terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Ora letárgico, ora vivaz, 'Abraçaço' manifesta amores e ódios de Caetano

Resenha de CD
Título: Abraçaço
Artista: Caetano Veloso
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * 

Embebido em testosterona, o álbum  (2006) representou um salutar ponto de ruptura na mutante discografia de Caetano Veloso. Movido por certa nostalgia da modernidade, o cantor e compositor se uniu a arejado trio de músicos jovens - o guitarrista Pedro Sá, o baterista Marcelo Callado e o baixista Ricardo Dias Gomes - e abraçou o indie rock em disco de sonoridade jovial. O jorro de novidade (para os padrões da obra recente do artista) veio com tal força que a irregularidade do repertório de - no qual se contabilizava  poucas músicas realmente à altura do histórico do compositor (Rocks, Minhas Lágrimas e Não me Arrependo) - se tornou irrelevante ou imperceptível para a maioria dos ouvintes do álbum. Com as bençãos da crítica e de seu (renovado) público, Caetano estendeu a parceria com o trio - a partir de certo momento intitulado BandaCê - e gravou outro álbum, Zii e Zie (2009), este mais voltado para os transambas e com olhar mais voltado para questões externas, em letras que tanto perfilavam a lusitana Menina da Ria quanto o bairro carioca d'A Lapa, entre comentários sobre assuntos tão diversos quanto a política norte-americana d'A Base de Guantánamo e as drogas que mancham o Falso Leblon. Abraçaço - o disco que a Universal Music põe nas lojas a partir desta terça-feira, 4 de dezembro de 2012 - fecha o que se tornou uma trilogia e explora a fórmula sonora da BandaCê sem clonar o tom dos dois álbuns anteriores. Inspirado pela batida de seu violão, o artista descarta o samba e o rock, embora o solo da guitarra de Pedro Sá na (boa) faixa-título Abraçaço tenha um espírito roqueiro reanimado aqui e acolá ao longo das onze músicas do disco produzido por Moreno Veloso com Pedro Sá. Manifesto confessional de Caetano, Abraçaço veicula afetos, melancolias e rancores do artista em letras fortes e diretas que expandem o significado do álbum. O diálogo de Abraçaço com a obra anterior de Caetano com a Cê se insinua sutil, em tons contrastantes. Se a solar e expansiva Parabéns (música composta por Caetano a partir de texto de e-mail escrito pelo cineasta Mauro Lima para o cantor) tem vivacidade e velocidade rítmicas que evocam o axé A Cor Amarela de Zii e Zie, a grande canção de Abraçaço, Estou Triste, remete ao tom confessional da canção Não me Arrependo de . Na interiorizada exposição de profundo quadro depressivo, Caetano recorre ao seu falsete para assinalar a tristeza e a consequente letargia que abunda em versos como "Eu me sinto vazio e ainda assim farto", "O lugar mais frio do Rio é o meu quarto" e "O meu lábio não diz / O meu gesto não faz". Impregnada desse alto grau de melancolia, a melodia de Estou Triste corrobora o que está sendo dito. Em exteriorizado tom raivoso, Funk Melódico - tema que cita Mulher Indigesta (Noel Rosa, 1932) e alude a Medo de Amar (Vinicius de Moraes, 1958) nos versos do refrão "Você produz raiva, confusão, tristeza e dor / Prova que o ciúme é só o estrume do amor" - descende diretamente de Miami Maculelê, o batidão composto por Caetano para Gal Costa gravar em Recanto (2011), álbum feito com o espírito da BandaCê. Abraçaço oscila entre a vivacidade e a letargia. Há faixas cansativas ao longo do CD. Uma delas é Um Comunista, música de oito minutos e meio em cuja letra verborrágica Caetano traça o perfil biográfico de Carlos Marighella (1911-1969), poeta e guerrilheiro baiano assassinado pelo Governo Militar que amordaçou o Brasil nos anos 60. O choro da guitarra de Pedro Sá acentua o tom lamentoso do perfil, no qual Caetano enxerta traços de sua própria biografia e, desiludido, se queixa da natureza trágica da raça humana, falando de multidões que apodrecem em calçadões encardidos. Pena que o compositor-filósofo não teve inspiração para fazer melodia à altura da ideia do tema. Vinco é outra música em que Abraçaço parece disco sem vida, em que pese o toque bluesy da guitarra de Pedro Sá já no fim da faixa. Há em Vinco um cansaço inconcebível no cancioneiro de um compositor capaz de criar tema incisivo como A Bossa Nova É Foda, grande destaque do álbum. Típica de Caetano na sua ânsia de impor uma visão de mundo, a letra esboça tratado sociológico do desenvolvimento do Brasil a partir da revolução estética causada por João Gilberto e sua bossa sempre nova, desenvolvendo raciocínio que chega até os dias de hoje, com direito a citações de ícones do MMA como o lutador Anderson Silva. O arranjo sustenta a grandeza da música, sublinhando a sentença do título com o coro masculino dos músicos da BandaCê. No mesmo tom incisivo, a rancorosa Império da Lei decreta - entre toques de maracatu e carimbó - que "O império da lei há de chegar no coração do Pará", em alusão aos assassinatos cometidos impunemente no Norte do Brasil na luta por terra e poder. Aos 70 anos, o poeta continua desfolhando a bandeira com vigor juvenil, embora já se permita usufruir a "paz que o sexo traz", mote de Quando o Galo Cantou, outra música aquém do currículo de Caetano. Em sintonia com a abrangência de seu título, Abraçaço abarca vários tons e sentimentos. A declaração apaixonada de Quero Ser Justo dialoga com a vontade de expressar amor que move Gayana, tocante canção de amor enrustido assinada por Rogério Duarte, compositor que fez seu nome como artista plástico na era tropicalista. Entoada com leveza quase pop, Gayana prega o amor transcendental e soa como belo fecho para disco em que seu criador quer ser ouvido e se faz ouvir. No mesmo bom nível de Zii e Zie, Abraçaço está longe de ser um discaço - como tantos feitos por Caetano Veloso - mas dialoga bem com seus dois antecessores ao mesmo tempo em que procura outros timbres e caminhos para não desgastar fórmula já perto da exaustão, mas ainda (bem) eficaz.

27 comentários:

  1. Embebido em testosterona, o álbum Cê (2006) foi salutar ponto de ruptura na mutante discografia de Caetano Veloso. Movido por certa nostalgia da modernidade, o cantor e compositor se uniu a arejado trio de músicos jovens - o guitarrista Pedro Sá, o baterista Marcelo Callado e o baixista Ricardo Dias Gomes - e abraçou o indie rock em disco de sonoridade jovial. O jorro de novidade (para os padrões da obra recente do artista) veio com tal força que a irregularidade do repertório de Cê - no qual se contabilizava poucas músicas realmente à altura do histórico do compositor (Rocks, Minhas Lágrimas e Não me Arrependo) - se tornou irrelevante ou imperceptível para a maioria dos ouvintes do álbum. Com as bençãos da crítica e de seu (renovado) público, Caetano estendeu a parceria com o trio - a partir de certo momento intitulado BandaCê - e gravou outro álbum, Zii e Zie (2009), este mais voltado para os transambas e com olhar mais voltado para questões externas, em letras que tanto perfilavam a lusitana Menina da Ria quanto o bairro carioca d'A Lapa, entre comentários sobre assuntos tão diversos quanto a política norte-americana d'A Base de Guantánamo e as drogas que mancham o Falso Leblon. Abraçaço - o disco que a Universal Music põe nas lojas a partir desta terça-feira, 4 de dezembro de 2012 - fecha o que se tornou uma trilogia e explora a fórmula sonora da BandaCê sem clonar o tom dos dois álbuns anteriores. Inspirado pela batida de seu violão, o artista descarta o samba e o rock, embora o solo da guitarra de Pedro Sá na (boa) faixa-título Abraçaço tenha um espírito roqueiro reanimado aqui e acolá ao longo das onze músicas do disco produzido por Moreno Veloso com Pedro Sá. Manifesto confessional de Caetano, Abraçaço veicula afetos, melancolias e rancores do artista em letras fortes e diretas que expandem o significado do álbum. O diálogo de Abraçaço com a obra anterior de Caetano com a Cê se insinua sutil, em tons contrastantes. Se a solar e expansiva Parabéns (música composta por Caetano a partir de texto de e-mail escrito pelo cineasta Mauro Lima para o cantor) tem vivacidade e velocidade rítmicas que evocam o axé A Cor Amarela de Zii e Zie, a grande canção de Abraçaço, Estou Triste, remete ao tom confessional da canção Não me Arrependo de Cê. Na interiorizada exposição de profundo quadro depressivo, Caetano recorre ao seu falsete para assinalar a tristeza e a consequente letargia que abunda em versos como "Eu me sinto vazio e ainda assim farto", "O lugar mais frio do Rio é o meu quarto" e "O meu lábio não diz / O meu gesto não faz". Impregnada desse alto grau de melancolia, a melodia de Estou Triste corrobora o que está sendo dito. Em tom mais exteriorizado, Funk Melódico - tema que cita Mulher Indigesta (Noel Rosa, 1932) e alude a Medo de Amar (Vinicius de Moraes, 1958) nos versos do refrão "Você produz raiva, confusão, tristeza e dor / Prova que o ciúme é só o estrume do amor" - descende diretamente de Miami Maculelê, o batidão composto por Caetano para Gal Costa gravar em Recanto (2011), álbum feito com o espírito da BandaCê.

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  2. Abraçaço oscila entre a vivacidade e a letargia. Há faixas cansativas ao longo do CD. Uma delas é Um Comunista, música de oito minutos e meio em cuja letra verborrágica Caetano traça o perfil biográfico de Carlos Marighella (1911-1969), poeta e guerrilheiro baiano assassinado pelo Governo Militar que amordaçou o Brasil nos anos 60. O choro da guitarra de Pedro Sá acentua o tom lamentoso do perfil, no qual Caetano enxerta traços de sua própria biografia e se queixa da caminhada trágica da raça humana, falando de multidões que apodrecem em calçadões encardidos. Pena que o compositor-filósofo não teve inspiração para fazer melodia à altura da ideia do tema. Vinco é outra música em que Abraçaço parece disco sem vida, em que pese o toque bluesy da guitarra de Pedro Sá já no fim da faixa. Há em Vinco um cansaço inconcebível no cancioneiro de um compositor capaz de criar tema incisivo como A Bossa Nova É Foda, grande destaque do álbum. Típica de Caetano na sua ânsia de impor uma visão de mundo, a letra esboça tratado sociológico do desenvolvimento do Brasil a partir da revolução estética causada por João Gilberto e sua bossa sempre nova, desenvolvendo raciocínio que chega até os dias de hoje, com direito a citações de ícones do MMA como o lutador Anderson Silva. O arranjo sustenta a grandeza da música, sublinhando a sentença do título com o coro masculino dos músicos da BandaCê. No mesmo tom incisivo, a rancorosa Império da Lei decreta - entre toques de maracatu e carimbó - que "O império da lei há de chegar no coração do Pará", em alusão aos assassinatos cometidos impunemente no Norte do Brasil na luta por terra e poder. Aos 70 anos, o poeta continua desfolhando a bandeira com vigor juvenil, embora já se permita usufruir a "paz que o sexo traz", mote de Quando o Galo Cantou, outra música aquém do currículo de Caetano. Em sintonia com a abrangência de seu título, Abraçaço abarca vários tons e sentimentos. A declaração apaixonada de Quero Ser Justo dialoga com a vontade de expressar amor que move Gayana, tocante canção de amor enrustido assinada por Rogério Duarte, compositor que fez seu nome como artista plástico na era tropicalista. Entoada com leveza quase pop, Gayana prega o amor transcendental e soa como belo fecho para disco em que seu criador quer ser ouvido e se faz ouvir. No mesmo bom nível de Zii e Zie, Abraçaço está longe de ser um discaço - como tantos feitos por Caetano Veloso - mas dialoga bem com seus dois antecessores ao mesmo tempo em que procura outros timbres e caminhos para não desgastar fórmula já perto da exaustão, mas ainda (bem) eficaz.

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  3. O último grande disco de Caetano na minha opnião foi "Livro" lançado em 1997.
    Os últimos lançamentos dele não me agradaram, exceto algumas músicas ainda não ouvi esse disco todo mas gostei da faixa título Abraçaço.

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  4. este é muuuuiiito melhor que o zii e zie, muuuuiiiito mesmo

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  5. Espero ouvi-lo ainda hoje. As poucas faixas que escutei não me parecem por o disco em um nível diferente do Zii & Zie, mas como gostei mesmo deste - está tudo ótimo!

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  6. Ótimo disco de Caetano. "Abraçaço" só mostra que ele está cada vez mais em sua melhor verve como cantor e compositor.

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  7. Melhor que o Zii e Zie deve estar com certeza.

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  8. Sou fã do Caetano, me abracei no "Abraçaço", mas consigo concordar com o Mauro em relação aos pontos baixos do disco. Realmente "Vinco", "Quando o galo cantou" e "Um comunista" são canções que resultam tediosas e me parece até que Caetano quer dizer algo com essa leseira rítmica e essa aridez melódica. No fim, consegue apenas entregar faixas puláveis/esquecíveis.

    Por outro lado, fico me perguntando por quê, dentro dos critérios assumidamente pessoais do Mauro, um disco como "Abraçaço" não é um "discaço" como qualificou incessantes vezes o álbum "Recanto" de Gal Costa. Como é óbvio a qualquer ouvinte, são discos-gêmeos, concebidos por uma mesma cabeça inquieta e rigorosamente enquadrados na estética que Caetano vem imprimindo às suas letras, melodias e arranjos dos últimos anos. Meu comentário é: "Recanto" apresenta canções menores da mesma forma com que traz momentos geniais, assim como é o caso de "Abraçaço". Por que, então, foram avaliados de forma tão diferente?

    Estava ansioso pela crítica do Mauro por respeitar sua opinião, que não obedece a esse jornalismo de release dos segundos cadernos. Mas confesso que essa visão de "Abraçaço" como um disco "ok" perto da euforia com que recebeu "Recanto" - sendo os dois álbuns finas farinhas do mesmo saco – só me evidencia que os valores que balizam as análises aqui ainda são ligados ao "beletrismo" da canção. Explico: em "Recanto", o que se festejou não foi o arrojo da proposta artística do álbum, e sim a volta à luz de Gal através de um disco que fugiu à mesmice de sua própria carreira recente. Na crítica, o que estava louvado era o atributo "cantora" do produto final, ainda que todos aqueles loops, neguinhos e maculelês tenham sido cuidadosamente pensados pelo mesmo Caetano que nos oferece agora um outro trabalho excelente, com o "imperdoável defeito" de ser cantado por um homem, aliás, por ele mesmo.

    Os fãs de Gal dirão que é justamente a voz da cantora que faz toda diferença entre os discos e fico desapontado por concluir que Mauro endossa esse coro. Não apenas pelo desempenho vocal de Gal (sobre o qual não se deve falar a verdade), mas também por se desconsiderar a magnitude de Caetano como cantor, e o senso de autoridade que sua voz transmite em relação ao repertório de um disco como "Abraçaço". Fica assim a triste sensação de que, para o crítico, o único objeto de análise tratado com real interesse e positiva predisposição são as milhares de cantoras que o Brasil tem. Para mim, isso é uma nostalgia do passado mesmo.

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  9. Lá vem Caetano legitimar a revolucionária Bossa Nova e João Gilberto pela 49° vez. A gente tá careca de saber que ela é foda.O discurso é que não é mais, há muito tempo.

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  10. Caetano me intriga. Há grandes músicas no Recanto da Gal, há bons momentos em Cê e Zii e Zie. Mas este Abraçaço, que considero ser o mais fraco da tal trilogia (não há nenhuma momento luminoso como A cor amarela), dá a dica de que a máquina poética talvez esteja precisando de uma manutenção. Caetano sempre foi um letrista primoroso e agora parece que não consegue dar forma aos mil discursos que ele quer pôr nos discos.

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  11. Ainda não ouvi o novo rebento de Mano Caetano.
    Mas, assim como os outros dois, acho que vou ficar só com o DVD - que certamente virá.
    Nos DVDs ele canta o filé dos discos e repagina alguns clássicos.
    No Jornal do Comercio daqui de Recife saiu essa resenha.
    Achei bem interessante, serve para completar a do Mauro.

    http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cultura/noticia/2012/12/04/caetano-veloso-um-medalhao-que-nao-corteja-o-facil-65550.php

    Um abraçaço!

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  12. Rafael,
    Recanto foi composto e produzido por dois longos anos, teve Gal e sua historia irmá de caetano como mote de inspiracao e embora gravite em universo alternativo e experimental tem tratamento estetico e musical totalmente diverso de abracaco. Nele coabitam a banda ce com kassin, diuplex com daniel jobim, loops com rabotinik e morelembaun num ambiente de exuberancia arida de timbres eletronicos.
    Ja abracaco é obra economica de sintese e rapidez. Foi composto e gravado em meio ano com intencoes diversas de Recanto.
    Por mais que vc considere a voz de Gal acessoria e sobre a qual nao se fala a verdade, ela e sua persona sao os elementos centrais de Recanto, sem a qual o disco nao faria sentido.e nem teria sido executado.
    Recanto se tornou um trabalho ja iconico pq nele a voz de Gal nao mente jamais e essa inspiracao veio a produzir em caetano a melhor leva de cancoes ineditas em muitos anos.
    A historia e a historia da arte so se repetem como farsa.
    Estranho nao é recanto ter uma avaliacao e abracaco outra. Estranho seria avaliacoes identicas de obras dispares.
    Estadao, folha e o globo deram cotacao maxima tanto para o disco como para o show de Recanto.
    So o globo deu cotacao maxima para abracaco.
    Qual o problema??

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  13. Ouvi pouco o Abraçaço, mas continuo achando o menos inspirado desta fase que, a meu ver, também não é a mais inventiva de Caê. Gosto de Cê e Zie e Zii, mas nem de longe de como amo Circuladô e Livro, no entanto gosto da ideia de que Abraçaço encerra a trilogia (ufa!), que, em algum sentido, já poderia ter se encerrado com chave de ouro em Recanto. Caê fez 70, vem antecipando e destilando a crise (criativa e passível de crítica) há 3 discos, tomara que isso tudo lhe renda um discaço da próxima vez.

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  14. Gostei da resenha, Mauro, embora discorde em alguns pontos, mesmo porque considero "Abraçaço" um discaço, tem várias músicas boas ( não todas), algumas excelentes mesmo ( A BN é Foda e Abraçaço - por enquanto, depois vêm as nuances caetaneanas só percebidas com as audições e outras entram na lista, mas ainda preciso ouvir mais o CD). // É necessário dizer que gostei mais de "Cê" ( espetacular demais, fora o 'showzaço') e "Recanto" (sensacional à beça, preciso, Gal renasceu com as belas canções e com a música eletrônica usada no disco, pena que elogiaram muito mas não premiaram o disco devidamente - acho que pra não fazer renascer os anos 80 - ora, e daí?, o fabuloso "Velô" também é eletrônico e anos 80 – tudo bem, era a época, bom, deixa pra lá). // Apenas "Zii e Zie” achei um pouco abaixo, mas tb é muito bom e o show foi ótimo, assim como o original blog "Obra em Progresso"). Com as letras em mãos o "Abraçaço" cresce muito e aí vem o discaço que falei ( embora não seja como o "Cê", em que praticamente todas as músicas eram poderosas ), mas ora, é um fechamento e ainda assim dá muito caldo. // Sendo já o quarto disco ( somando o Recanto) nesse compasso, acho que fecha muito bem o trabalho com a BandaCê, que é excelente e o trabalho entre Caetano e os jovens ( e incríveis) músicos está sendo proveitoso, mas, penso eu, o trabalho não comportaria um quinto disco. E nem precisa, o recado já está espetacularmente dado. E "A Bossa Nova é Foda", hein?, que petardo, o setentão continua afiado e desafiando...

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  15. Eu achei que com certeza esse é um dos melhores discos da carreira do Caetano.

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  16. Marcello, disse que os dois ábuns são finas farinhas do mesmo saco assim como boa parte da imprensa (até ela) reconheceu em "Recanto" um disco de Caetano cantado por Gal. A própria cantora, aliás, não escondeu isso nas entrevistas de lançamento, sempre com o compositor-filósofo à tira-colo para explicar o disco. É fato que temos tratamentos sonoros distintos, mas nem tanto, em "Recanto" e "Abraçaço". O que não precisa muito esforço pra ser percebido é que o disco de Gal faz parte da trilogia indie de Caetano.

    Isso não desmerece Gal, cuja história é digna de respeito, nem tampouco o álbum, que é um gesto estético poderoso e salutar por si só. Para explicar qual o "problema", uso o próprio texto atual do Mauro: "o jorro de novidade (para os padrões da obra recente do/a artista) veio com tal força que a irregularidade do repertório se tornou irrelevante ou imperceptível para a maioria dos ouvintes do álbum. Com as bençãos da crítica e de seu (renovado) público", Gal fez o "disco do ano" e o "show do ano" permeados por canções menores envoltas em "ambiente de exuberância árida de timbres eletrônicos".

    O problema, para mim, não está nos merecidos aplausos a "Recanto", mas
    1. na ideia de que ali há algum lampejo da Gal que um dia arrepiou o Brasil e que é sua 'persona' que o disco entrega, em vez da de Caetano;
    2. na má-vontade em se reconhecer que Caetano continua produzindo em alto nível, sendo fiel à condição de antena do seu tempo;
    3. na preguiça em se positivar o empenho de Caetano em não se repetir, mostrando que sua música está além do formato violão-Morelenbaum.

    O Estadão perguntou se Caetano tinha mesmo se distanciado das canções, ele respondeu que foi a canção que se distanciou dele. Acho que não só dele, mas de todo mundo que não quer viver de lembrança de "décadas de ouro". Fugindo um pouco do foco do debate, pense em uma grande canção recente, como "Vive", de Djavan, que a Bethânia gravou muito bem. Será quanto ela durará na nossa memória? Penso que pouco. Os tempos são outros. E realmente acho que Caetano, mais uma vez, está apontando a dor e a delícia do que está por vir.

    Abraço,
    Rafael

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  17. Zé Henrique, obrigado por indicar a crítica do Jornal do Commercio, mais completa e cuidadosa que os press-releases do disco publicados pelo Partido da Imprensa Golpista do eixo Rio-SP!
    Abraçaço

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  18. "O império da lei há de chegar no coração do Pará" ou ao coração do Pará?

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  19. Para mim, que sou arte-educador, trabalho com adolescentes, adultos e terceira idade, acredito que o consumo mudou. Jovens , em sua maioria escutam funk,sertanejo e eletrônicos. Adultos ( entre 30 e 50 ) ainda buscam na MPB a glória dos tempos passados entre os anos 70 e 90 ,a terceira idade , com os shows de Roberto, Andre Rieu,e as inevitáveis aulas de dança de salão. O que mudou de quando Gal Costa,Caetano, Milson, Simone, Elba lotavam espaços enormes de shows ? Até ginásios... Para mim, a maioria não conseguiu aconpanhar a mudança tecnológica. QUando Gal, gravou recanto, teve a oportunidade de atingir um público jovem, se Miami maculelê tivesse um arranjo mais pesado, coisa que não aconteceu. Quando mostrei a música aos alunos, disseram : que funk sem graça, sem peso. Fiz um remix da mesma música, deixando o arranjo atualizado, e mostrei a eles, e todos quiseram copiar, passar por bluetooth, etc ... Cade quefoi feito um clip legal de racanto ??? Um clip para abraçaço ???? A internet hoje é a linguagem dos consumidores. Agora procure no youtube, os sertanejos,technobregas,parapapás e afims ...funks então entre os mais acessados. Na minha modesta opinião, a MPB para não morrer precisa se antenar a atualidade.

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  20. Eduardo, concordo com você que a geração que construiu "a" MPB, essa estética pautada pela canção das décadas de 60/70 que teve em Chico, Milton e Gonzaguinha alguns de seus ícones (e talvez em Edu Lobo e Ivan Lins sua máxima expressão), não se "antenou".

    É nesse ponto que acho louvável o eterno desconforto de Caetano em relação ao lugar que ele e sua música ocupam. Ele também podia ter se entronizado no papel de grande intérprete e compositor de belas melodias de letras elaboradas. Mas parece que sua preocupação não é agradar o gosto médio, é desafiá-lo. Acho que é dos poucos que está à frente da crítica e do público.

    PS.: fiquei curioso com o remix, mas acho que se "Miami Maculelê" fosse mais pesado do que é, seria só um funk cantado por Gal, e não "o funk da Gal"...

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  21. O novo, bom e instigante - como cantou Belchior sempre vai vir.
    Estão aí: Céu, Lucas Santtana, Criolo, Guizado, Otto...
    Essa rapaziada hoje ocupa o lugar - não estou me referindo ao talento em si e sim a, digamos, linha evolutiva da música brasileira - que Caetano, Gil e Chico... ocuparam no passado.
    A GRANDE diferença é que a turma de hoje não tem espaço nas rádios(ainda o grande fomentador de sucessos populares) e fica restrita a nichos de internet e cadernos culturais.

    Piadinha:
    Outro dia uma senhorinha, reclamando da demora em uma entrada de show do Roberto Carlos, bradou: "Devia ter fila especial para idosos!"
    Um senhorzinho mais gaiato respondeu: "De nada adiantaria, seria fila única" heheheheh

    De nada, Rafael. Também gostei da crítica do JC. Mas deixe suas teorias de conspiração para lá.
    Mano Caetano sempre foi ame-o ou odeie-o e com esses sentimentos sempre se alternando a cada passo dado por ele.
    Isso é ótimo para um artista.
    O Caetano sempre teve essa veia antenada com o mundo, com o novo.
    Acho essa trilogia legítima e condizente com sua tragétoria.
    Embora essa,não raras vezes, seja enfadonhamente transgressora.
    Por exemplo, seu próximo projeto deverá ser gravar alguma música do Michel Teló. Tipo voz, violão, perninha cruzada e dizendo que tal verso é a coisa mais linda do mundo.

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  22. Muito boa resenha do Mauro.So não concordo a respeito de "Vinco".Gosto daquilo,desse Caetano lisérgico e em derretimento de seu êxtase.Tem muita vida e energia ali,nesse homem na sua terceira idade,nessa órbita desprovida de energéticos artificiais.Ao contrario da capa,de extremo mau gosto e má realizaão estetica,pretensiosa ao querer imcomodar."Vinco" é obra de arte,que gera incômodo transgressor.Obra prima!

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  23. Emanuel Andrade


    Vou ouvir Muito e Outras Palavras. Ou o show com a banda Black Rio. Bicho baile show. Não dá pra ficar filosofando sobre o bom e ruim na esteira da trilogia.

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  24. O melhor da trilogia.

    Sensacional! Não consigo parar de ouvir. Apenas.

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  25. Por que você faz Poema?

    O correto, no padrão formal, sempre foi 'chegar AO coração do Pará'. Há outros erros gramaticais nas letras dele, nada muito óbvio, mas esse erro não deveria ter passado já que nãoe stá numa letra de apelo coloquial. Lembrei-me de uma entrevista dele a Jô Soares em que o gordo dizia que Caetano o tinha corrigido quanto ao uso incorreto do verbo Haver: Jô (segundo o próprio) tinha dito algo mais ou menos como 'Haviam coisas', e Veloso o corrigiu dizendo que o correto seria (e é) 'havia coisas'. Então, fica fácil entender a situação recorrendo-se ao velho dito popular: "Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço." Abraçaço!(até rimou) rs

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