Título: Sem Crise
Artista: Gabriel O Pensador
Gravadora: Hip Hop Brasil
Cotação: * * *
"Aqui tem muito cacique pra pouco índio guerreiro / Mas eu não desisto nunca, sou brasileiro", avisa Gabriel O Pensador em versos de Sem Crise (Gabriel O Pensador, Fernando Deeplick e Luciana Cardoso), o rap que dá título a seu oitavo álbum (o sétimo de estúdio). Sem lançar disco desde 2005, o rapper carioca - pioneiro nos anos 90 ao veicular seu hip hop em escala nacional com o conforto do contrato de uma multinacional do disco (a Sony Music) - quebra hiato involuntário de sete anos com CD que por vezes o joga na pista do DJ paulista Fernando Deeplick, diretor musical deste esperado álbum gravado de forma independente e fragmentada entre 2009 e 2012. Parceria do Pensador com Deeplick, Homem Não Presta é electro-rap. Sob a batida eletrônica do DJ e produtor, Gabriel discorre sobre a má fama masculina desde os tempos de Adão e Eva. Tese de certa forma corroborada na desbocada Boca com Boca, faixa de textura eletrônica composta e gravada com Nando Reis. Conquistas à parte, dá para sentir nas entrelinhas dos versos cantados pelo Pensador em Sem Crise que nem tudo foi fácil para o artista ao longo desses sete anos. "Alguns às vezes me tiram o sono / Mas não me tiram o sonho", ressalta o Pensador, valente, em Linhas Tortas (Gabriel O Pensador e André Gomes), boa faixa de letra autobiográfica, produzida pelo baixista André Gomes, piloto de seis das 15 faixas de Sem Crise, não por acaso algumas das melhores do disco. Com verdadeiro amor à palavra, reiterado nas memórias verborrágicas de Linhas Tortas, o Pensador dispara artilharia contra a banda podre da política em Nunca Serão (Gabriel O Pensador e Fernando Deeplick), discorre sobre a fofoca em Foi Não Foi (Gabriel O Pensador, Carlinhos Brown e Wladimir Gasper) - com a adesão do elétrico parceiro Carlinhos Brown - e se apropria sem propriedade de Fé Cega, Faca Amolada (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1974) em Brilho Cego (Gabriel O Pensador, Milton Nascimento e Ronaldo Bastos), faixa que tem a voz de Rogério Flausino. A tentativa de dar sotaque brasileiro ao disco soa mais bem-sucedida na já ouvida dobradinha Solitário Surfista (Jorge Ben Jor) / Surfista Solitário (Gabriel O Pensador), que entrelaça samba-rock lançado por Ben Jor em 1980 com rap inédito do Pensador. Duas faixas depois, Pensador tira onda de conquistador e passa sua cantada em Deixa Quieto (Gabriel O Pensador e André Gomes) com direito a sample de gravação de Carinhoso (Pixinguinha e João de Barro) feita por Marisa Monte. Ainda na sua praia, Gabriel O Pensador se junta ao ConeCrewDiretoria - grupo carioca de rap, egresso de um Rio menos abastado - para dar sua receita de bem-viver em No Ritmo, no Tempo (Gabriel O Pensador, Rany Money, Maomé, Cert, Papatinho, Ari e Batoré). Também egresso de um Rio de Janeiro (RJ) menos enfocado nos cartões postais, o AfroReggae põe seu forte tempero percussivo em Pimenta e Sal (Gabriel O Pensador e André Gomes). Mais azeitada, mas sem chegar a soar arretada, Na Palma da Mão (Gabriel O Pensador e Itaal Shur) cruza o universo do hip hop com os sons da Nação Nordestina, evocados no toque do acordeom de Marcos Farias, da zabumba de Lailton Lopes e do pandeiro de Sandrinho Dupan. Já a contagiante Tudo Certo (Gabriel O Pensador e André Gomes) repõe na pista o Gabriel O Pensador mais leve dos anos 90. "Sorriso dividido é sorriso dobrado", ressalta o Pensador, orgulhoso de sua garra, em Correr pro Abraço (Gabriel O Pensador e André Gomes), tema menos empolgante de disco que soa longo ao longo de seus 60 minutos. No fim, Mi Casa, Su Casa (Gabriel O Pensador e André Gomes) mostra que, apesar das eventuais turbulências (há excesso de eletrônica e as conexões com Deeplick não decolam), o voo feito por Pensador em Sem Crise mantém o rapper em seu porto seguro.
4 comentários:
"Aqui tem muito cacique pra pouco índio guerreiro / Mas eu não desisto nunca, sou brasileiro", avisa Gabriel O Pensador em versos de Sem Crise (Gabriel O Pensador, Fernando Deeplick e Luciana Cardoso), o rap que dá título a seu oitavo álbum (o sétimo de estúdio). Sem lançar disco desde 2005, o rapper carioca - pioneiro nos anos 90 ao veicular seu hip hop em escala nacional com o conforto do contrato de uma multinacional do disco (a Sony Music) - quebra hiato involuntário de sete anos com CD que por vezes o joga na pista do DJ paulista Fernando Deeplick, diretor musical deste esperado álbum gravado de forma independente e fragmentada entre 2009 e 2012. Parceria do Pensador com Deeplick, Homem Não Presta é electro-rap. Sob a batida eletrônica do DJ e produtor, Gabriel discorre sobre a má fama masculina desde os tempos de Adão e Eva. Tese de certa forma corroborada na desbocada Boca com Boca, faixa de textura eletrônica composta e gravada com Nando Reis. Conquistas à parte, dá para sentir nas entrelinhas dos versos cantados pelo Pensador em Sem Crise que nem tudo foi fácil para o artista ao longo desses sete anos. "Alguns às vezes me tiram o sono / Mas não me tiram o sonho", ressalta o Pensador, valente, em Linhas Tortas (Gabriel O Pensador e André Gomes), boa faixa de letra autobiográfica, produzida pelo baixista André Gomes, piloto de seis das 15 faixas de Sem Crise, não por acaso algumas das melhores do disco. Com verdadeiro amor à palavra, reiterado nas memórias verborrágicas de Linhas Tortas, o Pensador dispara artilharia contra a banda podre da política em Nunca Serão (Gabriel O Pensador e Fernando Deeplick), discorre sobre a fofoca em Foi Não Foi (Gabriel O Pensador, Carlinhos Brown e Wladimir Gasper) - com a adesão do elétrico parceiro Carlinhos Brown - e se apropria sem propriedade de Fé Cega, Faca Amolada (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1974) em Brilho Cego (Gabriel O Pensador, Milton Nascimento e Ronaldo Bastos), faixa que tem a voz de Rogério Flausino. A tentativa de dar sotaque brasileiro ao disco soa mais bem-sucedida na já ouvida dobradinha Solitário Surfista (Jorge Ben Jor) / Surfista Solitário (Gabriel O Pensador), que entrelaça samba-rock lançado por Ben Jor em 1980 com rap inédito do Pensador. Duas faixas depois, Pensador tira onda de conquistador e passa sua cantada em Deixa Quieto (Gabriel O Pensador e André Gomes) com direito a sample de gravação de Carinhoso (Pixinguinha e João de Barro) feita por Marisa Monte. Ainda na sua praia, Gabriel O Pensador se junta ao ConeCrewDiretoria - grupo carioca de rap, egresso de um Rio menos abastado - para dar sua receita de bem-viver em No Ritmo, no Tempo (Gabriel O Pensador, Rany Money, Maomé, Cert, Papatinho, Ari e Batoré). Também egresso de um Rio de Janeiro (RJ) menos enfocado nos cartões postais, o AfroReggae põe seu forte tempero percussivo em Pimenta e Sal (Gabriel O Pensador e André Gomes). Mais azeitada, mas sem chegar a soar arretada, Na Palma da Mão (Gabriel O Pensador e Itaal Shur) cruza o universo do hip hop com os sons da Nação Nordestina, evocados no toque do acordeom de Marcos Farias, da zabumba de Lailton Lopes e do pandeiro de Sandrinho Dupan. Já a contagiante Tudo Certo (Gabriel O Pensador e André Gomes) repõe na pista o Gabriel O Pensador mais leve dos anos 90. "Sorriso dividido é sorriso dobrado", ressalta o Pensador, orgulhoso de sua garra, em Correr pro Abraço (Gabriel O Pensador e André Gomes), tema menos empolgante de disco que soa longo ao longo de seus 60 minutos. No fim, Mi Casa, Su Casa (Gabriel O Pensador e André Gomes) mostra que, apesar das eventuais turbulências (há excesso de eletrônica e as conexões com Deeplick não decolam), o voo feito por Pensador em Sem Crise mantém o rapper em seu porto seguro.
Curioso para conferir esse novo trabalho do Gabriel. Tanto tempo depois, quero saber como ficou o resultado final desse seu novo trabalho.
Quanta coisa pra um disco só...
E ele não muda mesmo o ritmo mesmo né, o som dele é ótimo na teoria rs rs, agora na prática...
PS: E nossa bagunçou geral a música "Carinho", ele fez o que com a voz da Marisa nada haver.
*Carinhoso!!!
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