Título: Maneira de Ser
Autoria: Marina Lima
Organização: Marina Lima e Marcio Debellian
Editora: Língua Geral
Cotação: * * * *
♪ Mais um caderno de intenções e impressões (próprias e alheias) da vida e obra de Marina Lima do que uma autobiografia da cantora e compositora, Maneira de Ser desvenda parte do mundo da cantautora com a elegância e o charme peculiares da artista. Mesmo sem entregar o ouro e a alma ao leitor, Marina descortina afetos e dores neste livro originado de série de entrevistas com o DJ Zé Pedro. Com o mesmo título da primeira canção composta pela artista sem parceiros e gravada no seu primeiro álbum, o ardente Simples Como Fogo (1979), Maneira de Ser está estruturado como almanaque, com textos curtos, fotos, seções, sem preocupações cronológicas ou didáticas. É livro para entendidos no assunto Marina Lima, que veio ao mundo na cidade de Campo Maior, no Piauí, mas construiu alma carioca. Mas a leveza dos almanaques se restringe à edição arejada e moderna desses textos e fotos. O conteúdo tem peso - e Maneira de Ser se avoluma justamente quando toca em feridas como as provocadas pelas dores emocionais que levaram a então estressada artista a cancelar a turnê do show Abrigo (1995) no meio dos ensaios. Marina esclarece esse momento de ruptura com a mesma aparente sinceridade com que expõe a admiração pelo pai herói Ewaldo ("Eu queria que aquele homem se orgulhasse de mim"), com que se dirige afetivamente à mãe Amélia em carta póstuma, com que recorda a dor de ter perdido o irmão Beto e a delícia de ter convivido com o lado quente desse ser tão especial em sua jornada existencial. Neste caderno de afetos, como o livro é (bem) caracterizado no texto introdutório escrito por seu organizador Marcio Debellian, Marina se expõe no limite do (seu) possível. Mas esse limite já é grande para uma artista que sempre se distanciou dos holofotes da indústria das celebridades e que sempre primou pelo detalhismo na criação e formatação de sua música em discos e shows. "Subir ao palco, fazer um disco, criar uma obra, não é como ir tomar cafezinho na esquina", delimita logo num dos primeiros textos de Maneira de Ser. Tal precisão transparece na análise lúcida de sua discografia e de algumas músicas de seu cancioneiro de fina estampa. Marina revela que a regravação de Solidão (Dolores Duran) no seminal Simples Como Fogo foi sugestão de André Midani (então na presidência da Warner Music), lamenta a onipresença dos arranjos de Lincoln Olivetti em Olhos Felizes (1980) sem deixar de ressaltar o talento do maestro ("Um ás, mas só ter arranjo dele descaracterizou algumas músicas", pondera, cheia de charme e razão) e ressalta seu contentamento com os resultados finais de álbuns como Certos Acordes (1981), Virgem (1987), Marina Lima (1991) e Pierrot do Brasil (1998), entre outros títulos definidores dos caminhos tomados por sua música. Em foro mais íntimo, Marina explicita em Maneira de Ser a cumplicidade com a empresária e companheira Marcia Alvarez ao longo dos anos 80 no auge da carreira - elo retomado momentaneamente na confecção do pálido álbum Setembro (2001) - e louva a irmandade adquirida com os amigos Cao Albuquerque e Candé Salles ("Candé me fez ver que eu poderia amar um homem, namorá-lo e não estranhar"). Entre reproduções de textos escritos sobre Marina na imprensa e de posts publicados pela artista em seu blog, Maneira de Ser expõe algumas imagens reveladoras como a foto feita por Thereza Eugênia no Arpoador em 1973 e os croquis do show Primórdios (2005). Aliadas às impressões alinhadas no livro, tais imagens expõem a personalidade forte de Marina Lima nesta vida e nesta Arte de criar sua música, que sempre foi a mais perfeita tradução, afinal, das emoções salpicadas de maneira confessional nesta afetiva carta de intenções.
8 comentários:
Mais um caderno de intenções e impressões (próprias e alheias) da vida e obra de Marina Lima do que uma autobiografia da cantora e compositora, Maneira de Ser desvenda parte do mundo da cantautora com a elegância e o charme peculiares da artista. Mesmo sem entregar o ouro e a alma ao leitor, Marina descortina afetos e dores neste livro originado de série de entrevistas com o DJ Zé Pedro. Com o mesmo título da primeira canção composta pela artista sem parceiros e gravada no seu primeiro álbum, o ardente Simples Como Fogo (1979), Maneira de Ser está estruturado como almanaque, com textos curtos, fotos, seções, sem preocupações cronológicas ou didáticas. É livro para entendidos no assunto Marina Lima. Mas a leveza dos almanaques se restringe à edição arejada e moderna desses textos e fotos. O conteúdo tem mais peso - e Maneira de Ser se avoluma justamente quando toca em feridas como as provocadas pelas dores emocionais que levaram a então estressada artista a cancelar a turnê do show Abrigo (1995) no meio dos ensaios. Marina esclarece esse momento de ruptura com a mesma aparente sinceridade com que expõe a admiração pelo pai herói Ewaldo ("Eu queria que aquele homem se orgulhasse de mim"), com que se dirige afetivamente à mãe Amélia em carta póstuma, com que recorda a dor de ter perdido o irmão Beto e a delícia de ter convivido com o lado quente desse ser tão especial em sua jornada existencial. Neste caderno de afetos, como o livro é (bem) caracterizado no texto introdutório escrito por seu organizador Marcio Debellian, Marina se expõe no limite do (seu) possível. Mas esse limite já é grande para uma artista que sempre se distanciou dos holofotes da indústria das celebridades e que sempre primou pelo detalhismo na criação e formatação de sua música em discos e shows. "Subir ao palco, fazer um disco, criar uma obra, não é como ir tomar cafezinho na esquina", delimita logo num dos primeiros textos de Maneira de Ser. Tal precisão transparece na análise lúcida de sua discografia e de algumas músicas de seu cancioneiro de fina estampa. Marina revela que a regravação de Solidão (Dolores Duran) no seminal Simples Como Fogo foi sugestão de André Midani (então na presidência da Warner Music), lamenta a onipresença dos arranjos de Lincoln Olivetti em Olhos Felizes (1980) sem deixar de ressaltar o talento do maestro ("Um ás, mas só ter arranjo dele descaracterizou algumas músicas", pondera, cheia de charme e razão) e ressalta seu contentamento com os resultados finais de álbuns como Certos Acordes (1981), Virgem (1987), Marina Lima (1991) e Pierrot do Brasil (1998), entre outros títulos definidores dos caminhos tomados por sua música. Em foro mais íntimo, Marina explicita em Maneira de Ser a cumplicidade com a empresária e companheira Marcia Alvarez ao longo dos anos 80 no auge da carreira - elo retomado momentaneamente na confecção do pálido álbum Setembro (2001) - e louva a irmandade adquirida com os amigos Cao Albuquerque e Candé Salles ("Candé me fez ver que eu poderia amar um homem, namorá-lo e não estranhar"). Entre reproduções de textos escritos sobre Marina na imprensa e de posts publicados pela artista em seu blog, Maneira de Ser expõe algumas imagens reveladoras como a foto feita por Thereza Eugênia no Arpoador em 1973 e os croquis do show Primórdios (2005). Imagens que, aliadas às impressões alinhadas no livro, delineiam a personalidade forte de Marina Lima nesta vida e nesta Arte de criar música que, afinal, sempre foi a mais perfeita tradução das emoções salpicadas de maneira confessional nesta sua afetiva carta de intenções.
Tudo o que Marina diz é um aprendizado. Já encomendei o meu!
Concordo com o Valente, me parece que Marina tem um olhar ponderado e minucioso da vida. Sempre aprendo um pouco com ela. Quero ler.
Não creio que esse livro seja tudo isso que está no post. Não acho que ele tenha grandes revelações sobre a vida e a carreira de Marina.
boM
PRA
LER
e
SAbeR...
dO
qUe
A
GATA
gosTA
d
FAZeR
LiVRo CuRioSo...
eU
Tô
!
Marina e uma artista muito universal e dona de uma peculiar originalidade, profundidade de expressao e transparencia em sua arte. O novo livro e um perfeito complemento a sua carreira musical.
Marina e uma artista muito universal e dona de uma peculiar originalidade, profundidade de expressao e transparencia em sua arte. O novo livro e um perfeito complemento a sua carreira musical.
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