quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Com alma de fadista, Carminho atravessa o Atlântico no segundo álbum

Resenha de CD
Título: Alma
Artista: Carminho
Gravadora: MP,B / Universal Music
Cotação: * * * *

Faz sentido que Saudade do Brasil em Portugal (Vinicius de Moraes e Homem Cristo, 1968) esteja entre as 17 faixas da edição original portuguesa do segundo álbum da fadista Carminho, Alma. E não é somente pelo fato de o repertório original já incluir delicado registro de Meu Namorado, tema menos conhecido da trilha sonora composta por Edu Lobo e Chico Buarque para o balé O Grande Circo Místico (1983). Nas três faixas inéditas da edição especial de Alma, recém-lançada no Brasil pelo selo MP,B com distribuição da Universal Music, Carminho atravessa o Atlântico e faz conexões com cantores e compositores brasileiros. Mas não se trata de saudade do Brasil em Portugal. A travessia tem como objetivo alcançar no Brasil o sucesso e o prestígio obtidos por António Zambujo, cantor lusitano também lançado no mercado nacional via selo MP,B com as mesmas doses de marketing aplicadas em Carminho. Não vai ser difícil. Maria do Carmo Carvalho Rebelo de Andrade canta fado com alma, descende da linhagem nobre de intérpretes como Amália Rodrigues (1920 - 1999) - com quem, aliás, Vinicius de Moraes (1913 - 1980) lançou Saudade do Brasil em Portugal em álbum de 1968 - e desfia com categoria a ladainha amorosa do fado mais clássico em temas como Lágrimas do Céu (Carlos Conde e Alfredo Marceneiro), Cabeça de Vento (João Linhares Barbosa e Armando Machado) e Fado Adeus (Vitorino). Sob a produção e direção musical de Diogo Clemente, que toca baixo e viola de fado em algumas das 15 faixas da edição brasileira de Alma, Carminho encara o peso natural do fado com seu canto luminoso, sentido, e com a tradicional guitarra portuguesa, na qual se alternam os músicos Bernardo Couto, José Manuel Neto, Ângelo Freire e Mário Pacheco. Contudo, a fadista insere no repertório alguns temas mais leves, caso de Bom Dia, Amor (Carta de Maria José), música inédita de autoria do citado Diogo Clemente. Para ouvidos brasileiros, as três faixas adicionadas ao repertório original - com arranjos dos violonistas do Trio Madeira Brasil - são cerejas do delicioso bolo. Até porque, ao lado de Milton Nascimento, Carminho inventa um Cais (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1972) com nuances, alma própria e sentido todo especial na travessia atlântica. Também feito no tempo da delicadeza, o leve dueto com Nana Caymmi em Contrato de Separação (Dominguinhos e Anastácia, 1979) - canção lançada pela intérprete brasileira no álbum Nana Caymmi (EMI-Odeon, 1979) - nem por isso deixa de aumentar o peso de repertório em geral choroso. Por fim, Carminho e Chico Buarque lamentam com ternura a apatia da desatenta Carolina (Chico Buarque, 1967). Enfim, Alma é o título apropriado para o disco de uma cantora portuguesa que traz uma gama de fortes sentimentos na voz privilegiada. Carminho sabe cantar o fado de maneira clássica, até com eventuais liberdades estilísticas, mas sem cair em trilha modernosa.

6 comentários:

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  2. Acho "Contratação de Separação" uma das mais belas canções do repertório de Dominguinhos. Há uma versão da Zizi Possi que eu acho espetacular, além da emblemática versão da Nana.

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  3. "Contrato de Separação" contribui para suavizar o peso de repertório em lacrimenjante? Engraçado, eu sempre achei essa música pesada. Linda, sim, mas para baixo. Bem, daí, eu imagino o quanto os fados devem ser barra pesada. Como se diz, música para se ouvir no térreo! rs

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  4. Realmente a versão que a Zizi Possi fez dessa música pro especial da Globo é de arrepiar - contida, precisa e emocionante. Deu até saudade daquela Zizi dos 90.

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  5. Sim, Flávio, tem razão. Eu me referia ao tom da gravação. Mas a música em si é pesada. Grato pelo toque. Refiz o texto para não dar margem a dúvidas. abs, MauroF

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