Título: Placebo
Artista: João Cavalcanti
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * * 1/2
O melhor efeito de Placebo - primeiro disco solo de João Cavalcanti - é reforçar a assinatura autoral do compositor carioca, projetado como cantor e percussionista do Casuarina, grupo carioca que revolveu as boas raízes do samba no circuito da revitalizada Lapa antes de construir identidade autoral. Tal assinatura já vinha ficando mais nítida desde 2011. Os sambas Dissimulata e O Nego e Eu - gravados pelo Casuarina e pela cantora Roberta Sá em seus respectivos últimos álbuns - já atestaram o crescimento e o aparecimento do artista como compositor. Produzido por Plínio Profeta, Placebo reconhece a firma. Não é um disco de sambas, mas também tem sambas. Gravado em dueto com o cantor Pedro Miranda, Mulato (João Cavalcanti) não nega a mistura da raça ao pôr o samba dentro da roda do Recôncavo Baiano, terra de ritmos como a chula. Com letra-poema formada por quatro estrofes escritas com precisão buarquiana, o resignado samba-título Placebo (João Cavalcanti) também bebe na fonte, harmonizando a trama dos violões de Rogério Caetano com os saxes orquestrados por Alexandre Caldi longe do salão das gafieiras. Contudo, como sentencia o admirador Pedro Luís no texto escrito para apresentar o álbum, Placebo e João Cavalcanti extrapolam clichês e classificações. Se Demônios (João Cavalcanti e Marcelo Caldi) é tema levado para o território passional do tango pelo acordeom de Marcelo Caldi, mote do arranjo, Em Tempo (João Cavalcanti) é breve valsa conduzida pelo toque desse mesmo acordeom enquanto Luna (João Cavalcanti) é canção de amor que evidencia em primeiro plano o canto de Cavalcanti - ainda em processo de maturação - e que parece vinda de algum lugar do passado, em que pese a moldura contemporânea do tema, valorizado por estrofe que rima quatro versos em quatro idiomas distintos (Fruta de Enfeitiçar / Luna, te voy a buscar / Moonlight, please, take me there / Je suis ton voyeur). Pelo amplo recorte estilístico do repertório autoral, Placebo por vezes peca pela falta de unidade. Criança (João Cavalcanti e Sílvia Nicolatto), por exemplo, é melodiosa canção que evoca algum reino encantado onde não cabem as urgências de Síndrome (João Cavalcanti), faixa de nervosa batida pop urdida com guitarra, programações (feitas por Plínio Profeta, também piloto do baixo da faixa), teclados e o trompete inconfundível de Guizado. Com letra que resiste (bem) sem música e que evoca (novamente!) a maestria da arquitetura dos versos buarquianos, Síndrome ecoa também o universo sonoro de Lenine, pai do artista. A força do d.n.a. também se faz presente - talvez de forma inconsciente - em Você Alterego de Mim, parceria de Cavalcanti com Diego Zangado, coautor também de Binário, faixa urdida com beats eletrônicos e a guitarra/baixo pilotados por Bruno Giorgi, irmão de João Cavalcanti. Letra e arranjo dialogam com a linguagem digital entre ruídos e dissonâncias em momento inventivo de Placebo. O mesmo Diego Zangado percute o reco-reco que faz Inemurchecível (João Cavalcanti) cair num suingue todo próprio. Por fim, Placebo desafia a receita ao apresentar frevo de boa cepa, Frevo do Contra-Êxodo (João Cavalcanti), gravado com um grupo de samba, o mesmo Casuarina que deu projeção a João Cavalcanti. É o folião voltando para casa e o colo paterno, transformado, após experimentar sem moderação algumas possibilidades oferecidas pelo vasto universo da música. Coisas do mundo, meu nego...
4 comentários:
O melhor efeito de Placebo - primeiro disco solo de João Cavalcanti - é reforçar a assinatura autoral do compositor carioca, projetado como cantor e percussionista do Casuarina, grupo carioca que revolveu as boas raízes do samba no circuito da revitalizada Lapa antes de construir identidade autoral. Tal assinatura já vinha ficando mais nítida desde 2011. Os sambas Dissimulata e O Nego e Eu - gravados pelo Casuarina e pela cantora Roberta Sá em seus respectivos últimos álbuns - já atestaram o crescimento e o aparecimento do artista como compositor. Produzido por Plínio Profeta, Placebo reconhece a firma. Não é um disco de sambas, mas também tem sambas. Gravado em dueto com o cantor Pedro Miranda, Mulato (João Cavalcanti) não nega a mistura da raça ao pôr o samba dentro da roda do Recôncavo Baiano, terra de ritmos como a chula. Com letra-poema formada por quatro estrofes escritas com precisão buarquiana, o resignado samba-título Placebo (João Cavalcanti) também bebe na fonte, harmonizando a trama dos violões de Rogério Caetano com os saxes orquestrados por Alexandre Caldi longe do salão das gafieiras. Contudo, como sentencia Pedro Luís no texto escrito para apresentar o álbum, Placebo e João Cavalcanti extrapolam clichês e classificações. Se Demônios (João Cavalcanti e Marcelo Caldi) é levado para o território passional do tango pelo acordeom de Marcelo Caldi, mote do arranjo, Em Tempo (João Cavalcanti) é breve valsa conduzida pelo toque desse mesmo acordeom enquanto Luna (João Cavalcanti) é canção de amor que evidencia em primeiro plano o canto de Cavalcanti - ainda em processo de maturação - e que parece vinda de algum lugar do passado, em que pese a moldura contemporânea do tema, valorizado por estrofe que rima quatro versos em quatro idiomas distintos (Fruta de Enfeitiçar / Luna, te voy a buscar / Moonlight, please, take me there / Je suis ton voyeur). Pelo amplo recorte estilístico do repertório autoral, Placebo por vezes peca pela falta de unidade. Criança (João Cavalcanti e Sílvia Nicolatto), por exemplo, é melodiosa canção que evoca algum reino encantado onde não cabem as urgências de Síndrome (João Cavalcanti), faixa de nervosa batida pop urdida com guitarra, programações (feitas por Plínio Profeta, também piloto do baixo da faixa), teclados e o trompete inconfundível de Guizado. Com letra que resiste (bem) sem música e que evoca (novamente!) a maestria da arquitetura dos versos buarquianos, Síndrome ecoa também o universo sonoro de Lenine, pai do artista. A força do d.n.a. também se faz presente - talvez de forma inconsciente - em Você Alterego de Mim, parceria de Cavalcanti com Diego Zangado, coautor também de Binário, faixa urdida com beats eletrônicos e a guitarra/baixo pilotados por Bruno Giorgi, irmão de João Cavalcanti. Letra e arranjo dialogam com a linguagem digital entre ruídos e dissonâncias em momento inventivo de Placebo. O mesmo Diego Zangado percute o reco-reco que faz Inemurchecível (João Cavalcanti) cair num suingue todo próprio. Por fim, Placebo desafia a receita ao apresentar frevo de boa cepa, Frevo do Contra-Êxodo (João Cavalcanti), gravado com um grupo de samba, o mesmo Casuarina que deu projeção a João Cavalcanti. É o folião voltando para casa e o colo paterno, transformado, após experimentar sem moderação algumas possibilidades oferecidas pelo vasto universo da música. Coisas do mundo, meu nego...
é natural que ele tenha alguma influência do pai
Desde que foi noticiado pela primeira vez aqui no blog sobre esse disco de estréia do João e do qual eu tomei conhecimento, fiquei curiosíssimo para saber o resulato final do disco. Ao menos ele está cercado de gente competente na concepção desse disco.
Uma coisa: por acaso essa mulher na capa do disco é a atriz Priscila Fantin? Se não for, ao menos a moça é bem parecida com ela.
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