domingo, 23 de dezembro de 2012

'A incomparável' dá voz em livro às memórias de Marlene, estrela dos palcos

Resenha de livro
Coleção: Aplauso música
Título: Marlene - A incomparável
Autoria: Diana Aragão
Edição: Imprensa Oficial Governo do Estado de São Paulo
Cotação: * * * 1/2

 Marco inicial do renascimento artístico de Marlene, o show Carnavália (1968) poderia ter passado em brancas nuvens se não fosse a determinação de Marlene ao convencer o elenco a se apresentar para os dois únicos espectadores que não se intimidaram com a chuva que caía sobre o Rio de Janeiro (RJ) numa noite de 1968 e que saíram de casa para assistir ao espetáculo idealizado por Paulo Afonso Grisolli (1934 - 2004) e Sidney Miller (1945 - 1980). Os dois bravos espectadores eram Carlinhos de Oliveira e Jaguar. Encantados com o show, ambos incensaram Carnavália na imprensa carioca e o show - que até então amargava plateias vazias - explodiu, repondo Marlene sob os holofotes em renascimento que seria consolidado no ano seguinte com a estreia de outro show da artista, É a maior! (1969). Saborosa, essa história é contada pela cantora e atriz no livro Marlene - A incomparável, lançado neste mês de dezembro de 2012 dentro da coleção Aplauso música. Assinado pela jornalista carioca Diana Aragão, o livro adquire especial importância na coleção pelo fato de Marlene ter completado 90 anos de vida em 22 de novembro de 2012 sem que a efeméride tivesse merecido atenção da mídia. Voz remanescente da era de ouro do rádio brasileiro, tendo reinado e disputado fãs (e poder) com a amiga-rival Emilinha Borba (1923 - 2005) ao longo da década de 1950, Marlene foi esquecida durante quase todos os anos 1960, mas soube se reinventar a partir dos anos 1970, aproveitando a brecha aberta com Carnavália. Com prodigiosa lucidez, a artista revolveu as memórias da vida e obra para Diana Aragão. Escrito na primeira pessoa, Marlene - A incomparável é documento valioso por reconstituir todos os passos de Victoria de Martino Bonaiutti na infância vivida sem pai (morto antes do nascimento de Marlene), na adolescência batalhadora (quando Marlene conciliou estudo e trabalho para ajudar no sustento da casa) e na luta para se impor artista dentro dessa mesma casa (batalha que lhe valeu uma surra da mãe quando esta descobriu que, em vez da faculdade, Marlene já trabalhava como cantora na Rádio Tupi). Fartamente ilustrado, o livro tem pequenos parênteses feitos por Diana Aragão no relato de Marlene para contextualizar dados e situações abordadas pela artista. Contudo, o fato de o livro ter sido escrito na primeira pessoa faz com que a história de Marlene seja contada em A incomparável tal como se revela na memória da artista. E, por mais lúcida que seja tal memória, ela às vezes é traída pela vaidade. Ao relembrar o show Te pego pela palavra (1974), por exemplo, outro marco de sua carreira pós-Rádio Nacional, Marlene se põe no papel pioneiro de lançadora de compositores como Milton Nascimento, Gonzaguinha (1945 - 1991), João Bosco e Ivan Lins - e o fato é que, naquele ano de 1974, todos esses compositores já estavam em evidência e já tinham sido gravados com repercussão nacional. E, com exceção de Gonzaguinha, todos deviam seu lançamento e/ou sucesso à outra cantora, Elis Regina (1945 - 1982), com quem Marlene deixa entrever certa mágoa e rivalidade ao longo das memórias. Descontadas tais desconexões (talvez até involuntárias) de fatos, o livro de Diana Aragão dá grande contribuição à memória da música brasileira ao historiar de forma oficial cada momento artístico de Marlene, atriz e cantora de múltiplos talentos que atuou em discos (gravou pouco, como ressalta a autora), teatro, televisão e cinema. Somente por relacionar cada trabalho de Marlene em cada uma dessas áreas - nas cronologias alocadas ao fim do livro - Marlene - A incomparável  se revela essencial, necessário.

5 comentários:

  1. Marco inicial do renascimento artístico de Marlene, o show Carnavália (1968) poderia ter passado em brancas nuvens se não fosse a determinação de Marlene ao convencer o elenco a se apresentar para os dois únicos espectadores que não se intimidaram com a chuva que caía sobre o Rio de Janeiro (RJ) numa noite de 1968 e saíram de casa para assistir ao espetáculo idealizado por Paulo Afonso Grisolli (1934 - 2004) e Sidney Miller (1945 - 1980). Os dois bravos espectadores eram Carlinhos de Oliveira e Jaguar. Encantados com o show, ambos incensaram Carnavália na imprensa carioca e o show - que até então amargava plateias vazias - explodiu, repondo Marlene sob os holofotes em renascimento que seria consolidado no ano seguinte com a estreia de outro show da artista, É a Maior! (1969). Saborosa, essa história é contada pela cantora e atriz no livro Marlene - A Incomparável, lançado neste mês de dezembro de 2012 dentro da coleção Aplauso Música. Assinado pela jornalista carioca Diana Aragão, o livro adquire especial importância na coleção pelo fato de Marlene ter completado 90 anos de vida em 22 de novembro de 2012 sem que a efeméride tivesse merecido atenção da mídia. Voz remanescente da era de ouro do rádio brasileiro, tendo reinado e disputado fãs (e poder) com a amiga-rival Emilinha Borba (1923 - 2005) ao longo da década de 50, Marlene foi esquecida durante quase todos os anos 60, mas soube se reinventar a partir dos anos 70, aproveitando a brecha aberta com Carnavália. Com sua prodigiosa lucidez, a artista revolveu suas memórias para Diana Aragão. Escrito na primeira pessoa, Marlene - A Incomparável é documento valioso por reconstituir todos os passos de Victoria de Martino Bonaiutti na infância vivida sem pai (morto antes do nascimento de Marlene), na adolescência batalhadora (quando Marlene conciliou estudo e trabalho para ajudar no sustento da casa) e na luta para se impor artista dentro dessa mesma casa (batalha que lhe valeu uma surra da mãe quando esta descobriu que, em vez da faculdade, Marlene já trabalhava como cantora na Rádio Tupi). Fartamente ilustrado, o livro tem pequenos parênteses feitos por Diana Aragão no relato de Marlene para contextualizar dados e situações abordadas pela artista. Contudo, o fato de o livro ter sido escrito na primeira pessoa faz com que a história de Marlene seja contada em A Incomparável tal como se revela na memória da artista. E, por mais lúcida que seja tal memória, ela às vezes é traída pela vaidade. Ao relembrar o show Te Pego Pela Palavra (1974), por exemplo, outro marco de sua carreira pós-Rádio Nacional, Marlene se põe no papel pioneiro de lançadora de compositores como Milton Nascimento, Gonzaguinha (1945 - 1991), João Bosco e Ivan Lins - e o fato é que, naquele ano de 1974, todos esses compositores já estavam em evidência e já tinham sido gravados. E, com exceção de Gonzaguinha, todos deviam seu lançamento e/ou sucesso à outra cantora, Elis Regina (1945 - 1982), com quem Marlene deixa entrever certa mágoa e rivalidade ao longo de suas memórias. Descontadas tais desconexões (talvez até involuntárias) de fatos, o livro de Diana Aragão dá grande contribuição à memória da música brasileira ao historiar de forma oficial cada momento artístico de Marlene, atriz e cantora de múltiplos talentos que atuou em discos (gravou pouco, como ressalta a autora), teatro, televisão e cinema. Somente por relacionar cada trabalho de Marlene em cada uma dessas áreas - nas cronologias alocadas ao fim do livro - Marlene - A Incomparável se revela essencial.

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  2. Para mim, uma das melhores cantoras desse país. Fez em sua época tanto sucesso quanto uma Ivete Sangalo faz hoje em dia. A diferença é que tinha qualidade em seu repertório.

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  3. Tomara que haja outras resenhas, a respeito dos outros lançamentos da Coleção Aplauso. Abraços, Mauro.

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  4. Érico, haverá outras resenhas caso me enviem os livros. Cida Moreira, por exemplo, vai me mandar o livro dela para resenha. Diana Aragão me enviou o livro de Marlene. A publicação das demais resenhas vai depender do interesse de cada autor e/ou artista em ver seu livro resenhado. abs, MauroF

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