Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Caixa com álbuns de Chico flagra o artista em total sintonia com o Brasil

Resenha de caixa de CDs
Título: De Todas as Maneiras
Artista: Chico Buarque
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * * 1/2

Produzida e posta nas lojas pela Universal Music neste ano de 2012, a caixa De Todas as Maneiras embala os mesmos 21 álbuns de Chico Buarque que já haviam sido encaixados em Construção em 2001. Nos onze anos que separam as edições das duas caixas, a gravadora relançou em 2006 - de forma avulsa - 17 destes 21 títulos da fase mais popular e profícua da discografia do cantor e compositor. Ou seja, o teor de novidade da caixa De Todas as Maneiras é pequeno para quem já possui as reedições anteriores - até porque os discos foram encaixotados com a mesma eficiente remasterização e o mesmo apuro gráfico da coleção de 2006. Mesmo redundante, a caixa de 2012 é mais do que recomendada para consumidores e admiradores de última hora. Estão nela álbuns que apresentaram e sedimentaram uma das obras mais emblemáticas da música brasileira. Lançados entre 1966 e 1986 pelas extintas gravadoras RGE, Philips e Ariola, estes álbuns flagram o artista em tempo dominado pela MPB nascida na era dos festivais. E, nessa era, Chico Buarque foi rei, entronizado pelo povo tão logo entrou em cena. Lançados pela RGE, os três álbuns iniciais do compositor transformado com o tempo em bom cantor - Chico Buarque de Hollanda (1966), Chico Buarque de Hollanda Volume 2 (1967) e Chico Buarque de Hollanda Volume 3 (1968) - enfileiraram sambas de inspiração noelesca e exalaram certo lirismo melancólico. À medida em que a barra foi pesando, Chico endureceu e perdeu a ternura inconcebível nos anos de chumbo. Chico Buarque de Holanda nº 4 (1970) foi o álbum da transição, que preparou o clima e o terreno para o erguimento de Construção (1971), obra-prima definidora do cancioneiro de Chico na combativa década de 70. Concebido no auge da repressão ao compositor, Calabar (1973) esteve no alvo da censura pelo conteúdo corrosivo do repertório. A vigilância sobre o compositor era tanta que o jeito foi dar voz somente ao cantor, mote de Sinal Fechado (1974). Sem entregar os pontos, Meus Caros Amigos (1976) sedimentou a parceria com Francis Hime, conexão que duraria até Chico Buarque, álbum de 1984 que botou o bloco na rua com o esfuziante samba-enredo Vai Passar, um dos últimos grandes sucessos populares do compositor. Três anos antes, Almanaque (1981) descortinara a parceria teatral com Edu Lobo, compositor que dali em diante se faria presente nos bastidores da criação musical, seguindo com Chico um das trilhas mais inspiradas da MPB. Bônus da caixa, o libreto contextualiza álbuns como Chico Buarque (1978) e Vida (1980) em textos sobre cada disco, escritos pelo jornalista e crítico musical Leonardo Lichote. Isca para fisgar consumidores das reedições anteriores, a coletânea tripla Umas e Outras mapeia as andanças paralelas de Chico pelo mercado fonográfico através de 37 fonogramas avulsos da discografia do cantor e compositor. O chamariz da seleção feita pelo jornalista Cleodon Coelho - boa seleção, diga-se, embora omita umas e outras como a gravação original do samba Apesar de Você em compacto de 1970 - é o até então inédito registro de estúdio de Jorge Maravilha (Chico Buarque, 1973), samba assinado por Julinho da Adelaide, pseudônimo criado pelo compositor carioca para driblar a censura do Governo militar. Neste take até então perdido nos arquivos da gravadora Universal Music, Chico canta o tema em tom mais lento, mas com o suingue da era do samba-rock e com vigoroso registro vocal que destilava ironia no controvertido refrão “Você não gosta de mim / Mas sua filha gosta”. Sim, todo mundo gostava de Chico. Na época dos álbuns encaixotados em De Todas as Maneiras, o Brasil e Chico Buarque estiveram em total sintonia. E, se tal sintonia se desfez progressivamente a partir dos anos 90, quem perdeu foi o Brasil...

11 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Produzida e posta nas lojas pela Universal Music neste ano de 2012, a caixa De Todas as Maneiras embala os mesmos 21 álbuns de Chico Buarque que já haviam sido encaixados em Construção em 2001. Nos onze anos que separam as edições das duas caixas, a gravadora relançou em 2006 - de forma avulsa - 17 destes 21 títulos da fase mais popular e profícua da discografia do cantor e compositor. Ou seja, o teor de novidade da caixa De Todas as Maneiras é pequeno para quem já possui as reedições anteriores - até porque os discos foram encaixotados com a mesma eficiente remasterização e o mesmo apuro gráfico da coleção de 2006. Mesmo redundante, a caixa de 2012 é mais do que recomendada para consumidores e admiradores de última hora. Estão nela álbuns que apresentaram e sedimentaram uma das obras mais emblemáticas da música brasileira. Lançados entre 1966 e 1986 pelas extintas gravadoras RGE, Philips e Ariola, estes álbuns flagram o artista em tempo dominado pela MPB nascida na era dos festivais. E, nessa era, Chico Buarque foi rei, entronizado pelo povo tão logo entrou em cena. Lançados pela RGE, os três álbuns iniciais do compositor transformado com o tempo em bom cantor - Chico Buarque de Hollanda (1966), Chico Buarque de Hollanda Volume 2 (1967) e Chico Buarque de Hollanda Volume 3 (1968) - enfileiraram sambas de inspiração noelesca e exalaram certo lirismo melancólico. À medida em que a barra foi pesando, Chico endureceu e perdeu a ternura inconcebível nos anos de chumbo. Chico Buarque de Holanda nº 4 (1970) foi o álbum da transição, que preparou o clima e o terreno para o erguimento de Construção (1971), obra-prima definidora do cancioneiro de Chico na combativa década de 70. Concebido no auge da repressão ao compositor, Calabar (1973) esteve no alvo da censura pelo conteúdo corrosivo do repertório. A vigilância sobre o compositor era tanta que o jeito foi dar voz somente ao cantor, mote de Sinal Fechado (1974). Sem entregar os pontos, Meus Caros Amigos (1976) sedimentou a parceria com Francis Hime, conexão que duraria até Chico Buarque, álbum de 1984 que botou o bloco na rua com o esfuziante samba-enredo Vai Passar, um dos últimos grandes sucessos populares do compositor. Três anos antes, Almanaque (1981) descortinara a parceria teatral com Edu Lobo, compositor que dali em diante se faria presente nos bastidores da criação musical, seguindo com Chico um das trilhas mais inspiradas da MPB. Bônus da caixa, o libreto contextualiza álbuns como Chico Buarque (1978) e Vida (1980) em textos sobre cada disco, escritos pelo jornalista e crítico musical Leonardo Lichote. Isca para fisgar consumidores das reedições anteriores, a coletânea tripla Umas e Outras mapeia as andanças paralelas de Chico pelo mercado fonográfico através de 37 fonogramas avulsos da discografia do compositor. O chamariz da seleção feita pelo jornalista Cleodon Coelho - boa seleção, diga-se, embora omita umas e outras como a gravação original do samba Apesar de Você em compacto de 1970 - é o até então inédito registro de estúdio de Jorge Maravilha (Chico Buarque, 1973), samba assinado por Julinho da Adelaide, pseudônimo criado pelo compositor carioca para driblar a censura do Governo militar. Neste take até então perdido nos arquivos da gravadora Universal Music, Chico canta o tema em tom mais lento, mas com o suingue da era do samba-rock e com vigoroso registro vocal que destilava ironia no controvertido refrão “Você não gosta de mim / Mas sua filha gosta”. Sim, todo mundo gostava de Chico. Na época dos álbuns encaixotados em De Todas as Maneiras, o Brasil e Chico Buarque estiveram em total sintonia. E, se tal sintonia se desfez progressivamente a partir dos anos 90, quem perdeu foi o Brasil...

Maria disse...

Meus Caros Amigos é tão bom quanto Construção e os quatro primeiros dele.

Rafael disse...

Estou certo de que esse box é excelente, porém a gravadora nunca inova e arrisca ao lançar boxes de outros cantores ou bandas. É sempre Chico, Caetano, Gal, Bethânia e Gil. Deveria mudar esse disco velho e arranhado.

Rafael disse...

Não esperem ver esse box nas lojas por menos de 250 reais. Isso é que desanima qualquer um a querer ter um destes boxes.

Fábio Passadisco disse...

Caro Rafael.

Nem nós lojistas compramos esse box por R$ 250,00.

O preço para as lojas é R$ 283,50 (computando aí os impostos, frete e o preço do box).

Alexandre Siqueira disse...

Esta caixa está quase 400 reais por aí, ou seja, beeem cara! Acho que, apesar de ter sido lançada em bancas, poderia ter sido mencionada a coleção da Editora Abril como mais um lançamento de caixa de Chico Buarque. A meu ver, tirando essa "isca" do CD triplo, essa caixa da Abril Coleções não fica nada a dever à caixa da Universal, pois cada CD é também um livrinho contextualizando cada disco com fotos e análises muito bem escritas. São 20 CDs (um a menos que a da Universal), mas a edição é primorosa!
Fora isso, ótima resenha, Mauro!

Rafael disse...

Fábio, imagino que o preço final desse box embutido vá ficar em torno de uns 350 reais para o consumidor. O bom é que são 21 discos e há aí um excelente trabalho de remasterização dos discos. Mas mesmo assim isso não justifica a gravadora repassar esse preço salgado para os lojistas, e o lojista para o consumidor. Mas quem quiser ter esse box, realmente tem que ter muita disposição para desembolsar uma boa grana.

Mauro Ferreira disse...

Alexandre, de fato, esqueci de mencionar a coleção da Abril. Mas acho que ela inclui também discos da BMG, não? Abs, MauroF

Rafael disse...

Nada justifica colocarem um preço salgado nessa caixa. Por mais que haja esmero na qualidade sonora, 21 discos e encarte caprichado, são todos discos antigos, que facilmente se encontram aos montes nas lojas. Deveriam colocar no máximo por uns 150 reais no mercado, e olhe lá.

Caetano Completo disse...

Devo acabar comprando esse box futuramente, mas tenho muita preguiça dos discos de Chico pré 89. Com exceção de Almaque, Construção e o disco de 78, não ouço discos inteiros só faixas avulsas que sinto falta. Com Caetano é o oposto, só consigo ouvir o disco todo.

Universo Tranquilo disse...

Olá,
Muito bacana essa caixa! O Chio tem músicas excelente e ter uma coletânea dessas é incrível.
Abraços,
Zuza Zapata
www.zuzazapata.com.br