Título: Ornitorrinco Canta Brecht & Weill
Artistas: Antonio Carlos Brunet, Cacá Rosset e Cida Moreira (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Casa de Francisca (São Paulo, SP)
Data: 16 de novembro de 2012
Cotação: * * * *
Show em cartaz na Casa de Francisca, em São Paulo (SP), até 18 de novembro de 2012
Cantora de timbre operístico, vocacionada para os palcos, Cida Moreira repõe em cena neste fim de semana o espetáculo que deu o pontapé inicial a sua carreira construída no limite entre a música e teatro. Encenado em agosto de 1977 pela companhia de teatro Ornitorrinco, fundada em São Paulo (SP) com conexões com o Teatro Oficina de José Celso Martinez Corrêa, Ornitorrinco Canta Brecht & Weill dá voz irreverente à obra criada para os palcos pelo compositor alemão Kurt Weill (1900 - 1950)
com o compositor, poeta e dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1896 - 1956) - cancioneiro vertido para o português sem prejuízo de sua teatralidade. Dividindo a cena com a voz e o piano de Cida, Cacá Rosset - um dos cérebros do grupo de teatro Ornitorrinco - e Antonio Carlos Brunet se revezam com Cida Moreira na interpretação teatralizada dessas canções sobre damas e cavalheiros indignos. A ambiência alternativa da Casa de Francisca ajuda a moldar o underground clima de cabaré exibido pelo show, cujo roteiro é formado por canções de origem alemã como Die Moritat Von Mackie Messer, balada mais conhecida como Mack the Knife. São temas que pedem certo histrionismo vocal - e, nessa área, Cida é mestra. É ela quem dá voz a canções como Jenny dos Piratas (na versão em português) e My Ship (em inglês). Contudo, é da interação e da fina sintonia da cantora com Rosset e Brunet - em cena também como eficientes cantores - que se arma todo o irônico jogo de cena que pauta Ornitorrinco Canta Brecht & Weill. Muito do charme de Saga of Jenny, por exemplo, vem da entonação usada por Rosset para traduzir alguns dos versos em inglês cantados por Cida. Todo o gestual dos dois atores em Der Kanonen Song - em bom português, Canção do Canhão - sublinha o deboche dos regimes políticos totalitários. A afinação do trio garante o êxito do espetáculo. Se Brunet extrai (algum) humor da Balada da Dependência Sexual, Rosset e Cida se entrosam ao teatralizar o Tango do Cafetão, com Cida no papel da prostituta e Rosset dando voz à personagem-título. Para além da teatralidade, há belos números musicais, notadamente a Canção de Salomão (exemplo da habilidade de Brecht de condensar numa letra um tratado sobre as relações humanas e os códigos secretos da sociedade), Speak Low (licença poética do roteiro, já que a bela melodia criada por Weill para a canção ganhou versos de Ogden Nash, não de Brecht), Surabaya Johnny (com novas nuances na interpretação de Cida, em boa forma no show, ainda que já sem o alcance vocal dos anos 80), Bilbao Song (com o trio e com direito à citação de Chão de Estrelas por Rosset) e a Alabama Song, hino de despedida deste show envolto em atmosfera cult que tem realimentada sua aura mítica nessa remontagem oportuna por reanimar (de acordo com o afinado elenco) o espírito original da encenação que agitou a paulicéia desvairada em 1977. Merece ser (re)visto.
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Cantora de timbre operístico, vocacionada para os palcos, Cida Moreira repõe em cena neste fim de semana o espetáculo que deu o pontapé inicial a sua carreira construída no limite entre a música e teatro. Encenado em agosto de 1977 pela companhia de teatro Ornitorrinco, fundada em São Paulo (SP) com conexões com o Teatro Oficina de José Celso Martinez Corrêa, Ornitorrinco Canta Brecht & Weill dá voz irreverente à obra criada para os palcos pelo compositor alemão Kurt Weill (1900 - 1950) com o compositor, poeta e dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1896 - 1956) - cancioneiro vertido para o português sem prejuízo de sua teatralidade. Dividindo a cena com a voz e o piano de Cida, Cacá Rosset - um dos cérebros do grupo de teatro Ornitorrinco - e Antonio Carlos Brunet se revezam com Cida Moreira na interpretação teatralizada dessas canções sobre damas e cavalheiros indignos. A ambiência alternativa da Casa de Francisca ajuda a moldar o underground clima de cabaré exibido pelo show, cujo roteiro é formado por canções de origem alemã como Die Moritat von Mackie Messer, balada mais conhecida como Mack the Knife. São temas que pedem certo histrionismo vocal - e, nessa área, Cida é mestra. É ela quem dá voz a canções como Jenny dos Piratas (na versão em português) e My Ship (em inglês). Contudo, é da interação e da fina sintonia da cantora com Rosset e Brunet - em cena também como eficientes cantores - que se arma todo o irônico jogo de cena que pauta Ornitorrinco Canta Brecht & Weill. Muito do charme de Saga of Jenny, por exemplo, vem da entonação usada por Rosset para traduzir alguns dos versos em inglês cantados por Cida. Todo o gestual dos dois atores em Der Kanonen Song - em bom português, Canção do Canhão - sublinha o deboche dos regimes políticos totalitários. A afinação do trio garante o êxito do espetáculo. Se Brunet extrai (algum) humor da Balada da Dependência Sexual, Rosset e Cida se entrosam ao teatralizar o Tango do Cafetão, com Cida no papel da prostituta e Rosset dando voz à personagem-título. Para além da teatralidade, há belos números musicais, notadamente a Canção de Salomão (exemplo da habilidade de Brecht de condensar numa letra um tratado sobre as relações humanas e os códigos secretos da sociedade), Speak Low (licença poética do roteiro, já que a bela melodia criada por Weill para a canção ganhou versos de Ogden Nash, não de Brecht), Surabaya Johnny (com novas nuances na interpretação de Cida, em boa forma no show, ainda que já sem o alcance vocal dos anos 80), Bilbao Song (com o trio e com direito à citação de Chão de Estrelas por Rosset) e a Alabama Song, hino de despedida deste show envolto em atmosfera cult que tem realimentada sua aura mítica nessa remontagem oportuna por reanimar (de acordo com o afinado elenco) o espírito original da encenação que agitou a paulicéia desvairada em 1977. Merece ser (re)visto.
Seria ótimo que shows de Cida Moreira como este ORINTORRINCO CANTA BRECHT ou CANÇÕES PARA CORTAR OS PULSOS fossem lançados em DVD ou Blu-Ray
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