Título: Outros românticos
Artista: Célia (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Tom Jazz (São Paulo, SP)
Data: 17 de novembro de 2012
Cotação: * * * 1/2
♪ Os milhões de telespectadores do remake da novela Guerra dos sexos, exibida pela TV Globo às 19h, ouvem quase diariamente a voz de Célia sem ligar a música - Nosso amor (Mauro Motta e Eduardo Ribeiro, 1977), tema da personagem da atriz Mariana Ximenez - ao nome dessa cantora paulista projetada nos anos 70, esquecida nas duas décadas posteriores e lembrada nos anos 2000 pelo produtor Thiago Marques Luiz, responsável pela edição do disco Faço no tempo soar minha sílaba (Lua Music, 2007), marco na retomada da carreira da artista. Aos 65 anos, Célia desafia o tempo e continua cantando muito bem, como mostrou aos cerca de 40 espectadores que foram na noite de 17 de novembro de 2012 ao Tom Jazz, casa de São Paulo (SP), assistir ao show Outros românticos, baseado no álbum homônimo de 2011 em que a cantora dá voz a canções gravadas por Roberto Carlos - mas não compostas pelo Rei - nos anos 70. Neste show curto, mas elegante e bem iluminado, Célia reiterou a excelência de seu canto na companhia de trio formado pelos músicos Felipe Silveira (piano), Marcos Paiva (contrabaixo) e Rovilson Pascoal (violão), autores dos arranjos surpreendentes da maioria das 15 músicas. Do primeiro - abordagem inusitada de Travessia (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1967), feita em criativo diálogo da voz da cantora com o baixo de Paiva - ao último dos 15 números, Célia jamais saiu do tom. Se desafinou, foi ao incluir no eclético repertório um samba como Vacilão (Zé Roberto, 2000), destoante da linha romântica que deveria costurar todo o roteiro. "É letra que não acaba mais", disparou após encarar com bravura os versos desbocados deste sucesso de Zeca Pagodinho. Sim, além de pôr todo o sentimento em canções de amor doído como Abandono (Ivor Lancellotti, 1979) e Não se esqueça de mim (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1977), pontos altos do show, Célia tem apurado senso rítmico para fazer o trabalho necessário em Linha de passe (João Bosco e Aldir Blanc, 1979), vivaz samba alocado no bis. O interessante no canto de Célia é que por vezes ele redesenha as músicas de forma inesperada. Detalhes (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1971) - uma canção-emblema do Rei, gravada por Célia em álbum de 1972 - ganha um balanço diferente na voz da intérprete. Funkaço cedido por Tim Maia (1942 - 1998) a Roberto Carlos para álbum de 1969, Não vou ficar é remodelado com suingue jazzy que redivide o tema. Mas é fato que Célia seduz mais quando investe nas canções românticas. Não é qualquer cantora que é capaz de encarar duas músicas de Chico Buarque - Atrás da porta (Francis Hime e Chico Buarque, 1972) e Tatuagem (Chico Buarque e Ruy Guerra, 1973) - já tão bem interpretadas e mesmo assim fazer bonito. Célia é capaz e se sai bem nas duas músicas. Enfim, falta ao Brasil associar a voz de Nosso amor - o tema da novela ora exibida pela TV Globo às 19h - ao nome dessa cantora que insiste em ser grande mesmo ser devidamente ouvida em seu pais. Sim, Célia - essa grande cantora - faz no tempo soar a sua sílaba.
7 comentários:
Os milhões de telespectadores do remake da novela Guerra dos Sexos, exibida pela TV Globo às 19h, ouvem quase diariamente a voz de Célia sem ligar a música - Nosso Amor (Mauro Motta e Eduardo Ribeiro, 1977), tema da personagem da atriz Mariana Ximenez - ao nome dessa cantora paulista projetada nos anos 70, esquecida nas duas décadas posteriores e lembrada nos anos 2000 pelo produtor Thiago Marques Luiz, responsável pela edição do disco Faço no Tempo Soar Minha Sílaba (Lua Music, 2007), marco na retomada da carreira da artista. Aos 65 anos, Célia desafia o tempo e continua cantando muito bem, como mostrou aos cerca de 40 espectadores que foram na noite de 17 de novembro de 2012 ao Tom Jazz, casa de São Paulo (SP), assistir ao show Outros Românticos, baseado no álbum homônimo de 2011 em que a cantora dá voz a canções gravadas por Roberto Carlos - mas não compostas pelo Rei - nos anos 70. Neste show curto, mas elegante e bem iluminado, Célia reiterou a excelência de seu canto na companhia de trio formado pelos músicos Felipe Silveira (piano), Marcos Paiva (contrabaixo) e Rovilson Pascoal (violão), autores dos arranjos surpreendentes da maioria das 15 músicas. Do primeiro - abordagem inusitada de Travessia (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1967), feita em criativo diálogo da voz da cantora com o baixo de Paiva - ao último dos 15 números, Célia jamais saiu do tom. Se desafinou, foi ao incluir no eclético repertório um samba como Vacilão (Zé Roberto, 2000), destoante da linha romântica que deveria costurar todo o roteiro. "É letra que não acaba mais", disparou após encarar com bravura os versos desbocados deste sucesso de Zeca Pagodinho. Sim, além de pôr todo o sentimento em canções de amor doído como Abandono (Ivor Lancellotti, 1979) e Não se Esqueça de Mim (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1977), pontos altos do show, Célia tem apurado senso rítmico para fazer o trabalho necessário em Linha de Passe (João Bosco e Aldir Blanc, 1979), vivaz samba alocado no bis. O interessante no canto de Célia é que por vezes ele redesenha as músicas de forma inesperada. Detalhes (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1971) - uma canção-emblema do Rei, gravada por Célia em álbum de 1972 - ganha um balanço diferente na voz da intérprete. Funkaço cedido por Tim Maia (1942 - 1998) a Roberto Carlos para álbum de 1969, Não Vou Ficar é remodelado com suingue jazzy que redivide o tema. Mas é fato que Célia seduz mais quando investe nas canções românticas. Não é qualquer cantora que é capaz de encarar duas músicas de Chico Buarque - Atrás da Porta (Francis Hime e Chico Buarque, 1972) e Tatuagem (Chico Buarque e Ruy Guerra, 1973) - já tão bem interpretadas e mesmo assim fazer bonito. Célia é capaz e se sai bem nas duas músicas. Enfim, falta ao Brasil associar a voz de Nosso Amor - o tema da novela - ao nome dessa cantora que insiste em ser grande mesmo ser devidamente ouvida em seu pais. Sim, Célia faz no tempo soar a sua sílaba.
Célia é uma joia rara (e pouco conhecida) entre as cantoras brasileiras. É dessas que nascem com timbre único, personalíssimo — e afinado — mesmo aos 65 anos. Espero que ela repita esse show em outras datas, aqui em São Paulo e em outras cidades. A boa música agradece.
UMA DAS ULTIMAS GRANDES CANTORAS SURGIDAS NO BRASIL. SOU FÃ.
Não entendi porque ela não cantou somente as músicas do cd, já que era o nome e, a princípio, a motivação do show...
Metade das músicas não tem nada a haver com o Rei...
abração,
Denilson
A Projeção merecida por Célia virá, tenho certeza. Nana Caymmi também penou o desconhecimento do grande público até ser reconhecida como a cantora de Hilda Furacão.
DVD e blu-ray desse espetáculo!!! Já!!!
Célia é mesmo uma joia rara. Mas, Mauro, qual esperança ainda podemos ter na cultura musical deste país se leio no seu artigo que apenas 40 pessoas foram ao show??? Muito triste...!
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