terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Mundo de Dolores perde o fascínio em farta biografia de texto cansativo

Resenha de livro
Título: Dolores Duran - A Noite e as Canções de Uma Mulher Fascinante
Autor: Rodrigo Faour
Editora: Record
Cotação: * * 1/2

É fato que Dolores Duran (7 de junho de 1930 - 24 de outubro de 1959) foi mulher fascinante, à frente de seu tempo. Tanto na vida profissional -  área em que se impôs nos anos 50 como (excelente e poliglota) cantora e como compositora de escrita fina e coloquial que desafiava os padrões empostados da música romântica da época - quanto na pessoal. Adiléia Silva da Rocha quebrou tabus com sua vida libertária, tento enfileirado romances nos anos 40 e 50 - décadas moralistas e hipócritas que ainda reservavam às mulheres o papel coadjuvante de esposa dedicada às prendas do lar - e se envolvido com os ideais comunistas, além de ter trabalhado na fervilhante noite carioca dos anos dourados. Contudo, parte do fascínio dessa mulher pioneira na vida e na música - parceria de Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) em alguns clássicos da música brasileira e autora solitária de alguns outros tantos, como A Noite do Meu Bem (1959) - se perde ao longo das 560 páginas da farta biografia Dolores Duran - A Noite e as Canções de Uma Mulher Fascinante, escrita pelo pesquisador  musical Rodrigo Faour. A perda decorre do tom cansativo do texto do autor. Falta estilo e elegância à escrita de Faour para encarar a construção de texto de tal envergadura. Em contrapartida, seu trabalho irretocável como pesquisador valoriza o livro. Faour traça alentado perfil de Dolores, urdido através de entrevistas com a irmã da cantora - Irley da Silva Rocha, a Lela, fundamental na reconstituição dos principais fatos da infância e adolescência pobres de Dolores - e com cantores remanescentes daquela era musical. Aliadas às reproduções de reportagens e críticas publicadas em jornais e revistas da época, as entrevistas sustentam a narrativa. Somente a musicografia de Dolores publicada ao fim do livro (com a relação de todas as gravações de todas as músicas da compositora) já torna o livro recomendável para profissionais da indústria fonográfica - com a ressalva de que Faour omitiu a última gravação de Tome Continha de Você (Dolores Duran e Edson Borges), feita pela cantora Renata Gebara em seu segundo CD, Caixa de Música (Lab 344, 2011). Dados fonográficos à parte, Faour expõe no livro uma versão mais verossímil e menos romanceada da origem da letra de Por Causa de Você (Dolores Duran e Tom Jobim, 1957) e demole ao longo da narrativa a ideia recorrente de que Dolores Duran vivenciava no cotidiano a tristeza impressa em grande parte de suas letras. Os relatos alinhados do livro mostram que, a despeito de eventuais crises de melancolia, Dolores Duran foi pessoa alegre, espirituosa, não raro bem-humorada. Acima de humores, paira a perenidade do cancioneiro da compositora. Criada entre 1955 e 1959, a obra de Dolores totaliza somente 35 composições autorais, da qual apenas parte é efetivamente conhecida e tem sido regravada ao longo dos anos desde a precoce saída de cena da artista, aos 29 anos. Obra que por si só justifica a escrita de uma ou mais biografias de Dolores Duran (a jornalista Ângela Almeida prepara outra para 2013), grande compositora que também foi grande cantora, ainda não reconhecida nessa área na importância de seu talento, talvez justamente pela força de sua música sensível. Até por seu pioneirismo na pesquisa de vida pouco conhecida, Dolores Duran - A Noite e as Canções de Uma Mulher Fascinante é um trabalho de fôlego e de méritos. Ao competente trabalho de pesquisa, soma-se um caderno com fotos e reproduções de capas de revistas que ajudam a tornar críveis a narrativa e as personagens que povoaram a vida curta, porém intensa, de Adiléia da Silva Rocha, também conhecida pelo apelido de Bochecha. Tivesse o texto de Faour passado por revisão mais rigorosa, que depurasse seu estilo com a supressão de frases como "...Dolores foi se enrabichar por outro bofe, dessa vez um jovem mancebo..." (pág. 264), a biografia seria ótima. Tal como editado pela Record (com capa incrivelmente feia, aliás), o livro dilui boa parte do fascínio da vida, da noite e das canções de Dolores Duran.

10 comentários:

  1. É fato que Dolores Duran (7 de junho de 1930 - 24 de outubro de 1959) foi mulher fascinante, à frente de seu tempo. Tanto na vida profissional - área em que se impôs nos anos 50 como (excelente e poliglota) cantora e como compositora de escrita fina e coloquial que desafiava os padrões empostados da música romântica da época - quanto na pessoal. Adiléia Silva da Rocha quebrou tabus com sua vida libertária, tento enfileirado romances nos anos 40 e 50 - décadas moralistas e hipócritas que ainda reservavam às mulheres o papel coadjuvante de esposa dedicada às prendas do lar - e se envolvido com os ideais comunistas, além de ter trabalhado na fervilhante noite carioca dos anos dourados. Contudo, parte do fascínio dessa mulher pioneira na vida e na música - parceria de Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) em alguns clássicos da música brasileira e autora solitária de alguns outros tantos, como A Noite do Meu Bem (1959) - se perde ao longo das 560 páginas da farta biografia Dolores Duran - A Noite e as Canções de Uma Mulher Fascinante, escrita pelo pesquisador musical Rodrigo Faour. A perda decorre do tom cansativo do texto do autor. Falta estilo e elegância à escrita de Faour para encarar a construção de texto de tal envergadura. Em contrapartida, seu trabalho irretocável como pesquisador valoriza o livro. Faour traça alentado perfil de Dolores, urdido através de entrevistas com a irmã da cantora - Irley da Silva Rocha, a Lela, fundamental na reconstituição dos principais fatos da infância e adolescência pobres de Dolores - e com cantores remanescentes daquela era musical. Aliadas às reproduções de reportagens e críticas publicadas em jornais e revistas da época, as entrevistas sustentam a narrativa. Somente a musicografia de Dolores publicada ao fim do livro (com a relação de todas as gravações de todas as músicas da compositora) já torna o livro recomendável para profissionais da indústria fonográfica - com a ressalva de que Faour omitiu a última gravação de Tome Continha de Você (Dolores Duran e Edson Borges), feita pela cantora Renata Gebara em seu segundo CD, Caixa de Música (Lab 344, 2011). Dados fonográficos à parte, Faour expõe no livro uma versão mais verossímil e menos romanceada da origem da letra de Por Causa de Você (Dolores Duran e Tom Jobim, 1957) e demole ao longo da narrativa a ideia recorrente de que Dolores Duran vivenciava no cotidiano a tristeza impressa em grande parte de suas letras. Os relatos alinhados do livro mostram que, a despeito de eventuais crises de melancolia, Dolores Duran foi pessoa alegre, espirituosa, não raro bem-humorada. Acima de humores, paira a perenidade do cancioneiro da compositora. Criada entre 1955 e 1959, a obra de Dolores totaliza somente 35 composições autorais, da qual apenas parte é efetivamente conhecida e tem sido regravada ao longo dos anos desde a precoce saída de cena da artista, aos 29 anos. Obra que por si só justifica a escrita de uma ou mais biografias de Dolores Duran (a jornalista Ângela Almeida prepara outra para 2013), grande compositora que também foi grande cantora, ainda não reconhecida nessa área na importância de seu talento, talvez justamente pela força de sua música sensível. Até por seu pioneirismo na pesquisa de vida pouco conhecida, Dolores Duran - A Noite e as Canções de Uma Mulher Fascinante é um trabalho de fôlego e de méritos. Ao competente trabalho de pesquisa, soma-se um caderno com fotos e reproduções de capas de revistas que ajudam a tornar críveis a narrativa e as personagens que povoaram a vida curta, porém intensa, de Adiléia da Silva Rocha, também conhecida pelo apelido de Bochecha. Tivesse o texto de Faour passado por revisão mais rigorosa, que depurasse seu estilo com a supressão de frases como "...Dolores foi se enrabichar por outro bofe, dessa vez um jovem mancebo..." (pág. 264), a biografia seria ótima. Tal como editado pela Record (com capa incrivelmente feia, aliás), o livro dilui boa parte do fascínio da vida, da noite e das canções de Dolores Duran.

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  2. Dolores Duran foi uma compositora estupenda e fez verdadeiros clássicos como "A Noite do Meu Bem", "Castigo", e também nas suas parcerias, como a de Tom Jobim em "Estrada do Sol". Mas fico imaginando o quão enfadonho deve ser ler um livro redundante.

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  3. Existe hora pra tudo na vida. Principalmente na hora de escrever um livro. Não dá pra repetir numa biografia como essa o vocabulário do dia a dia. Acho que não fica bem. E não tem nada de puritanismo nem de caretice nisso... Concordo com vc nesse aspecto Mauro, qto ao livro não posso dizer, pq ainda não o li.

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  4. Mauro, é uma pena que você use seu desafeto com o Rodrigo nos seus textos. Poderia até acreditar nos seus poucos elogios, não fosse a inacreditável ressalva na musicografia, por uma famosíssima e imperdível Renata Gebara (???). Uma pena...

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  5. Bem, Mauro, eu gostei muito do livro.

    Achei ótimo o nível de descrição dos detalhes, tanto da vida da Dolores, quanto da sociedade da época.

    A história da viagem dela para a União Soviética é fantástica. Nunca soube disso.

    Acho que o mais importante é resgatar a importância dessa compositora fenomenal e intérprete fantástica (essa última, pouco reconhecida.)

    Enfim, como fã da história do Brasil e da música brasileira, recomendo o livro.

    abração,
    Denilson

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  6. Vamos deixar de picuinha minha gente. Que coisa mais antiga isso de pixar ou desmerecer o trabalho alheio! Que importância tem estilo de narrativa ou a falta dêle num trabalho biográfico que pouca gente se atreveu ou teve preguiça de pesquisar? E se formos analisar e comentar estilo, meu caro Mauro, você dá umas derrapadas de dar gosto e a gente continua lendo o seu blog! Vamos falar bem e dar fôrça para quem faz e gosta da mesma coisa que a gente. Vamos valorizar quem se dá ao trabalho. E depois que eu saiba, você não é crítico literário e sim um jornalista que gosta de música. Aliás, crítico de responsa mesmo já não existe mais. Tenha dó!

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  7. Biografia é literatura e não apenas reunião de dados. Por isso Ruy Castro é tão famoso, não li o livro, mas concordo que mesmo biagráfico, deve ser bem escrito. No mais é elogiar e agradecer ao Faour pela dedicação a história da MPB, ele vem construindo uma carreira bacana neste campo.

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  8. Sim, eu gosto do Ruy Castro também, e sei que biografia é literatura. Mas dá prá perceber má vontade com alguma coisa, de longe. E chega de polêmica. Vou continuar lendo o meu exemplar da biografia da Dolores Duran, que meu querido Rodrigo Faour escreveu! Que ranço!

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  9. O Rodrigo Faour aplica nas biografias a descontração que se lê em " História Sexual da MPB", e concordo com o Mauro que a leitura do livro da Dolores é bem cansativa. Esse estilo " Narcisa Ai que Loucura" ( que Rodrigo Faour também utilizou nos textos que acompanham a caixa Canto da Cigarra de Simone) acaba desmerecendo a pesquisa, " excesso de informalidade" entre biógrafo e biografado, que suponho tenha sido criteriosa, apesar de considerar essa falha na discografia apontada pelo Mauro, inadmissível. Ou temos a pesquisa bem feita, corretíssima ou então não se pode chamar de pesquisa. Há uma pressa em Rodrigo Faour em editar as suas obras,uma falta de rigor ( no caso dos textos Canto da Cigarra há muitos erros básicos, como por exemplo, confundir os projetos " Seis e Meia" com o " Pixinguinha"). E nada mais acrescento porque o batalhão de Amigos de Faour estarão aqui me destratando como já o fizeram nas redes sociais. Esse é outro problema de Faour e sua " troupe": não admitem críticas.

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  10. ...então, eu confesso que eu não gosto das resenhas do Rodrigo Faour, sinceramente sinto que as vezes sei mais do cantor do que ele próprio que esta investigando e estudando !!!

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