Título: Memória da Flor
Artista: Júnior Almeida
Gravadora: MP,B Discos / Universal Music
Cotação: * * * *
Com seus antenados olhos de farol, Ney Matogrosso jogou luz sobre a obra do compositor alagoano Júnior Almeida ao gravar em tom lânguido no CD Beijo Bandido (2009) a sensual canção A Cor do Desejo, parceria de Almeida com Ricardo Guima. Três anos depois, Ney dá novo aval ao artista indie ao participar da bela canção que dá nome ao quarto álbum de Almeida, Memória da Flor, lançado em escala nacional pelo selo MP,B Discos com distribuição da Universal Music. E verdade seja dita: o disco é tão bom que o vocal de Ney na faixa-título - Memória da Flor (Júnior Almeida e José Silva Ferreira), lançada por Cris Braun em seu álbum Fábula (2012) e gravada pelo autor com arranjo que faz sobressair o bandolim de Bruno Palagani - acaba sendo mero (luxuoso) detalhe em repertório que esfrega na cara de cantores preguiçosos o fato de que, sim, há bons compositores contemporâneos produzindo inspirado repertório pelo Brasil afora. Ao longo de suas dez músicas (sete inéditas e três já lançadas anteriormente em disco, uma em CD do próprio compositor), Memória da Flor expõe a força e a contundência do poético cancioneiro de Junior Almeida, situado próximo da boa e velha MPB, mas com pegada atual. É sintomático, aliás, que a música que abre o disco, A Poesia (Júnior Almeida e Danielle Cândido), tenha tal título, pois Memória da Flor é disco que cheira a poesia, impregnada nos versos dos parceiros letristas do compositor. Dentre as letras, salta aos ouvidos de imediato a escrita poética de Fernando Fiúza, parceiro de Almeida em duas grandes músicas do disco, Catarina (tema que remete de leve a um regionalismo nordestino) e Pequenas Misérias, faixa cujo arranjo traduz a interiorizada tormenta de versos como "...A minha pele faz-se um delgado e ardente poço / Onde feridas feito flores / Pipocam nos lugares mais sombrios / E eu pareço um jarro de dores / Lembrando minha fome com fastio". Uma das duas inéditas já registradas previamente em disco (no caso, pela cantora Wilma Araújo), À Toa (Júnior Almeida e Vera Rocha) reitera a excelência do repertório entoado pelo cantor - não tão imponente quanto o compositor, mas eficiente - enquanto a guitarra de Toni Augusto realça o toque bluesy de O Presente (Júnior Almeida). Mesmo sem manter o pique inicial do disco, o samba Nem Uma Pétala (Júnior Almeida e José Silva Ferreira) e o dueto com a cantora Irina Costa em Tal Sol, Tal Homem, Tal Maria (Júnior Almeida) reiteram a boa qualidade do cancioneiro autoral do artista, que regrava Ser-Te-Ei Teu (Júnior Almeida e Ricardo Cabús), música lançada pelo cantor em seu primeiro disco, A Lua Não Pertence a Ninguém (Trama Virtual, 1999). No fecho do álbum, Poema nº 8 (Júnior Almeida e Arriete Vilela) jorra poesia em quatro lapidares versos que se encaixam com perfeição na melodia do compositor. Enfim, o CD Memória da Flor lembra que há boa música brasileira soterrada pelo lixão nacional veiculado via emissoras de rádio e TV e que quem procura essa música vai achar.
8 comentários:
Com seus antenados olhos de farol, Ney Matogrosso jogou luz sobre a obra do compositor alagoano Júnior Almeida ao gravar em tom lânguido no CD Beijo Bandido (2009) a sensual canção A Cor do Desejo, parceria de Almeida com Ricardo Guima. Três anos depois, Ney dá novo aval ao artista indie ao participar da bela canção que dá nome ao quarto álbum de Almeida, Memória da Flor, lançado em escala nacional pelo selo MP,B Discos com distribuição da Universal Music. E verdade seja dita: o disco é tão bom que o vocal de Ney na faixa-título - em cujo arranjo sobressai o bandolim de Bruno Palagani - acaba sendo detalhe luxuoso em repertório que esfrega na cara de cantores preguiçosos o fato de que, sim, há compositores contemporâneos produzindo inspirado repertório no Brasil. Ao longo de suas dez músicas (oito inéditas e duas regravações de temas do próprio artista), Memória da Flor expõe a força e a contundência do poético cancioneiro de Junior Almeida, situado próximo da boa e velha MPB, mas com pegada atual. É sintomático, aliás, que a música que abre o disco, A Poesia (Júnior Almeida e Danielle Cândido), tenha tal título, pois Memória da Flor é disco que cheira a poesia, impregnada nos versos dos parceiros letristas do compositor. Dentre as letras, salta aos ouvidos de imediato a escrita poética de Fernando Fiúza, parceiro de Almeida em duas grandes músicas do disco, Catarina (tema que remete de leve a um regionalismo nordestino) e Pequenas Misérias, faixa cujo arranjo traduz a interiorizada tormenta de versos como "...A minha pele faz-se um delgado e ardente poço / Onde feridas feito flores / Pipocam nos lugares mais sombrios / E eu pareço um jarro de dores / Lembrando minha fome com fastio". Uma das duas inéditas já registradas previamente em disco (no caso, pela cantora Wilma Araújo), À Toa (Júnior Almeida e Vera Rocha) reitera a excelência do repertório entoado pelo cantor - não tão imponente quanto o compositor, mas eficiente - enquanto a guitarra de Toni Augusto realça o toque bluesy de O Presente (Júnior Almeida). Mesmo sem manter o pique inicial do disco, o samba Nem Uma Pétala (Júnior Almeida e José Silva Ferreira) e o dueto com a cantora Irina Costa em Tal Sol, Tal Homem, Tal Maria (Júnior Almeida) reiteram a boa qualidade do cancioneiro autoral do artista, que regrava Ser-Te-Ei Teu (Júnior Almeida e Ricardo Cabús), música lançada pelo cantor em seu primeiro disco, A Lua Não Pertence a Ninguém (Trama Virtual, 1999). No fecho do álbum, Poema nº 8 (Júnior Almeida e Arriete Vilela) jorra poesia em quatro lapidares versos que se encaixam com perfeição na melodia do compositor. Enfim, o CD Memória da Flor lembra que há boa música brasileira soterrada pelo lixão nacional veiculado via emissoras de rádio e TV e que quem procura essa música vai achar.
Conheci o Junior Almeida em Maceió, após um show do Ney Matogrosso. Além de ser um excelente compositor, é gente finíssima e merece o sucesso que vem por aí.
Já tenho esse disco, porém ainda não o ouvi, pois estou com diversos discos na fila de espera para audição. Li ótimas críticas a respeito desse álbum.
Depois de ter ouvido alguma coisa recentemente tenho que concordar com você.A gente tem preguiça e preconceito de ouvir gente nova.
Reconheço o talento do Junior Almeida desde que o conheci, contribuindo assim para que ele gravasse o seu primeiro CD. De lá pra cá o músico e compositor amadureceu no Limiar do Tempo. do tempo que tem que ter para amadurecer, pra crescer, e ir além. O Ney Matogrosso percebeu isto e provavelmente muito mais...
Quem ainda não ouviu seus discos que ouça.
Ao Junior (Almeidinha, como é conhecido carinhosamente entre os amigos) desejo muito sucesso!
Acho que conseguiram tornar.uma cançao muito suave o Ney nem precisa de elogios todos sabemos o merito que tem uma voz unica um profissional de mão cheia
A música. foi bem conseguida..Ney tem um voz única .rara bela ..
A letra de Memória da Flor é de José Paulo Silva Ferreira, um poeta nascido em Pão de Açúcar, AL, que não vem recebendo o que lhe é devido pelo seu sucesso. Todos os méritos estão creditados a Junior Almeida. Lamentável!
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