segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Retrô 2012: Dez discos brasileiros que se destacaram ao longo deste ano

1. Zélia Duncan Canta Itamar Assumpção - Tudo Esclarecido, Zélia Duncan
    -  A cantora encara obra tida como bicho de sete cabeças e doma a fera em álbum pop

2. 40 Anos Depois, João Bosco
   - Com requinte, o cantor e compositor reabre a cortina do passado de olho no futuro

3. Tabaroinha, Mariene de Castro
   - O produtor Alê Siqueira abre caminho para a cantora sem anular sua baianidade nagô

4. A Revolta dos Ritmos, Moraes Moreira
   - Compositor baiano volta a subir ladeira com vigorosa safra autoral de CD de inéditas

5. Tudo Tanto, Tulipa Ruiz
   - A cantora e compositora desabrocha ao encorpar seu som pop em belo segundo álbum

6. Meu Samba no Prato - Tributo a Edison Machado, Marcos Paiva
   - No toque do samba-jazz, o contrabaixista celebra a bossa de baterista revolucionário

7. Segunda Pele, Roberta Sá
   - Ao trocar de pele, cantora sopra ar fresco no quinto CD entre a folia e o pop sensual

8. Sintoniza Lá, BNegão & Seletores de Frequência
   - Em conceitual disco black, Negão dá manual de sobrevivência na selva da cidade 

9. Treme, Gaby Amarantos
   - Revelador primeiro álbum sintetiza e amplia o universo da artista com apelo pop

10. Estrela Decadente, Thiago Pethit
    - O artista paulista ascende no segundo álbum ao aguçar a dor de seu cabaré-rock 

Retrô 2012: Dez discos internacionais que se destacaram ao longo do ano

1. Channel Orange - Frank Ocean
    - Sublime reinvenção do soul e do r & b em disco que sintoniza o espírito de sua época

2. Tempest - Bob Dylan
   - Imerso em algum lugar do passado, Dylan versa épico sobre a divina tragédia humana 

3. Some Nights, Fun.
   -  No segundo álbum, o grupo empolga com seu pop exuberante, grandioso e teatral

4. Blunderbuss, Jack White
   - Enfim solo, White soa blue, às vezes dark, em um disco sempre ardente e apaixonante

5. The Idler Wheel..., Fiona Apple
   -  A artista expõe sua dor e solidão em disco nu, cru, estranho, cheio de emoções reais

6. Babel, Mumford & Sons
   -  O grupo prega espiritualidade em disco que reza pela cartilha do folk e do country

7. Little Broken Hearts, Norah Jones
   - A cantora abre seu coração partido para o produtor Danger Mouse em disco delicado

8. Celebration Day, Led Zeppelin
   - A banda voa em céu de brigadeiro no tardio (mas oportuno) registro de show de 2007

9. Sun, Cat Power
   - Radiante disco de inéditas ilumina a face eletrônica do som indie da norte-americana

10. Psychedelic Pill, Neil Young & Crazy Horse
    - Refugiado no (seu) passado de glória, o roqueiro faz em tempo próprio um disco sujo

Retrô 2012: Marisa dá show ao enredar música e artes plásticas em cena

Sete meses após o lançamento de seu oitavo álbum solo, O Que Você Quer Saber de Verdade (2011), Marisa Monte estreou em Curitiba (PR) o refinado espetáculo inspirado no disco e deu show ao enredar música e artes plásticas com precisão. Um dos melhores shows do ano, Verdade Uma Ilusão deu passo adiante no uso de projeções em cena. Vídeos de 15 artistas plásticos contemporâneos ajudaram a traduzir em imagens o pop da cantora e compositora carioca (vista em cena na foto de Leonardo Aversa). A fina sintonia entre música, arranjos (de Marisa com a banda que inclui três músicos da Nação Zumbi), cenário (de Marcelo Lipiani), luz (de Zeluis Joes) e figurino (de Rita Murtinho) proporcionou inebriante espetáculo para olhos e ouvidos que disfarçou a sensação de a voz da cantora já parecer não ter a mesma potência de outrora. Seguindo rota nacional, com casas invariavelmente lotadas em agenda que prevê apresentações no Brasil e no mundo ao longo de 2013, o show Verdade Uma Ilusão confirmou Marisa Monte na linha de frente da música brasileira, criando a ilusão de que o som da artista é mais sofisticado do que é quando, na verdade, esse som se resume em essência a canções (quase sempre inspiradas...) que propagam simples memórias, crônicas e declarações de amor.

Com Crazy Horse, Young se refugia no seu passado em 'Psychedelic Pill'

Resenha de CD
Título: Psychedelic Pill
Artista: Neil Young & Crazy Horse
Gravadora: Reprise Records 
Cotação: * * * * 1/2

Aos 67 anos, completados em 12 de novembro deste ano de 2012, Neil Young não se recusa a envelhecer. Psychedelic Pill - o (longo) álbum duplo que o artista canadense gravou com o Crazy Horse e lançou em 30 de outubro - é manifesto de amor ao passado de Young. Tanto no som - um rock cheio de solos e sujeiras, como as detectadas em She's Always Dancing - como nas letras. O descompasso de Young com o mundo contemporâneo fica evidente logo nos versos de Driftin' Back, tema que abre Psychedelic Pill com inacreditáveis 27 minutos. Mas é nessa heroica resistência ao moderno que reside a força do disco e do próprio Young neste primeiro álbum de inéditas gravado pelo cantor e compositor com o Crazy Horse desde Green Dale (2003). Disco de fôlego! São apenas oito músicas em nove faixas (o Alternate Mix da faixa-título Psychedelic Pill fecha o CD 2). No entanto, entre estas oito músicas, há joias como Ramada Inn e Walk Like a Giant, ambas do quilate da obra monumental de Young. Até o fato de reprocessar música de seu passado - a bela balada For The Love of Man, outrora intitulada I Wonder Why - reforça a sensação de que Psychedelic Pilé disco imerso no universo e no tempo particular de Neil Young, o que já soa eterno na recusa em ser moderno.

'21' sai de 2012 como quarto CD mais vendido da história do Reino Unido

Lançado em janeiro de 2011, o segundo álbum de Adele, 21, sai deste ano de 2012 como o quarto disco mais vendido da história do Reino Unido com 4 milhões e 562 mil cópias vendias. Retumbante, tal marca atesta o fôlego resistente do CD físico no mercado fonográfico e, em particular, a força de 21, que em apenas nove meses saltou de já honroso sexto lugar na lista divulgada em março deste ano pela Official Charts Company - instituição que aufere as vendas de discos no Reino Unido - para o quarto lugar da relação divulgada ao apagar das luzes de 2012. Se o álbum de Adele galgou duas posições, passando Thriller (Michael Jackson, 1982) e (What's The Story) Morning Glory? (Oasis, 2012), o título de campeão permanece com a compilação Greatest Hits (1981), do grupo inglês Queen. Disco mais bem-sucedido do Reino Unido em todos os tempos, a coletânea já vendeu até o momento 5 milhões e 866 mil cópias.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Retrô 2012: Com sua voz tinindo, aos 60 anos, Baby volta a ser do Brasil

Foi coisa de Deus! Recolhida no templo da música evangélica desde 1999, a popstora Baby do Brasil voltou à cena aos 60 anos e, em púlpito pop armado no festival Vivo Open Air em 31 de outubro de 2012, deu seu testemunho de fé na brasilidade do repertório dos tempos em que adotava o nome artístico de Baby Consuelo. Sob as bençãos do filho Pedro Baby (com a cantora na foto de Rodrigo Amaral) e de Paula Lavigne, empresária do mágico show que já percorre o Brasil em turnê nacional e que vai ganhar registro em DVD ao longo de 2013, Baby voltou a ser do Brasil. Com a voz tinindo como na época da Consuelo, pregou paz e amor em show de hits.

DVD rebobina 17 clipes e números musicais de charmosa novela de 2012

Novela que abordou com desenvoltura e leveza o universo da música tecnobrega, em conexão inovadora com a internet, Cheias de Charme teve vários clipes e números musicais exibidos ao longo de sua trama pop e vivaz. Já nas lojas, com distribuição da Som Livre, o DVD Cheias de Charme rebobina 17 clipes e números musicais filmados para a história, perpetuando o charme da novela de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, exibida pela TV Globo neste ano de 2012. A seleção inclui todos os sucessos do fictício trio Empreguetes, formado no meio do folhetim pelas personagens Maria do Rosário (Leandro Leal), Maria da Penha (Taís Araújo) e Maria Aparecida (Isabelle Drummond). O trio é visto ao som de Marias Brasileiras (Carlos Colla e Michael Sullivan), Vida de Empreguete (Quito Ribeiro), Forró das Curicas (Sérgio Saraceni e Ronaldo Monteiro de Souza), Chalalá (Sérgio Saraceni e Ronaldo Monteiro de Souza) - música identificada na trama com a carreira solo de Rosário - e Nosso Brilho (Sérgio Saraceni e Ronaldo Monteiro de Souza). O DVD inclui também números de shows feitos pelos personagens Fabian (o cantor brega encarnado com brilho por Ricardo Tozzi, ator dublado nos números musicais) e Chayene (a cantora de eletroforró vivida com vivacidade e veracidade por Cláudia Abreu). Fabian entoa Impossível Acreditar que Perdi Você (Márcio Greyck e Cobel) - canção tristonha que fez grande sucesso na voz do cantor e compositor mineiro Márcio Greyck na primeira metade dos anos 70 - e Chora, Me Liga (Euler Coelho), hit real da dupla João Bosco & Vinicius. Em dupla com Chayene, Fabian dá voz a Se Você me Der (Sérgio Saraceni e Ronaldo Monteiro de Souza) e Só me Vejo Contigo (Sérgio Saraceni e Ronaldo Monteiro de Souza). Enfim, o DVD eterniza a charmosa estilização do universo brega feita pela (já saudosa) novela.

Já masterizado, primeiro disco ao vivo da Orquestra Imperial sai em 2013

Previsto de início para ter sido lançado neste ano de 2012, o primeiro registro ao vivo de show da Orquestra Imperial vai ser editado em 2013 nos formatos de CD e DVD. A masterização da gravação ao vivo foi finalizada, no Rio de Janeiro (RJ), pelo engenheiro de som Ricardo Garcia.

Yeah Yeah Yeahs vai lançar quarto álbum no primeiro semestre de 2013

O quarto álbum do grupo norte-americano Yeah Yeah Yeahs vai ser lançado no primeiro semestre de 2013, quatro anos após a edição de It's Blitz!, que chegou às lojas em março de 2009. O anúncio foi feito via Twitter pelo próprio trio de indie rock, formado por Brian Chase (bateria), Karen O. (voz e piano) e Nick Zinner (guitarra e teclados). CD ainda não tem título.

Exuberante, CD 'Some Nights' empolga com a grandiosidade pop do Fun.

Resenha de CD
Título: Some Nights
Artista: Fun.
Gravadora: Fueled By Ramen / Warner Music
Cotação: * * * * *

É difícil ouvir One Foot - uma das músicas de Some Nights, o segundo álbum da banda norte-americana Fun. - sem pensar na grandiosidade teatral das gravações de Freddie Mercury (1946 - 1991) à frente do Queen. Longe de depor contra o sucessor de Aim and Ignite (2009), essa exuberância pop faz de Some Nights um dos melhores álbuns de 2012. Sim, há uma ou outra faixa, como It Gets Better, que eventualmente lembra que o Fun. é em essência uma banda de indie rock. Mas o que se ouve ao longo de Some Nights é um pop empolgante, cantado de forma sempre vibrante pelo vocalista Nate Ruess. Músicas como All Alright (faixa inebriante, turbinada com coral que potencializa seu poder de sedução), Some Nights e We Are Young (outro ponto alto do disco em que figura Janelle Monáe) ratificam o caráter grandioso do álbum. Até em baladas como Stars e Carry On (sobre a necessidade de perseverar em dias ruins) há essa vibração pop. Nem a dose (certa) de eletrônica e autotune - efeito provável do envolvimento de Jeff Bhasker na produção (dividida com Emile Haynie e Jack One) - dilui a exuberância pop de Some Nights. Tampouco o fato de uma ou outra música ser em si menos empolgante, caso de Out on the Town, tira a força e perfeição do CD como um todo. Alvo de seis (justas e retumbantes) indicações ao Grammy 2013, Some Nights é um dos álbuns do ano.

'Conterrâneos', CD lançado por Dominguinhos em 2006, volta ao catálogo

Álbum lançado por Dominguinhos em 2006 pela gravadora Eldorado, com singela capa assinada por Elifas Andreato, Conterrâneos está sendo reposto em catálogo com distribuição da própria Eldorado. Entre parcerias suas com Capinam (Duas Frutinhas), Clodô (Carece de Explicação) e Nando Cordel (Oi Que Balanço Bom), o cantor, compositor e sanfoneiro deu voz a um tema de Pinto do Acordeom, Por Amor ao Forró, apontado como um dos destaques do repertório do CD.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Retrô 2012: Show do ano, 'Recanto' reitera renascimento artístico de Gal

Álbum lançado por Gal Costa em dezembro de 2011 somente com músicas de Caetano Veloso, quase todas inéditas, Recanto logo se impôs como o grande disco do ano passado. Originado do CD arquitetado por Caetano para revigorar a discografia da cantora, o belo show Recanto estreou três meses depois - mais precisamente em 22 de março de 2012, inaugurando a casa Miranda, no Rio de Janeiro (RJ) - e provou que o renascimento artístico de Gal era para valer, sem artifícios. Com menor dose de eletrônica, mas sem sair do tom arrojado do disco, o show Recanto fez acordar em festa a voz que o cantar deu a Gal. A cantora - vista em cena na foto de Rodrigo Amaral - deu voz a quase todas as músicas do disco e filtrou sucessos emblemáticos de sua carreira pelo toque indie do trio formado por Domenico Lancellotti (bateria e MPC), Pedro Baby (guitarra e violão) e Bruno Di Lullo (baixo). Embora já tenha chegado perfeito aos palcos, o show foi crescendo à medida em que caiu na estrada, em turnê nacional que passou pelas principais capitais do Brasil. Em outubro, Recanto foi gravado no Theatro Net Rio para edição em CD ao vivo, DVD e blu-ray previstos para o primeiro semestre de 2013. Sem perder o viço, mas ganhando cada vez mais público, Recanto sai de 2012 como o melhor show do ano. 

Rihanna une estilos no álbum 'Unapologetic' na pista em que reina soberana

Resenha de CD
Título: Unapologetic
Artista: Rihanna
Gravadora: Def Jam / Universal Music
Cotação: * * 1/2

♪ Tal como as cartas, os números não mentem jamais. E eles atestam o poder de Rihanna, atual campeã de vendas de singles em plataforma digital. A cantora de Barbados vendeu nada menos do que 58 milhões de faixas digitais ao longo deste ano de 2012. Sucesso nos Estados Unidos, Rihanna já ameaça do outro lado da Terra até o reinado pop de Madonna como maior vendedora de singles no Reino Unido. Unapologetic - sétimo álbum de estúdio da artista, que vem mantendo a tradição de lançar um disco de inéditas por ano - tem tudo para aumentar o cacife de Rihanna na banca da indústria fonográfica mundial, ainda que seja irregular como todos os CDs da artista. Em Unapologetic, Rihanna concilia todos os seus estilos - e ela transita por r & b, rap, pop, dance e reggae - com emoções e versos ralos. Contudo, há dose mais farta de  baladas de espírito r & b, tendência perceptível em faixas como Diamonds (boa balada eleita o primeiro single do álbum), Loveeeee song (balada na qual figura o rapper Future) e Nobody's business, tema controvertido por reunir Rihanna e Chris Brown, o namorado que virou algoz da estrela após espancá-la em 2009. Rihanna expiou suas dores publicamente no magoado Rated R (2009), mas, três anos depois, diz na letra da faixa que isso não é da conta de ninguém, perdoando um Chris Brown que evoca o estilo do canto de Michael Jackson (1958 - 2009). Seja como for, justiça seja feita, Nobody's business se destaca em disco que mais parece uma colagem (nem sempre com liga) de várias fases da discografia de Rihanna. Em Unapologetic, há um reggae (No love allowed), há os inevitáveis flertes com o dubstep (em Jump e em Lost in paradise, com destaque para a última) e há também a já previsível incursão pela pista pop dance de David Guetta (convidado de Right now e co-autor da menos pop e mais pesada Fresh off the runaway). Mas nem sempre a fórmula surte todo o efeito possível. O dueto com Eminem em Numb está longe de reeditar o poder de sedução do hit Love the way you lie (2010). Mesmo ser soar estéril como tantos álbuns de tantas cantoras que disputam a parada norte-americana, Unapologetic carece de emoções reais como as detectadas em Stay (balada no qual figura o desconhecido cantor Mikky Ekko), em What now (destaque na farta safra de baladas de Unapologetic) e na dobradinha Love without tragedy / Mother Mary. Enfim, Rihanna segue sua trilha de sucesso em um sétimo álbum ligeiramente menos trivial do que seu antecessor Talk that talk (2011). Donatária das paradas, a estrela de Barbados parece fazer o que quer. Mas não faz. Segue a fórmula pop dos EUA. E, a julgar pelo inventário de singles vendidos ao redor do mundo ao longo deste ano que já se vai,  Rihanna está na pista certa.

Contenção pauta ode senhoril e tradicionalista ao folhetinesco Herivelto

Resenha de CD
Título: Herivelto Martins - 100 Anos
Artista: Vários (na companhia do violão de Ronaldo Rayol)
Gravadora: Lua Music
Cotação: * * * 

Dentre os discos produzidos pela indústria fonográfica brasileira para celebrar o centenário de nascimento do compositor fluminense Herivelto Martins (30 de janeiro 1912 - 16 de setembro de 1992), o mais completo é o CD duplo Herivelto Martins 100 Anos - Faça de Conta que o Tempo Passou, coletânea criada para a EMI Music pelo pesquisador carioca Rodrigo Faour com a reunião de 36 registros do cancioneiro do compositor, feitos entre 1936 e 2000. Mesmo sem tal completude, o recém-lançado CD Herivelto Martins 100 Anos, da Lua Music, se diferencia por apresentar gravações inéditas de 16 músicas de Herivelto, em sua maioria sambas-canção lançados nos anos 40 e 50. Idealizado e produzido por Thiago Marques Luiz, o tributo reúne intérpretes de escolas e gerações distintas, irmanados pelo toque do violão de Ronaldo Rayol. No todo, o disco resulta bom, em que pesem as variações naturais deste tipo de projeto. Cantora de formação teatral, Cida Moreira se destaca no elenco heterogêneo ao realçar toda a ironia contida no samba-canção Bom Dia (Herivelto Martins e Aldo Cabral, 1942). Com canto repleto de frescor, Verônica Ferriani  reitera a segurança e beleza de seu fraseado no tango Carlos Gardel (Herivelto Martins e Carlos Gardel, 1954) enquanto Filipe Catto se confirma o melhor cantor de sua geração ao destilar as mágoas e ressentimentos de Atiraste Uma Pedra (Herivelto Martins e David Nasser, 1958) em precisa união de técnica e emoção, valorizada pelo violão (rascante na faixa) de Rayol. Presente em doses fartas no cancioneiro folhetinesco do compositor, a emoção é diluída por Emílio Santiago no seu suave registro de Ave Maria no Morro (Herivelto Martins, 1942). A contenção, aliás, pauta boa parte das gravações do tributo. Até o operístico Agnaldo Rayol se ajusta ao tom contido do disco ao celebrar A Camisola do Dia (Herivelto Martins e David Nasser). Fagner também baixa os tons ao abordar o samba-canção Pensando em Ti (Herivelto Martins e David Nasser, 1957) no toque seresteiro de violão que soa como bandolim. Há no canto de Fagner a ternura que pontua o dueto de Ayrton Montarroyos com Ylana Queiroga em Dois Corações (Herivelto Martins e Waldemar Gomes, 1942). Na contramão da delicadeza, Tetê Espíndola eleva seus agudos para sublinhar a dor lancinante de Caminhemos (Herivelto Martins, 1947). Agnaldo Timóteo também não se contém em Cabelos Brancos (Herivelto Martins e Marino Pinto, 1949), mas está dentro do tom magoado do samba-canção lançado pelo grupo 4 Ases e 1 Coringa. Ainda do dentro espírito tradicionalista e reverente do tributo, Cauby Peixoto põe seus maneirismos vocais em Segredo (Herivelto Martins e Marino Pinto, 1947) enquanto Alaíde Costa imprime o tom lacrimoso de seu canto em Recusa (Herivelto Martins, 1952). Supervisora musical do disco, Vânia Bastos cai no samba em A Bahia te Espera (Herivelto Martins e Chianca de Garcia) com segurança, mas sem o tempero forte exigido pelo tema. A propósito, tudo acaba literalmente em samba em Herivelto Martins 100 Anos. Contudo, como Ronaldo Rayol não é João Gilberto, o violão se revela insuficiente para realçar (toda) a ginga de sambas como Nega Manhosa (Herivelto Martins, 1957), Isaura (Herivelto Martins e Roberto Roberti, 1945) e Odete (Herivelto Martins e Valdemar de Abreu, 1944) - defendidos pelos cantores Márcio Gomes, Jair Rodrigues e Paulo Neto, respectivamente. Por fim, uma das matriarcas do samba paulista, Graça Braga, soa (geograficamente) deslocada no melancólico Praça Onze (Herivelto Martins e Grande Otelo, 1942), lamento pela decadência de um dos celeiros seminais do samba carioca. Elegante em seu comportado minimalismo, o (bom) tributo de Thiago Marques Luiz a Herivelto Martins tem sobretudo o mérito de acrescentar gravações inéditas à musicografia do centenário compositor.

Parceiro de Tatit e Tom Zé, Emerson Leal registra inspirada obra em CD

Resenha de CD
Título: Emerson Leal
Artista: Emerson Leal
Gravadora: Tratore
Cotação: * * * 1/2

Um ano e meio após ter ganhado inusitado elogiado de Chico Buarque ("O cara é fera!") em 20 de julho de 2011, por ocasião de show virtual em que o artista carioca propagou a chegada às lojas de seu álbum Chico, Emerson Leal - cantor e compositor baiano, radicado no Rio de Janeiro (RJ) - debuta em disco com chance de projetar sua inspirada obra autoral neste país de cantoras. Duas delas, aliás, dão voz a músicas do artista no recém-lançado CD Emerson Leal. Ariella (vocalista da extinta banda paulista Os Ilhonas) interpreta a deliciosa No Japão (Emerson Leal e Oto Paim) em dueto com o cantor apenas eficiente que vai se impondo como bom compositor ao longo deste coeso álbum produzido pelo próprio Emerson Leal e distribuído pela Tratore. Já Verônica Ferriani participa de outra sedutora faixa do disco, a leve Me Love Me, música de Leal letrada por Fernando Salém. A propósito, o fato de nomes como Luiz Tatit e Tom Zé terem escrito versos para músicas de Leal sinaliza que não é somente Chico Buarque que enxerga talento no artista que estreia aos 34 anos no mercado fonográfico. Das duas parcerias com Tatit, Coisa Perene (tema vivaz que concilia influências do samba e da música nordestina, perceptíveis no cancioneiro de Leal) e Das Flores e Das Dores, vale mencionar o perfeito casamento de música e letra da segunda. Das Flores e Das Dores parece música de Tatit, impressão reforçada pelo fato de o compositor paulista dividir a interpretação da faixa com Leal. Já Tom Zé é o engenhoso letrista de Círculo, cujos versos giram em torno da hipocrisia da moral social. Em contrapartida, outra boa música do disco, (Que É Que te Deu) De Repente, mostra que a obra de Leal também brilha sem suas (salutares) conexões com compositores já conhecidos. Enfim, Emerson Leal, o disco, expõe o talento de compositor que se situa (bem) entre o pop e a MPB, merecendo visibilidade e atenção neste Brasil de cantoras.

'Luas do Gonzaga' ilumina valsas feitas antes do reinado de Luiz no baião

Resenha de CD
Título: Luas do Gonzaga - Uma História de Luiz
Artista: Gereba Barreto & Convidados
Gravadora: Maximus / Tratore
Cotação: * * * 1/2

Antes de ser entronizado no posto de Rei do Baião, Luiz Gonzaga (1912 - 1989) compôs, ao longo dos anos 40, valsas e choros instrumentais que permaneceram esquecidos a partir do reinado do baião e do xote em seu cancioneiro. Essa produção seminal é iluminada por Luas do Gonzaga, projeto arquitetado há cinco anos por Gereba Barreto, compositor e músico baiano egresso do setentista grupo Bendegó e em carreira solo desde 1985. Nas lojas neste fim de 2012, ainda a tempo de festejar o centenário de nascimento de Luiz, o CD Luas do Gonzaga tira da escuridão boa produção autoral que, embora se apequene diante da magnitude do cancioneiro forrozeiro do Rei do Baião, tem momentos de beleza e joga luz sobre a incrível versatilidade de Gonzaga como compositor. As valsas e choros instrumentais ganharam versos criados para o projeto de Gereba por letristas e poetas como Abel Silva, autor dos versos de Lygia, valsa cantada por Jorge Vercillo. Batizadas com nomes de mulheres, as valsas dominam o repertório de Luas do Gonzaga. Além de Lygia, há Mara (letrada e cantada por Zeca Baleiro), a especialmente bela Marieta (letrada com lirismo por Fernando Brant e gravada com a voz ainda quente de Jair Rodrigues), Verônica (letrada e interpretada por Lirinha) e Wanda (reapresentada com versos de Tuzé de Abreu e a voz de Flávio Venturini). Estranho no ninho de valsas e choros, o maracatu Rei Bantu (Luiz Gonzaga e Zé Dantas) evoca nas vozes de Lenine e Margareth Menezes a origem pernambucana de Gonzaga, cuja voz abre o disco em fala captada em 1985 na terra natal do Rei, Exu (PE), ocasião em que Lua admitiu a Gereba sua insatisfação com o obscurantismo dessa sua produção autoral pré-baião. Dos choros, um - Treze de dezembro (Luiz Gonzaga, Zé Dantas e Gilberto Gil) - é bem conhecido, pois já foi gravado por Gilberto Gil, autor dos versos. Em contrapartida, Pisa de Mansinho (Luiz Gonzaga e Xico Bizerra) dá seu primeiro passo - com a letra de Bizerra - neste disco, em gravação feita por Adelmario Coelho e Santanna. Nesse museu de grandes novidades, vale destacar a beleza da inédita canção Sete Luas do Gonzaga, composta por Gereba em tributo a Luiz, letrada por Ronaldo Bastos e gravada com precisão pela voz límpida de Jussara Silveira. E por falar em canto límpido e preciso, Ná Ozzetti é a intérprete da seresteira Luar do Nordeste (Luiz Gonzaga e e J. Velloso), outro destaque do disco, cujo elenco inclui vozes desde sempre identificadas com a obra de Gonzaga, como as de Elba Ramalho - intérprete de Passeando em Paris (Luiz Gonzaga, Gereba Barreto, Bené Fonteles), tema onírico que segue a rota Paris-Rio com sutil toque de canção francesa - e Fagner, voz de Numa Serenata (Luiz Gonzaga e Carlos Pitta). Enfim, com valor musical e documental, Luas do Gonzaga joga luz sobre capítulo importante da história musical de Luiz e se impõe como um dos mais importantes tributos ao artista neste ano em que justa celebração de caráter multimídia reavivou o legado de Luiz Gonzaga em filme, musical de teatro, exposição, shows e discos como este projeto de Gereba. 

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Bieber lança edição acústica do CD 'Believe' em janeiro com três inéditas

Em vez de uma canção, como tinha previsto de início, Justin Bieber decidiu incluir três músicas inéditas em Believe Acoustic, CD que tem lançamento agendado nos Estados Unidos para 29 de janeiro de 2013. Como o título já anuncia, trata-se de versão acústica do terceiro álbum de estúdio do cantor canadense, Believe (2012). Sete músicas do álbum original - Boyfriend, As Long As You Love Me, Beauty and a BeatShe Don't Like the Lights, Take You, Be Alright e All Around the World - serão reapresentadas com arranjos acústicos ao lado das três inéditas (Yellow Raincoat, I Would e Nothing Like Us) e de registro ao vivo de Fall. CD sairá no Brasil.

Fontella Bass e Ray Collins, do grupo Mothers of Invention, saem de cena

Dois nomes atuantes no universo pop na década de 60 saíram de cena nos Estados Unidos nesta última semana de 2012. Cantora de soul e r & b, Fontella Bass (3 de julho de 1940 - 26 de dezembro de 2012), morta na Califórnia aos 72 anos, deixa para a posteridade o sucesso Rescue Me (Raynard Miner, Carl Smith e Fontella Bass) - líder da parada norte-americana de r & b em 1965 - e apenas oito álbuns de discografia espaçada, gravados entre 1966 e 2001. Já o cantor Ray Collins (19 de novembro de 1936 - 24 de dezembro de 2012) saiu de cena, aos 76 anos, na Véspera de Natal. Mas entrou para a história como cofundador do grupo The Mothers of Invention, originado do grupo The Soul Giants, criado por Collins em 1965. Mesmo eclipsado por Frank Zappa, Collins foi o solista de álbuns iniciais do Mothers of Invention como Freak Out! (1966), Absolutely Free (1967) e Cruising With Ruben & the Jets (1968). Mas deixou o grupo ainda nos anos 60, insatisfeito com o som da banda, que seguiu sob liderança de Zappa.

Kelly Key faz sua festa infantil com hits de Toquinho e de Sandy & Júnior

Sem rumo no mercado fonográfico, Kelly Key volta a mirar o público infantil com Festa Kids, disco dançante em que Key regrava hits de Skank (É Uma Partida de Futebol), Sandy & Júnior (Vamo Pulá), MC Leozinho (Ela Só Pensa em Beijar), Balão Mágico (Superfantástico), Luka (Tô Nem Aí), Claudinho & Buchecha (Quero te Encontrar) e Toquinho (Aquarela). Paulo Jeveaux capitaneia a produção de Festa Kids, CD distribuído pela Sony Music no fim deste ano de 2012.

Com Sotaque Carregado, DJ Mam enfatiza a batida afro-brasileira em CD

DJ Mam - nome artístico do DJ, produtor e compositor carioca Marco Aurélio Marinho - já esteve a frente de projetos como Brazilian Lounge e Estudando o Som, mas atualmente se dedica ao Sotaque Carregado, nome do disco e do coletivo que, sob a batuta de Mam, toca temas de batida afro-brasileira como Coco de ItaparicaColorissom, Cuz Cuz de Canô (tributo à recentemente falecida Dona Canô, matriarca da família que gerou Caetano Veloso e Maria Bethânia), Iemanjá Carioca e Ogun Oni Irê. Sotaque Carregado, CD produzido por Mam com Alex Moreira, dá tom cosmopolita ao groove dos tambores que ressoam nos terreiros do Brasil.

Dois álbuns com os tons de Carlos Lyra nos anos 70 voltam ao catálogo

O nome de Carlos Lyra vai estar para sempre associado ao magistral repertório que compôs no rastro do nascimento da Bossa Nova. Contudo, o cantor e compositor carioca tentou ir além da bossa ao longo dos anos 70. Dois raros títulos da discografia de Lyra nessa década - até então nunca lançados em formato digital - ganham suas primeiras edições em CD em box da série Tons, da Universal Music. A caixa Dois Tons de Carlos Lyra embala os álbuns ...E no Entanto É Preciso Cantar (1971) e Eu & Elas... (1972). No disco de 1971, produzido por Menescal com arranjos de Théo de Barros, o artista até revisita sucessos marcantes de sua fase bossa-novista, mas lança inéditas - como Até Parece e Lenda do Rio Vermelho - e abre parceria com Chico Buarque, coautor e convidado de Essa Passou, cujo título alude à castradora censura da época. Já Eu & Elas... passa no título a impressão errônea de ser álbum de duetos com vozes femininas, mas, a rigor, elas são Kate Lyra (mulher e parceira de Lyra em Nothing Night) e a então recém-nascida Kay Lyra, filha do casal. No disco, produzido pelo compositor Paulinho Tapajós com arranjos de Hugo Bellard, Lyra dá voz a inéditos temas autorais como Entrudo (nova parceria com o cineasta Ruy Guerra), O Amor Mais TristeAntes do Tempo e Despedida.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Miley Cyrus divulga 'cover' de 'Jolene', hit de sua madrinha Dolly Parton

Miley Cyrus propaga na internet, nesta última semana de 2012, o clipe com sua até então inédita gravação de Jolene, sucesso de sua madrinha Dolly Parton. Lançada em single, em outubro de 1973, Jolene deu título ao álbum que seria editado no ano seguinte pela cantora e compositora norte-americana de country. A música é de autoria de Parton. Divulgada no canal de Cyrus no YouTube, a gravação da atriz e cantora norte-americana é do início de 2012 e faz parte do que a jovem artista (de origem country, a propósito) intitula The Backyard Sessions.

Frank Ocean sintoniza em 'Channel Orange' estado de espírito de sua era

Resenha de CD
Título: Channel Orange
Artista: Frank Ocean
Gravadora: Def Jam / Universal Music
Cotação: * * * * *

Channel Orange é o What's Going On de Frank Ocean - com a vantagem (para Ocean) de Channel Orange ser somente seu primeiro álbum enquanto What's Going On já era o 11º álbum de Marvin Gaye (1939 - 1984). Tanto um quanto outro captam o espírito de sua época em letras fortes. Ocean - para quem não liga o nome ao som - era o rapper do coletivo Odd Future que deu seu primeiro passo solo ao editar em fevereiro de 2011 a mixtape Nostalgia, Ultra. Em Channel Orange, Ocean sintoniza o (desiludido) estado de espírito de sua geração em álbum que ganha edição brasileira com cinco meses de atraso - certamente fabricada pela Universal Music no rastro da (justa) inclusão do disco nas precoces listas de melhores do ano. Como mostram belas músicas como Sweet Life e Thinkin' 'Bout You, Ocean transita entre o soul e o r & b de forma moderna, contemporânea, sem apelar para o pastiche destes gêneros. Contudo, o que torna Channel Orange um clássico instântaneo é a força do canto de Ocean - que abusa dos falsetes com naturalidade - e das letras do artista. Ao enfocar personagens fictícios em seus versos cinematográficos, o artista discorre sobre problemas reais de alcance universal. A solidariedade impregnada nos versos de Crack Rock - tema que versa sobre jovem viciado em crack - contrasta com o tom impiedoso da crítica feita em Super Rich Kids aos jovens ricos e vazios que vagam pelo mundo derrotados em sua arrogância e apatia. Única música que talvez possa merecer o carimbo de pop, Lost foca mulher-objeto que vira avião em travessia sem rumo enquanto Pyramids - o épico do álbum, com dez minutos de bom uso dos recursos eletrônicos - transporta Cleópatra para tempos menos glamourosos na rota Egito-Las Vegas. Nessa rota, há a melancolia destilada por Ocean na conversa solitária travada com o motorista de táxi personificado nos versos de Bad ReligionChannel Orange sintoniza amores e perdas e, nessa seara, faz sentido Ocean ter saído do armário em 4 de julho de 2012 (dias antes do lançamento do álbum nos Estados Unidos), quebrando tabus no universo machista do hip hop ao assumir sua homossexualidade. Na contramão da agressividade gratuita de muitos rappers, o disco esbanja sensibilidade e delicadeza - sem afetação - na forma com que Ocean vê o mundo nas letras de Channel Orange, CD que conta com a guitarra de John Mayer no tema instrumental White e com o rapper Andre 3000 (do Outkast) em Pink Matter. Do início (com a vinheta Start) ao fim (com End e a faixa escondida Golden Girl), tudo parece em total sintonia em Channel Orange. Belas melodias (com letras fortes), uma voz potente (que vai dos graves aos agudos com facilidade) e um som que atualiza o soul e o r & b fazem de Channel Orange disco memorável que se impõe na produção de 2012 e que tem tudo para ser lembrado ao longo dos anos como um clássico de seu época, uma obra-prima de seu artista, significando na discografia de Frank Ocean tudo o que What's Going On representa na obra de Marvin Gaye.

DVD e CD com registro do tributo itinerante a Bosco já estão no mercado

Já estão nas lojas, com distribuição da Universal Music, o CD e o DVD que registram o show itinerante em tributo a João Bosco que reuniu, além do homenageado, Alcione, Leila Pinheiro, Mariana Aydar e Péricles. Originado da 23ª edição do Prêmio da Música Brasileira, que celebrou a vida e obra de Bosco no ano em que o artista completou quatro décadas de carreira fonográfica, o show foi gravado ao vivo em 11 de julho de 2012 no Teatro Abril, em São Paulo (SP), na última apresentação da turnê. O CD toca 20 dos 21 números do show. Somente Casa de Marimbondo (João Bosco e Aldir Blanc, 1975) - tema cantado por Mariana Aydar, que também interpreta De Frente pro Crime (João Bosco e Aldir Blanc, 1974) e Memória da Pele (João Bosco e Waly Salomão, 1989) - foi excluído do CD por falta de espaço. Sob direção de José Mauricio Machline, criador do Prêmio da Música Brasileira, os cinco artistas passam em revista os grandes sucessos de Bosco. Se Péricles não mostra toda a grandeza de Nação (João Bosco, Aldir Blanc e Paulo Emílio, 1982) antes de seguir a pegada sensual do bolero Dois pra Lá, Dois pra Cá (João Bosco e Aldir Blanc, 1974) e de cantar Kid Cavaquinho (João Bosco e Aldir Blanc, 1979), Leila Pinheiro faz a primeira gravação da obra-prima Sinhá (João Bosco e Chico Buarque, 2011) após os registros feitos por Chico Buarque em estúdio e ao vivo. Com suingue, Alcione cai dentro de Linha de Passe (João Bosco, Aldir Blanc e Paulo Emílio, 1979), escapa ilesa do tiroteio verbal de Bala com Bala (João Bosco e Aldir Blanc, 1972) e destila o fino romantismo de Quando o Amor Acontece (João Bosco e Abel Silva, 1987). No fim, Bosco entra em cena para duetos com os cantores e números feitos com a adesão da Banda Mantiqueira. Nos extras do DVD, todos cantam Dom de Encantar, samba em que Arlindo Cruz celebra Bosco.

Rod Digital reedita o terceiro álbum de Luiz Carlos da Vila, 'Raças Brasil'

Seis meses após o selo Discobertas ter reeditado o segundo raro álbum do cantor e compositor carioca Luiz Carlos da Vila (1949 - 2008), Pra Esfriar a Cabeça... (Arca Som, 1985), a gravadora carioca Rob Digital repõe em catálogo o terceiro disco do sambista, Raças Brasil. Gravado em 1990 para o mercado japonês, sob a produção de Katsonouri Tanaka e a direção artística do violonista Maurício Carrilho, Raças Brasil foi lançado no Brasil em 1995 pela gravadora Velas. Carrilho recrutou uma seleção de virtuoses - Raphael Rabello (1962 - 1995) no violão de sete cordas, Marcos Suzano no pandeiro, Mestre Marçal na cuíca e Gordinho no surdo, entre outros músicos de primeiro time - para tocar neste disco em que Vila registrou sambas como Além da Razão (Sombra, Sombrinha e Luiz Carlos da Vila), Sorrir Já Não Basta (Sombra, Sombrinha e Luiz Carlos da Vila), 13 de Maio (Bandeira Brasil e Luiz Carlos da Vila) e Samba que Nem Rita Adora (Jane e Luiz Carlos da Vila), entre outros títulos de seu cancioneiro tão poético quanto engajado. Com a dispensável adição do rótulo 'edição de colecionador' na capa (detalhe, aliás, abominado por todo colecionador de discos), a reedição de Raças Brasil pela Rod Digital é valorizada pelo texto escrito por Henrique Cazes para o encarte do CD. Cazes contextualiza o álbum na carreira do artista, ressaltando que, na época da gravação deste terceiro disco (e não o segundo, como Cazes afirma erroneamente), Luiz Carlos da Vila - autor do samba-enredo Kizomba, A Festa da Raça (1988) - já era compositor respeitado, de sucesso.

Filmagem sem plateia torna redundante segundo registro de 'Alma Lírica'

Resenha de CD / DVD
Título: Alma Lírica Brasileira
Artista: Mônica Salmaso
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * *

Nem a filmagem sofisticada - feita em preto e branco no Teatro Alfa, em São Paulo (SP), sob a direção do cineasta Walter Carvalho, um dos melhores diretores de fotografia do cinema brasileiro - atenua a impressão de que este segundo registro do show Alma Lírica Brasileira soa extremamente redundante no confronto com o disco de estúdio lançado em 2011 pela mesma gravadora, a Biscoito Fino, que ora põe nas lojas o DVD (o CD com o áudio do DVD já estava à venda desde o início deste segundo semestre de 2012). Explica-se: o disco de estúdio já apresentou um registro fiel do show surgido espontaneamente em 2010 a partir do convite para a cantora fazer uma apresentação de formação reduzida. O DVD pouco acrescenta ao registro anterior pelo fato de ter sido filmado sem plateia. O trio de Alma Lírica Brasileira - Mônica Salmaso (voz), Nelson Ayres (piano) e Teco Cardoso (sopros) - está sozinho em cena, sem a interferência do público. Contudo, como o show é preciso em sua essência, nem a adição de quatro músicas ausentes no CD de 2011 - Ciranda da Bailarina (Edu Lobo e Chico Buarque), Minha Palhoça (J. Cascata), Valsinha (Chico Buarque e Vinicius de Moraes) e Véspera de Natal (Adoniran Barbosa) - dilui a nítida sensação de que ouve-se mais do mesmo. A filmagem propriamente dita acentua a classe do show pela opção pelo p & b com sutis adição de cor (tal como visto na capa do DVD). Enfim, o show em si é irretocável. Mas seu segundo registro - em que pese o requinte da captação das imagens - peca pela extrema redundância.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

CD dos 40 anos de carreira de Alcina tem inédita de Buhr e duo com Ney

Previsto de início para ser gravado e lançado neste ano de 2012, a tempo de comemorar os 40 anos de carreira de Maria Alcina, o disco Eu Sou Alcina vai ser efetivamente gravado no primeiro semestre de 2013. A previsão é de que a intérprete entre em fevereiro no estúdio da gravadora paulista Lua Music. Cantora mineira projetada em escala nacional em 1972 ao defender música de Jorge Ben Jor, Fio Maravilha, na sétima edição do Festival Internacional da Canção, a artista ganhou música inédita de Karina Buhr, Cocadinha de sal, para o CD. A música de Buhr se junta às inéditas já enviadas por Arnaldo Antunes (De Normal Bastam Os Outros) e Zeca Baleiro (Eu Sou Alcina, música que dá título ao álbum idealizado pelo produtor Thiago Marques Luiz). Está previsto um dueto de Alcina com Ney Matogrosso em Casamento da Pastora, um tema do folclore nordestino, recolhido pelo Pastoril do Velho Faceta. O repertório já selecionado para o álbum inclui Fogo da Morena (Felipe Cordeiro, 2011), Galo Garnizé (Luiz Gonzaga e Antonio Almeida, 1943), O Chefão (João Bosco e Aldir Blanc, 1974) e Vô Baté Pá Tu (Chico Anysio e Arnaud Rodrigues, 1974). O violonista Rovilson Pascoal assina a direção musical.

Caixa com álbuns de Arnaldo festeja 20 anos do solo do ex-Titã em 2013

Os álbuns de Arnaldo Antunes vão ser encaixotados em 2013. Idealizada para comemorar os 20 anos de carreira solo do cantor e compositor paulista, iniciada em 1993 com a edição do CD Nome, a caixa vai embalar álbuns como Ninguém (1995), O Silêncio (1996), Um Som (1998) e Paradeiro (2001), entre outros títulos já mais ou menos raros da discografia solo do ex-Titã. 

Warner entra em 2013 com Rappa no cast e sem Affonso na presidência

Executivo atuante há decadas na indústria fonográfica brasileira, Sergio Affonso vai deixar a presidência da Warner Music no início de 2013. Especula-se nos bastidores do mercado do disco que Marcelo Castello Branco - executivo que deixou a presidência da EMI Music em setembro de 2010 - estaria cotado para assumir o posto de Affonso. Seja como for, antes de se desligar da Warner, Affonso renovou o contrato do grupo carioca O Rappa por mais três álbuns. O Rappa é o nome mais forte do (fraco) elenco nacional da Warner Music, que perdeu Maria Rita para a Universal Music neste ano de 2012. Em contrapartida, algumas contratações feitas por Affonso ao longo de 2012 - como a banda carioca Ava (da cantora Ava Rocha) e o cantor e compositor carioca Adriano Ribeiro (fornecedor de repertório para grupos de pagode) - não aconteceram.

Documentários sobre vida e obra de Beyoncé e Gaga estreiam em 2013

Beyoncé e Lady Gaga preparam para 2013 documentários sobre suas vidas e obras. Em fase de produção, o filme de Gaga é assinado por Terry Richardson. Já o filme dirigido por Beyoncé, Beyoncé - A Documentary Special, tem estreia programada para fevereiro nos Estados Unidos.

À base de corda, Consuelo dá voz em 'Casa' a 11 parcerias com Nogueira

Resenha de CD
Título: Casa
Artista: Consuelo de Paula
Gravadora: Tratore
Cotação: * * * 1/2

Cantora e compositora mineira, radicada em São Paulo (SP) há mais de 20 anos, Consuelo de Paula ganhou certa visibilidade nacional em 2009 quando Maria Bethânia gravou sua música Sete Trovas no CD Encanteria. Contudo, a discografia da artista já começara em 1998 com a edição do CD Samba, Seresta e Baião. Lançado no fim deste ano de 2012, Casa é o quinto título dessa discografia construída à margem do mercado fonográfico. Em Casa, Consuelo abre as portas somente para sua parceria com o compositor e violonista Rubens Nogueira (1959 - 2012), iniciada em 2004. Nogueira é o autor das 12 melodias gravadas no álbum com a orquestra À Base de Corda. Onze têm versos de Consuelo, escritos com poesia e lirismo. A exceção é Estrela, tema que fecha o disco em registro instrumental. Da derradeira safra da parceria de Nogueira com Consuelo, vale destacar a beleza de Borboleta - canção inspirada no poema Elegia a Uma Pequena Borboleta, de Cecília Meireles (1901 - 1964) e valorizada pelo arranjo esvoaçante de Dante Ozzetti - e do samba Marinheiro, que navega nas águas dos mestres do gênero (outro samba, , alocado já ao fim do disco, se revela menos sedutor). Merece também menção honrosa a delicadeza de Espera, tema arranjado por Chico Saraiva. Nesta música, como em outras de Casa, salta aos ouvidos a limpidez da voz de Consuelo de Paula. A propósito, canções como Convite (que evoca certa mineirice sem carregar nas tintas regionais), Navegações e Réquiem são valorizadas no disco pela perfeita sintonia entre canto, arranjos (feitos à base das cordas da orquestra), músicas e letras. Casa merece enfim a visita de ouvintes identificados com uma música mais poética, urdida nos tempos idos da delicadeza.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Aos 90 anos, Bibi faz sua festa de Natal em heterogênea família musical

Resenha de CD
Título: Natal Família
Artista: Bibi Ferreira & Convidados
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * *

O CD Natal em Família, de Bibi Ferreira, já merece ser notícia somente pelo fato de ter sido gravado por uma senhora intérprete de 90 anos. Com sua espantosa vitalidade, a atriz - desde sempre habilidosa quando pisa no terreno do canto - festeja com alegria o Natal na companhia de sua (heterogênea) família musical. Sob a produção de Flávio Mendes e a direção artística de Nilson Raman, Bibi recebe convidados de estilos distintos para regravar alguns clássicos natalinos que atravessaram gerações - como Natal das Crianças (Bleacute), Noite Feliz (Franz Gruber e Vicente Arico Junior) e  Sino de Belém, versão de Evaldo Rui para Jingle Bells (James Pierpont), cantada por Bibi com Alcione - e outros que caíram em esquecimento, caso de Feliz Natal (Klecius Caldas e Armando Cavalcanti), tirado do baú por Bibi com adesão da voz aveludada de Emílio Santiago. Faixa de surpreendente suingue, à moda norte-americana, E Nasceu Jesus (Orlandivo e Roberto Jorge) teria resultado mais sedutor sem a presença de Fábio de Melo, pois o padre cantor não tem o balanço, a leveza e a musicalidade de Bibi para encarar tema cheio de suingue - bisado em Vem Chegando o Natal, versão de Santa Claus Is Coming to Town, revivida por Bibi com Xuxa e com as vozes vivazes do coral Dó Ré Mi. Tema propagado pela TV Globo desde os anos 70 em sua mensagem de fim de ano, Um Novo Tempo (Marcos Valle, Paulo Sérgio Valle e Nelson Motta) até se diferencia pela graça de reunir cinco jovens cantoras novas (Alexia Bomtempo, Alice Caymmi, Ana Cristina, Joyce Cândido e Maíra Freitas). Em contrapartida, o medley que junta Estrada do Sol (Antonio Carlos Jobim e Dolores Duran) com Estão Voltando as Flores (Paulo Soledade) - liberdade estilística do repertório - mostra o quão são destoantes os estilos dos cantos de Bibi e de Roberta Miranda, convidada da faixa. Não dá liga! O canto operístico de Max Wilson ao menos se ajusta ao tom sacro de Oh, Noite Santa (Adolphe Adam). O mesmo tom de Ave Maria (Franz Schubert), cantada por Bibi com Ronnie Von no fecho deste CD que vai soar familiar para os admiradores de Bibi Ferreira.

Green celebra Natal em 'Cee Lo's Magic Moment' com espírito da Motown

Resenha de CD
Título: Cee Lo's Magic Moment
Artista: Cee Lo Green
Gravadora: Elektra / Warner Music
Cotação: * * * *

Primeiro álbum natalino do rapper e produtor norte-americano Cee Lo Green, Cee Lo's Magic Moment é o melhor disco do gênero lançado neste ano de 2012. Um belo presente de Natal para quem curte a velha escola do soul e r & b! É com o som e o espírito da Motown que Green celebra o Natal neste disco cheio de suingue produzido por Adam Anders & Per Astrom. Clássico do compositor Irving Berlin (1888 - 1989), White Christmas nunca soou tão negro e sedutor como no registro de Cee Lo's Magic Moment. What Christmas Means To Me (Anna Gaye, George Gordy e Allen Story) e Baby It's Cold Outside (Frank Loesser) - tema gravado em caloroso dueto com Christina Aguilera - ganharam o mesmo tom negro que pauta o álbum. A participação dos Muppets em All I Need Is Love (Adam Anders, Peer Astrom e Piero Umiliani) lembra que o Natal é - também e sobretudo - a festa das crianças. A faixa tem o espírito lúdico que também anima You're a Mean One, Mr. Grinch (Dr. Suess e Albert Hague), tema gravado com as vozes a capella do grupo norte-americano Straight No Chaser. O rhythm and blues Run Rudolph Run (Marvin Brodie e Michael Marks) reitera a intimidade de Green com o som da Motown.  Já The Christmas Song (Mel Torme e Robert Wells) vira baladão soul, cheio de alma. Dentro desse estilo, Please Come Home for Christmas (Charles Brown e Gene Redd) se torna convite irresistível à celebração do Natal. Enfim, mesmo que não reinvente a roda bebendo da rica fonte que já rendeu discos antológicos como Christmas Album  do Jackson 5 (Motown, 1970), Cee Lo's Magic Moment transborda vida e magia em tempo de música estéril.

André Rieu transforma o Natal em espetáculo pop(ular) em CD e em DVD

Um dos artistas mais populares do mundo, o violinista holandês André Rieu vem aumentando seu catálogo fonográfico na velocidade com que o público vem esgotando os ingressos para suas apresentações (pop)ulares. No embalo dos festejos de Natal, a gravadora Universal Music pôs nas lojas neste mês de dezembro de 2012 dois títulos natalinos da obra de Rieu. Em ambos, o violinista dá seu show habitual ao abordar clássicos do cancioneiro natalino. Home for Christmas - lançado em DVD e em blu-ray (este disponível somente no exterior) - exibe espetáculo gravado por Rieu no jardim de sua casa, situada na cidade natal de Maastricht. Na companhia da Johann Strauss Orchestra (e com intervenções dos coros The Royal Choir Society Mastreechter Staar e The Sjamaes Children's Choir, além da bailarina - de dez anos - chamada Rosa), Rieu toca 26 temas natalinos com toda a pompa e circunstância. Um, December Lights, é inédito. Trata-se de música de autoria do próprio Rieu, composta para saudar o encontro do músico com sua mulher, Marjorie, na Bélgica, em tempos de pobreza. December Lights é a música que dá título ao CD já editado no Brasil. Embora tenha título e capa diferentes do DVD, o CD rebobina repertório extraído do concerto de Natal gravado ao vivo para edição em vídeo.

Com seu canto operístico, Jenkins ritualiza o Natal em 'This Is Christmas'

Resenha de CD
Título: This Is Christmas
Artista: Katherine Jenkins
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * * 1/2

À moda clássica, Katherine Jenkins ritualiza o Natal em seu 10º álbum, This Is Christmas, o primeiro de caráter natalino. Para quem não liga o nome de Jenkins à sua voz operística de mezzo-soprano, a cantora do País de Gales alcançou projeção mundial ao aderir ao crossover, cruzando a música clássica com a popular - tal como o tenor Plácido Domingo, convidado de Jenkins na faixa Come What May. É como uma cantora de ópera, habituada a encarar e escalar árias, que Jenkins dá voz a temas natalinos pouco batidos, como Deck The Halls e Sleep Quietly My Jesus, neste disco de estilo clássico e classudo. Já na primeira (grande) faixa, O Come O Come Emmanuel, a intérprete solta sua voz em feitio de oração, enfatizando o clima sacro do Natal. This Is Christmas é disco de pompa, coros - como os ouvidos em Ding Dong Merrily on High e I Wish You Christmas - e circunstância. Contudo, acima de tudo, paira a beleza do canto de Katherine Jenkins, que atinge tons sublimes em Angels From The Realms of Glory e em Away in a Manger, o destaque maior deste disco tão tradicional quanto sedutor.