Título: Pra Mim Você É Lindo
Artista: Katia B
Gravadora: Sem indicação
Cotação: * * * 1/2
Talvez por ter seguido trilha de desbravamento atribuído a Bebel Gilberto, cantora brasileira (bastante) incensada pelo universo pop em 2000 ao aclimatar a música brasileira em atmosfera eletrônica (com o auxílio fundamental e nem sempre creditado do finado produtor Suba), Katia B sempre ficou à margem. Contudo, no quarto disco solo da cantora e compositora carioca, Pra Mim Você É Lindo, a música refinada de B (de Bronstein) atinge ponto de maturação. O upgrade do repertório salta aos ouvidos e contrasta com a irregularidade do cancioneiro do álbum anterior da artista, Espacial (2007), mais escorado nas ambiências eletrônicas do que na música em si. Sob azeitada produção capitaneada pelo guitarrista Bernardo Bosísio com a própria Katia B, com eventuais intervenções dos coprodutores Lucas Vasconcellos e Duda Mello, a cantora se apropria com personalidade de pérola rara de Lamartine Babo (1904 - 1963), A Tua Vida É um Segredo, originalmente um samba lançado em julho de 1956 pelo cantor carioca Francisco Carlos (1928 - 2003). Com bossa, B desconstrói o tema de Lamartine para enquadrá-lo dentro da estética cool do disco. Composta e/ou gravada com diversos parceiros, a safra autoral se revela de bom nível, a melhor de Katia B até o momento. Aprendendo a Viver é bela canção assinada e cantada com Rubinho Jacobina. Tão sedutora quanto, O Baile junta as vozes de Katia B e Jam da Silva, parceiro na composição. Armadilha é balada climática que exalta a vida e as possibilidades de amar. É parceria de B com Dé Palmeira e com Teresa Cristina, convidada da faixa, cada vez mais à vontade fora do universo do samba. Orquestrada com arranjo pontuado pelo charango de Lui Coimba, Seis Vidas (Charles Gavin, Bernardo Bosisio e Katia B) reitera o acerto da artista na escolha dos parceiros e climas do repertório de Pra Mim Você É Lindo. A propósito, o título do disco é a tradução em português de Bei Mir Bistu Du Shon (Sholom Secunda e Jacob Jacobs), canção de opereta iídiche que fez sucesso mundial em 1932 e que figura no disco para conectar Katia B à sua origem judaica. O tema é cantado no idioma original, iídiche, e também em inglês, língua da balada Where Is Your Heart? (Katia B), faixa de menor poder de sedução, assim como a abordagem da canção francesa Le Temps de L'Amour (Jacques Dutronc, Lucien Morisse e André Salvet). Dentro deste pequeno mosaico poliglota, valsinha de Antônio Saraiva, Sem História, (bem) gravada com o compositor, se revela mais repleta de sutilezas e barulhinhos bons. Se Depois do Bloco (Vik Barone e Katia B) é o anticlímax anticarnavalizante que exemplifica o bom uso que se pode fazer das programações eletrônicas (pilotadas por Vik Barone), Sete Mil Vezes - tema de alta voltagem poética composto por Caetano Veloso (com melodia aquém dos versos) e lançado por Maria Bethânia no álbum Alteza (1981) - reitera a habilidade de Katia B de irmanar sotaques, músicas e idiomas dentro da requintada estética sonora que pauta sua música, ironicamente hoje mais interessante e mais multifacetada do que a música da desbravadora Bebel Gilberto.
5 comentários:
Talvez por ter seguido trilha de desbravamento atribuído a Bebel Gilberto, cantora brasileira (bastante) incensada pelo universo pop em 2000 ao aclimatar a música brasileira em atmosfera eletrônica (com o auxílio fundamental e nem sempre creditado do finado produtor Suba), Katia B sempre ficou à margem. Contudo, no quarto disco solo da cantora e compositora carioca, Pra Mim Você É Lindo, a música refinada de B (de Bronstein) atinge ponto de maturação. O upgrade do repertório salta aos ouvidos e contrasta com a irregularidade do cancioneiro do álbum anterior da artista, Espacial (2007), mais escorado nas ambiências eletrônicas do que na música em si. Sob azeitada produção capitaneada pelo guitarrista Bernardo Bosísio com a própria Katia B, com eventuais intervenções dos coprodutores Lucas Vasconcellos e Duda Mello, a cantora se apropria com personalidade de pérola rara de Lamartine Babo (1904 - 1963), A Tua Vida É um Segredo, originalmente um samba lançado em julho de 1956 pelo cantor carioca Francisco Carlos (1928 - 2003). Com bossa, B desconstrói o tema de Lamartine para enquadrá-lo dentro da estética cool do disco. Composta e/ou gravada com diversos parceiros, a safra autoral se revela de bom nível, a melhor de Katia B até o momento. Aprendendo a Viver é bela canção assinada e cantada com Rubinho Jacobina. Tão sedutora quanto, O Baile junta as vozes de Katia B e Jam da Silva, parceiro na composição. Armadilha é balada climática que exalta a vida e as possibilidades de amar. É parceria de B com Dé Palmeira e com Teresa Cristina, convidada da faixa, cada vez mais à vontade fora do universo do samba. Orquestrada com arranjo pontuado pelo charango de Lui Coimba, Seis Vidas (Charles Gavin, Bernardo Bosisio e Katia B) reitera o acerto da artista na escolha dos parceiros e climas do repertório de Pra Mim Você É Lindo. A propósito, o título do disco é a tradução em português de Bei Mir Bistu Du Shon (Sholom Secunda e Jacob Jacobs), canção de opereta iídiche que fez sucesso mundial em 1932 e que figura no disco para conectar Katia B à sua origem judaica. O tema é cantado no idioma original, iídiche, e também em inglês, língua da balada Where Is Your Heart? (Katia B), faixa de menor poder de sedução, assim como a abordagem da canção francesa Le Temps de L'Amour (Jacques Dutronc, Lucien Morisse e André Salvet). Dentro deste pequeno mosaico poliglota, valsinha de Antônio Saraiva, Sem História, gravada com o compositor, se revela mais repleta de sutilezas e barulhinhos bons. Se Depois do Bloco (Vik Barone e Katia B) é o anticlímax anticarnavalizante que exemplifica o bom uso que se pode fazer das programações eletrônicas (pilotadas por Vik Barone), Sete Mil Vezes - tema de alta voltagem poética composto por Caetano Veloso (com melodia aquém dos versos) e lançado por Maria Bethânia no álbum Alteza (1981) - reitera a habilidade de Katia B de irmanar sotaques, músicas e idiomas dentro da requintada estética sonora que pauta sua música, ironicamente hoje mais interessante e mais multifacetada do que a música da desbravadora Bebel Gilberto.
A Katia estava fazendo falta.
Apesar de sempre atribuírem a Bebel Gilberto o uso (recente) de instrumentos eletrônicos na música pop brasileira eu ainda considero que as duas pioneiras nessa estética foram Patrícia Marx (Charme do Mundo) e Verônica Sabino (Novo sentido) ambas em 1997. É incrível perceber na música "As praias desertas" como Verônica estava antenadíssima com a estética trip hop que se fazia em Londres pelo Portishead, que surgiu nesse mesmo ano.
Kátia B., que também trabalhou com Suba, despontou nesse universo em 2000, e pode não ter conseguido o mesmo sucesso de Bebel, mas seu som, sempre me soou muito mais interessante, e em nenhum momento se rendeu a formulas fáceis, ao contrário, permaneceu entre alguns compositores clássicos e muitos indies. Espacial (2007) é um disco lindo!!! Que mostra que Kátia seguiu evoluindo enquanto Bebel não conseguiu se manter no posto.
Já fico na ansiedade de ouvir Pra Mim Você É Lindo!
Eu gosto muito da Kátia B e desse lado indie dela. Ela realmente nunca optou pelo lado fácil da música e sempre fez algo pautado na qualidade, sem precisar se recorrer a fórmulas fáceis e a "músicas de verão". Adoro a voz doce da Kátia e consegui ouvir seu disco inteiramente pelo seu site, e como sempre, tá excelente como de costume.
Do seu jeito e com sua turma, Katia B segue em frente sem a sede dos grandes alardes e preocupada em fazer boa música, que é o que interessa. Tô adorando esse disco.
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