domingo, 9 de dezembro de 2012

Com sua lógica, Tom Zé desfolha a bandeira no Rio com músicas bonitas

Resenha de show
Evento: Festival Multiplicidade
Título: Tropicália Lixo Lógico
Artista: Tom Zé  (em foto de Gabi Carrera)
Local: Teatro do Oi Futuro Flamengo (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 6 de dezembro de 2012
Cotação: * * * *

"Fiquei besta quando descobri, depois de velho, que eu podia fazer música bonita", disparou Tom Zé, do alto de seus 76 anos, no meio da apresentação do show Tropicália Lixo Lógico que o trouxe de volta aos palcos do Rio de Janeiro (RJ) em 6 de dezembro para encerrar a oitava edição do Festival Multiplicidade, sediado no Oi Futuro Flamengo neste ano de 2012. Com sua habitual verve, o cantor e compositor baiano se referia ao bom acabamento pop do repertório de seu recém-lançado CD Tropicália Lixo Lógico. E foi com músicas realmente bonitas - como as canções Capitais e Tais (Tom Zé, 2012) e Amarração do Amor (Tom Zé, 2012) - que o artista desfolhou a bandeira no teatro do Oi Futuro Flamengo com (sua) lógica. Houve hits na abertura do show - feita com Nave Maria (Tom Zé, 1984) e 2001 (Tom Zé e Rita Lee, 1969) - e no bis, dado com os sambas (Tom Zé e Elton Medeiros, 1976) e Augusta, Angélica e Consolação (Tom Zé, 1973). Mas o mote do roteiro foi o repertório do álbum Tropicália Lixo Lógico, com o qual Tom Zé reorganiza o movimento e recicla o lixo e o luxo nativos com lógica filosófica e a inspiração melódica de que se gabou na fala do show. Uma de suas muitas falas, aliás. "Tem dia que música não anima. Aí, eu converso mais", (se) justificou em cena. Mesmo com o público animado pela música, o artista falou muito. Mas o bem-humorado discurso de Tom Zé - justiça seja feita - reiterou o sentido particular de sua obra, contextualizando a gênese de canções como O Motobói e Maria Clara (Tom Zé, 2012), cuja parte cantada por Mallu Magalhães no disco foi confiada (com êxito) a uma das duas vocalistas (Cristina Carneiro e Lia Bernardes) da banda formada por Rogério Bastos (bateria), Felipe Alves (baixo), Jarbas Mariz (bandolim) e Daniel Maia - produtor do disco Tropicália Lixo Lógico - na guitarra. Essa banda sustentou o peso do rock Aviso aos Passageiros (Tom Zé, 2012) e o arretado pique forrozeiro de Xique-Xique (Tom Zé e Zé Miguel Wisnik, 1997) - além de ter guiado o próprio artista em momentos de hesitação, já que a inquietude do tecnologizado Tom Zé é tamanha que por vezes ele se perdia nas falas e no próprio roteiro do show. Em cena, aliás, a presença do artista é tão magnética que tornou secundária as intervenções visuais do coletivo multimídia SuperUber, autor do projeto de cenografia digital criado especialmente para o show. As interações do cantor com o público dominaram a cena. O momento em que o SuperUber mais apareceu foi quando sincronizava a projeção do nome Tom Zé com verso de tema improvisado pelo artista para o evento. Com direito à inclusão no roteiro de músicas ainda sem registro em disco, caso de Não Urine no Chão (Tom Zé, 2011), o show Tropicália Lixo Lógico corrobora a tese do CD que o inspirou. Temas de denso embasamento teórico, como Tropicalea Jacta Est (Tom Zé, 2012), ganham vida e beleza no palco. Como antes, Tom Zé continua fazendo músicas bonitas - e essa beleza, sim, é que já é velha conhecida dos admiradores de sua obra original, em permanente ebulição.

4 comentários:

  1. "Fiquei besta quando descobri, depois de velho, que eu podia fazer música bonita", disparou Tom Zé, do alto de seus 76 anos, no meio da apresentação do show Tropicália Lixo Lógico que o trouxe de volta aos palcos do Rio de Janeiro (RJ) em 6 de dezembro para encerrar a oitava edição do Festival Multiplicidade, sediado no Oi Futuro Flamengo neste ano de 2012. Com sua habitual verve, o cantor e compositor baiano se referia ao bom acabamento pop do repertório de seu recém-lançado CD Tropicália Lixo Lógico. E foi com músicas realmente bonitas - como as canções Capitais e Tais (Tom Zé, 2012) e Amarração do Amor (Tom Zé, 2012) - que o artista desfolhou a bandeira no teatro do Oi Futuro Flamengo com (sua) lógica. Houve hits na abertura do show - feita com Nave Maria (Tom Zé, 1984) e 2001 (Tom Zé e Rita Lee, 1969) - e no bis, dado com os sambas Tô (Tom Zé e Elton Medeiros, 1976) e Augusta, Angélica e Consolação (Tom Zé, 1973). Mas o mote do roteiro foi o repertório do álbum Tropicália Lixo Lógico, com o qual Tom Zé reorganiza o movimento e recicla o lixo e o luxo nativos com lógica filosófica e a inspiração melódica de que se gabou na fala do show. Uma de suas muitas falas, aliás. "Tem dia que música não anima. Aí, eu converso mais", (se) justificou em cena. Mesmo com o público animado pela música, o artista falou muito. Mas o bem-humorado discurso de Tom Zé - justiça seja feita - reiterou o sentido particular de sua obra, contextualizando a gênese de canções como O Motobói e Maria Clara (Tom Zé, 2012), cuja parte cantada por Mallu Magalhães no disco foi confiada (com êxito) a uma das duas vocalistas (Cristina Carneiro e Lia Bernardes) da banda formada por Rogério Bastos (bateria), Felipe Alves (baixo), Jarbas Moriz (bandolim) e Daniel Maia - produtor do disco Tropicália Lixo Lógico - na guitarra. Essa banda sustentou o peso do rock Aviso aos Passageiros (Tom Zé, 2012) e o arretado pique forrozeiro de Xique-Xique (Tom Zé e Zé Miguel Wisnik, 1997) - além de ter guiado o próprio artista em momentos de hesitação, já que a inquietude do tecnologizado Tom Zé é tamanha que por vezes ele se perdia nas falas e no próprio roteiro do show. Em cena, aliás, a presença do artista é tão magnética que tornou secundária as intervenções visuais do coletivo multimídia SuperUber, autor do projeto de cenografia digital criado especialmente para o show. As interações do cantor com o público dominaram a cena. O momento em que o SuperUber mais apareceu foi quando sincronizava a projeção do nome Tom Zé com verso de tema improvisado pelo artista para o evento. Com direito à inclusão no roteiro de músicas ainda sem registro em disco, caso de Não Urine no Chão (Tom Zé, 2011), o show Tropicália Lixo Lógico corrobora a tese do CD que o inspirou. Temas de denso embasamento teórico, como Tropicalea Jacta Est (Tom Zé, 2012), ganham vida e beleza no palco. Como antes, Tom Zé continua fazendo músicas bonitas - e essa beleza, sim, é que é velha conhecida dos admiradores de sua obra original, em permanente ebulição.

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  2. Ótima resenha, Mauro, como sempre. Fiquei curioso pela letra dessa canção nova, Não Urine no chão.
    Só uma correçãozinha, se me permite: O nome do bandolinista é Jarbas Mariz em vez de Moriz. Ele, inclusive, é o mais antigo da banda a tocar com Tom Zé. Abraço.

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  3. Grato, Qualquer Coisa, pelo olhar atento. Já corrigi o nome do Jarbas.
    Quanto à letra de 'Não Urine no Chão', acho que vc encontra na internet. A música é inédita em disco, mas já vem sendo cantada pelo Tom Zé em shows. Abs, MauroF

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  4. A letra de "Não Urine No Chão" se encontra em sua totalidade no blog do UOL que o Tom Zé mantém. Zé disse que ele fez esta canção ao ler um aviso de banheiro onde continha esta frase.

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