Disco radiante, 'Sun' ilumina a face eletrônica do som 'indie' de Cat Power

Resenha de CD
Título: Sun
Artista: Cat Power
Gravadora: Matador Records / Lab 344
Cotação: * * * * 1/2

Nuvens negras fecham o tempo atual de Cat Power. Aos 40 anos de vida, completados em janeiro deste ano de 2012, Charlyn Marie Marshall acaba de cancelar shows da turnê promocional de seu nono álbum de estúdio, Sun, por conta de problemas financeiros e de saúde. Contudo, Sun - o primeiro disco de inéditas da cantora e compositora norte-americana desde The Greatest (2006), produzido pela própria artista e recém-lançado no Brasil pelo selo Lab 344 - é um CD radiante. Sun ilumina a face eletrônica do som indie de Cat Power com sintetizadores e loops postos em total sintonia com guitarras distorcidas (pilotadas pela própria artista) e piano. Sem falar nos vocais, dobrados em várias das 11 músicas do álbum, todas da lavra da cantautora. E a luz de Sun vem tanto do bom uso dos recursos eletrônicos - sem cair na receita pop dance já banalizada pelo mercado comum da música norte-americana - e pela forte inspiração do repertório autoral. Músicas como Cherokee, Ruin (tema de envolvente moldura pop), Nothin But Time (faixa lírica de quase onze minutos, na qual figura nos vocais um domesticado Iggy Pop) e 3,6,9 garantem a coesão de Sun e impedem que Power se perca na significativa mudança de rota experimentada com o disco, sucessor do projeto de covers Jukebox (2008). Tal busca por sonoridades pouco ou nada exploradas em sua discografia, contudo, não desvia a artista de seu caminho indie. Sun é disco ambientado em atmosfera alternativa, longe do mainstream. É retrato atual de Power, que por vezes soa meio raivosa e virulenta em temas como Peace and Love e a faixa-título Sun. Mágoas destiladas por Power em meio ao fim de sua união afetiva com o ator Giovanni Ribisi - dissolução que fez a artista repaginar seu visual e concluir na França este, apesar das nuvens negras, radiante álbum Sun.