show Milton Nascimento - 50 Anos de Carreira. Um dos mais inventivos compositores do mundo, dono de obra que abre caminhos na música brasileira, Milton consegue renovar canções e momentos ao condensar esses 50 anos nas 23 músicas de roteiro que não evita os hits, mas não se deixa dominar por eles. Sob a direção de Régis Faria, parceiro de Milton na doída canção de amor Sofro Calado (1993), surpresa do repertório, o cantor revê sua trajetória entre o jazz, o pop e o rock na turnê nacional patrocinada pelo projeto Natura Musical. Música que abre o show, Cais (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1972) já atraca ao fim no porto jazzístico - com Milton pilotando os teclados - e dá o tom da primeira metade do espetáculo. Sem o toque regional dos tambores de Minas Gerais, a entrosada banda reabre as janelas da obra de Milton para o mundo em temas como Vera Cruz (Milton Nascimento e Márcio Borges, 1969), buscando um norte nos campos jazzísticos. Ainda procurando dar ar novo a músicas que, como os sonhos, se recusam a envelhecer, o cantor retrabalha Canção do Sal (Milton Nascimento, 1966) em tom recitativo. Na sequência, a entrada em cena de Lô Borges - convidado de todas as oito apresentações oficiais do show - reforça o laço gregário que pauta a obra de Milton. Lô está longe de ser um intérprete imponente, mas a força do cancioneiro do Clube da Esquina - o álbum duplo de 1972 que está sendo festejado pelos 40 anos de vida - se impõe sobre o intérprete, que sola Nuvem Cigana (Lô Borges e Ronaldo Bastos, 1972) após dividir Clube da Esquina nº 2 (Lô Borges e Milton Nascimento, 1972) nesta sua primeira entrada no show. Na sequência, já sem Lô, Milton reverencia sua falecida mãe adotiva, Lília Silva Campos, em tema vocalizado, Lília (Milton Nascimento, 1972), que soa como puro jazz. A explosão de musicalidade da banda reverbera sem eco na plateia ora fria. Um dos lados B do roteiro, Lágrima do Sul (Milton Nascimento e Marco Antônio Guimarães, 1985) tampouco comove o público ávido de hits. E eles, os sucessos, não tardam. Morro Velho (Milton Nascimento, 1967) reitera seu status de seminal obra-prima, uma das muitas que Milton iria compor ao longo de seu caminhar pela estrada já cinquentenária. A alteração na luz - do verde para um tom ocre - reflete a própria mudança narrada por Milton nos versos de letra que expõe as transformações nas relações humanas e sociais entre o filho do senhor e seu velho camarada. Na sequência, Nos Bailes da Vida (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1981) ganha o coro da plateia, pedido por Milton em cena.

Mauro Ferreira disse...

A participação de Carlinhos Brown - o convidado local de Milton na passagem da turnê pela Bahia - afia Fé Cega, Faca Amolada (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1974) e incrementa a pegada de Raça (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1976) no toque do berimbau, além de imprimir outro som, cor e suor em Maria Maria (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1976), renovada com alterações de tons e improvisos. Na sequência, já sem Brown mas com Lô Borges de volta à cena, o show preserva a alta temperatura, entrando no clima do pop rock, mote de números como Nada Será Como Antes (Milton Nascimento e Lô Borges, 1972), Para Lennon & McCartney (Márcio Borges, Lô Borges e Fernando Brant, 1970) - tema aditivado com suingue funky - e Um Girassol da Cor de seu Cabelo (Márcio Borges e Lô Borges, 1972). São lembranças de lendária esquina mineira que, dependendo da rota traçada pelos sócios do Clube, podia desembocar em qualquer rua de Liverpool ou da Londres dos anos 60. No fim, Canções e Momentos (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1986) arremata o show em fecho pautado por emoção preservada no bis, quando Milton pede que a plateia cante sozinha a fraterna Canção da América (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1979) em tributo aos seus "não sei quantos anos de não sei o que", como disse o cantor, de forma espirituosa, em alusão aos seus 50 anos de carreira e 70 de vida (a serem completados em 26 de outubro). Então Travessia (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1967) põe o ponto final no roteiro, com Milton elevando o tom no verso "meu caminho é de pedra" - resquício do vigor vocal dos áureos tempos - como quem sublinha a solidez da obra construída nesses 50 anos e também os obstáculos vencidos na longa estrada.

Vinny disse...

Um bonito show, porém, com momentos monótonos na primeira parte do show.

Luca disse...

Vinny, não vi esse show quando ele teve aqui em Sampa, só acho que se a primeira parte é mesmo jazz como diz a resenha do Mauro, a monotonia deve ser do público que não entende o jazz, não do Milton e dos músicos

Anônimo disse...

Muito fã do Milton, mas, verdade seja dita, sua fonte secou há algum tempo.
Falo em termos de criação.

B disse...

Estive nesse show e achei lindo. O cenário, a iluminação, o repertório. Fiquei triste somente com o público. Em vários momentos ele pedia um tantinho mais de animação, pedia para cantar junto.Mas o público estava mesmo "ávido de hits", como você bem escreveu. Milton só provou que continua com a voz poderosa de sempre, apesar de estar visivelmente debilitado. Milton continua fera em suas interpretações e nas releituras de suas próprias composições. A participação de Brown merece destaque também. Dois mestres!
inté,