Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Com silêncios e respiros, Nina canta a 'raladora' Dolores em série de TV

Resenha de programa de TV
Série: Cantoras do Brasil
Título: Nina Becker Canta Dolores Duran
Idealização: Mariana Rolim, Mercedes Tristão e Simone Esmanhotto
Direção: Simone Elias
Emissora: Canal Brasil
Cotação: * * * *
Exibição programada pelo Canal Brasil para as 18h45m de 4 de outubro de 2012


"Gosto quando tem uns silêncios, uns respiros...", se posiciona Nina Becker no estúdio paulista YB Music durante a gravação do quinto dos 13 episódios da série Cantoras do Brasil. A ponderação da cantora carioca é ouvida logo na abertura do programa Nina Becker Canta Dolores Duran. Sob a direção musical do guitarrista Maurício Tagliari, a série de Mariana Rolim, Mercedes Tristão e Simone Esmanhotto retrata uma cantora do passado pela ótica de uma intérprete do presente. No caso, a voz de tempos idos é a da também carioca Adiléa da Silva Rocha (7 de junho de 1930 - 24 de outubro de 1959), mais conhecida como Dolores Duran, versátil cantora que desbravou o terreno feminino da composição nos dourados (e machistas) anos 50. "Dolores era uma raladora, uma mulher independente respeitada por seus pares. Dolores compartilhava a mesa dos compositores. Ela sentava do lado de Tom (Jobim), do Vinicius (de Moraes) e fazia que nem eles. Bebia, inclusive... Fumava, fazia tudo que nem eles, não só a música... Era uma vivência atípica para uma mulher da época", ressalta Nina no depoimento inserido entre os dois números musicais captados em preto e branco com o habitualmente classudo estilo da diretora Simone Elias. No primeiro número, Nina dilui a dor contida em Solidão (Dolores Duran, 1958) com seu bonito fraseado cool. Música lançada pela compositora em seu penúltimo álbum, Dolores Duran Canta Para Você Dançar nº 2 (Copacabana, 1958), Solidão tem suas inspiradas melodia e letra valorizadas no registro suave de Nina. Silêncios e respiros se harmonizam com as sutilezas do violão de Pipo Pegoraro, do baixo de Alex Dias, da percussão de Flávio Lazzarin e dos teclados de Daniel Grajew. Na sequência, os mesmos músicos - aos quais se junta Maurício Tagliari ao violão - aclimatam Manias (Flávio Cavalcanti e Sérgio Cavalcanti, 1955) em ambiente próximo da atmosfera de um samba-canção, mas sem os arroubos sentimentais do gênero. Música lançada por Dolores em disco de 78 rotações por minuto, em 1955, Manias soa refinada na gravação de Nina. E a cantora não fica somente nisso Ao fim do programa, enquanto rolam os créditos, Nina ainda pega o violão e dá uma palhinha de O Negócio É Amar, parceria póstuma de Dolores com Carlos Lyra, lançada em 1984 pelo cantor Nelson Gonçalves (1919 - 1998) em dueto com Fafá de Belém. Sem sair do (seu) tom, Nina Becker mostra no quinto episódio da série Cantoras do Brasil quão atual e moderna é a obra eterna de Dolores Duran, pioneira raladora dos anos 50.

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

"Gosto quando tem uns silêncios, uns respiros...", se posiciona Nina Becker no estúdio paulista YB Music durante a gravação do quinto dos 13 episódios da série Cantoras do Brasil. A ponderação da cantora carioca é ouvida logo na abertura do programa Nina Becker Canta Dolores Duran. Sob a direção musical do guitarrista Maurício Tagliari, a série de Mariana Rolim, Mercedes Tristão e Simone Esmanhotto retrata uma cantora do passado pela ótica de uma intérprete do presente. No caso, a voz de tempos idos é a da também carioca Adiléa da Silva Rocha (7 de junho de 1930 - 24 de outubro de 1959), mais conhecida como Dolores Duran, versátil cantora que desbravou o terreno feminino da composição nos dourados (e machistas) anos 50. "Dolores era uma raladora, uma mulher independente respeitada por seus pares. Dolores compartilhava a mesa dos compositores. Ela sentava do lado de Tom (Jobim), do Vinicius (de Moraes) e fazia que nem eles. Bebia, inclusive... Fumava, fazia tudo que nem eles, não só a música... Era uma vivência atípica para uma mulher da época", ressalta Nina no depoimento inserido entre os dois números musicais captados em preto e branco com o habitualmente classudo estilo da diretora Simone Elias. No primeiro número, Nina dilui a dor contida em Solidão (Dolores Duran, 1958) com seu bonito fraseado cool. Música lançada pela compositora em seu penúltimo álbum, Dolores Duran Canta Para Você Dançar nº 2 (Copacabana, 1958), Solidão tem suas inspiradas melodia e letra valorizadas no registro suave de Nina. Silêncios e respiros se harmonizam com as sutilezas do violão de Pipo Pegoraro, do baixo de Alex Dias, da percussão de Flávio Lazzarin e dos teclados de Daniel Grajew. Na sequência, os mesmos músicos - aos quais se junta Maurício Tagliari ao violão - aclimatam Manias (Flávio Cavalcanti e Sérgio Cavalcanti, 1955) em ambiente próximo da atmosfera de um samba-canção, mas sem os arroubos sentimentais do gênero. Música lançada por Dolores em disco de 78 rotações por minuto, em 1955, Manias soa refinada na gravação de Nina. E a cantora não fica somente nisso Ao fim do programa, enquanto rolam os créditos, Nina ainda pega o violão e dá uma palhinha de O Negócio É Amar, parceria póstuma de Dolores com Carlos Lyra, lançada em 1984 pelo cantor Nelson Gonçalves (1919 - 1998) em dueto com Fafá de Belém. Sem sair do (seu) tom, Nina Becker mostra no quinto episódio da série Cantoras do Brasil quão atual e moderna é a obra eterna de Dolores Duran, pioneira raladora dos anos 50.

lurian disse...

Há quem prefira Dolores diluida, eu prefiro as DOloRES das que sabem ser intensas e não se escondem. Mas claro, em tempos politicamente corretos quem vai mostrar dores/Dolores? - E tome insipidez. Não é uma crítica a Nina Becker, cantora que ainda considero das boas em meio às pseudo-indies brasileiras, mas à esse modelito do "sem-gracinha-cool" que inunda e transborda dia-a-dia a MPB = Muita cara, muito (pseudo)estilo e pouco canto/interpretação.
Ouço Dolores com quem sabe: a própria, Marisa Gata-Mansa e Nana Caymmi.

Rafael disse...

Adoro Nina Becker... Para mim é uma das melhores cantoras que apareceu nos últimos tempos. Quanto a ela ter cantado o repertório da Dolores, não sei se o mesmo será uma bela homenagem a diva. Vamos aguardar pra ver.

Tombom disse...

Concordo com lurian.

Thiago Augusto Corrêa disse...

Mauro, um pedido / dica: se puder marque uma tag Cantoras do Brasil nos posts da série. Assim fica mais fácil ao buscar todas as críticas.

Brigadão.