Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Frank Ocean sintoniza em 'Channel Orange' estado de espírito de sua era

Resenha de CD
Título: Channel Orange
Artista: Frank Ocean
Gravadora: Def Jam / Universal Music
Cotação: * * * * *

Channel Orange é o What's Going On de Frank Ocean - com a vantagem (para Ocean) de Channel Orange ser somente seu primeiro álbum enquanto What's Going On já era o 11º álbum de Marvin Gaye (1939 - 1984). Tanto um quanto outro captam o espírito de sua época em letras fortes. Ocean - para quem não liga o nome ao som - era o rapper do coletivo Odd Future que deu seu primeiro passo solo ao editar em fevereiro de 2011 a mixtape Nostalgia, Ultra. Em Channel Orange, Ocean sintoniza o (desiludido) estado de espírito de sua geração em álbum que ganha edição brasileira com cinco meses de atraso - certamente fabricada pela Universal Music no rastro da (justa) inclusão do disco nas precoces listas de melhores do ano. Como mostram belas músicas como Sweet Life e Thinkin' 'Bout You, Ocean transita entre o soul e o r & b de forma moderna, contemporânea, sem apelar para o pastiche destes gêneros. Contudo, o que torna Channel Orange um clássico instântaneo é a força do canto de Ocean - que abusa dos falsetes com naturalidade - e das letras do artista. Ao enfocar personagens fictícios em seus versos cinematográficos, o artista discorre sobre problemas reais de alcance universal. A solidariedade impregnada nos versos de Crack Rock - tema que versa sobre jovem viciado em crack - contrasta com o tom impiedoso da crítica feita em Super Rich Kids aos jovens ricos e vazios que vagam pelo mundo derrotados em sua arrogância e apatia. Única música que talvez possa merecer o carimbo de pop, Lost foca mulher-objeto que vira avião em travessia sem rumo enquanto Pyramids - o épico do álbum, com dez minutos de bom uso dos recursos eletrônicos - transporta Cleópatra para tempos menos glamourosos na rota Egito-Las Vegas. Nessa rota, há a melancolia destilada por Ocean na conversa solitária travada com o motorista de táxi personificado nos versos de Bad ReligionChannel Orange sintoniza amores e perdas e, nessa seara, faz sentido Ocean ter saído do armário em 4 de julho de 2012 (dias antes do lançamento do álbum nos Estados Unidos), quebrando tabus no universo machista do hip hop ao assumir sua homossexualidade. Na contramão da agressividade gratuita de muitos rappers, o disco esbanja sensibilidade e delicadeza - sem afetação - na forma com que Ocean vê o mundo nas letras de Channel Orange, CD que conta com a guitarra de John Mayer no tema instrumental White e com o rapper Andre 3000 (do Outkast) em Pink Matter. Do início (com a vinheta Start) ao fim (com End e a faixa escondida Golden Girl), tudo parece em total sintonia em Channel Orange. Belas melodias (com letras fortes), uma voz potente (que vai dos graves aos agudos com facilidade) e um som que atualiza o soul e o r & b fazem de Channel Orange disco memorável que se impõe na produção de 2012 e que tem tudo para ser lembrado ao longo dos anos como um clássico de seu época, uma obra-prima de seu artista, significando na discografia de Frank Ocean tudo o que What's Going On representa na obra de Marvin Gaye.

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Channel Orange é o What's Going On de Frank Ocean - com a vantagem (para Ocean) de Channel Orange ser somente seu primeiro álbum enquanto What's Going On já era o 11º álbum de Marvin Gaye (1939 - 1984). Tanto um quanto outro captam o espírito de sua época em letras fortes. Ocean - para quem não liga o nome ao som - era o rapper do coletivo Odd Future que deu seu primeiro passo solo ao editar em fevereiro de 2011 a mixtape Nostalgia, Ultra. Em Channel Orange, Ocean sintoniza o (desiludido) estado de espírito de sua geração em álbum que ganha edição brasileira com cinco meses de atraso - certamente fabricada pela Universal Music no rastro da (justa) inclusão do disco nas precoces listas de melhores do ano. Como mostram belas músicas como Sweet Life e Thinkin' 'Bout You, Ocean transita entre o soul e o r & b de forma moderna, contemporânea, sem apelar para o pastiche destes gêneros. Contudo, o que torna Channel Orange um clássico instântaneo é a força do canto de Ocean - que abusa dos falsetes com naturalidade - e das letras do artista. Ao enfocar personagens fictícios em seus versos cinematográficos, o artista discorre sobre problemas reais de alcance universal. A solidariedade impregnada nos versos de Crack Rock - tema que versa sobre jovem viciado em crack - contrasta com o tom impiedoso da crítica feita em Super Rich Kids aos jovens ricos e vazios que vagam pelo mundo derrotados em sua arrogância e apatia. Única música que talvez possa merecer o carimbo de pop, Lost foca mulher-objeto que vira avião em travessia sem rumo enquanto Pyramids - o épico do álbum, com dez minutos de bom uso dos recursos eletrônicos - transporta Cleópatra para tempos menos glamourosos na rota Egito-Las Vegas. Nessa rota, há a melancolia destilada por Ocean na conversa solitária travada com o motorista de táxi personificado nos versos de Bad Religion. Channel Orange sintoniza amores e perdas e, nessa seara, faz sentido Ocean ter saído do armário em 4 de julho de 2012 (dias antes do lançamento do álbum nos Estados Unidos), quebrando tabus no universo machista do hip hop ao assumir sua homossexualidade. Na contramão da agressividade gratuita dos rappers, o disco esbanja sensibilidade e delicadeza - sem afetação - na forma com que Ocean vê o mundo nas letras de Channel Orange, CD que conta com a guitarra de John Mayer no tema instrumental White e com o rapper Andre 3000 (do Outkast) em Pink Matter. Do início (com a vinheta Start) ao fim (com End e a faixa escondida Golden Girl), tudo parece em total sintonia em Channel Orange. Belas melodias (com letras fortes), uma voz potente (que vai dos graves aos agudos com facilidade) e um som que atualiza o soul e o r & b fazem de Channel Orange disco memorável que se impõe na produção de 2012 e que tem tudo para ser lembrado ao longo dos anos como um clássico de seu época, uma obra-prima de seu artista, significando na discografia de Frank Ocean tudo o que What's Going On representa na obra de Marvin Gaye.

Anônimo disse...

Esse disco está realmente bem badalado.
Aficionado de soul, majoritariamente dos anos setenta, que sou fui dá uma conferida e...
Báh, o excesso de falsete me incomodou!
Mas depois vou ouvir com mais calma e atenção.

PS: What's Going On é supimpa!
Mas indico um outro do Marvin tão, ou até melhor, bom quanto.
Trata-se do Here, my Dear.

Mauro Ferreira disse...

Zé, os posts com os dez melhores discos nacionais e os dez internacionais serão publicados na segunda-feira, 31 de dezembro - assim como o post dos shows do ano. O volume de lançamentos foi intenso. Ainda falta disco a ser resenhado em 2012. Abs, MauroF

Rafael disse...

Eu gostei bastante do disco. Frank tem os dois pés dentro do soul e do R&B. O disco está muito bem cotado entre a crítica especializada, mas não há nenhuma faixa que se pode dizer que esteja fraca. Não é só hype esse discaço, como é um dos melhores internacionais de 2012.