Mauro Ferreira no G1

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sábado, 10 de novembro de 2012

Com enredo delirante, show de Gaga segue manual pop para entendidos

Resenha de show
Título: The Born This Way Ball Tour
Artista: Lady Gaga (em foto de Marcelo Almeida)
Local: Parque dos Atletas (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 9 de novembro de 2012
Cotação: * * * 
Agenda da The Born This Way Ball Tour no Brasil:
11 de novembro de 2012 - Estádio do Morumbi (São Paulo, SP)
13 de novembro de 2012 -  Estacionamento da Fiergs (Porto Alegre, RS) 

Cercada de alta expectativa, por se tratar da primeira apresentação de Lady Gaga no Brasil, a The Born This Way Ball Tour chegou ao Rio de Janeiro (RJ) debaixo de chuva fina, mas persistente, que nem por isso esfriou os ânimos das estimadas 30 mil pessoas que foram ao Parque dos Atletas na noite de 9 de outubro de 2012. Com direito aos clichês recorrentes em shows de artistas estrangeiros em palcos nacionais, a midiática artista norte-americana - projetada em escala mundial a partir de 2008 - se enrolou na Bandeira do Brasil, repetiu várias vezes em português esforçado frases como "Oi, galera!" e afagou o ego dos cariocas nas falas alocadas estrategicamente no roteiro pautado por enredo delirante, indecifrável para quem não se informar previamente sobre a trama. Sim, o show de Gaga segue com fidelidade o manual pop para entendidos. E, por isso mesmo, é difícil para estes difícil dissociar a ópera electro-pop de Gaga dos espetáculos da matriz, uma tal de Madonna. Com a ressalva de que a estrutura hi-tech que sustenta o castelo medieval de Gaga - cenário de projeções em 3D e de belos efeitos visuais, com entradas e saídas utilizadas pela artista para aparições sempre inusitadas com seus múltiplos figurinos (consta que são 18, ao todo) - ergue diferença abissal entre Madonna e Gaga no que diz respeito ao repertório. O de Gaga ainda é curto e irregular para prender a atenção do público somente pela música. Tanto que o primeiro momento realmente empolgante do show na passagem da The Born This Way Ball Tour pelo Rio foi Bad Romance, com seu envolvente "ôôôôô" repetido em coro. Sim, com a precisão técnica dos mágicos, Gaga tirou outros coelhos da cartola. Com sua afiada pegada pop, Born This WayJudas, Just Dance e - já o fim do roteiro estruturado em cinco atos - Poker Face, Alejandro e Paparazzi também ajudaram a animar a festa. Até porque Gaga fala com fluência a língua do pop dance. Mas tal fluência jamais disfarça a sensação de que a cenografia e a trama de ficção científica contada no show - com signos que (re)mexem em assuntos-tabus como sexo e religião (outra regra do manual escrito por Madonna) - acabam sobrepujando a música em si. A tentativa de fazer soar informal um discurso decorado também contribui para alimentar a sensação de que o show por vezes até se arrasta ao contar a história do ser extraterrestre nascido do cruzamento da matriarca do planeta G.O.A.T. (Government Owned Alien Territory) com um de seus escravos. Em cena, o número que mostra o parto deste ser extravagante - encarnado obviamente por Gaga - produz impactante efeito visual. Contudo, a única emoção aparentemente real da passagem da The Born This Way Ball Tour pelo Rio foi quando, antes de cantar Hair ao piano, Gaga escolheu três espectadores na plateia para dividir a cena com ela (outros seis espectadores seriam eleitos, no bis, para encorpar a cena em The Edge of Glory e Marry The Night). O choro incontido de dois deles provocou lágrimas na artista - com a ressalva de que Gaga também chorou em apresentações anteriores do show. Mais um truque? Talvez. Mas Lady Gaga é artista que se alimenta de truques, de factoides e de excentricidades, ainda que seja uma cantora de verdade. O problema é que, na ânsia de seguir o manual pop para shows, festas, bailes e afins, a artista acaba deixando a voz e a música em plano inferior à mise-en-scène. Enfim, Lady Gaga sabe dar show. E, nesse sentido, o show da The Born This Way Ball Tour é de fato (bom) espetáculo que cumpre o prometido.

8 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Cercada de alta expectativa, por se tratar da primeira apresentação de Lady Gaga no Brasil, a The Born This Way Ball Tour chegou ao Rio de Janeiro (RJ) debaixo de chuva fina, mas persistente, que nem por isso esfriou os ânimos das estimadas 30 mil pessoas que foram ao Parque dos Atletas na noite de 9 de outubro de 2012. Com direito aos clichês recorrentes em shows de artistas estrangeiros em palcos nacionais, a midiática artista norte-americana - projetada em escala mundial a partir de 2008 - se enrolou na Bandeira do Brasil, repetiu várias vezes em português esforçado frases como "Oi, galera!" e afagou o ego dos cariocas nas falas alocadas estrategicamente no roteiro pautado por enredo delirante, indecifrável para quem não se informar previamente sobre a trama. Sim, o show de Gaga segue com fidelidade o manual pop para entendidos. E, por isso mesmo, é difícil para estes difícil dissociar a ópera electro-pop de Gaga dos espetáculos da matriz, uma tal de Madonna. Com a ressalva de que a estrutura hi-tech que sustenta o castelo medieval de Gaga - cenário de projeções em 3D e de belos efeitos visuais, com entradas e saídas uadas pela artista para aparições sempre inusitadas com seus múltiplos figurinos (consta que são 18, ao todo) - ergue diferença abissal entre Madonna e Gaga no que diz respeito ao repertório. O de Gaga ainda é curto e irregular para prender a atenção do público somente pela música. Tanto que o primeiro momento realmente empolgante do show na passagem da The Born This Way Ball Tour pelo Rio foi Bad Romance, com seu envolvente "ôôôôô" repetido em coro. Sim, com a precisão técnica dos mágicos, Gaga tirou outros coelhos da cartola. Com sua afiada pegada pop, Born This Way, Judas, Just Dance e - já o fim do roteiro estruturado em cinco atos - Poker Face, Alejandro e Paparazzi também ajudaram a animar a festa. Até porque Gaga fala com fluência a língua do pop dance. Mas tal fluência jamais disfarça a sensação de que a cenografia e a trama de ficção científica contada no show - com signos que (re)mexem em assuntos-tabus como sexo e religião (outra regra do manual escrito por Madonna) - acabam sobrepujando a música em si. A tentativa de fazer soar informal um discurso decorado também contribui para alimentar a sensação de que o show por vezes até se arrasta ao contar a história do ser extraterrestre nascido do cruzamento da matriarca do planeta G.O.A.T. (Government Owned Alien Territory) com um de seus escravos. Em cena, o número que mostra o parto deste ser extravagante - encarnado obviamente por Gaga - produz impactante efeito visual. Contudo, a única emoção aparentemente real da passagem da The Born This Way Ball Tour pelo Rio foi quando, antes de cantar Hair ao piano, Gaga escolheu três espectadores na plateia para dividir a cena com ela (outros seis espectadores seriam eleitos, no bis, para encorpar a cena em The Edge of Glory e Marry The Night). O choro incontido de dois deles provocou lágrimas na artista - com a ressalva de que Gaga também chorou em apresentações anteriores do show. Mais um truque? Talvez. Mas Lady Gaga é artista que se alimenta de truques, de factoides e de excentricidades, ainda que seja uma cantora de verdade. O problema é que, na ânsia de seguir o manual pop para shows, festas, bailes e afins, a artista acaba deixando a voz e a música em plano inferior à mise-en-scène. Enfim, Lady Gaga sabe dar show. E, nesse sentido, o show da The Born This Way Ball Tour é de fato bom espetáculo que cumpre o prometido.

Daniel disse...

Gaga tem músicas ótimas, muita criatividade e energia no palco. Mas só vou a um s how dela qd ela estiver mais amadurecida artisticamente. Como vc mencionou o repertorio ainda não sustenta o show todo, tem muitas músicas fracas. E o show dela é muito bagunçado, muitos elementos no palco, discursos, ela não sabe se canta, conversa ou faz aquelas danças esquisitas. Tomara q com o tempo ela passe a se focar mais nas suas melodias, arranjos, letras do que em figurinos, bizarrices e marketing pessoal.

Vitor disse...

Com a diferença que ela é muito melhor que a Madonna, mas claro que o Mauro como fã assumido da tia nunca vai aceitar.

Luca disse...

é isso aí Vitor, esse é o problema do Mauro, ele escreve como fã de Madonna, de Daniela (e ataca a Ivete por isso), da queridinha dele Roberta Sá..,

Rafael disse...

Lady Gaga tem uma ou outra canção interessante. Porém ela é a cópia da cópia. Cópia de Madonna, que por sua vez é cópia da ótima cantora Grace Jones.

Daniel disse...

Nossa, a crítica dele foi bem imparcial, nada a ver vcs dizerem q ele seria um detrator simplesmente pela suposta rixa entre as duas rs. Achei inclusive até demais ele ir no show dela, já que não foi no da Britney. Haja vista que seria a primeira vez em uma década que a cantora viria ao país e teve sua visita muito mais alardeada e com muito mais êxito que a Gaga (vide a venda dos ingressos), até mesmo por ter mais anos de carreira e já ser uma lenda dentro da indústria fonográfica, com inúmeros records e mais de 100 M de álbuns vendidos.

Fernando Lima disse...

Difícil não achar Gaga cópia tosca, mal feita e mal musicada de Madonna. A titia ainda não tem rival à altura. É fato.

Lincoln Souza disse...

Porra se o cara que vai no show da Gaga é FÃ dela ele vai gostar de todas as músicas,não tem essa de 'música fraca'