Título: Lua e Eu - Alceu Valença Canta Luiz Gonzaga
Artista: Alceu Valença (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Theatro Net Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 12 de novembro de 2012
Cotação: * * * 1/2
Show em cartaz no Theatro Net Rio, no Rio de Janeiro (RJ), até 13 de novembro de 2012
Ao iniciar o bis da estreia carioca de Lua e Eu, show em que celebra Luiz Gonzaga (1912 - 1989) e a herança deixada pelo centenário Rei do Baião, Alceu Valença cantou Juazeiro (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1949) de improviso. O cantor e compositor pernambucano puxou o baião no tom dos aboiadores que ouvia na infância vivida em São Bento do Una (PE) - canto que ainda reverbera na afetiva memória musical do artista. Ao evocar o canto dos aboiadores, Alceu aprofundou o lamento doído contido nos versos de Juazeiro e os misturou com trechos de músicas de sua lavra própria como Na Primeira Manhã (Alceu Valença, 1980) e Solidão (Alceu Valença, 1984). Feito de improviso, o número foi o ponto alto do show, o rasgo de criatividade de tributo sincero ao legado de Gonzagão. Sincero porque, ao migrar para o Rio de Janeiro (RJ) em 1971, Alceu Valença trouxe no seu matulão xote, maracatu e baião - bagagem herdada de Gonzaga que o artista iria filtrar pela estética do pop rock, criando sua própria bagagem artística, ainda que o canto elétrico de Alceu tenha, a rigor, mais a ver com as arretadas divisões rítmicas de Jackson do Pandeiro (1919 - 1982), outro pilar musical da Nação Nordestina. Por isso, faz sentido ouvir Alceu Valença cantar o maracatu Pau-de-Arara (Luiz Gonzaga e Guio de Morais, 1952) em Lua e Eu, show em cujo roteiro o artista mistura sua obra com o repertório do Rei do Baião. Anjo avesso, porta-voz da incoerência, como já avisa na letra do número de abertura Agalopado (Alceu Valença, 1977), Alceu faz viagem interior ao rememorar heranças de Gonzaga, ora marcando o tempo na base da embolada (Embolada do Tempo, Alceu Valença, 2005), ora traçando rota imaginária que o leva ao universo lusitano de Fernando Pessoa (1888 - 1935) através d'O P da Paixão (Alceu Valença, 1987), tendo sempre como guia a obra seminal de Gonzaga, vivaz com o canto de Alceu. Tal rota conduz Alceu por sucessos como Baião (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1946), Vem Morena (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1949), O Xote das Meninas (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1953) - número em que Alceu imita o fraseado e o timbre de Gonzaga - e Sabiá (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1951). A viagem interior inclui paradas para longas e cansativas falas que situam o artista em universo particular e embolam o tempo, quebrando o ritmo do show. Retomado o fio da meada, Alceu entrelaça sucessos como o coco Coração Bobo (Alceu Valença, 1980) com temas autorais menos ouvidos - caso de Cabelo no Pente (Alceu Valença e Vicente Barreto, 1985) - que conduzem a viagem a um porto sempre seguro. É difícil resistir ao chamado de La Belle de Jour (Alceu Valença, 1992) - tão forte quanto o canto de um aboiador - e ao colorido de Girassol (Alceu Valença, 1987). Carismático, o mágico Alceu dá seu show e começa a preparar o gran finale com Anunciação (Alceu Valença, 1983), número em que caminha pela plateia, tal como vai fazer ao arrematar o bis com Tropicana (Alceu Valença e Vicente Barreto, 1982), confiante no destino da viagem interior em que saúda a dinastia do velho Lua.
2 comentários:
Ao iniciar o bis da estreia carioca de Lua e Eu, show em que celebra Luiz Gonzaga (1912 - 1989) e a herança deixada pelo centenário Rei do Baião, Alceu Valença cantou Juazeiro (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1949) de improviso. O cantor e compositor pernambucano puxou o baião no tom dos aboiadores que ouvia na infância vivida em São Bento do Una (PE) - canto que ainda reverbera na afetiva memória musical do artista. Ao evocar o canto dos aboiadores, Alceu aprofundou o lamento doído contido nos versos de Juazeiro e os misturou com trechos de músicas de sua lavra própria como Na Primeira Manhã (Alceu Valença, 1980) e Solidão (Alceu Valença, 1984). Feito de improviso, o número foi o ponto alto do show, o rasgo de criatividade de tributo sincero ao legado de Gonzagão. Sincero porque, ao migrar para o Rio de Janeiro (RJ) em 1971, Alceu Valença trouxe no seu matulão xote, maracatu e baião - bagagem herdada de Gonzaga que o artista iria filtrar pela estética do pop rock, criando sua própria bagagem artística, ainda que o canto elétrico de Alceu tenha, a rigor, mais a ver com as arretadas divisões rítmicas de Jackson do Pandeiro (1919 - 1982), outro pilar musical da Nação Nordestina. Por isso, faz sentido ouvir Alceu Valença cantar o maracatu Pau-de-Arara (Luiz Gonzaga e Guio de Morais, 1952) em Lua e Eu, show em cujo roteiro o artista mistura sua obra com o repertório do Rei do Baião. Anjo avesso, porta-voz da incoerência, como já avisa na letra do número de abertura Agalopado (Alceu Valença, 1977), Alceu faz viagem interior ao rememorar heranças de Gonzaga, ora marcando o tempo na base da embolada (Embolada do Tempo, Alceu Valença, 2005), ora traçando rota imaginária que o leva ao universo lusitano de Fernando Pessoa (1888 - 1935) através d'O P da Paixão (Alceu Valença, 1987), tendo sempre como guia a obra seminal de Gonzaga, vivaz com o canto de Alceu. Tal rota conduz Alceu por sucessos como Baião (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1946), Vem Morena (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1949), O Xote das Meninas (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1953) - número em que Alceu imita o fraseado e o timbre de Gonzaga - e Sabiá (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1951). A viagem interior inclui paradas para longas e cansativas falas que situam o artista em universo particular e embolam o tempo, quebrando o ritmo do show. Retomado o fio da meada, Alceu entrelaça sucessos como o coco Coração Bobo (Alceu Valença, 1980) com temas autorais menos ouvidos - caso de Cabelo no Pente (Alceu Valença e Vicente Barreto, 1985) - que conduzem a viagem a um porto sempre seguro. É difícil resistir ao chamado de La Belle de Jour (Alceu Valença, 1987) - tão forte quanto o canto de um aboiador - e ao colorido de Girassol (Alceu Valença, 1987). Carismático, o mágico Alceu dá seu show e começa a preparar o gran finale com Anunciação (Alceu Valença, 1983), número em que caminha pela plateia, tal como vai fazer ao arrematar o bis com Tropicana (Alceu Valença e Vicente Barreto, 1982), confiante no destino da viagem interior em que saúda a dinastia do velho Lua.
Alceu Valença é um músico porreta. Esse show dele revisitando a obra de Lua deve ter ficado algo pra lá de bom. Alceu dá autonomia, identidade as canções que canta. Estou curioso para conferir o resultado final desse show. Não seria nada mau um CD e DVD desse espetáculo.
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