Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Segundo álbum da Orquestra Imperial dá baile na melancolia com sopros

Resenha de CD
Título: Fazendo as Pazes com o Swing
Artista: Orquestra Imperial
Gravadora: Ping-Pong
Cotação: * * * 1/2

A julgar pelo segundo álbum da Orquestra Imperial, Fazendo as Pazes com o Swing, Carnaval só no ano que vem. Aos dez anos de vida, a big-band carioca acerta ao experimentar levadas menos esfuziantes no disco, evitando a missão impossível de captar no estúdio o ar carnavalizante de seus bailes-shows. Mesmo assim, o coletivo dá um baile na melancolia com o suingue dos sopros que pautam as 13 músicas do CD produzido por Berna Ceppas e Kassin. "O samba espanta a tristeza", sentencia Moreno Veloso em verso de A Saudade É que me Consola (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro), grande samba interpretado por Moreno com Wilson das Neves. A poesia de versos "Coração rebenta a gaiola / Ao sentir que o vão fica estreito / A lembrança puxa a viola / Nasce mais um samba em meu peito" ganha vida com os sopros orquestrados por Marlon Sette. Elo entre as faixas, os arranjos de sopros por vezes soam mais exuberantes do que as músicas e as interpretações em si. Arranjados por Altair Martins, os sopros que estruturam Moléculas (Nina Becker e Ruben Jacobina) - faixa solada por Nina Becker - trazem inventividade para o salão. Da mesma forma, os sopros orquestrados por Felipe Pinaud são o maior atrativo de Fala Chorando, faixa cantada por Thalma de Freitas. Até porque a música está aquém do histórico autoral da parceria de Jorge Mautner com Nelson Jacobina (1953 - 2012), a quem o disco é dedicado (ao sair de cena em maio, Jacobina já tinha gravado sua intensa participação em Fazendo as Pazes com o Swing). A dupla também é autora de Alcaçuz, tema que pedia voz mais apimentada do que a de Nina Becker. Ritmicamente, o CD transita entre o samba - gênero dominante no repertório - e ritmos latinos da região da América Central. Com sopros ambientados por Ruben Jacobina em clima de gafieira, Tamancas do Cateretê (Domenico Lancellotti, Ruben Jacobina, Nelson Jacobina, Berna Ceppas e Pedro Sá) é suingante faixa que sintetiza bem o recorte rítmico do disco. O solo vocal é de Rubinho Jacobina. O clima de gafieira reaparece em Velha Estória (Domenico Lancellotti e Kassin), samba cantado por Duani. Faixa que descarta os sopros recorrentes nos arranjos do álbum, o samba Cair na Folia (Argemiro Patrocínio e Paulinho César) é introduzido por sons delicados que remetem a uma caixa de música, mas logo cai no suingue de batucada tipicamente carioca. Duani põe o bloco e a voz na rua nessa que é a faixa mais carnavalizante do disco. Em clima menos esfuziante, o hermano Rodrigo Amarante também cai no samba com (bom) tema de sua autoria, Pode Ser. Convite a uma folia particular, Enquanto a Gente Namora é cantada por Thalma de Freitas, parceira de João Donato neste tema sensual banhado pela latinidade da música de João Donato, convidado da faixa. Mais serelepe, Aguenta Mais - tema composto, interpretado e arranjado por Ruben Jacobina - faz ecoar no salão lembranças do Noel Rosa (1910 - 1937) e Zeca Pagodinho pelo ritmo e pelos versos espertos que evocam a boa malandragem carioca. No canto triste de Moreno Veloso, Ouvindo Vozes (Rubinho Jacobina e Guga Ferraz) impregna o baile de certo lirismo. Na sequência, Wilson das Neves dissipa qualquer traço de melancolia ao abençoar a mulher amada e o próprio amor em Apaixonado, outra parceria de Neves com o poeta Paulo César Pinheiro. No fim, o saboroso  e azeitado Mocotó em Tijuana (Altair Martins) injeta adrenalina ao encerrar o baile. O único tema instrumental do disco evoca trilhas sonoras de filmes de ação e mostra que o império rítmico da orquestra se estende além do terreno do samba e dos demais ritmos latinos.

7 comentários:

Mauro Ferreira disse...

A julgar pelo segundo álbum da Orquestra Imperial, Fazendo as Pazes com o Swing, Carnaval só no ano que vem. Aos dez anos de vida, a big-band carioca acerta ao experimentar levadas menos esfuziantes no disco, evitando a missão impossível de captar no estúdio o ar carnavalizante de seus bailes-shows. Mesmo assim, o coletivo dá um baile na melancolia com o suingue dos sopros que pautam as 13 músicas do CD produzido por Berna Ceppas e Kassin. "O samba espanta a tristeza", sentencia Moreno Veloso em verso de A Saudade É que me Consola (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro), grande samba interpretado por Moreno com Wilson das Neves. A poesia de versos "Coração rebenta a gaiola / Ao sentir que o vão fica estreito / A lembrança puxa a viola / Nasce mais um samba em meu peito" ganha vida com os sopros orquestrados por Marlon Sette. Elo entre as faixas, os arranjos de sopros por vezes soam mais exuberantes do que as músicas e as interpretações em si. Arranjados por Altair Martins, os sopros que estruturam Moléculas (Nina Becker e Ruben Jacobina) - faixa solada por Nina Becker - trazem inventividade para o salão. Da mesma forma, os sopros orquestrados por Felipe Pinaud são o maior atrativo de Fala Chorando, faixa cantada por Thalma de Freitas. Até porque a música está aquém do histórico autoral da parceria de Jorge Mautner com Nelson Jacobina (1953 - 2012), a quem o disco é dedicado (ao sair de cena em maio, Jacobina já tinha gravado sua intensa participação em Fazendo as Pazes com o Swing). A dupla também é autora de Alcaçuz, tema que pedia voz mais apimentada do que a de Nina Becker. Ritmicamente, o CD transita entre o samba - gênero dominante no repertório - e ritmos latinos da região da América Central. Com sopros ambientados por Ruben Jacobina em clima de gafieira, Tamancas do Cateretê (Domenico Lancellotti, Ruben Jacobina, Nelson Jacobina, Berna Ceppas e Pedro Sá) é suingante faixa que sintetiza bem o recorte rítmico do disco. O solo vocal é de Rubinho Jacobina. O clima de gafieira reaparece em Velha Estória (Domenico Lancellotti e Kassin), samba cantado por Duani. Faixa que descarta os sopros recorrentes nos arranjos do álbum, o samba Cair na Folia (Argemiro Patrocínio e Paulinho César) é introduzido por sons delicados que remetem a uma caixa de música, mas logo cai no suingue de batucada tipicamente carioca. Duani põe o bloco e a voz na rua nessa que é a faixa mais carnavalizante do disco. Em clima menos esfuziante, o hermano Rodrigo Amarante também cai no samba com (bom) tema de sua autoria, Pode Ser. Convite a uma folia particular, Enquanto a Gente Namora é cantada por Thalma de Freitas, parceira de João Donato neste tema sensual banhado pela latinidade da música de João Donato, convidado da faixa. Mais serelepe, Aguenta Mais - tema composto, interpretado e arranjado por Ruben Jacobina - faz ecoar no salão lembranças do Noel Rosa (1910 - 1937) e Zeca Pagodinho pelo ritmo e pelos versos espertos que evocam a boa malandragem carioca. No canto triste de Moreno Veloso, Ouvindo Vozes (Rubinho Jacobina e Guga Ferraz) impregna o baile de certo lirismo. Na sequência, Wilson das Neves dissipa qualquer traço de melancolia ao abençoar a mulher amada e o próprio amor em Apaixonado, outra parceria de Neves com o poeta Paulo César Pinheiro. No fim, o saboroso e azeitado Mocotó em Tijuana (Altair Martins) injeta adrenalina ao encerrar o baile. O único tema instrumental do disco evoca trilhas sonoras de filmes de ação e mostra que o império rítmico da orquestra se estende além do terreno do samba e dos demais ritmos latinos.

Rafael disse...

Eu ouvi dizer que é um excelente disco. Vou aguardar tê-lo para emitir uma opinião a respeito.

Anônimo disse...

Tá parecendo bem bom.
Fiquei curioso em ouvir essa última faixa instrumental que evoca filmes de ação.
Tipo Superfly do Curtis Mayfield e Shaft do Isaac Hayes?!
Além do mais, disco que tem samba de Argemiro Patrocínio não pode ser ruim.
Seu disco solo lançando pelo selo da Marisa Monte é uma, como diria Ederaldo Gentil, Pérola Fina.

Maria disse...

Zé Henrique, essa Orquestra Imperial é boa mesmo? fiquei curiosa para ouvir só conheço de nome e o Teatro Mágico qual a sua opnião? ahhh,Batatinha é muito bom mesmo.

Anônimo disse...

Fala, Baiana, a Orquestra Imperial é ótima! Pelo menos seu primeiro disco e seus shows são. Esse sengundo ainda não ouvi, mas tá pintando classudo.
O primeiro deles se chama "Carnaval Só no ano que Vem" e é muito bom.
Dá uma conferida, acho que vai gostar.
Esse Teatro Mágico eu tô igual a vc em relação a Orquestra, só conheço de nome. Mas o que já li e pelo jeitão da banda não me gerou muita simpatia.
É um lance mais teatral, né?
Não curto muito.
Eu falei do Ederaldo Gentil, mas tá em casa. Batatinha tem até disco dividido com ele.
Agora, vc que gosta que Batatinha devia ouvir, se é que não conhece, esse disco do Argemiro Patrocínio que falei acima.
É um samba mais lento, lamentoso. Tipo o de Batatinha.
O disco é lindão, cheio de cordas/violinos, mas sem perder a essência do samba. A Marisa participa cantando uma música igualmente lindona.
Essa daqui, ó:

http://www.youtube.com/watch?v=LJRi9zFlEH4

Maria disse...

Zé, ontem eu ouvi o "Carnaval Só no ano que Vem" e gostei bastante! quero muito ouvir esse segundo parece estar tão bom ou melhor que o primeiro. Quanto ao Argemiro Patrocínio, conheço sim, o cara é alto nível mesmo a música que Marisa Monte canta é muito bonita já conhecia.

Anônimo disse...

Sabia que ia gostar, Maricota.
Esse segundo parece mesmo bom, é uma rapaziada talentosa.

PS: Massa conhecer o Argemiro. :-)