Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

'Tropicália' desfolha a bandeira mais por imagens do que pelas palavras

Resenha de documentário musical
Título: Tropicália
Direção: Marcelo Machado
Roteiro: Di Moretti e Marcelo Machado
Trilha sonora: Kassin
Cotação: * * * *
Filme em exibição nos cinemas do Brasil

Em cartaz nos cinemas do Brasil desde 14 de setembro de 2012, Tropicália não é um documentário tão  elucidativo como o filme que recontou a controvertida história de Wilson Simonal (1938 - 2000), para citar somente um exemplo feliz dentre a safra de documentários que vem investigando, nos últimos anos,  fatos e nomes relevantes da música brasileira. Por fugir dos moldes convencionais do gênero e do didatismo histórico, o filme de Marcelo Machado impressiona mais pelo apuro estético com que expõe na tela imagens raras como a apresentação dos líderes tropicalistas no Festival da Ilha de Wight (na Inglaterra de 1970) e como o casamento hippie de Caetano com Dedé Gadelha em Salvador (BA). Ao aliar essa estética arrojada à trilha sonora de Kassin e ao rico acervo de imagens (estáticas ou em movimento) depuradas para o filme, Tropicália documenta o movimento com um espírito libertário condizente com a revolução musical arquitetada por Caetano Veloso e Gilberto Gil com o auxílio (nem sempre corretamente dimensionado) do artista plástico e músico Rogério Duarte e do empresário Guilherme Araújo (1937 - 2007). Aliás, ao expor a dicotomia entre Duarte e Araújo (este mais interessado em capitalizar em cima da Arte defendida por Duarte, peça-chave na construção do movimento), Tropicália dá sua mais expressiva contribuição para o entendimento dos códigos que regeram o movimento que quebrou barreiras, irmanando o lixo e o luxo da música brasileira. São também elucidativos os depoimentos que trazem à tona os ressentimentos dos poetas José Carlos Capinam e Torquato Neto (1944 - 1972) por terem sido relegados a um segundo plano naquela geléia geral. Em contrapartida, o filme omite o esforço de Gal Costa para manter acesa a chama tropicalista após a partida de Caetano e Gil para o forçado exílio em Londres. O filme abre, aliás, com rara imagem dos dois cantores já no exílio, se apresentando em programa da TV portuguesa, em 4 de agosto de 1969. Ao ser questionado sobre a Tropicália, Caetano enfatiza que o movimento já tinha morrido àquela altura. A partir daí, o filme procura investigar a construção daquela estética que, na opinião do hoje recluso Rogério Duarte, foi a "síntese de ideias contraditórias" enquanto, para Gil, a Tropicália se ergueu em "território idealizado". O diretor acerta ao mostrar somente no fim do filme os rostos envelhecidos dos entrevistados. Antes, suas vozes são ouvidas em off, como se estivessem explicando as imagens que jorram na tela. Dentro desse estilo, é especialmente emocionante a sequência em que o filme mostra o enterro do estudante Edson Luís de Lima Souto (1950 - 1968), o universitário assassinado pelo regime militar em 14 de março daquele ano que ainda não terminou, ao som de Coração Materno - sucesso do cantor Vicente Celestino (1894 - 1968) - na voz de Caetano Veloso. Se Tom Zé teoriza o movimento em depoimento que deixa entrever sua salutar inquietude, Gil - figura obviamente recorrente no filme - ressalta a importância de Jorge Ben Jor, "Tropicalista fundamental". Ilustrando significativamente o fim do ciclo artístico de seus protagonistas, o documentário mostra Caetano Veloso ruminando Asa Branca (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) em programa da TV francesa e, no fecho propriamente dito do filme, rebobina imagens da Bahia de 1972 ao som de Back in Bahia (Gilberto Gil). Sim, Tropicália caminha contra os padrões dos documentários musicais e, por minimizar alguns fatos e personagens, desfolha a bandeira da geléia geral brasileira mais pelas imagens valiosas do que pelas palavras. 

23 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Em cartaz nos cinemas do Brasil desde 14 de setembro de 2012, Tropicália não é um documentário tão elucidativo como o filme que recontou a controvertida história de Wilson Simonal (1938 - 2000), para citar somente um exemplo feliz dentre a safra de documentários que vem investigando, nos últimos anos, fatos e nomes relevantes da música brasileira. Por fugir dos moldes convencionais do gênero e do didatismo, o filme de Marcelo Machado impressiona mais pelo apuro estético com que expõe na tela imagens raras como a apresentação dos líderes tropicalistas no Festival da Ilha de Wright (na Inglaterra de 1970) e como o casamento hippie de Caetano com Dedé Gadelha em Salvador (BA). Ao aliar essa estética arrojada à trilha sonora de Kassin e ao rico acervo de imagens (estáticas ou em movimento) depuradas para o filme, Tropicália documenta o movimento com espírito libertário condizente com a revolução musical arquitetada por Caetano Veloso e Gilberto Gil com o auxílio (nem sempre corretamente dimensionado) do artista plástico e músico Rogério Duarte e do empresário Guilherme Araújo (1937 - 2007). Aliás, ao expor a dicotomia entre Duarte e Araújo (este mais interessado em capitalizar em cima da Arte defendida por Duarte, peça-chave na construção do movimento), Tropicália dá sua mais expressiva contribuição para o entendimento dos códigos que regeram o movimento que quebrou barreiras, irmanando o lixo e o luxo da música brasileira. São também elucidativos os depoimentos que trazem à tona os ressentimentos dos poetas José Carlos Capinam e Torquato Neto (1944 - 1972) por terem sido relegados a um segundo plano naquela geléia geral. Em contrapartida, o filme omite o esforço de Gal Costa para manter acesa a chama tropicalista após a partida de Caetano e Gil para o forçado exílio em Londres. O filme abre, aliás, com rara imagem dos dois cantores já no exílio, se apresentando em programa da TV portuguesa, em 4 de agosto de 1969. Ao ser questionado sobre a Tropicália, Caetano enfatiza que o movimento já tinha morrido àquela altura. A partir daí, o filme procura investigar a construção daquela estética que, na opinião do hoje recluso Rogério Duarte, foi a "síntese de ideias contraditórias" enquanto, para Gil, a Tropicália se ergueu em "território idealizado". O diretor acerta ao mostrar somente no fim do filme os rostos envelhecidos dos entrevistados. Antes, suas vozes são ouvidas em off, como se estivessem explicando as imagens que jorram na tela. Dentro desse estilo, é especialmente emocionante a sequência em que o filme mostra o enterro do estudante Edson Luís de Lima Souto (1950 - 1968), o universitário assassinado pelo regime militar em 14 de março daquele ano que ainda não terminou, ao som de Coração Materno - sucesso do cantor Vicente Celestino (1984 - 1968) - na voz de Caetano Veloso. Se Tom Zé teoriza o movimento em depoimento que deixa entrever sua salutar inquietude, Gil - figura obviamente recorrente no filme - ressalta a importância de Jorge Ben Jor, "Tropicalista fundamental". Ilustrando significativamente o fim do ciclo artístico de seus protagonistas, o documentário mostra Caetano Veloso ruminando Asa Branca (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) em programa da TV francesa e, no fecho propriamente dito do filme, rebobina imagens da Bahia de 1972 ao som de Back in Bahia (Gilberto Gil). Sim, Tropicália caminha contra os padrões dos documentários musicais e, por minimizar alguns fatos e personagens, desfolha a bandeira da geléia geral brasileira mais pelas imagens valiosas do que pelas palavras.

Anônimo disse...

Em entrevista recente Tom Zé diz que Caetano e Gil - o movimento em si - tiraram o Brasil da Idade Média.
Certíssimo!
Porém, por increça que parível - e é triste de ver - ainda há gente que viva nela em pleno 2012.
A Tropicália é, também, um estado de espírito.
Azar de quem não tem.

Felipe dos Santos disse...

Mauro, o festival de 1970 em que Gil e Caetano se apresentaram foi na Ilha de WIGHT, não?

Abs, Felipe dos Santos Souza

Maria disse...

Tropicalista de coração fui assistir ao documentário muito bom! porém, com um cinema quase vazio a idade não perdoa Rita Lee era tão bonita! a parte do Tom Zé, falando foi hilária cara doido rsrsrs.

Mauro Ferreira disse...

Sim, Felipe, grato por mais este toque atento sobre os textos do blog. Abs, MauroF

Márcio disse...

Para mim, o melhor e mais emocionante dos documentários feitos sobre a música brasileira em anos recentes. Gil e Caetano são o foco condutor da história, escolha correta do diretor, até porque contar uma história ainda mais completa do Tropicalismo, com mais depoimentos de mais personagens, resultaria em duração na casa das 3 horas para o filme, o que, convenhamos, seria loucura. Que venha o DVD, com material extra (Gal, Novos Baianos, mais Rogério Duarte, etc.), mas o que vi nas tela grande já permite uma viagem de grande prazer e (re)descoberta.

Rafael disse...

Tomei conhecimento deste documentário no último fim de semana. Ainda não fui vê-lo, mas estou bastante curioso para conferir o resultado final dele. A Tropicália foi um dos melhores revoluções musicais da música brasileira e até hoje como um dos melhores estilos musicais do mundo. Salve Caetano, Gil, Tom Zé, Mutantes e cia!!!

Musico Misterioso disse...

Oi! Fiquei ainda mais curioso pra ver esse filme.

Mauro, só uma correção: o ano do nascimento de Vicente Celestino é 1894. ;)

Mauro Ferreira disse...

Grato pelo toque do erro de digitação, Músico Misterioso. abs

Anônimo disse...

Documentário não agaria muito público, Maria.
Mas um da Tropicália e na Bahia o cinema devia estar senão cheio, quase.

PS: Nunca soube que Caetano e Gil tinham se apresentado no festival da ilha de Wight. Sempre soube que o Gil tinha ido lá e visto o Hendrix.
Enfim.

KL disse...

Os ditos tropicalistas foram, na verdade, dissidentes da bossa nova que resolveram 'chutar o pau da barraca'. Ao decretarem, arrogantemente, o 'fim' da bossa, cometeram ao mesmo tempo um equívoco e uma injustiça: continuaram a valer-se da estética bossanovista, seja na letra (influenciada diretamente pela revolução chamada Vinicius de Moraes e Ronaldo Boscoli, por exemplo) ou na melodia, influenciada por Tom Jobim etc. No discurso, a onda era ser adepto de Jimmi Rendrix, Janis Joplin, Beatles e Rolling Stones. Mas, na prática, isso não se concretizou, tanto que hoje, volta e meia, recorrem ao esquema voz e violão, formato eminentemente bossanovista. Porque roqueiro que se preze vai mesmo é de guitarra. Ou não?

ADEMAR AMANCIO disse...

Mesmo quem fala que não foi influenciado pela tropicália(tipo Lenine)na verdade foi,mesmo que seja indiretamente,ou por osmose sei lá.

Anônimo disse...

Cara eu quero assistir muito, pena que não chegou aqui ainda na meu município. Documentário só faria sucesso se fosse do BOPE.

Maria disse...

Zé Henrique pois é, também acho! por isso que fiz essa observação.

Marcello disse...

Na minha visão Tropicalia, o filme, é um embuste estetico e etico, que tem como objetivo claro, por ma fé, visão de mercado , bairrismo ou tudo junto, criar uma cama teorica falsa e absurda onde os Mutantes seriam a terceira força criativa primordial do movimento com relevancia e simetria identicas ao de Caetano e Gil e Rita Lee a musa do movimento.
Para tal, o filme malipula imagens e fatos e eclipsa a participação e importancia de Gal Costa no movimento e na crucial batalha travada pela cantora para manter acesa a chama radical do movimento e a memoria afetiva e musical de Caetano e Gil durante o exilio.
O filme tem seu pior momento quando atraves da edição manipula as raras imagens de Caetano, Gil e Gal no palco do festival da ilha de wight e as intercala com entrevistas dos irmãos batista, levando o espectador a acreditar que os mutantes também estavam no palco do festival o que nao é verdade. O diretor parece escolher de proposito as tomadas do palco que focalizam um grupo de amigos dos baianos vestidos de tubos vermelhos e na qual sobressai uma menina em tudo parecida com Rita Lee, com o intuito de passar a impressao que os mutantes tocavam na ilha inglesa. As imagens de Gal cantando ao lado de Gil e depois sentada atras dele tocando instrumentos percussivos foram obviamente descartadas.

Luca disse...

Tropicalismo foram Gil e Caetano, os outros apenas ficaram do lado deles

Anônimo disse...

Olha o KL aí, gente.
Rapaz, tinham me dito que vc tinha feito um teletransporte para o começo dos anos oitenta com o intuito de sequestrar o Evandro Mesquita antes dele colocar voz na música Você não Soube me Amar.
Vejo que foi informação falsa.
Mas, cara, se for fazer um teletransporte mesmo no futuro, vá para Idade Média. Acho que vc ficaria mais, digamos, ancho, por lá.

PS: Cuidado com a mosquinha. Não a da sopa, e sim a da cabine de teletransporte. :-)

Ahh, roqueiro que se preze vai de qualquer instrumento.
Ensinamento da Tropicália, aprenda.
Até porque, por exemplo, a Banda de Pífanos de Caruaru é muito mais "rock'n'roll" que um Charlie Brown Jr da vida.
Vc realmente Não Entende Nada.

Abraço.

Gill Sampaio Ominirò disse...

KL, na boa. Você não entendeu nada!!!

Márcio disse...

Menos, Marcello. Não há embuste algum no filme. As informações que estão ali já estavam, de algum modo, em "Verdade Tropical", "Tropicália: a história de uma revolução musical" e outros livros. Discordo totalmente que os Mutantes tenham sido sobrevalorizados em detrimento de Gal. A viagem do trio paulista era outra, e dona Maria das Graças certamente já sabia que tinha capacidade de ser estrela com ou sem a influência do Tropicalismo - você duvida? Quanto à escolha das imagens e à montagem utilizada, são uma prerrogativa do diretor. Mas a interpretação que você lhes deu certamente difere da minha e da de muitos que conheço que viram o documentário. Saudações.

Anônimo disse...

algumas pessoas sentam pra tocar violão porque é mais fácil, outros pra fazer charme, não quer dizer que seja influencia da Bossa...tocar guitarra sentado também é legal.

PS: Nossa esse filme não chega logo aqui.

KL disse...

o tolo convencido sempre acha que é sábio, mas apenas repete conceitos alheios, muitas vezes incoerentes, bate palmas para os irmãos de crença, não forma opinião e - pior - não consegue ficar quietinho em sua insignificância, buscando tentar aparecer de qualquer maneira, quase sempre debatendo sobre assuntos que não domina. Para isso, expõe-se sem medo de parecer ridículo, mas (é claro) a opinião dos outros sempre o incomoda. Porque o tolo convencido acredita que todos lhe são inferiores e devem pensar igual. Poderia apenas restringir-se ao seu próprio comentário trivial, mas não. Porque todo bobo da corte que se preze quer a gargalhada do rei. Tsc, tsc, Edith Veiga suplica, encarecidamente: "Faz-me rir, faz-me rir..."

Anônimo disse...

Kl, não sou tolo, nem sábio e, vá lá, sou um pouquinho convencido.
Agora, convencido mesmo eu sou é que vc não entende nada de nada.
Perspicácia zero.
Seria um caso até pra estudo, mas claro que não perderei mais tempo com vc.
Até porque gosto de gente corajosa, como os Tropicalistas, e não aqueles que esperam o post caducar pra responder.
Artifício de gente frouxa.

PS: Foi mal, Mauro. Não se repetirá.

KL disse...

E, quanto mais o tolo convencido fala, mas ele se complica.

[Mauro, quero ler sua resenha sobre o box Wanderlea 70´s, já escreveu/publicou? Abç!]