domingo, 4 de novembro de 2012

'Maneira de Ser' é bela carta de intenções e impressões do mundo de Marina

Resenha de livro
Título: Maneira de Ser
Autoria: Marina Lima
Organização: Marina Lima e Marcio Debellian
Editora: Língua Geral
Cotação: * * * *

 Mais um caderno de intenções e impressões (próprias e alheias) da vida e obra de Marina Lima do que uma autobiografia da cantora e compositora, Maneira de Ser desvenda parte do mundo da cantautora com a elegância e o charme peculiares da artista. Mesmo sem entregar o ouro e a alma ao leitor, Marina descortina afetos e dores neste livro originado de série de entrevistas com o DJ Zé Pedro. Com o mesmo título da primeira canção composta pela artista sem parceiros e gravada no seu primeiro álbum, o ardente Simples Como Fogo (1979), Maneira de Ser está estruturado como almanaque, com textos curtos, fotos, seções, sem preocupações cronológicas ou didáticas. É livro para entendidos no assunto Marina Lima, que veio ao mundo na cidade de Campo Maior, no Piauí, mas construiu alma carioca. Mas a leveza dos almanaques se restringe à edição arejada e moderna desses textos e fotos. O conteúdo tem peso - e Maneira de Ser se avoluma justamente quando toca em feridas como as provocadas pelas dores emocionais que levaram a então estressada artista a cancelar a turnê do show Abrigo (1995) no meio dos ensaios. Marina esclarece esse momento de ruptura com a mesma aparente sinceridade com que expõe a admiração pelo pai herói Ewaldo ("Eu queria que aquele homem se orgulhasse de mim"), com que se dirige afetivamente à mãe Amélia em carta póstuma, com que recorda a dor de ter perdido o irmão Beto e a delícia de ter convivido com o lado quente desse ser tão especial em sua jornada existencial. Neste caderno de afetos, como o livro é (bem) caracterizado no texto introdutório escrito por seu organizador Marcio Debellian, Marina se expõe no limite do (seu) possível. Mas esse limite já é grande para uma artista que sempre se distanciou dos holofotes da indústria das celebridades e que sempre primou pelo detalhismo na criação e formatação de sua música em discos e shows. "Subir ao palco, fazer um disco, criar uma obra, não é como ir tomar cafezinho na esquina", delimita logo num dos primeiros textos de Maneira de Ser. Tal precisão transparece na análise lúcida de sua discografia e de algumas músicas de seu cancioneiro de fina estampa. Marina revela que a regravação de Solidão (Dolores Duran) no seminal Simples Como Fogo foi sugestão de André Midani (então na presidência da Warner Music), lamenta a onipresença dos arranjos de Lincoln Olivetti em Olhos Felizes (1980) sem deixar de ressaltar o talento do maestro ("Um ás, mas só ter arranjo dele descaracterizou algumas músicas", pondera, cheia de charme e razão) e ressalta seu contentamento com os resultados finais de álbuns como Certos Acordes (1981), Virgem (1987), Marina Lima (1991) e Pierrot do Brasil (1998), entre outros títulos definidores dos caminhos tomados por sua música. Em foro mais íntimo, Marina explicita em Maneira de Ser a cumplicidade com a empresária e companheira Marcia Alvarez ao longo dos anos 80 no auge da carreira - elo retomado momentaneamente na confecção do pálido álbum Setembro (2001) - e louva a irmandade adquirida com os amigos Cao Albuquerque e Candé Salles ("Candé me fez ver que eu poderia amar um homem, namorá-lo e não estranhar"). Entre reproduções de textos escritos sobre Marina na imprensa e de posts publicados pela artista em seu blog, Maneira de Ser expõe algumas imagens reveladoras como a foto feita por Thereza Eugênia no Arpoador em 1973 e os croquis do show Primórdios (2005). Aliadas às impressões alinhadas no livro, tais imagens expõem a personalidade forte de Marina Lima nesta vida e nesta Arte de criar sua música, que sempre foi a mais perfeita tradução, afinal, das emoções salpicadas de maneira confessional nesta afetiva carta de intenções.

8 comentários:

  1. Mais um caderno de intenções e impressões (próprias e alheias) da vida e obra de Marina Lima do que uma autobiografia da cantora e compositora, Maneira de Ser desvenda parte do mundo da cantautora com a elegância e o charme peculiares da artista. Mesmo sem entregar o ouro e a alma ao leitor, Marina descortina afetos e dores neste livro originado de série de entrevistas com o DJ Zé Pedro. Com o mesmo título da primeira canção composta pela artista sem parceiros e gravada no seu primeiro álbum, o ardente Simples Como Fogo (1979), Maneira de Ser está estruturado como almanaque, com textos curtos, fotos, seções, sem preocupações cronológicas ou didáticas. É livro para entendidos no assunto Marina Lima. Mas a leveza dos almanaques se restringe à edição arejada e moderna desses textos e fotos. O conteúdo tem mais peso - e Maneira de Ser se avoluma justamente quando toca em feridas como as provocadas pelas dores emocionais que levaram a então estressada artista a cancelar a turnê do show Abrigo (1995) no meio dos ensaios. Marina esclarece esse momento de ruptura com a mesma aparente sinceridade com que expõe a admiração pelo pai herói Ewaldo ("Eu queria que aquele homem se orgulhasse de mim"), com que se dirige afetivamente à mãe Amélia em carta póstuma, com que recorda a dor de ter perdido o irmão Beto e a delícia de ter convivido com o lado quente desse ser tão especial em sua jornada existencial. Neste caderno de afetos, como o livro é (bem) caracterizado no texto introdutório escrito por seu organizador Marcio Debellian, Marina se expõe no limite do (seu) possível. Mas esse limite já é grande para uma artista que sempre se distanciou dos holofotes da indústria das celebridades e que sempre primou pelo detalhismo na criação e formatação de sua música em discos e shows. "Subir ao palco, fazer um disco, criar uma obra, não é como ir tomar cafezinho na esquina", delimita logo num dos primeiros textos de Maneira de Ser. Tal precisão transparece na análise lúcida de sua discografia e de algumas músicas de seu cancioneiro de fina estampa. Marina revela que a regravação de Solidão (Dolores Duran) no seminal Simples Como Fogo foi sugestão de André Midani (então na presidência da Warner Music), lamenta a onipresença dos arranjos de Lincoln Olivetti em Olhos Felizes (1980) sem deixar de ressaltar o talento do maestro ("Um ás, mas só ter arranjo dele descaracterizou algumas músicas", pondera, cheia de charme e razão) e ressalta seu contentamento com os resultados finais de álbuns como Certos Acordes (1981), Virgem (1987), Marina Lima (1991) e Pierrot do Brasil (1998), entre outros títulos definidores dos caminhos tomados por sua música. Em foro mais íntimo, Marina explicita em Maneira de Ser a cumplicidade com a empresária e companheira Marcia Alvarez ao longo dos anos 80 no auge da carreira - elo retomado momentaneamente na confecção do pálido álbum Setembro (2001) - e louva a irmandade adquirida com os amigos Cao Albuquerque e Candé Salles ("Candé me fez ver que eu poderia amar um homem, namorá-lo e não estranhar"). Entre reproduções de textos escritos sobre Marina na imprensa e de posts publicados pela artista em seu blog, Maneira de Ser expõe algumas imagens reveladoras como a foto feita por Thereza Eugênia no Arpoador em 1973 e os croquis do show Primórdios (2005). Imagens que, aliadas às impressões alinhadas no livro, delineiam a personalidade forte de Marina Lima nesta vida e nesta Arte de criar música que, afinal, sempre foi a mais perfeita tradução das emoções salpicadas de maneira confessional nesta sua afetiva carta de intenções.

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  2. Tudo o que Marina diz é um aprendizado. Já encomendei o meu!

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  3. Concordo com o Valente, me parece que Marina tem um olhar ponderado e minucioso da vida. Sempre aprendo um pouco com ela. Quero ler.

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  4. Não creio que esse livro seja tudo isso que está no post. Não acho que ele tenha grandes revelações sobre a vida e a carreira de Marina.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. boM
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  7. Marina e uma artista muito universal e dona de uma peculiar originalidade, profundidade de expressao e transparencia em sua arte. O novo livro e um perfeito complemento a sua carreira musical.

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  8. Marina e uma artista muito universal e dona de uma peculiar originalidade, profundidade de expressao e transparencia em sua arte. O novo livro e um perfeito complemento a sua carreira musical.

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